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Quando comecei a sentir desconforto com a abordagem bélica à gestão da epidemia, cheia de alusões à necessidade de travar o vírus, derrotar o vírus e etc., dei conta desse desconforto: o que sabia de biologia da evolução levava-me a ter cautelas em relação a esta ideia de que é possível estancar um rio ou parar uma avalanche.
Acresce que o exemplo que me davam de que isso era possível era uma ditadura que já em tempos quis extinguir os pardais fazendo barulho com panelas, para aumentar a quantidade de arroz que sobrava para as pessoas, do que resultou uma fome terrível: a falta de aves (o barulho das panelas não distingue granívoras de insectívoras) resultou em perdas colossais de produção por ter dado livre curso às pragas cujos predadores tínhamos eliminado.
O que dizia era muitíssimo cauteloso, nunca na vida tinha estudado epidemiologia, não sabia (nem sei) nada do assunto, e a pouca informação que tinha vinha da área da conservação, em que as questões éticas relevantes não são as mesmas, por mais que o PAN e outros radicais da libertação animal achem que sim.
Cruzei-me, no espaço sideral, com André Dias, esse sim, com sólida preparação em epidemiologia (vindo do lado da informática e da estatística, não do lado da medicina ou da biologia), com quem tenho aprendido muito nestes últimos dias.
O que a partir de certa altura ficou claro para mim é que isto não era uma discussão sobre curvas logísticas, de gompertz e coisas que tais, sobre as quais percebo ainda menos que epidemiologia, nem sei o que é uma curva logística (não é que me orgulhe da minha ignorância e no fim disto prometo ir estudar o que é).
A discussão era ontológica (isto tinha a ideia do que era, mas fui confirmar agora à wikipedia) e logo me havia de calhar a mim, que nunca tive queda para a metafísica.
A discussão era entre os muitos que acham que uma epidemia é um inimigo externo que pode ser controlado a partir de acções humanas concertadas de elevado impacto, e que não pára se não for travado, e os poucos, como eu, que acham que uma epidemia é como um rio ou uma avalanche: pode-se fazer uma barragem, desde que se saiba que o o seu objectivo não é parar o rio, mas apenas gerir a água, respeitando a sua natureza, para obter o que se pretende.
Partindo do pressuposto de que assim é, e com todo o respeito que tenho pelos que na DGS dizem que o pico da epidemia será lá para o fim de Maio, queria só deixar aqui a minha previsão de que dentro de quinze dias a três semanas, em toda a Europa e Estados Unidos, estaremos essencialmente a discutir os pormenores de como fechar o assunto sem perder muito a face (independentemente de, nos hospitais, a luta por salvar vidas se prolongar mais um tempo, uma luta pela qual tenho o maior dos respeitos, tanto mais que aprendi que esta doença é muito mais complicada que a gripe, do ponto de vista clínico, para aqueles em que evolui para pneumonias agressivas).
Não me peçam evidências, modelos, fundamentação, não tenho mais que a minha livre e ignorante interpretação do que fui ouvindo de quem me parece que saberá mais do assunto.
Quem faz previsões normalmente passa muito tempo a explicar por que razão falharam (obrigado, Luís, por me lembrares disso), eu não o vou fazer, eu sei que as previsões estão sempre erradas, o futuro nunca é nada do que dizemos que irá ser.
É um post à Zandinga, nada mais que isso.
Já agora, a China está a amenizar medidas porquê? A percentagem de infetados foi de 0,0% (arredondado)… logo a imunidade de grupo não existe… ou será que existe imunidade genética em parte da população? Ou será uma questão de idade/defesas?
E acho que, excepto Singapura claro, somos todos burros, ignorantes, ou melhor Zandingas, a adivinhar o que fazer.
Já agora, quais as probabilidades de contágio que o pessoal de Singapura aponta para as maneiras de contágio? X para tossir para cima, Y estar à distância Z de um contaminado, W por ir ao supermercado, K a probabilidade de contágio por transmissão indirecta (vulgo mão/superfície/mão/boca/pulmões). Era importante saber, pois conhecimento é poder…
Osvaldo Lucas
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Pois, meu caro. Na altura é que a gente vê como re...
Viajavam dois imigrantes e as agressões focaram-se...
Caro AmigoNão resisto a meter o bedelho, para malc...
Os seus coments parecem bastante similares aos "cu...
Diz bem, a começar. Pois outras medidas mais drást...