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Wokes fofinhos

por henrique pereira dos santos, em 06.08.24

Gonçalo Diniz, no mesmo jornal de Domingo em que Joana Gorjão Henriques publicou a sua missa habitual sobre racismo, fez publicar um artigo a que chamou "A escravidão e o futuro" cujo objectivo explícito era explicar "por que razão as reparações devem ser encaradas de forma séria e sistemática e não como um gesto isolado".

"É inegavel que vários países do Ocidente estiveram profundamente envolvidos no tráfico transatlântico de escravos. Este comércio contribuiu significativamente para o desenvolvimento económico de alguns países ocidentais, cujos efeitos se prolongaram e amplificaram ao longo do tempo, conduzindo a um mundo profundamente injusto e desigual".

Este é o ponto de partida de Gonçalo Diniz e tem um pequeno problema: ao contrário da sua afirmação peremptória, não só é negável, como não existe qualquer indício sólido de que seja verdade o que citei.

Partindo deste ponto de partida que irei discutir brevemente, Gonçalo Diniz apresenta a sua tese central: "Essas desigualdades entre os descendentes de pessoas escravizadas e os descendentes dos escravizadores alimentam a exigência de pedidos de desculpa e de medidas reparadoras".

Comecemos pelas areias movediças desta conclusão, para depois falar dos pressupostos que citei anteriormente.

Comecemos por uma questão geral.

Neste blog escreve um tal João Távora que, como o nome indica descende dos Távoras que foram acusados e supliciados pelo Marquês de Pombal, mais ou menos na altura do pico do tráfico transatlântico de escravos.

Se se provar que foi um processo profundamente injusto, de acordo com essa teoria das reparações, os descendentes do Marquês de Pombal deveriam uma reparação aos descendentes dos Távoras.

Acontece que, por acaso, outro dos ascendentes é o Marquês de Pombal que, pelos vistos, deve a si próprio uma reparação, pagando como descendente do agressor e descendente da vítima (a que acresce o problema de, sendo esses ascendentes bem ricos, o João Távora é um teso como eu e a maior parte das pessoas, porque entretanto o tempo "fez cinza da brasa").

Argumento demagógico (é mesmo) porque o que está em causa são injustiças globais que se reflectem no desenvolvimento de povos, e não injustiças pessoais.

É verdade, mas o argumento ilustra um problema: como definir, a esta distância, quem são os descendentes dos escravizadores e os descendentes dos escravizados?

Gonçalo Diniz responde: "aqueles que se identificam como descendentes das pessoas sujeitas ao comércio escravo transatlântico" para os descendentes de escravos, o Ocidente para os descendentes dos escravizadores.

Esquecendo que Gonçalo Diniz está a confundir escravizadores com comerciantes de escravos (não, as pequenas feitorias comerciais, militarmente impostas, é verdade, não tinham grande capacidade para escravizar alguém, tinham sim capacidade para comprar num lado, transportar e vender no outro os escravos que eram escravizados pelas sociedades africanas (com longa tradição na matéria, quer na escravização para consumo próprio, quer no comércio de escravos feitos com os Árabes)), retenhamos a ideia de culpa colectiva que Gonçalo Diniz defende, acusando os Suíços de serem ricos porque os portugueses se envolveram no comércio de escravos entre a África e a América.

Mas há mais que isso.

Por acaso até há investigação sobre o efeito da escravidão nos países de destino (também há para os países que faziam comércio, em que está demonstrada a relativa modéstia dos proventos obtidos por esse comércio para os povos dominantes, há sim comerciantes de escravos que enriqueceram imensamente com esse comércio, mas as sociedades em que eles se integravam beneficiaram relativamente pouco com isso) e, por estranho que pareça a quem se esqueça de comparar os estados do Sul do Estados Unidos com os estados no Nordeste dos Estados Unidos (para não falar da comparação entre o Brasil e, por exemplo, a Polónia ou a Prússia), o facto é que a presença de mais escravos não se traduz em mais riqueza (se assim fosse, o Haiti deveria ser o país mais rico do mundo).

Resumindo, não é verdade que a riqueza actual dos povos tenha grande relação com a sua participação num comércio transatlântico de escravos, não é verdade que as diferenças e injustiças tenham essa origem e muito menos que se tenham ampliado a partir daí e não é verdade que o mundo seja injusto e desigual por causa do comércio transatlântico de escravos.

A base é errada e o mecanismo de identificação ganhadores e perdedores é totalmente ineficiente, portanto esta conversa das reparações (que é diferente da apropriação ilegítima de bens, como os frisos do Parténon) não tem nenhuma base moral séria, é apenas um pretexto para a wokaria zurzir nas sociedades ocidentais, ao mesmo tempo que reconhecem que é essas sociedades são o melhor sítio do mundo para se viver.


9 comentários

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De César a 06.08.2024 às 16:47

Concordo com o que diz no texto e vou mais longe. Tão longe quanto o "politicamente correcto" não pode alcançar: começa a fartar esta conversa dos "coitadinhos" e das "vítimas da História" , incapazes de tomarem o futuro nas mãos e passarem a vida a desculparem-se com terceiros. São os direitos civis que "reparam" a História, não é conversa imbecilóide de "indemnizações" e "devolver bens" que metiam em causa e em última análise os fundamentos de uma sociedade livre e de direito. É engrqçado que estes anormais que reclamam as "reparações históricas" não conseguem dar o exemplo e pegarem nos bens DELES que acham que possuem injustamente e devolverem-nos. Tudo pela "justiça social e histórica" , desde que sejam os outros a contribuir para isso. Faz lembrar a piada da guerra civil americana onde um diz " já sacrifiquei 2 tios e um cunhado e estou disposto a sacrificar 2 primos na guerra"
Se formos nesta conversa dos idiotas úteis, é possível em troca das indemnizações nos devolverem o progresso científico, construçôes, avanço tecnológico , na saúde, organização política e social etc, sem as quais ainda eram sociedades tribais e viviam na idade da pedra???? Agradecido....
 Por esta conversa de indigência também teríamos que ser indmnizados pelos romanos, árabes e outros e os indianos por exemplo, pelos persas, mongóis, otomanos etc. E todos teriam direito a algo porque, numa dada altura foram invadidos, escravizados, expulsos e oprimidos por alguém, esquecendo que a História se faz de vencedores e não de vencidos. Esta gente que é a mesma wokaria que defende o antissemitismo disfarçado de "amigos da Palestina" nunca se lembraram dos judeus expulsos desde tempos imemoriais da sua terra ancestral por mesopotamicos, egipcios, romanos, otomanos e outros. Só se lembram do que lhes convém, embrulhados em fancaria woke que esconde o desejo da destruição da sociedade ocidental onde vivem e não querem sair( curioso...), dividindo tudo em "grupos", "causas", herdeiras do colapso ideológico da "luta de classes". 
África é um continente falhado, não pelo antigo comércio de escravos mas por algo mais recente e nefasto: chama-se socialismo.
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De Luis a 07.08.2024 às 06:43

Socialismo e liderança à boa moda dos srs da guerra e líderes ditaroriais africanos diga-se. Angola, por exemplo, poderia aos dias de hoje estar bem melhor mas uma certa família (e não só) preferiu encher bem o bucho ao invés de aplicar as grandes remessas do petróleo e diamantes no desenvolvimento do país. Depois a culpa é dos portugueses. Mas mais engraçado ainda são os descendentes de africanos que vivem entre nós sempre a queixar-se de tudo e a pedirem as tais reparações mas que nem por um min equacionam ir viver para África, para o paraíso de onde os seus antepassados foram retirados à força para viverem neste inferno dos mauzões brancos, dá muito o que pensar, não é!? Eles que são submetidos ao horror de terem hoje por viverem no ocidente, uma esperança média de vida muito maior do que se continuassem na África subsariana, uma taxa de mortalidade infantil e de exploração muito menor, um acesso a cuidados de saúde incomparavelmente melhor, etc, etc, realmente que coitadinhos que eles são pelos seus antepassados (esses sim foram sujeitos a exploração), terem sido trazidos para cá pelos brancos sacanas e velhacos e assim, não viverem hoje com 2 ou 3 dólares/dia envolvidos em guerras civis e a morrer de fome. Chamem-me facho, racista, ou lá o que quiserem mas já chega, já chega de me insultarem diariamente e de me culparem de tudo e mais alguma coisa!
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De Anónimo a 06.08.2024 às 17:17

os suíços são ricos por venderem café e chocolate. é por causa disso que tem bancos. e os relógios. servem para controlar os tempos de trabalho dos escravos. logo como café e cacau vêm de locais onde houve escravos, zás, reparação. processo de raciocínio woke. inbatível
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De Albino Manuel a 06.08.2024 às 23:37

Realmente não dá. Sobretudo connosco. Imagine-se um pedinte no Chiado de mão estendida de repente a ser assediado por outro pedinte que lhe exige a colecta da solidariedade. Se quer esmola que a peça a quem tem a carteira cheia, alemães, suecos e por aí. Um pedinte respeita outro pedinte.
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De Luis a 07.08.2024 às 06:22

Ainda há umas semanas estava uma comediante (acho que é o nome mais indicado), a afirmar na TV qualquer coisa como "o atraso das sociedades e nações africanas está ligado à escravidão e exploração europeias. É por causa de ambas que África vive na pobreza e atraso atuais". Portanto, os europeus que, na verdade só a partir da 2a metade do século XIX começaram a penetrar verdadeiramente o continente africano,  tendo encontrado várias e vastas regiões onde pouco mais havia que agricultura de subsistência ou até mesmo caça e recolecção tendo lá construído vias férreas, escolas, hospitais, 1as redes de saneamento, etc, etc, é que são os culpados do atraso das nações e sociedades africanas e não o facto de que enquanto a Europa já vivia na idade moderna, parte substancial de África que nunca tinha sido sequer avistada (quanto mais explorada) por europeus vivia apenas um pouco além da idade do ferro. Imaginemos que os europeus nunca tinham penentrado nessas áreas (nem as suas inovações), alguém com 2 dedos de testa pode afirmar que hoje elas estariam muito diferentes das tais sociedades de subsistência!? O atraso de África não é nem nunca foi culpa dos europeus mas sim dos nativos que, por variadíssimas razões, a dado momento na história da humanidade ficaram tecnologicamente atrasados em séculos e séculos ou até mesmo milénios se olharmos para os que ainda viviam da caça e recolecção. Ora recuperar um atraso destes não se faz em meia dúzia de anos nem a arranjar bodes expiatórios.
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De O apartidário a 07.08.2024 às 08:22

Os países do dito Ocidente já estão a pagar sistematicamente.

  • A "guerra civil é inevitável", afirma Musk num post no Twitter. sobre os acontecimentos no Reino Unido


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De Anonimus a 07.08.2024 às 13:34

Portugal é a favor das reparações (outra translação à lauro dermio, querem é indemnizações), até chegar à altura de pagar. Ou então, "eles" que as paguem, diz o portuga.
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De Anonimus a 07.08.2024 às 15:36


"essas sociedades são o melhor sítio do mundo para se viver."


Exacto.
Não se vê um woke a protestar em Moscovo pelos direitos de seja quem for, desde o LGB ao dos animaizinhos.
Também válido para os wokes de direita, que falam como se a homossexualidade fosse obrigatória tipo tropa (queriam eles... para os outros), e o Ocidente está perdido. Não é à toa que o Tucker foi descobrir a maravilha que é a vida na Putinlândia. Até carrinhos de compras que andam com a moedinha têm.
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De Nelson Gonçalves a 09.08.2024 às 12:04

Faltou o exemplo da persiguição aos judeus ao longo do tempo por terem sido os assassinos de Cristo. Quem tenha olhos de ver percebe que culpar um povo/cultura/sociedadd por algo que sucedeu no passado só pode dar asneira.


Com a agravante de que Cristo *tinha* que ser supliciado.

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