Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Gonçalo Diniz, no mesmo jornal de Domingo em que Joana Gorjão Henriques publicou a sua missa habitual sobre racismo, fez publicar um artigo a que chamou "A escravidão e o futuro" cujo objectivo explícito era explicar "por que razão as reparações devem ser encaradas de forma séria e sistemática e não como um gesto isolado".
"É inegavel que vários países do Ocidente estiveram profundamente envolvidos no tráfico transatlântico de escravos. Este comércio contribuiu significativamente para o desenvolvimento económico de alguns países ocidentais, cujos efeitos se prolongaram e amplificaram ao longo do tempo, conduzindo a um mundo profundamente injusto e desigual".
Este é o ponto de partida de Gonçalo Diniz e tem um pequeno problema: ao contrário da sua afirmação peremptória, não só é negável, como não existe qualquer indício sólido de que seja verdade o que citei.
Partindo deste ponto de partida que irei discutir brevemente, Gonçalo Diniz apresenta a sua tese central: "Essas desigualdades entre os descendentes de pessoas escravizadas e os descendentes dos escravizadores alimentam a exigência de pedidos de desculpa e de medidas reparadoras".
Comecemos pelas areias movediças desta conclusão, para depois falar dos pressupostos que citei anteriormente.
Comecemos por uma questão geral.
Neste blog escreve um tal João Távora que, como o nome indica descende dos Távoras que foram acusados e supliciados pelo Marquês de Pombal, mais ou menos na altura do pico do tráfico transatlântico de escravos.
Se se provar que foi um processo profundamente injusto, de acordo com essa teoria das reparações, os descendentes do Marquês de Pombal deveriam uma reparação aos descendentes dos Távoras.
Acontece que, por acaso, outro dos ascendentes é o Marquês de Pombal que, pelos vistos, deve a si próprio uma reparação, pagando como descendente do agressor e descendente da vítima (a que acresce o problema de, sendo esses ascendentes bem ricos, o João Távora é um teso como eu e a maior parte das pessoas, porque entretanto o tempo "fez cinza da brasa").
Argumento demagógico (é mesmo) porque o que está em causa são injustiças globais que se reflectem no desenvolvimento de povos, e não injustiças pessoais.
É verdade, mas o argumento ilustra um problema: como definir, a esta distância, quem são os descendentes dos escravizadores e os descendentes dos escravizados?
Gonçalo Diniz responde: "aqueles que se identificam como descendentes das pessoas sujeitas ao comércio escravo transatlântico" para os descendentes de escravos, o Ocidente para os descendentes dos escravizadores.
Esquecendo que Gonçalo Diniz está a confundir escravizadores com comerciantes de escravos (não, as pequenas feitorias comerciais, militarmente impostas, é verdade, não tinham grande capacidade para escravizar alguém, tinham sim capacidade para comprar num lado, transportar e vender no outro os escravos que eram escravizados pelas sociedades africanas (com longa tradição na matéria, quer na escravização para consumo próprio, quer no comércio de escravos feitos com os Árabes)), retenhamos a ideia de culpa colectiva que Gonçalo Diniz defende, acusando os Suíços de serem ricos porque os portugueses se envolveram no comércio de escravos entre a África e a América.
Mas há mais que isso.
Por acaso até há investigação sobre o efeito da escravidão nos países de destino (também há para os países que faziam comércio, em que está demonstrada a relativa modéstia dos proventos obtidos por esse comércio para os povos dominantes, há sim comerciantes de escravos que enriqueceram imensamente com esse comércio, mas as sociedades em que eles se integravam beneficiaram relativamente pouco com isso) e, por estranho que pareça a quem se esqueça de comparar os estados do Sul do Estados Unidos com os estados no Nordeste dos Estados Unidos (para não falar da comparação entre o Brasil e, por exemplo, a Polónia ou a Prússia), o facto é que a presença de mais escravos não se traduz em mais riqueza (se assim fosse, o Haiti deveria ser o país mais rico do mundo).
Resumindo, não é verdade que a riqueza actual dos povos tenha grande relação com a sua participação num comércio transatlântico de escravos, não é verdade que as diferenças e injustiças tenham essa origem e muito menos que se tenham ampliado a partir daí e não é verdade que o mundo seja injusto e desigual por causa do comércio transatlântico de escravos.
A base é errada e o mecanismo de identificação ganhadores e perdedores é totalmente ineficiente, portanto esta conversa das reparações (que é diferente da apropriação ilegítima de bens, como os frisos do Parténon) não tem nenhuma base moral séria, é apenas um pretexto para a wokaria zurzir nas sociedades ocidentais, ao mesmo tempo que reconhecem que é essas sociedades são o melhor sítio do mundo para se viver.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Caro SenhorPercebe-se (?) que a distribuição cultu...
"..., não podia ter sido mais insólita, mais bizar...
Como (ex) vizinho de duas, tirando o cheiro pela m...
Muito bem! É sempre um gosto lê-lo/ouvi-lo.Cumprim...
Ontem como hoje como sempre os trastes cobardes nu...