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Wokes de todo o mundo, uni-vos

por henrique pereira dos santos, em 16.07.24

Ontem o Público tinha uma entrevista com Raquel Machaqueiro, a senhora que organizou uma formação "histórias difíceis, legados difíceis", na Fundação Gulbenkian, que pretenderia ensinar os professores de história a ensinar melhor os alunos em matérias relacionadas com a escravidão.

Como logo o título que o Público escolheu para a entrevista (que chamou à primeira página do jornal) me parecia uma tolice "A escravização de pessoas financiou toda a empresa dos Descobrimentos", fui ler a entrevista para perceber se eram os jornalistas do Público que eram tolos, ou se era Raquel Machaqueiro que marchava disciplinadamente no exército woke que tenta contrabandear coisas destas como ciência.

Sem descartar a hipótese da jornalista Ana Dias Cordeiro ganhar em estudar um bocadinho os assuntos sobre os quais entrevista pessoas, a conclusão da leitura da entrevista é mesmo que Raquel Machaqueiro parece alinhar, disciplinadamente, no discurso woke que é esmagadoramente dominante no meio académico onde trabalha (nos Estados Unidos, os comunistas mais ferrenhos procuravam ir conhecer e experimentar o sistema socialista, estes modernos wokes, que são vagamente anti-capitalistas, preferem ser anti-capitalistas nas universidades dos EUA, para conhecer a fundo os malefícios do sistema capitalista).

"Há muita gente a dizer que os africanos já tinham escravatura e que nós só usámos aquilo que já existia. É verdade e não é. ... A escravatura que se exercia no continente africano não era baseada em critérios raciais e passou a sê-lo. ... Essa coisa das raças é uma invenção nossa, do Ocidente, que serve precisamente para criar categorias e uma hierarquização. Os negros são postos na base dessa hierarquia para justificar a sua escravização".

A quantidade de afirmações pouco rigorosas (para ser caridoso) nesta pequena citação é assombrosa.

Passemos por cima da evidente contradição entre dizer que a escravidão já existia e era praticada em África e dizer que as raças são uma invenção para hierarquizar grupos sociais e justificar essa escravização, feita por pessoas da mesma raça.

Por uma grande coincidência li isto: "Somos (um dos das Ilhas lhe tornou)/ estrangeiros na terra, Lei e nação;/ que os próprios são aqueles que criou/ a Natura, sem Lei e sem Razão."

Sou completamente ignorante em tudo o que diga respeito a Camões, mas resolvi ver se aprendo alguma coisa, de maneira que enquanto não me chega à mão o livro do meu sobrinho (cuja segunda edição, para espanto meu, tenho ideia de que poderá estar em preparação, não confirmei), comprei na feira do livro, e estou a ler, uma antologia organizada e anotada por Frederico Lourenço que, sobre a passagem que citei acima, esclarece: "Nesta estrofe, os interlocutores de Vasco da Gama assumem-se como não autóctones naquela região de África e, ao descreverem aqueles a quem cabe essa identidade, parecem querer justificar a sua escravização: "Que os próprios são aqueles que criou/ a Natura, sem Lei, nem Razão.".

Camões está a escrever na segunda metade do século XVI sobre acontecimentos passados uns cinquenta anos antes, mais coisa, menos coisa, não tenho a certeza de que a interpretação de Frederico Lourenço seja a mais adequada mas, ainda assim, é claro que Camões fala do comércio de escravos longamente estabelecido em África pelos árabes, com base no Índico e assente, parcialmente, na raça (embora a justificação seja "sem lei nem razão"), quando o comércio transatlântico ainda estava na sua fase inicial, a do ciclo da Guiné.

Para se perceber bem a dimensão da distorção feita por Raquel Machaqueiro (e a tolice do título da entrevista), Camões está a escrever os Lusíadas uns vinte ou trinta anos depois da chegada dos primeiros escravos ao Brasil, que acontece uns quarenta anos depois de Vasco da Gama chegar à Índia, ou seja, a ser verdade que é o comércio de escravos que financia todos os descobrimentos, deve ser o único exemplo na história em que o financiamento aparece depois do investimento.

Como disse alguém, ajuizadamente, puro terraplanismo.

De resto, até cem anos depois de Camões morrer, o comércio transatlântico de escravos é relativamente contido, é partir de meados do século XVII que esse comércio cresce enormemente, tornando completamente absurda a tese de que é o comércio de escravos que financia os descobrimentos, ocorridos pelo menos cento e cinquenta anos antes.

Poder-se-ia pensar que é apenas ignorância, afinal Raquel Machaqueiro é uma antropóloga com um doutoramento em mercados de carbono (fui tentar perceber quem era, ouvi partes de uma conferência de há dez anos, no Brasil, e os comentários sobre micro-crédito são suficientes para saber que é uma pessoa que fala sem medo de assuntos que desconhece em absoluto), não seria de esperar que fosse especialmente rigorosa em história.

A única questão relevante está em saber como raio a Fundação Gulbenkian se envolve nisto, sem garantir o mínimo dos mínimos de segurança académica no que promove.

Mas esta parte da entrevista demonstra bem que não é apenas ignorância, é mesmo um modo de vida.

machaqueiro.jpg

Ignorância é desconhecer este referência bibliográfica, ou mesmo a tese de Nuno Palma de que é este facto que dá origem a uma maldição de recursos que afecta Portugal, atirando-o de um dos países mais ricos do mundo para um dos mais pobres da Europa em cinquenta anos.

O que é feito nesta referência é pura desonestidade, é impossível que alguém que faz referência a este estudo, ao ponto de saber exactamente quem são os seus autores, não saiba que grande parte do que está em causa é o ouro do Brasil e de que isto se verifica num tempo relativamente curto, tendo uma relação marginal com o comércio de escravos.

Nuno Palma até tem artigos que avaliam o efeito económico da escravidão nos países que receberam mais escravos, usando dados do Brasil e dos estados do Sul dos EUA, que Raquel Machaqueiro nunca usará, evidentemente, porque as suas conclusões contrariam as ideias de Raquel Machaqueiro, não havendo qualquer evidência de que ter recebido esses milhões de escravos se traduziu numa vantagem económica que persiste até hoje.

É assim o mundo woke, tanto se escreve sobre os mecanismos económicos de sustentabilidade, nomeadamente o mercado de carbono, como dez anos depois se escreve sobre escravidão, é o que estiver a dar em cada momento, sempre, sempre com o mesmo princípio: impedir, por todos os meios o catastrófico resultado que se pode definir pelo título do artigo "A beautiful theory, killed by a nasty, ugly little fact”.


27 comentários

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De antonio queiros a 16.07.2024 às 16:16

em resposta à sua questão sobre como a Gulbenkian se associa a estas "coisas", talvez o facto de leonor rosas que nem de lambreta anda, ser uma das administradoras da coisa.
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De henrique pereira dos santos a 16.07.2024 às 16:36

Penso que não será assim, Leonor Rosas faz parte do conselho consultivo jovem do Centro de Arte Moderna, não do conselho  de administração
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De antonio queiros a 16.07.2024 às 16:38

correcto,
no entanto não deixa de ser uma lança apontada
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De Anonimus a 16.07.2024 às 17:52

Já existia comércio de escravos português antes do transatlântico. A Europa também os comprava. A escala não seria a mesma, mas já era materia-prima com valor.
Adiante
Os wokes zangam-se, com alguma razão,  com uma História que se ensina na escola um tanto ou quanto romantizada,  mas a sua resposta é uma História contada "do outro lado", mas igualmente romantizada. Criam uma ideia de que África era uma utopia, chegaram os europeus e trouxeram a fome, guerra e pestilência. A verdade é que os europeus não tinham capacidade militar ou logística para ir "apanhar" grandes quantidades de escravos sem ajuda dos reinos locais que eram seus aliados. Pois, os africanos escravizavam-se (o Musa não consta que fosse caucasiano) uns aos outros, como qualquer outro ser humano, infelizmente. E às vezes até iam à Europa escravizar brancos, esses racistas.
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De henrique pereira dos santos a 16.07.2024 às 18:08

Não percebi em que é que eu romantizei o que quer que seja.
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De Anonimus a 16.07.2024 às 19:45

Onde está isso escrito? A não ser que tenha escrito os currículos da disciplina nas últimas década 
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De henrique pereira dos santos a 17.07.2024 às 08:12

Aparentemente, lemos de forma diferente esta frase "mas a sua resposta"
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De Anonimus a 17.07.2024 às 10:08


Os wokes zangam-se, com alguma razão,  com uma História que se ensina na escola um tanto ou quanto romantizada,  mas a sua (deles) resposta é uma História contada "do outro lado", mas igualmente romantizada.
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De henrique pereira dos santos a 17.07.2024 às 10:23

Com os comentários eu percebi que tinha interpretado mal a frase "Os wokes zangam-se, com alguma razão,  com uma História que se ensina na escola um tanto ou quanto romantizada,  mas a sua (minha) resposta é uma História contada "do outro lado", mas igualmente romantizada."
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De Anonimus a 17.07.2024 às 17:07

Contam a História do outro lado. Dos "colonizados".
Kumbaya, depois veio o branco e estragou tudo. Entronca na teoria de que África (e os afro-americanos) ainda hoje sofrem porque o europeu lá foi há 500 anos inventar a escravatura.
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De lucklucky a 16.07.2024 às 20:58

Talvez o anonimus possa dizer alguma coisa sobre os milhares de portugueses que foram tomados como escravos pelos Árabes/Berberes e outros. 


Suspeito que diga nada pois a narrativa oficial da "imprensa de referência" nem fala deles.
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De cela.e.sela a 17.07.2024 às 09:52

razias na Europa do sul
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De maria a 16.07.2024 às 19:12

Pelo nome,alegadamente, parece-me que  a dita personagem herdou os genes duma família comunista radical.
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De Albino Manuel a 16.07.2024 às 20:26

Até pode chamar a esta woke. Não li. Mas pode ler o que historiadores brasileiros têm escrito, vide Caio Prado. Americanos e ingleses também - já lá vão sessenta anos ou coisa que tal.


Em todo o caso não aconselho ninguém por cá a meter-se no assunto, a não ser que seja masoquista. Vá lendo e arrumando na biblioteca e bico calado. Receber o epíteto de woke até é elogio, tão suave é a palavra. Mais difícil será calar as universidades americanas e inglesas. Aí os Afonsos Albuquerques da nossa historiografia podem ter alguns percalços se sairem de escudo e lança em riste.
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De Vlad a 19.07.2024 às 10:42

Caio Prado, pai da historiografia marxista brasileira, conhecido por não utilizar fontes primárias...
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De lucklucky a 16.07.2024 às 21:06

"...para perceber se eram os jornalistas do Público que eram tolos, ou se era Raquel Machaqueiro que marchava disciplinadamente no exército woke..."



Continua essa perspectiva nobre do jornalismo... pensar que os jornalistas querem fazer jornalismo e não são na verdade activistas.
Obviamente que esta entrevista promocional só existe porque os jornalistas do Publico são neo-marxistas, vulgo wokes  também, assim como a direcção.
Não porque são tolos.


Quanto á Gulbenkien, já ficou tudo dito do meio social onde se movem quando de repente demonstraram horror aos combustíveis fósseis que fizeram a Gulbenkien....
 "March trough institutions" provavelmente entrou via carbono...

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De Carlos a 16.07.2024 às 23:18

Li aquela entrevista de forma cruzada, mas deu para perceber que a senhora doutora era uma espertalhaça, falando do que não sabe, atirando números para o ar e a olhómetro, sem qualquer aderência à realidade, confessando que não os havia contabilizado e que não sabe como fazê-lo.

Lamento que o Público se deixe cada vez mais colonizar por estas aves de arribação. E além disso, a senhora doutora é feiosa...

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De cela.e.sela a 17.07.2024 às 09:45

comércio de escravos: alguém vendia.

a venda continua!
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De Octávio dos Santos a 17.07.2024 às 12:55

«A única questão relevante está em saber como raio a Fundação Gulbenkian se envolve nisto, sem garantir o mínimo dos mínimos de segurança académica no que promove.»



Não é de agora, não é (muito) recente, a infiltração de estúpidas ideias esquerdistas na Fundação Calouste Gulbenkian. É de recordar o ridículo da atribuição, em 2020, do (primeiro) Prémio Gulbenkian para a Humanidade - no valor de um milhão de euros (!) - a Greta Thunberg. Foi presidente do júri Jorge Sampaio, e a FCG tinha então como presidente Isabel Mota.


https://gulbenkian.pt/noticias/greta-thunberg-vence-premio-gulbenkian-humanidade/    
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De Carneiro a 17.07.2024 às 13:34

Agitar o passado, reconstruir a História e usá-la para dominar ou subjugar as pessoas tornou-se o meio mais recorrente para tolher a Razão, diminuir/limitar o futuro, sustentar medíocres e fazê-los prosperar.


Do resto porque será que todos esses medíocres não escarafuncham na História um pouco mais para trás?! Na dos Romanos, na dos egípcios, na dos incas ou na dos persas?
Se calhar economicamente é menos proveitosa para esses medíocres!


Ler Tidiane N’Diaye não lhes fazia mal https://www.dn.pt/cultura/foram-os-arabes-muculmanos-que-comecaram-o-trafico-de-escravos-em-grande-escala-10680721.html/ (https://www.dn.pt/cultura/foram-os-arabes-muculmanos-que-comecaram-o-trafico-de-escravos-em-grande-escala-10680721.html/)
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De O apartidário a 19.07.2024 às 18:11

Esse autor não faz obviamente parte das disciplinas ou das cartilhas lidas por essa malta pós moderna ou pós sanidade.
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De O apartidário a 19.07.2024 às 18:15

E o pior do wokismo está na ideologia de género (sem negar a sua nefasta influência em tudo o resto como no caso da História e afins).
Vejamos o seguinte:
"O problema para os activistas do género é que, embora seja possível alguém identificar-se como qualquer coisa, não é possível que um homem seja uma mulher ou que uma mulher seja um homem. Foi por isso, para obscurecer esse facto, que os activistas criaram um pequeno dicionário de termos como «transgénero», «fluidez de género» e «não-binário». «Cuidados de afirmação de género» é outra expressão que os activistas cunharam para descrever tratamentos de mudança de sexo, como bloqueadores da puberdade, injecções hormonais, duplas mastectomias e faloplastias.
Surpreendentemente, ou nem por isso, muitos profissionais de saúde e alguns hospitais pediátricos são os grandes actores neste jogo."
Do blog Identidade de Género-- ideologia ou ciência? aqui no sapo blogs
Mais no post 'A verdade sobre os cuidados de saúde que afirmam o género auto-determinado'
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De Carneiro a 21.07.2024 às 09:11

Quando se entra no mundo da insanidade tudo é mau, é toda uma tenebrosa cascata de medonho em cada vez mais medonho.


A ideologia de género mais a transexualidade mais não são que doença psiquiátrica em acção, ensinada e/ou promovida como forma de vida.
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De V. a 17.07.2024 às 20:20

<i>A única questão relevante está em saber como raio a Fundação Gulbenkian se envolve nisto</i>



Não percebo a surpresa — há já bastante tempo que a FCG e as notáveis revistas de literatura e artes que produzia foram colonizadas e apropriadas por socialistas e bloquistas para ficarem com os melhores empregos da cidade e porem em marcha os seus planos revisionistas. Quer o alinhamento com questões woke no plano editorial quer o próprio rumo que deram às exposições de artes plásticas transformaram a Gulbenkian numa instituição irrelevante no plano artístico e cultural. Um exemplo é andarem a fazer exposições de "mulheres pintoras" sem critério nenhum a não ser repetirem sound-bytes jornalísticos que não têm relevância nenhuma na história da arte, porque não é disso que a Arte trata.

A FCG neste momento está irreconhecível e é insignificante no plano cultural. Ao contrário de Serralves que tem um programa expositivo de referência em todo o mundo e uma actividade editorial de alto nível fazendo catálogos e conjuntos ensaísticos de referência para públicos especialistas e artistas em todo o mundo. (Isto excluindo o facto desagradável de muitas delas virem grafadas em Acordês, uma das ferramentas do wokismo)

A Gulbenkian, neste momento é mais um dos grandes sucessos do PS e dos seus confederados da Ordem do Avental.

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