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Voto. Vende-se.

por José Mendonça da Cruz, em 12.03.18

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 Estou, portanto, sem representação. O meu ínfimo e miserável voto será mais um a juntar-se às colunas nem ínfimas nem miseráveis da abstenção. O meu voto olha para trás sem saudade e deseja aos partidos do sistema que, um dia, olhem em redor e não vejam ninguém, e que, depois, tardiamente, perorem sobre populismo.

 

O Dr. Rui Rio tem uma ambição: fazer do PSD um verdadeiro PS. Entretanto, até esse momento salvífico, o Dr. Rui Rio quer fazer do PSD o melhor amigo e imitador do PS, o seu aliado para o diálogo, a sua bengala contra o extremismo. O Dr. Rui Rio vê na antiga hoste de Sócrates que agora novamente governa gente perfeitamente fiável e equilibrada, sociais-democratas como ele. Ao Dr. Rui Rio não ocorre crítica ou indisposição alguma sobre carga fiscal ou omnipresença do fisco, sobre a hipoteca do futuro a funcionários e sindicalistas, sobre o estado da saúde, sobre captivações, sobre segurança social, sobre as políticas estatistas e de sacrifício da liberdade na educação e na economia, sobre divergência em relação à UE e oportunidades perdidas. O Dr. Rui Rio e a sua direcção garantem-nos que, salvo erro ou adiamento, o futuro começa em 2022. O Dr. Rio está próximo de Pacheco Pereira, que desconsidera qualquer política que fale de empresas, e não de trabalhadores (a mesma frase, quase ipsis verbis, que Jerónimo Sousa disse ontem ao PS).

O meu voto tem nojo ao Dr. Rui Rio. É atraído por aquilo a que Pacheco Pereira tem nojo, porque eu considero que uma política que opõe «trabalhadores» e «empresas» é reaccionária e retrógrada. O Dr. Rui Rio estará perto de nos presentear com a citação que toda a acção política pusilânime cita: «a política é a arte do possível». Repete-se o paradoxo de um chanceler de ferro proporcionar tão boa desculpa a figurantes de plasticina.

 

A Dr.ª Assunção Cristas jura que é de direita. Donde se segue –  estranhamente, e segundo ela – que não tem nem programa nem ideias, só pragmatismo. Ou seja, a Dr.ª Assunção Cristas garante-nos que não fará mais que o possível, por medo de amedrontar alguém. Não terá valores, só caminhos. Entretanto, o que é o possível? O possível é competir com o PSD, um combate entre os dois, um contra o outro e contra o método de Hondt. A Dr.ª Assunção Cristas promete afirmar-se e ao seu partido, e, de passagem, garantir a vitória do PS nas eleições de 2009 e outras que venham.

O meu voto sempre teve nojo ao CDS, cujos excelentes quadros sinceramente admiro, mas a quem não dou o voto porque nunca sei para onde o levam. Podem ser liberais com dúvidas, um dia, e pender para o intervencionismo, no outro, uma espécie de socialismo menos maligno enroupado em democracia cristã. O meu voto tem nojo à política da Dr.ª Cristas, porque não sabe o que é, porque o pragmatismo manda umas coisas um dia, e o contrário delas no outro.

 

Para o Dr. Rui Rio e a Dr.ª Assunção Cristas ser-se maximalista, hoje, é considerar que a política do PS não consegue (nem visa) mais do que preservar a cepa torta, e, de passagem, garantir lugares e rendas aos amigos, ou que a actual forma de garantir a paz social entrega porções vitais do país à pré-história. O Dr. Rio e a Dr.ª Cristas combatem-se com a espada da possibilidade. O meu voto tem nojo a ela.        


18 comentários

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De Isabel a 12.03.2018 às 22:11

Junte-se ao maior partido do país. Em 2015 teve tantos adeptos quantos os que votaram em todos os deputados designados pelos aparelhos partidários: 45%. Os outros 10% dos votos foram brancos, nulos ou em partidos que não elegeram nenhum deputado.
Há décadas que me dei conta de que o meu voto correspondia a um cheque em branco num partido sem garantia nenhuma. Os líderes podem mudar em qualquer altura e os deputados estão-se « nas tintas » para mim porque é o aparelho partidário que os escolhe. Acontece também que quem manda nas leis que saiem da AR é o partido cujo chefe é o simultaneamente o chefe do executivo. Ou seja, não há a tão apregoada exigência democrática de separação de poderes legislativo e executivo.
Bastam estas razões para me convencerem que o regime em que vivo é muito mais uma partidocracia do que uma democracia. E, após alguma investigação junto de especialistas nestas áreas, verifiquei que o nosso sistema eleitoral é considerando por alguns exactamente como eu o entendo.  
Já viram que, não obstante a cada vez mais frequente referência por alguns à necessidade de alterar o sistema eleitoral, trata-se de tema que nunca é objecto de debate? 
O simples facto das listas passarem a ser abertas ao voto dos eleitores poderia resultar num grande tornado sobre a classe política instalada. Mas permitiria, talvez, uma renovação e requalificação da mesma. 
Depois, haveria que ver se os meios de comunicação passariam a dar a informação relevante mais do que entretenimento anestesiante. Mas isso é outra conversa que nos levaria longe.
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De Supressor de Som a 13.03.2018 às 11:30

Praticamente na "muche"!
A pedra de toque no assunto que fala prende-se exactamente com a falácia da separação dos poderes. 
Dizem as regras que a Assembleia é constituída por 230 deputados eleitos por sufrágio universal. Todavia, como muito bem referiu, tal, não só não corresponde à realidade, como apresenta uma considerável distância da mesma. 
Tirando os líderes partidários (eleitos na sequência das eleições), os restante são escolhidos a dedo mediante o número de votos que representem nos círculos a que pertencem, ou tão somente face a agendas e interesses partidários.
Uma ponderação séria sobre o sistema eleitoral é imperativo.


   
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De José Monteiro a 14.03.2018 às 20:58

Bravo, Isabel.
Tudo o que merecem. 
Ao largo.
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De Makiavel a 13.03.2018 às 09:45

Um órfão do passismo. Mais um.
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De Luís Lavoura a 13.03.2018 às 10:39

José Mendonça da Cruz, não desespere. Há muitos partidos políticos em Portugal. Se você não gosta do CDS nem do PSD, tem alternativas. Podem ser partidos pequenininhos mas, se você e outros como você nunca votarem neles, eles nunca crescerão. Por exemplo, da wikipédia:
O Partido Cidadania e Democracia Cristã (PPV/CDC)[1] (https://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Cidadania_e_Democracia_Crist%C3%A3#cite_note-1) é um partido político (https://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_pol%C3%ADtico) português, aprovado pelo Tribunal Constitucional em 1 de julho (https://pt.wikipedia.org/wiki/1_de_julho) de 2009 (https://pt.wikipedia.org/wiki/2009) sob a designação de Portugal pro Vida (PPV),[2] (https://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Cidadania_e_Democracia_Crist%C3%A3#cite_note-2) que defende os princípios da doutrina social da Igreja (https://pt.wikipedia.org/wiki/Doutrina_social_da_Igreja).[3] (https://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Cidadania_e_Democracia_Crist%C3%A3#cite_note-3)
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De José da Xã a 13.03.2018 às 11:00

Caríssimo,


curiosamente escrevi ontem que Cristas quer ocupar o lugar que o PSD vai deixar vago. E cada vez sinto que nas próximas eleições o CDS vai crescer.
É evidente que depende muito da postura de RR.
O CDS deu à política Freitas do Amaral e Basílio Horta que num rasgo de imbecilidade passaram para o PS.
Mas acredito mais num CDS com Cristas que num PSD com Rio.
Mas até 2019 muita água há-de correr por debaixo das pontes. e vamos aguardar serenamente.
É bom que não nos esqueçamos do PR que se comporta qual monarca em terra de cegos - que não somos - e que pode influenciar o voto.
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De Anónimo a 13.03.2018 às 14:06

Depende da postura de Rui Rio? Já não era a altura de os meninos do CDS crescerem e deixarem de se colar ao PSD? Se o PSD precisar deles, ou optar por eles, para um dia formar governo, chama-os. Quanto aos votos no CDS, se o José da Chã gosta do CDS ou da Cristas, naturalmente vota neles. De qualquer forma, não é para desprezar a grande ambição da Cristas, ou qualquer outro dirigente politico (cada um é livre de pedir a lua), mas não me parece que o CDS vá crescer assim tanto ;)
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De José da Xã a 13.03.2018 às 15:56

Curiosamente nunca votei no CDS. Sempre votei no PSD.
Mas neste momento preferiria votar em Cristas que em Rio.
O meu receio vai para este escorreganço que os partidos do centro-direita estão a fazer para a esquerda, deixando em aberto um espaço que poderá vir a ser ocupado por alguma direita mais retrógada, quiçá ainda em gestação.
Abraço.
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De Anónimo a 14.03.2018 às 09:51

A direita mais retrograda que ocupe o espaço que quiser. Nunca terá mais votos que o CDS, um partido pequeno, porque a grande maioria dos portugueses não está para aí virada.
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De José da Xã a 14.03.2018 às 18:19

Já há muitos anos que defendo a ideia de que se o voto em Portugal fosse obrigatório a esquerda jamais ganharia uma eleição que fosse.
Mais... o voto não é obrigatório porque a esquerda sabe disto também.
Quem em Portugal não se assume de esquerda e não vota não pode depois vir queixar-se dos desmandos esquerdistas.
Os nossos políticos são fracos e só se preocupam com os interesses partidários. O País? É o quê?
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De Anónimo a 15.03.2018 às 09:40

Hhmm. Se o Estado obrigasse as pessoas a votar, as pessoas votavam na direita? Genial ;). O CDS ainda não se lembrou de argumentar com essa…

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De José da Xã a 16.03.2018 às 00:13

Acredite se quiser, mas o voto obrigatório setia uma enorme machadada na esquerda.
Coloco-lhe só uma questão: quantos eleitores de esquerda se abstêm? Ou não vão votar?
O CDS não argumenta porque sabe que perde.
Tivesse a esquerda a certeza dos votos e acredite que o voto seria obrigatório.
Abraço.
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De Anónimo a 16.03.2018 às 11:58

Não faço ideia de quantos “eleitores de esquerda” se abstêm ou não vão votar, da mesma maneira que o José não faz ideia de quantos “eleitores de direita” se abstém ou não vão votar. Mas garanto-lhe que haveria muita gente de direita irritada por o Estado a obrigar a votar. Como sabe, há muita direita que não gosta que o Estado se meta na sua vida e a obrigue a fazer o que não quer.

O CDS não usa o mesmo argumento do José porque sabe que é um disparate. 

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De José da Xã a 16.03.2018 às 15:54

Será mesmo?
Feliz ou infelizmente sei o que a esquerda pensa.
Repare eu não me refiro à esquerda-caviar, mas aquela associada ao PCP.
Quantos camaradas não vão às urnas colocar o seu voto? Raríssimos.
Abraço e bom fds.
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De Anónimo a 16.03.2018 às 16:18

Devo estar a ver mal, mas ainda não entendi o seu argumento. Olhe, leve uma coisa para pensar no fim de semana: não conheço muita gente de direita que defenda que o Estado deve obrigar os seus cidadãos a votar... E, como é óbvio, que é mesmo de direita (quem não é indiferente), vota mesmo. 
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De João Sousa a 13.03.2018 às 11:27

Sim, mais um órfão dos extremismos de direita. Felizmente órfão
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De José Mendonça da Cruz a 13.03.2018 às 22:23

Numa simples linha um triste ideário e uma triste cabeça.
«Orfão», diz ele (que ao menos não é anónimo) porque julga que a política e as escolhas políticas são como a família.
«Extremismos de direita», diz ele, porque tudo o que não seja o Estado a mandar e a «apoiar» é para ele incompreensível.
Felizmente orfão», diz ele, porque a representação de ideários diferentes em democracia deixa incomodados os que se sonham tiranetes.
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De Antonio Soares Neto a 13.03.2018 às 11:58

Todo o sistema politico melhoraria substancialmente,em minha opinião, com duas medidas: Listas abertas em que se escolheria o deputado e representatividade na AR dos votos brancos, ou seja, os votos em branco criavam uma bancada deserta, o que iria motivar muitos dos abstencionistas a votar e certamente que se os Senhores Deputados todos os dias vissem cadeiras vazias no hemiciclo pensariam duas vezes na forma como actuam fora de eleições.

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