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Viver no interior do mito

por henrique pereira dos santos, em 29.02.24

Paulo Tunhas faz falta, lembrei-me eu ao reler este texto de que me lembrava de um bocado que fui procurar.

O texto usa a Venezuela como pretexto próximo, mas desde o título é bem claro que o texto não é sobre a Venezuela, é sobre o desprezo pela plebe que resulta de se viver no interior de um mito.

A razão para me lembrar do tal bocado que me fez reler o texto todo é, em primeiro lugar, a necessidade de sistematizar um bocadinho as minhas ideias sobre essa seita que vive aterrorizada com o monstro das bolachas e, para espantar os seus males, em vez de cantar como seria sensato, atira tinta verde para cima de quem lhes pareça que possa ser o monstro das bolachas disfarçado de gente normal.

Mas verifiquei que isso se aplica também à quantidade de analistas que, perante uma opinião perfeitamente banal de Paulo Núncio sobre o aborto, sem ponta de novidade, na qual ele diz, e bem, que uma coisa aprovada por um referendo só deve ser revogada por referendo, resolvem ressuscitar uma frente política contra a reacção, o velho reflexo do "não passarão" que esquece a resposta de Franco: "passámos".

Paulo Tunhas explica admiravelmente: "é preciso ter em conta que o mito obriga a uma extraordinária selectividade no uso da compaixão. Se as criaturas humanas não encaixarem bem no esquema que o mito oferece, não gozarão sem dúvida da mesma piedade que merecem aquelas que nele encaixam. Formam uma plebe indistinta que não comove. Não se anda longe do desprezo".

O exemplo de Mariana Mortágua, condoída com dificuldades que a subida da renda da casa causam à viúva de um industrial rico, sem a menor preocupação para com os doentes mentais pobres do concelho de Tábua que beneficiam dessa subida, é o exemplo mais caricato que esta campanha trouxe, desse desprezo pela plebe, seguido de muito perto pelo famoso "mas o que é que não funciona" de Pedro Nuno Santos.

Mais transversal é a quantidade de comentadores e analistas que acham que para a formação do voto no dia 10 de Março o facto mais relevante que ocorreu ontem é uma declaração banal de Paulo Núncio e não a notícia de que foi encontrado em decomposição o corpo de uma senhora que desapareceu de um hospital porque a impediram de estar acompanhada por familiares, apesar de ter Alzheimer.

"A facilidade em saltar para os hipotéticos males futuros, desvalorizando alegremente os reais males presentes, é ajudada por duas características salientes: a incapacidade de olhar os factos com um mínimo de despreendimento relativamente a um quadro teórico geral no qual cresceram e de que nunca se afastaram por um milímetro – e um profundo desprezo pela plebe. Estas duas características encontram-se, de resto, ligadas uma à outra", Paulo Tunhas, outra vez, que eu não consigo ser tão claro.


9 comentários

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De Anónimo a 29.02.2024 às 10:46

As opniões de Paulo Nuncio, são banais. Mas foram ditas em campanha eleitoral.
Das duas uma, ou é um péssimo político que vem para a campanha fazer conversa de café, ou pretende que isto seja tema de campanha,
Se foi o primeiro caso, concordo que os comentadores não deveriam ter dado importância, no segundo caso comentaram um facto novo.
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De Antonio Maria Lamas a 29.02.2024 às 10:51

Um muito oportuno texto. 
Que os candidatos adversários cavalgassem a mentira, ainda compreendo, é o que fazem todos os dias, mas que TODA a comunicação social mais a nova peste, os comentadores amensalados promovam a mentira até à náusea é muito mais grave. 
Existe  uma espécie de comentadores-senadores a quem tudo é permitido, sem contraditório, que estão a minar a própria democracia. 
Espero sinceramente que a 10 de Março os portugueses se marimbem para esta pseudo-elite e lhes dê uma lição. 
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De O apartidário a 02.03.2024 às 17:03

Você é facho ou democrata? O teste definitivo!
Infelizmente, na bandalheira em que vivemos há sempre a possibilidade de as forças reaccionárias ganharem nas urnas. E isso não é democracia, nem aqui nem na China. Ou na Venezuela.

02 mar. 2024, 00:20 no Observador

Apesar de alguns, incluindo o Observador, terem tentado esforços similares, só agora está disponível o único teste que determina com imaculado rigor a orientação ideológica do sujeito testado. É também o único certificado (a aguardar reconhecimento definitivo) pela Escola de Estudos Africanos da Universidade de Londres, alma mater da chefe do Bloco de Esquerda. Duvidam? Respondam às seguintes questões e depois pasmem à vontade.

Alberto Gonçalves no Observador

Continua https://observador.pt/opiniao/voce-e-facho-ou-democrata-o-teste-definitivo/
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De cela.e.sela a 29.02.2024 às 11:31

a esquerda reacionária continua no:
«bem, não é bem assim, mas, talvez»
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De O apartidário a 29.02.2024 às 13:47

A epidemia de insanidades esquerdistas na política e nos média foi normalizada no pós Prec (e no pós fofinho contra-ataque do 25 Novembro) em nome da democracia e da igualdade. O que vemos hoje é herança disso à mistura com outras insanidades modernas.
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De O apartidário a 01.03.2024 às 09:45

Por falar em insanidades modernas, também do Observador:


E eis que, após longo e higiénico silêncio, Marcelo afinal está vivo e não perdeu a voz. A respeito do ataque contra a democracia, como Mortágua, líder do partido que suporta e organiza este terrorismo, o classificou, veio o Presidente criticar como todos os líderes partidários? Claro que não. Quem ancorou toda a carreira no populismo veio fazer o que sempre fez: fingir que apaga fogos com copos de água enquanto incendeia tudo à volta.

Veio Marcelo declarar-se ele próprio um fanático climático – diz que a luta climática é boa e que a manifestação é um direito que assiste a todos em democracia – mas considerando “que a partir de determinada altura é uma forma de atuação muito pouco eficaz”.

Ou era o Moscatel a falar mais alto, ou temos que perguntar várias coisas ao PR, que também é conhecido por Professor e logo de Direito, à cabeça se sabe o que é um Estado de Direito Democrático e quais as regras que separam uma manifestação de um crime. Certamente não sabe ou não teria permitido os enormes atropelos durante os dois anos de pandemia. Fica a dúvida se à fraca qualidade dos políticos da praça, será alheio o facto de vários serem seus antigos alunos.

Depois, podíamos sempre pedir-lhe para ser consequente e desenvolver as suas palavras, ele que até – também o sabemos de ontem – está esclarecido. Quer o sr. PR que se suba brutalmente o IUC? Que se aumente mais e mais os impostos sobre a gasolina? Quer que muitos idosos morram à fome e ao frio porque o gás é para acabar já? Quer as serras todas esburacadas de minas de lítio e os Sobreiros arrancados para desertos de painéis solares? Quer o fim da democracia, esse empecilho à vitória de uma luta boa? Quer ele próprio abdicar de alguma coisa ou defenderá sempre o seu próprio privilégio como nos habituou quando proibia os outros todos de fazerem o que ele fazia?

Continua 
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De O apartidário a 01.03.2024 às 09:45

A cereja no topo do bolo: a preocupação do PR é que a tinta já não é muito eficaz. Diga isso mais alto para os terroristas ouvirem: olhem, a tinta não funciona, têm que cumprir a vossa palavra e endurecer a luta – só faltou pedir para porem os olhos nos Talibãs ou no Hamas… Bem, devia ser mesmo o Moscatel, talvez misturado com Actimel…

Certo, certo é que o Homem não falava há muito tempo. Finalmente falou. E logo trouxe à memória de muita gente a célebre frase de Juan Carlos: “¿porque no te callas?”

https://observador.pt/opiniao/porque-no-te-callas/
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De marina a 29.02.2024 às 17:22

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De O apartidário a 02.03.2024 às 13:15

"A facilidade em saltar para os hipotéticos males futuros, desvalorizando alegremente os reais males presentes, "  -------------- ----------------- Ainda pior é a distorção da realidade para acomodar as teorias mais insanas e subversivas.

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