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Os radicais deles são os nossos socialistas
Temos então, na Grécia, que o partido Syriza foi mandatado pelo presidente para formar governo, após anunciar que firmara uma aliança com os nacionalistas do ANEL, o partido dos Gregos Independentes, que, com os seus 4,75% de votos e 13 deputados assegura a maioria absoluta.
Temos, então, na Grécia, um governo que, como estabelece o programa do Syriza, se propõe
Entretanto, porém, o Syriza propõe-se «confrontar a crise humanitária», e para isso quer
3. dar electricidade gratuita a 300 000 lares, refeições gratuitas a 300 000 famílias, garantir e subsidiar a habitação, pagar as despesas médicas e farmacêuticas aos desempregados, dar transportes gratuitos a pobres e desempregados.
Ora, como tudo isso custaria dinheiro vindo dos contribuintes europeus, portugueses incluídos, para lhes pagar as receitas cessantes e a despesa aumentada, o Syriza deseja amenizar as coisas propondo-se «reanimar a economia» com as seguintes medidas:
4. aumento de salários e pensões; aumento do salário mínimo; criação de 300 000 postos de trabalho (resultado de um plano de dois anos que não é explicado, mas que, como o programa de 150 000 empregos de Sócrates, terá os mesmos resultados previsíveis); extensão do subsídio de desemprego; e nova legislação que impeça os despedimentos.
E como todas estas medidas são caríssimas e em larga medida contraditórias, o Syriza, prevendo algum desassossego, propõe-se também, previsivelmente, «aprofundar a democracia», através de
5. novas forma de democracia popular; regionalização; reabertura da televisão pública; e cancelamento da licença à comunicação social que se portar mal.
Temos, então, e portanto, o governo de um partido que se intitula a si próprio de «esquerda radical», e a que em Portugal se vem chamando de extrema-esquerda, mas erradamente. O Syriza é, afinal, um irmão do nosso Partido Socialista, pois, como se vê pelo seu programa, propõe o que o PS propôs com Sócrates e continua a propor com Costa: não pagar o que deve, e gastar mais na reanimação, ou seja, endividar-se para sair da dívida. É o que chamam «política de crescimento»
Temos, então, em aliança, um partido socialista e um partido nacionalista de direita, inimigo da imigração, do multiculturalismo, da homossexualidade, e declaradamente anti-semita.
Temos na Grécia, e em resumo, um governo nacional e socialista.
As ilusões que transpiram
Não há nada mais confrangedor do que um rabo escondido com o gato de fora. Não há nada mais desconsolador do que comparar a prudência informativa da imprensa europeia, mesmo a de esquerda, com a excitação pueril dos jornais de trazer por casa.
O Liberation francês titula razoavelmente que o governo Tsipras «permite esperar uma inflexão nas políticas de austeridade europeias» (note-se o cauteloso permite, note-se o razoável esperar, note-se a mera inflexão). Em Espanha, o El País escreve que «A vitória do Syriza antecipa um período de agitação na Europa» (note-se o realismo da previsão de um período de agitação). E o Guardian de Londres abstém-se de toda a especulação, e regista apenas (há quem diga «noticia») os factos da vitória do socialista Syriza e da aliança com o nacionalista ANEL. Escolhi propositadamente jornais tidos por tendencialmente próximos do PSF, do PSOE e do Labour para os comparar com a imprensa portuguesa.
Em Portugal, o Jornal de Notícias de Afonso Camões proclama entusiasticamente que a Grécia «é o princípio do fim da austeridade». O Público põe-se em bicos dos pés no pedestal dos seus 7000 leitores para advertir a Europa de que a «Grécia vira página da austeridade e deixa a Europa a fazer contas». E o Diário de Notícias de André Macedo não vê menos do que uma «Europa (que) estremece com a raiva dos gregos».
Qual é a diferença? A diferença é, em primeiro lugar, que enquanto os jornais estrangeiros citados escolheram a informação, os jornais portugueses citados escolheram o «wishfull thinking» (deles), escolheram o frenesim pateta. A diferença é que estes jornais portugueses não raciocinaram, estes jornais portugueses esqueceram-se desse pormenor despiciendo da democracia, estes jornais portugueses outorgam à Grécia não só o direito, como o poder de ir contra todos os contribuintes e eleitores europeus que elegeram governos que não querem imitar a Grécia, e, sobretudo, que não querem pagar as fantasias e trapalhadas gregas.
Que se vai seguir um confronto de ideias na Europa, não há dúvida. Clamar que 40% de gregos ganharam a 27 países ultrapassa em muito a tonteria. E, pior: depois de demonstrada a inviabilidade das ilusões de Tsipras, ou depois de cavada a falência das ideias do Syriza, ou depois de cavada a falência da própria Grécia, estas proclamações juvenis parecerão atrozmente ridículas.
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