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Ensopado na rua ou a ver da janela as longas horas e dias de chuva torrencial, a saber das notícias de tempestades e trombas de água em todo o país a cada dois dias de três, vou imaginando: será que quando faltar água de bebida ou de rega em Agosto a culpa ainda vai ser das alterações climáticas?
Os especialistas que afirmam que há ajudas desinteressadas e auxílios militares gratuitos no santo nome da democracia e dos valores deveriam lembrar-se que a Inglaterra acabou de pagar a dívida de guerra aos EUA em 1982.
Sobre as eleições para a presidência dos Estados Unidos da América o que tivemos durante meses foi uma barragem ininterrupta de desinformação, acompanhada de um fosso brutal de omissão. Foram-nos contadas maravilhas sobre a candidata democrata, Kamala Harris, e omitida toda a informação sobre a sua agenda woke, abortista de 9.º mês, identitária de género, BLM, anti-Polícia, sobre o seu desconsolador historial político. Foram-nos contadas piadas grosseiras sobre o candidato republicano, Donald Trump, glosadas críticas de transeuntes apanhados na rua, falsificadas declarações para lhes dar o sentido contrário (lembrem-se da mentira sobre Porto Rico) e omitida toda e qualquer referência a medidas, a programa, ou ao historial económico e de relações internacionais do primeiro mandato.
Jornalistas que não são jornalistas e comentadores cujo comentário é despiciendo serviram-nos os seus caprichos, as suas ilusões, as suas raivinhas particulares, as suas crenças pueris, competindo entre si em demonstrações de virtude para a sua bolha pobre de espírito e pequenina. O que nunca fizeram foi jornalismo ou comentário informado e sério.
Como os vem encontrar a reeleição de Donald Trump, acompanhada de uma vaga republicana que conquista senadores, representantes, e governadores? Aos mais desonestos ou iludidos, deixa-os tristes com os resultados, mas orgulhosos do esforço dispendido. Aos mais honestos ou estúpidos, perplexos. A ambos os grupos, dispostos a não aprender nada. É, por isso que, em vão no que respeita a «jornalistas» e «comentadores», mas com o gosto de transmitir informação àqueles a quem foi recusada ou trapaceada, aqui deixo um texto do jornalista e comentador Tim Stanley, do jornal inglês The Telegraph:
https://www.telegraph.co.uk/news/2024/11/03/case-for-trump-us-president-election/
Nota: obviamente esses «jornalistas» e comentadores que (com dolo, ignorância ou estupidez) em vão se esforçaram durante meses por enganar-nos não aprenderão nada. Continuarão a dizer sobre o presidente eleito as mesmas vacuidades que disseram sobre Reagan (chamando-lhe «actor de segunda» e «cow-boy» antes de ele mudar o mundo) ou sobre George W. Bush (que apodaram de ignorante por chamar «grecians» aos gregos, antes de lhes ser explicado que é a forma erudita de referir os gregos, como seria para nós «helénicos»).
Eu ia escrever: «Mas que tipo de jornalista...?» Mas, depois, pensei que mesmo no estado actual da profissão a pergunta seria injusta; e, por isso, reformulei. Ficou assim:
Mas que tipo de gente, perante os protestos das vítimas da região de Valência contra o primeiro-ministro espanhol (fugido) e o Rei (que ficou), escreve ou diz que os protestos foram «de extrema-direita»?
Há muito tempo que a Sic não é um canal de informação, mas sim uma fonte de activismo e enviesamento pró-socialista, circunstancialmente até pró-(irmão)-António Costa. Mas tinha uma coisa: era um enviesamento, uma parcialidade, e um receituário de omissões inteligente, como é inteligente o seu director de informação, Ricardo Costa (tanto que testemunhei certa vez como convencera Diogo Feio de que, na verdade, o seu coração estava no PSD).
Mas tendo o irmão António Costa cumprido o seu destino provisório e partido para destinos internacionais, Ricardo Costa estará em período de meditação e decisão sobre o que fará a seguir. E com isto sentiram-se à solta as criaturas menores que abundam naquela redacção.
Desde que Luís Montenegro - perante aplauso geral da sala, aplauso que decerto tem eco enorme no país - disse que a disciplina de cidadania ia ser revista - subentendendo-se que para a limpar das cretinices e wokismos em que é rica - , os noticiários da Sic e da Sic Notícias, estando Ricardo Costa preocupado com valores mais altos, tomou a rédea nos dentes e vem esparvoando. Esparvoando como em parvoíce, porque aquilo que se ouve de «comentadores/as da Sic» não é informação, nem opinião, nem sequer parciais e facciosas; é apenas estupidez, ignorância despudorada, e muito, muito, do mais patético nervosismo (ou histeria. ou facciosismo).
Ontem, na SicN, uma tontinha qualquer, deixando despudoradamente à mostra os cordelinhos que a movem, tomava-se de ardores porque, dizia ela, Montenegro, tendo tantas coisas importantes com que preocupar-se, pretendia pôr fim à intoxicação da «cidadania». Hoje, antes das 20, na mesma SicN, uma dessas meninas afogueadas deparou com Maria João Marques que lhe temperou as palermices e arrefeceu a excitação, que lhe corrigiu a desinformação, e que em geral meteu a criatura na ordem. Mas o critério de admissão a «comentador/a da Sic» é muito baixo, e - para além do facto de os pobres diabos da SicN não desejarem ser desmentidos ao vivo - a verdade é que são relativamente escassas as pessoas inteligentes para travarem a multidão de idiotas que ali pulula.
De maneira que, enquanto assistimos a raciocínios pedestres ditos com absoluta certeza, a tiradas da mais crassa e ululante ignorância, a manipulações descaradas e a omissões gritantes, continuaremos a divertir-nos pensando: esta gente talvez julgue sinceramente que faz jornalismo, e, mais extraordinário ainda, não compreendeu nem vai compreender que esse seu «jornalismo» é suicida. Em boa hora descerão à rua com cartazes contra o desemprego que julgam sem causa, os perigos que julgam resultar para a democracia, e o que creem ser a exploração capitalista. E, depois, nunca chegarão a coisa nenhuma.
Lá em casa temos um brinquedo novo, um aspirador Dyson, e estamos muito contentes.
Mas depois da alegria, depois de usufruir as vantagens de uma invenção bem inventada, fiquei a pensar nos talentos do Senhor James Dyson.
Certo dia, o Sr. James Dyson, que eu suponho empresário, ter-se-á, segundo suponho, recolhido a pensar o seguinte:
- o que é que mais faz penar uma dona ou dono de casa que tem que aspirar o que é seu?
- é penoso (terá considerado o senhor) passar meia hora de costas curvadas aspirando chão e tapetes das divisões do seu T1, ou T2 ou T3;
- pesam-lhe (pensou decerto) as passagens repetidas da cabeça do aspirador que só aspira pelo orifício do meio;
- é penosa (decerto lamentou) a preocupação constante de desviar o fio eléctrico dos pés das cadeiras, das esquinas dos móveis, dos cantos dos sofás;
- maça-o ou maça-a (acreditava ele) ter que mudar de tomada porque aquela já não dá, ou então é preciso uma extensão que se enrodilha sabe-se lá em quê.
Então, o Sr. Dyson, creio eu, imaginou um aspirador sem fios, que evitasse a maçada de tomadas e extensões; que fosse dotado de uma vara rígida, para ser manejado em pose erecta; e dispusesse de uma cabeça com escova rotativa e sucção a toda a largura, para resolver as coisas de uma só passagem e de uma só vez.
O Sr. Dyson não era astrofísico, e nenhuma das aptidões da sua invenção recorria a tecnologia inovadora ou mecanismos experimentais; o seu aspirador apenas utilizava mecanismos e tecnologia familiares de forma original.
O Sr. Dyson decidiu, pois, comercializar o seu aspirador. E como ele eliminava incómodos gritantes, o aspirador foi um sucesso. E como a eliminação daqueles incómodos tão conhecidos era compensador, o aspirador era caro. E como os consumidores consideraram razoável o mais alto custo relativamente aos incómodos de que eram libertos (o valor), o Sr. Dyson fez, segundo suponho, muito dinheiro.
Detesta o Sr. Dyson gente como as irmãs Mortágua - que nunca fizeram nada de bom ou útil para ninguém, exceto entreter néscios com uma sucessão de platitudes e falsidades debitadas com cabeceamentos atenciosos para o microfone da direita, agora para o do centro, agora para o da esquerda, agora para o do meio, agora para o da direita outra vez. As infelizes criaturas detestam o Sr. Dyson, por ele ser ainda mais uma (mais outra, ainda, de novo, dolorosamente, mais uma vez) prova dos benefícios da concorrência e do mercado livre.
Detestam o Sr. Dyson os empresários acomodados, que produzem o que sempre se produziu, sem outra curiosidade, sem inovação, enterrados na inércia. É a inércia «corporativa», diriam os modernaços iletrados, que nunca ouviram falar de integralismo, nem corporativismo, e não sabem o que foi o Estado Novo, nem nas realizações, nem nas manhas, embora julguem ter muitas certezas e julgarem que traduzem do «amaricano».
E temos, então, que a cultura empresarial (não é «corporativa», idiotas!) do «sempre assim foi e assim será», continuará vendendo o seu velho produto 20 vezes mais barato do que o do Sr. Dyson, e o seu velho produto continuará a ser vinte vezes mais penoso de operar, vinte vezes menos eficaz, vinte vezes menos apetecível.
Por esta altura, suponho eu, o Sr. Dyson estará rico. Nós cá em casa estamos felizes com a riqueza dele e o conforto de que passámos a beneficiar por causa da forma por que enriqueceu.
Na sentença imorredoira de um benfiquista mais letrado: «Isto é tudo piscicológico!» Logo o Sporting recebe os homens do Lilleput. Preparemo-nos «piscicologicamente», pois!
... passaram 25 minutos e o jogo decorre com a intensidade que Freitas Lobo não se cansa de anunciar, mas há uma certa preocupação na bancada presidencial. Não é por causa do jogo, nem da fase «de estudo» das equipas em que os nossos se mostram seguros. É por causa dos olheiros. São muitos, e quanto mais atentos mais o incómodo cresce «na estrutura»... mas GOOOOOOLO É GOOOOOOLO aos 29 minutos, é GOOOOOLO de Pote, um toque artístico de calcanhar a curto passe venenoso de Gyökeres. Martinez ajeita os ombros e contorce-se discretamente. Alguém atrás de si disse em surdina, alto bastante para que não deixasse de ouvir: «Olha ainda bem que não o usaram na selecção, ainda se cansava a marcar golos destes lá!»
Começa o carrossel no meio campo francês, de onde virá? de onde virá? HilmanImp impera no meio campo e vai servindo seguro o rodopio de matadores. Gyökeres pára a bola, roda, arranca para o lado direito, dribla um, aproxima-se da área, baliza à mercê, mas aaahhhhhh empurrado e trambolhão. As bancadas irrompem num trovão. «True, the guy`s a danger!», comenta o olheiro do United. Varandas ouviu e pensa: «Devia ser 120 milhões». Amorim põe os olhos no chão. Gyökeers corre para a bola, vai ser outro golo certo... é agora.... vaaaaaiiii.... iiiiiiiiiiiiiih falhou. «Mais vale», pensa Varandas. «Eu que não olho para não azarar, e sai-me isto», pensa Amorim.
Correu meia hora da segunda parte, os Lilliputs ameaçaram duas vezes, mas Debast, primeiro, e Israel, depois (UUi!) estava lá. Freitas Lobo já não vê equipas subidas nem descidas, elogia ainda o magnífico jogo sem bola que iludiu os franceses e abriu caminho para o golo de Pote, e está a determinar exactamente que o Sporting está em contenção quando Nuno Santos controla um passe longo e milimétrico de Diomande, avança junto à linha, flecte para dentro, e envia uma bola em arco para a molhada que se juntou na área, e há empurrões legais, e todos de olhos no ar, e reposicionamentos, e nervos e é GOOOOOLO de Pote. GOOOOOOOOOOOOOLO. Golo de pé direito, um tiro à queima-roupa, a bola nem tocou no chão. GOOOOOOOOLOOOOOOO. Sporting dóóóís - Lilliput Zéééééro. Pote dóóóís - Lilliput Zééééro.
«Mas este é que é o tal Jokers?», pergunta o jovem e inexperiente olheiro do Southampton, a quem o homem do City calara há bastante tempo com um comentário sarcástico ao ouvi-lo perguntar se ali é que era a tal «Luz cathedral».
Agora o Lillyput esmorece, e o ataque sportinguista entra naquele frenesim alimentar de quando lhe cheira a goleada. Tiro de Catamo por cima. Trincão em ziguezage, tiro, aahh o guarda-redes estava lá. Gyökeres à barra, Gyökeres à trave («Antes assim», pensa Varandas outra vez). Freitas Lobo discorre sobre jogo com e sem bola, corredores, subidas e descidas, transições de toda a ordem, e demora-se nas costas dos adversários.
«This guy... Trincau...», diz às tantas um dos ingleses. E o espanhol: «Estaba en`el equipo portugués...», e depois, esforçado:«I wóz in da nachonal tim»
«Ah...», continua o inglês, «just got to see a few minutes. Never saw him play»
«Porque no jugó... i didnot plai», remata o espanhol.
O inglês: «I wonder...»
Minuto 85. Nova substituição. Sai Gyökeres. Entra Hauer. Freitas Lobo assegura que «a formação de Alvalade está apenas a controlar, que é compreensível...» Descontos... Minuto 92... «que é compreensível que Amorim quisesse consolar Hauer com a presença numa vitória». Minuto 93. Mas eis que Santos corre pela esquerda, centra para Bragança que toca leve para espaço aberto à direira e é Hauer que vem em corrida desenfreada de trás e é GOOOOOOOOOOLO Que golaço de Hauer! GOOOOOOOOOOOLO um golo dos 35 metros, espectáculo, golo da jornada! GOOOOOOOOOOLO. É GOOOOOOOOLO. É Gooolo. Golo de Hauer. «Como dizíamos, magnífico golo do estreante Hauer», diz Lobo.
«Ora a cláusula deste para quanto há-de passar?», medita Varandas. «Que entrenador!», diz o olheiro do Real. «Got that right», diz um inglês, «What a coach!» Varandas vitrifica. «Where do theses guys get these assault cars?!», exclama o olheiro do Liverpool. Mas um membro da direcção, sentado um pouco acima para ouvir e olhar os olheiros, sente um arrepio ao ouvir o homem do Chelsea, um português emigrado, responder com uma pergunta: «O director desportivo destes gajos quem é?»
Seja como for: SPOOOOOOOOORTING TRRRRRRRRRRÉÉÉÉÉÉS - LILLYPUT ZÁÁÁÁÁÁÁÁÁRUUUUUUUUUU
Em 1995, Ken Keeler, guionista da série Os Simpson, chamou aos franceses «cheese-eating surrender monkeys». E aí estão eles rendidos ao wokismo e ao politicamente correcto -- ignoro mesmo se ainda comem queijo ou se o bem-estar do gado ovino tomou prioridade nos seus valores e práticas. E, rendidos, conceberam uma das mais grotescas aberturas de Jogos Olímpicos de que há memória.
Uma cerimónia com «tanto de inédito como de original», disse o comentador da RTP, antes de transformar Zizi Jeanmaire em Zizi Jeanmarie. Não querendo acompanhar essa mente sagaz em alguma outra tautologia, digo que a cerimónia variou entre o péssimo gosto e o grotesco engalanado.
Alguém achou oportuno um apontamento em que surge a cabeça de Maria Antonieta aos gritos depois de guilhotinada do corpo.
Alguém achou inclusivo o bailado de um negro de saias que em apontamento posterior se fecha num quarto com um menino asiático.
Alguém decidiu excluir Jeanne d`Arc da celebração de uma série de «mulheres de ouro», das quais duas abortistas, uma anticolonialista e outra da Comuna de Paris, e a quem não devemos nada. Seria a mais famosa mulher francesa ofensiva para ingleses ou infiéis?
Alguém decidiu celebrar a canção francesa com o desfile cantante de uma negra vestida de dourado armada em Beyoncé, seguida de um gajo de óculos à Abrunhosa a cantar rap com a gesticulação própria dessa cultura negra americana.
Além da guilhotina, celebraram, obviamente, a liberdade, a igualdade, a fraternidade. Omitiram, evidentemente, qualquer referência a Napoleão, o maior estadista e militar francês de sempre, não só porque achava que a liberdade é cum granum salis, que da igualdade deus nos livre, e que isso da fraternidade depende, mas sobretudo porque os pequenos franceses de agora temem que pudesse ofender ingleses, holandeses, dinamarqueses, alemães, portugueses, espanhóis, austríacos, russos, italianos ou egípcios.
Alguém aprovou e se orgulha deste circo de horrores e insignificância.
Da história e da Grandeur de Luís XIV, de Napoleão e de de Gaulle, nada. Só sobrou o grotesco e o ridículo. Os franceses correm o risco de, um dia, como em Soumission, alguém os meter noutra ordem. Talvez se rendam e gostem.
E no fim da lamentável cerimónia, lá desfilámos nós no mesmo barco da Coreia do Norte, nós ou a nossa digna representação, que vai patrocinada pela Repsol.
PS. «Surrender monkeys» ou cobardes, pura e simplesmente. Em Inglaterra a manchete do Daily Mail chama-lhes «Les Miserables», entre outras coisas devido a esta «paródia» de travestis à Última Ceia:
Na passada terça-feira, na Sic, José Miguel Júdice vergastou a impreparação e a ignorância (chegou a dizer a estupidez) dos media portugueses e em particular das televisões e respectivos correspondentes em Paris (referindo a própria Sic mais do que uma vez) sobre as eleições francesas. Num registo pormenorizadamente informado e claro, compreensível por uma criança ou um golden retriever, distinguiu entre extrema direita e direita radical, e entre extrema esquerda e esquerda radical (ainda beneficiámos do divertidíssimo momento em que Clara de Sousa perguntava qual era mais extremista, se a esquerda radical, se a extrema esquerda, com a resposta «a extrema, claro»). Júdice explicou como a União Nacional de Marine Le Pen se vinha moderando e com isso conquistando votos; explicou quem é o senhor Melenchon, como é abominado por uma enorme maioria de franceses, e enunciou várias medidas extremistas e catastróficas da Frente Popular que ele encabeça, como o imposto sucessório de 100%, os casos em que certos escalões de IRS passariam a pagar mais de 100 mil euros por cada fatia de rendimento de 100 000 euros, e outras propostas arrasadoras de qualquer economia ou sociedade.
Mas foi em vão. Com o enviesamento irracional e ignorante com que nos bombardeiam diariamente, os media continuaram a pintar os seus quadros de céus e terrores a preto e branco. Com um nojo inexplicável da parte de quem tanto defende o estatismo, os nossos media detestam a estatista Le Pen, e incensam inúteis como Melenchon -- que para eles é «de esquerda», visto nunca reconhecerem na esquerda nem radicalismo, nem extremismo. E com os fragmentos de história que trazem colados com cuspo, lá vieram com as glórias de Leon Blum e os horrores de Vichy.
Ontem, na SicNotícias, o correspondente da noite em Paris, Ricardo Costa, confessou com inultrapassável clareza qual é o grau de cegueira, enviesamento, presunção (e, sim, estupidez) do canal que dirige.
Cito literalmente: «Aquilo que para nós nos parece absolutamente claro, a extrema-direita ou não a extrema-direita, para uma parte dos eleitores [franceses] não é assim tão claro porque há interesses contraditórios». E, depois de referir «o pormenor» de episódios violentos de anti-semitismo cometidos [pela extrema-esquerda], que segundo Costa, «causaram incómodos nos partidos de esquerda», rematou e insistiu que o que está em questão «em primeiro lugar é isso mesmo, há ou não um governo de extrema-direita».
A reportagem de Costa tem, é verdade, uma faceta apreciável: a de deixar «absolutamente claro» que quem procura informação não deve procurar a Sic. É além disso suicida, por crer que o público comerá disto indefinidamente, mas ele lá saberá.
As convoluções do linguajar desportivo atingem dimensões inauditas. Leio numa crónica que
«com apenas dois médios que se transformavam em três com os movimentos de Cancelo para dentro numa réplica com nuances daquilo que o lateral fazia no Manchester City de Pep Guardiola, Palhinha acabou por ser sacrificado em detrimento de Vitinha e Bruno Fernandes. Assumidamente, a ideia de Portugal no corredor central do setor intermédio passava mais por aquilo que podia fazer em posse do que com aquilo que tinha de fazer sem bola, o que fazia com que a linha ofensiva fosse a primeira a pressionar mais alto para obrigar a um jogo direto que dava vantagem aos centrais nacionais.»
E que, no entanto,
«o tridente ofensivo habitual voltou a ser aposta de Roberto Martínez, com Bernardo Silva a ter de forma mais frequente movimentos para dentro para deixar o flanco para as subidas de Diogo Dalot e Rafael Leão mais por fora a dar largura ao ataque de Portugal a olhar também para as transições, deixando Ronaldo em posição mais central na área mas com liberdade para sair do seu raio de ação para trazer consigo também defesas na marcação.»
O que me deixou entretido com cinco interrogações:
- Em que língua estará escrito o texto?
- Que quererá dizer?
- De que modalidade se tratará?
- A que evento dirá respeito?
- Terá acontecido realmente?
Está cientificamente provado que chegou o momento de as televisões darem as mais amplas antenas aos grupos de mais de 5 pessoas que em todas as capitais europeias se erguem contra o avanço do fascismo e o regresso de Hitler e Mussolini, uma vanguarda de 2 ou 3%, verdadeira mãezinha dos povos, que entra em campanha de animação cultural para iluminar os 97 ou 98% dos eleitores que votam ao arrepio da verdade.
Pedro Nuno Santos festeja a grande noite da vitória, e, evidentemente os nossos media esquerdizados festejam-na com ele, confirmando uma vez mais e ainda que não são orgãos de informação, são orgãos de outra coisa qualquer. «Sem contar com o Chega, a esquerda é maioritária», proclamava ontem PNS, como conclusão de umas eleições para o Parlamento Europeu, com mais de 60% de abstenção. Com brilho ímpar PNS determina, pois, que a esquerda seria maioritária se não fosse minoritária.
Entre os canais televisivos que têm (além de um tropismo verdadeiramente incompreensível para blocos e livres) comentadores como Marques Mendes e Paulo Portas, com agendas inconfessadas de futuro, preferi os comentadores da cmtv, António Costa e Pedro Santana Lopes, este com uma agenda de passado, o primeiro com uma agenda de passado somada a uma ambição futura que lhe recomenda equilíbrio. Resultado: foi um prazer ver o comentador António Costa dar-nos mostras de superior sentido político e de evidente inteligência, e foi um prazer ver Santana Lopes divertir-se como sempre fez na política. O canal teve momentos míopes, como o de pintar mapas de rosa e laranja, como se isso fosse a imagem do Portugal político, e como se o que verdadeiramente interessa -- a vitória da direita -- pudesse ser iludida por essas cores que só um ignorante pintaria. Estava lá João Pereira Coutinho para emendar discretamente, mas foi pena aquela pintura, porque esse tipo de espuma impressiona sempre mais os parvos. Pode fazer esquecer o que interessa: as eleições eruropeias, aqui, e na Europa toda, fortaleceram a direita.
De resto, gostei de ver que o Chega foi punido. Não porque Tânger Correia seja fraco candidato (vai daqui mais um senhor, e, ao que parece, menos nulidades da extrema-esquerda), mas por ter ficado provado que o excesso de apetite e a ilusão de Ventura de ser o primeiro partido (ele sozinho) lhe custou votos. Ou seja, Ventura perdeu uma oportunidade de cimentar posições apoiando políticas de direita; mas a ambição a mais para as posses fê-lo apoiar políticas de esquerda. Desejo-lhe que emende a mão ou, em alternativa, que venha a descansar em paz.
Pareceu-me que o Chega estava a fazer um caminho que o poderia levar a primeiro partido da direita. Estou a rever essa ideia, porque a ânsia de crescimento, o excesso de apetite, a vertigem da velocidade têm destas coisas ingratas: quando se atiram 100 protestos para o ar pelo gosto de protestar contra o que seja, incorre-se no risco grave, aliás, na sólida certeza de alienar quem, afinal, é alvo de 50 deles. Com as posições tomadas recentemente penso que o Chega chegou ao seu melhor resultado em março, e começará agora a minguar muito depressa.
Ao soar a campainha de alguma dessas agremiações cujos pronunciamentos são ignorados ou rejeitados por 90% dos eleitores portugueses, os jornalistas precipitam-se babados a beber-lhes as palavras. A esquerda radical para eles não existe, só a esquerda gloriosa e compassiva. Mas quando nacionalistas e conservadores se reunem em Bruxelas, numa conferência internacional, a NatCon Conference, os mesmos jornalistas cancelam: é a direita radical, não gostamos, não existe nas nossas activas mentes, cancela-se!
Mas -- vida azarada -- o presidente da Câmara de Bruxelas, Emir Kir -- que há tempos acolheu com passadeira vermelha uns dignatários da teocracia islâmica -- resolveu cancelar a conferência. Não cancelar pela omissão, mas cancelando-a fisicamente, impedindo que houvesse, impedindo que os oradores reunissem e falassem. Veio então o chefe de Governo belga, Alexander DeCroo, explicar que não podia ser, que o país é livre, que a constituição não permite atentados à liberdade de expressão e reunião. Cancelado o cancelamento, a NatCon Conference continuou.
Cancelado também foi o cancelamento dos jornalistas portugueses, para quem uma reunião com antigos e atuais chefes de Estado e de governo, como Viktor Orban, ministros, comentadores de fama internacional como Douglas Murray, ou políticos destacados, como o governador da Florida, Ron de Santis, é coisa a calar absolutamente. Os jornalistas portugueses não gostam deles, logo não querem que deles se saiba.
Mas -- azares da vida -- dado o escândalo do cancelamento belga, tendo em conta que havia indignação internacional e geral (decerto inexplicável, para eles) lá tiveram que cancelar a omissão e noticiar. A arrastar os pés, evidentemente; com palermices à margem, é claro, como falar do catering, para dizerem que os conferencistas comiam salmão [«Salmão, percebem?» «Um luxo, percebem?» «Fascistas, percebem?» De certeza que vieram em «carros de topo de gama»]. Mas tiveram que noticiar.
E as intervenções, as ideias, as declarações de antigos e actuais chefes de governo, antigos ministros, políticos no activo, opinion makers? Ah, isso não! Isso seria informação. Não se pode pedir tanto.
Episódio 1 - Na noite das eleições, o repórter da Sic junto do PS, José Manuel Mestre, pergunta a Pedro Nuno Santos por que foi que declarou derrota quando ainda há uma hipótese. Pedro Nuno Santos explicou ao «jornalista» que tinha perdido, e era agora chefe da oposição. Mas José Manuel Mestre, o «jornalista» da Sic insistiu: mas pode ser que... Ao que Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS, teve que explicar pela segunda vez ao «jornalista» que não devia alimentar ilusões.
Episódio 2 – na 3.ª feira, 12 de março, na SicN, José Miguel Júdice explicou o resultado das eleições, nomeadamente aquilo que classificou de mudança estrutural: a direita tinha maioria e o PSD era agora o partido do centro, já não o PS. Pese embora o brilho e inteligência da explicação, Clara de Sousa ainda tentou: «E se houver um empate?». Com o que, de uma penada, explicava: 1.Que engolira com linha, anzol e chumbada a tese de Rui Tavares de que a esquerda tinha ganho, e havia além dela a direita da AD e uns deploráveis com 50 deputados; 2. Que não tinha percebido nada do que Júdice acabara de dizer.
Episódio 3 – No dia 11 de março, a Sic abre telejornais, não com Montenegro, vencedor, não com Ventura, a maior novidade da eleição, mas com a ilusão de Rui Tavares, do Livre, de dividir a AR entre a esquerda maioritária, e a AD minoritária, com declaração da inexistência do Chega. Há vozes de 92% do eleitorado, mas a Sic só ouve os 8%.
Episódio 4 – Luís Montenegro acaba de ser indigitado Primeiro-Ministro. Mas a Sic abre os telejornais, não com as ideias de Montenegro ou da AD, mas com Medina, a falar de uma suposta «almofada de milhões», e Centeno, o homem que imaginou ser vizir de recurso no lugar do vizir, a recomendar coisas a um adversário que, esse, acabara de ser eleito. A Sic emitiria, depois, as opiniões de Cabrita&Galamba (Quem?! Quem?!) sobre os novos ministros.
Episódio 5 - Na 3.ª feira, 2 de abril, na SicN, José Miguel Júdice interpreta o discurso de tomada de posse de Montenegro. Em resumo, diz que o novo primeiro-ministro afirmou que negociará com todos, como necessita, e, adequadamente, quis impor-se ao respeito daqueles com quem tem que negociar. Na mesma SicN, no dia seguinte, Ângela Silva (uma boa razão para não ler o Expresso), sub-Costa (outra), Baldaia (uma boa razão para nunca ter ouvido a TSF), e Bugalho (em busca de identidade) só vislumbram no discurso o desejo de «vitimação».
Talvez a Sic seja bipolar (como em «doença», não em pluralismo). Talvez a Sic seja uma central de intoxicação. O que não é seguramente, é um orgão de informação.
Luís Montenegro recebeu dos portugueses um bom capital: uma vitória por escassa margem, e a ordem para negociar e mudar. Negociar para mudar, não, obviamente, com quem a maioria absoluta dos portugueses quis rejeitar, o Partido Socialista. Negociar para a mudança.
Luís Montenegro e a AD poderiam ter aprendido alguma coisa com António Costa, que em estritas questões de sobrevivência é genuinamente hábil. Costa não hesitou em aliar-se com partidos esses sim antidemocráticos, para governar e, de passagem, engolir os aliados.
Mas não aprenderam nada. E, hoje, Luís Montenegro e a AD decidiram negociar com o PS, e deitar o capital todo pela janela, para não mais o recuperar.
Fio-me muito em certas imagens, e o rosto acinzentado, luzidio, a atitude corporal nervosa de André Ventura ao saber da partição da presidência da Assembleia da República, dizem-me que não esperava aquilo. Esperava negociar e obter alguma coisa que pudesse empunhar. Negociar in extremis, é claro; negociar a falar grosso, é claro; negociar ao fim de umas quantas contradições, é claro; e, depois, ceder. No fim, relevaria até os disparates extemporâneos com que Melo e Rangel se entretiveram a cavar fossos em bicos dos pés. [Quem creia que Ventura estava irredutível, terá que pensar que sacrificou intencionalmente a vice-presidência da AR, um completo absurdo].
Mas a AD preferiu negociar com o PS. E, assim, numa demonstração de embaraço verdadeiramente lamentável, assim e de uma penada só atirou a fiabilidade pela janela fora. E, com este gesto canhestro, a AD cometeu várias coisas, todas elas lamentáveis.
A primeira coisa que cometeu foi subscrever a ideia antidemocrática do Livre e do Bloco de que as novas bancadas da Assembleia são compostas de uma maioria de esquerda e uma minoria de direita constituída pela AD. Há depois, segundo esta tese, uma inexistência, um fumo, um vazio: 50 deploráveis eleitos por mais de um milhão deles. Perante a opção de Montenegro e da AD a extrema-esquerda sorri e esfrega as mãos.
A segunda coisa que a AD cometeu foi hipotecar de vez toda a capacidade de governar. Desde hoje, a AD só poderá tomar as medidas que o PS a deixar tomar. O PS sorri e esfrega as mãos.
Segue-se, portanto, que a AD cometeu uma terceira coisa, um outro erro: o de condenar-se a eleições antecipadas.
A AD cometeu, por fim, a quarta e mais grave de todas as coisas: no momento em que deitava fora o capital que lhe fora confiado, riu-se de quem lho confiou. O que a faz correr o risco de, nas eleições antecipadas a que se condenou, devolver o centro ao PS, a maioria à esquerda toda, e o primeiro lugar da oposição ao Chega (quanto ao CDS, lá terá provavelmente que desatarraxar a placa outra vez). E o PS ri a bom rir, e esfrega as mãos.
E o eleitorado, que pensa? Não faço ideia, mas imagino. Imagino a esquerda a dizer: «São burros, nunca se entendem, estão de saída não tarda». Imagino a maioria absoluta do eleitorado a dizer: «Foi para isto?!»
Fio-me muito em certas imagens. Pareceu-me extremamente reveladora a cara e o nervosismo de André Ventura ao saber da partição da presidência da Assembleia da República entre AD e PS. Pareceu-me reveladora de que não esperava aquilo. Pareceu-me reveladora de que estava disposto a negociar -- in extremis, claro; a falar grosso, é claro -- , mas a acabar por fechar com a AD algum acordo com que pudesse acenar. Mas a AD preferiu ir negociar com o PS.
A AD foi estúpida e incapaz. Peço desculpa, mas tenho que repetir: a AD foi estúpida e incapaz. Foi estúpida como Nuno Melo e Paulo Rangel foram estúpidos ao dizerem disparates desalinhados a meio de uma negociação. A AD foi estúpida e incapaz na cegueira persistente perante 50 deputados e um milhão de voto.
Por ser frouxa, e cega, e estúpida e incapaz, a AD conseguiu hoje, de uma penada:
1. Subscrever a sugestão antidemocrática de Rui Tavares e Mariana Mortágua, de que nesta nova AR existe uma maioria de esquerda, uma minoria de direita, e uma inexistência formada por 50 deputados eleitos por mais de um milhão de portugueses.
2. Irritar todo o eleitorado.
2. Pôr o PS e toda a esquerda a rir e a esfregar as mãos.
3. Condenar definitivamente o seu governo. A partir de agora, AD só poderá tomar as medidas que o PS a deixar tomar.
4. Promover o partido Chega a primeiro partido da direita, o PSD ao declínio, e o CDS a desaparafusar novamente a placa que acaba de afixar numa parede de São Bento, depois das eleições antecipadas, agora inevitáveis.
5. Devolver a maioria parlamentar à esquerda.
Votei AD, e arrependo-me (suspeito que com muitas centenas de milhar). Não se imagina pior.
Recomendo vivamente a charla de José Miguel Júdice ontem, na SicNotícias, depois das 22 horas, por ser simplesmente brilhante no elenco das novidades políticas estruturais e conjunturais resultantes da votação de 10 de março. Como bónus, recomendo, embora menos vivamente, a pergunta final de Carla de Sousa: «E se houver um empate?», não porque tenha sido repondida, porque evidentemente não foi, mas por ser reveladora de que não ouviu nada do que JMJ disse, ou, se ouviu, não percebeu nada.
Dizem que Clara de Sousa é do melhor que há na Sic, e custaria a crer por esta amostra. Mas depois de ver os jornais da tarde da Sic, hoje, a abrirem com PCP, Bloco, Livre e PS, que, portanto, são para aquela redacção os grandes temas da actualidade, passei a achar perfeitamente crível a superioridade intelectual relativa de Clara. Eu escrevi: relativa!
(*) Nota para socialistas: Até quando abusarás Sic da nossa paciência?
Ontem, a direita -- ou, para as almas mais sensíveis, os que rejeitam a mediocridade socialista a solo ou com extrema-esquerda a ajudar -- ganhou as eleições legislativas. AD 29,5% + Chega 18,1% + IL 5,1% = 52,7%
Há uma maneira diferente de ver este resultado, vindo de dois lados opostos:
- há uma direita que prefere perder a negociar com mais de 1 milhão de eleitores que, por sobranceria ou distração, considera deploráveis;
- há uma esquerda derrotada que, para salvar-se, acha exatamente a mesma coisa, ou seja, que continua a haver dois partidos, o PSD e o PS, e estão empatados. Posso garantir que esta será a versão que verão martelada pela esquerda e pelos media (com desculpas pela taulotologia).
Eu repito: o que a esquerda e os media vão martelar desesperadamente é que só há dois partidos, o PSD e o PS, que PSD e PS estão empatados, e que no dia 10 de março não se passou nada mais digno de nota.
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