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Os empates, os empatas e a vitória do progressismo

por José Mendonça da Cruz, em 13.10.25

Autárquicas: conclusão.

1. Às empresas de sondagens e à generalidade dos media,  um agradecimento por terem tão esforçadamente acalentado o suspense em Lisboa e Porto. Os «empates técnicos» foram, mais uma vez, fonte de apreciável diversão. Parabéns, a vossa informação a contrario foi certeira mais uma vez. Contactos dos centros de emprego para algum infortúnio: https://www.iefp.pt/redecentros.

2. A notícia da morte do bipartidarismo era manifestamente exagerada. O PS saiu muito menos maltratado do que a herança de Costa e Santos faria supor. O Chega saiu muito maltratado, sobretudo em relação ao que as suas esperanças fariam supor. Parece que o CDS, mesmo com Nuno Melo, afinal ainda existe. A IL existe ainda menos. E o PCP sai sempre vencedor, libertado como está das grilhetas do que a realidade diga. [O Bloco. Esqueci-me do grupo excursionista do Bloco.]

3. E agora, cavilosamente, para virar contra ele um velho argumento do PS: sim, é verdade que o PS mantém presença considerável em diversas regiões do interior, e até numa velha cidade afligida por inexplicável máventura. Mas onde realmente importa, nas regiões mais evoluídas, mais cultas, mais afluentes e criativas, mais progressistas, em suma, como Lisboa e Sintra e Cascais e Porto e Vila Nova de Gaia (e na Associação de Municípios, em geral) as promessas do socialismo já não parecem colher.

4. Aguardam-se - ansiada e ludicamente - novas sondagens e ditames para as eleições presidenciais.

Referência avariada, Espessa falta de seriedade intelectual

por José Mendonça da Cruz, em 10.10.25

Na primeira página do Expresso online, temos hoje isto:

Título: «Um Nobel da Paz para Corina, para a resistência aos autocratas (e contra os Trump, de esquerda ou de direita)».

Lead: «Prémio Nobel da Paz foi esta sexta-feira atribuído a María Corina Machado, líder da oposição na Venezuela.
O discurso da entrega do Nobel da Paz a Maria Corina Machado carrega um alerta global elogiando a luta por uma "democracia no meio de uma escuridão crescente". É um aviso contra autocratas, de esquerda e direita (...)»

É esta a referência deste jornal: colocar no mesmo nível um presidente eleito, porque o abomina, com um ditador e torcionário, que nem sequer nomeia e sobre quem assim passa esponja. E depois, fazer paralelos entre a situação na Venezuela, e a situação na Polónia e na Hungria, e meter no mesmo saco o que o texto chama «autarcas de esquerda e de direita».

É esta a espessura de seriedade intelectual da coisa.

À espera dos esperitos

por José Mendonça da Cruz, em 09.10.25

Aguardo o momento em que as nossas têvês, o Público, o Expresso e as Mafaldas, Neves e Pratas desta vida nos virão explicar que o plano de Trump para Gaza (que correria o risco de ser considerado um bom feito de diplomacia) afinal não presta para nada, ou que presta mas não vai resultar porque ele é inculto e ingénuo, ou que resulta mas Obama é que...

As rendas, etc...

por José Mendonça da Cruz, em 02.10.25

As rendas de 2300 euros são um bom exemplo, mas apenas um de longa série. Procure-se na net ou nos media uma notícia (medidas sobre habitação, legislação sobre imigração, um discurso, uma entrevista, um caso), e encontrar-se-ão dezenas de opiniões sobre a coisa («análises» segundo uma agenda; «excertos» seleccionados pelo preconceito; leituras apriorísticas de «entrelinhas»)  mas dificilmente a notícia sobre a coisa, ou o próprio discurso, ou a própria medida. Deixámos de ter jornalistas, passámos a ter legiões de comentadores - os contratados para comentar; e os contratados para noticiar, que, no entanto, acham mais nobre e invejam o trabalho dos primeiros.

É assim que os media se entretêm a proclamar a sua própria irrelevância. E enquanto me entrego - triste e trabalhosamente e no meio dos tristes equívocos em curso - ao afã de buscar as fontes e os factos daquilo que, de vez em quando, decido realmente saber, deixo lamentosamente aos comentadores-comentadores, aos comentadores-ex-jornalistas, e aos jornalistas que já nem reparam que só estão a comentar, um texto de Miguel Tamen. É um texto notável, até nesse pequeno dispositivo de que vem ocultamente munido: o de que a maioria daqueles sobre que versa não saberia compreendê-lo:

 

 O Triunfo dos Desenhos Animados

Nos canais de notícias contemporâneos assiste-se ao triunfo dos desenhos animados clássicos. O segredo reside na combinação de séries muito longas com acontecimentos muito simples. A simetria entre as sequências sugere que as coisas têm todas a ver umas com as outras. Tal como as crianças clássicas sabiam que aquilo que se passa com um pássaro implume não é diferente do que acontece a um rato mexicano, assim se sabe o que acontece em cada notícia: acontece o número e o género de coisas que acontecem sempre, independentemente do ar daqueles a quem acontecem.

 

Num ponto ou noutro terá havido alterações em relação ao mundo clássico dos desenhos animados. O caso mais notório é o das actividades de segundo grau. Com uma maestria ainda desconhecida na antiguidade desenvolveu-se um processo técnico que tornou possível que de um lado do écrã se contemplem as mesmas sequências de imagens, como nas grandes perseguições clássicas se viam os desertos, as nuvens e os cactos; e do outro lado do écrã se observem pessoas a murmurar, no tom surdo dos adultos também característico dos melhores desenhos animados da antiguidade.

 

Ninguém ignora que esses adultos que murmuram em paralelo com imagens reiteradas são todos o mesmo animal, umas vezes com bico e outras com sombrero. A sua função é a de relatar qualquer coisa que lhes passou sob o chapéu ou foi posta no bico enquanto as imagens passam; mas porque essas imagens passam muitas vezes, os adultos relatam a mesma coisa muitas vezes; é talvez por isso que nos hospitais e nas repartições os seus murmúrios passam sempre sem som. O público sabe antecipadamente o género de coisas que os adultos implumes dizem; mas quer voltar a ver as imagens.

 

Um clássico nunca é todavia unicamente o resultado de uma técnica, ainda que elaborada. As semelhanças entre os desenhos animados clássicos e os noticiários contemporâneos são independentes da técnica. Há duas semelhanças principais: o que se passa já é conhecido; e nunca é irremediável. Sabe-se de facto que todos no mundo se estão sempre a perseguir, a precipitar e a esmagar; e que chovem bigornas e explosivos. Qualquer criança pode prever que aquilo que aconteceu a alguém num sítio irá mais tarde ou mais cedo acontecer a outra pessoa numa outra ocasião; e tudo várias vezes.

 

O modelo dos desenhos animados clássicos deu por fim aos noticiários contemporâneos uma racionalidade económica que explica o seu prestígio e a sua duração. Nos desenhos animados clássicos o investimento para criar um pato inexistente não era superior ao investimento para criar um coelho que também não existisse. Os noticiários seguiram este método. Quem aparece nas notícias ou as apregoa é sempre o mesmo animal inexistente, diferindo apenas nas matérias menores de bico ou de sombrero. A produção dos noticiários tem por isso também os custos baixos dos desenhos animados.

Very Typical

por José Mendonça da Cruz, em 08.09.25

«A Tasca», em Sagres, era um bom restaurante nas coisas fundamentais. Bom peixe bem tratado na grelha, boas ameijoas frescas e feitas no ponto com aquele molho que exige muito pão, e ainda outras alegrias genuínas e básicas. É agora um desgosto very typical. Em vez de caplanas tem bowls; em vez de ameijoas à Bulhão Pato tem amostras de ameijoas em molho inexplicável; em vez de «Polvo Sagreiro» tem uns tentáculos (dois, ou seja, cada polvo dá 4 pratos) que de «Sagreiro» não tem seguramente nem a batata doce, nem o molho de tomato-coriander-bayliff-onions-peppers-garlic, de que a casa deve fazer um barril diário para espalhar em cima de polvo, bowls e mariscadas. Suponho que também sobre peixe mediocremente estragado. E assim uma honrosa e inesquecível tasca se transformou em mais um antro de receitas sem gosto nem rasgo. Foi a última vez. Passem bem e rejubilem com o turismo mais rasca.

Enviesado E estúpido

por José Mendonça da Cruz, em 25.06.25

Então, a esquerda e os media (como o Henrique, digo: passe a tautologia) descobriram que o Irão ia pedir satisfações a Portugal pela utilização da base dos Açores. E, no entanto, o embaixador iraniano em Lisboa não tem qualquer notícia disso.

Não contentes, a esquerda e os media põem em dúvida, hoje, em todos os noticiários televisivos, a eficácia do ataque americano às instalações nucleares iranianas. Esquerda e media acham que o presidente Trump, o vice-presidente Vance, e o ministro da defesa Hegeseth só dizem balelas. Ao contrário, esquerda e media bebem e reproduzem embevecidos «as palavras fortes» de quem no Irão diga que não aconteceu nada. Embora um ministro diga que acontreceu, e que foi grave.

Muitas vezes me pergunto se este tipo de jornalismo é fraudulento ou só estúpido. Concluo agora que é as duas coisas. Fraudulento, ao torpedear os factos; estúpido, ao julgar que sobrevive.

15 dias a ler e ver desinformação

por José Mendonça da Cruz, em 02.06.25

A maioria dos portugueses julga que aconteceu alguma coisa nova no dia 18 de maio, mas a comunicação social que temos decidiu que isso agora não interessa nada.

Parece que a Aliança Democrática, a coligação governamental, venceu e saiu reforçada das eleições de dia 18. Parece que conseguiu 31,79% dos votos e 91 deputados.

Parece que seria importante saber que vai agora fazer o novo governo da AD.

E o Chega? Parece ser importante o Chega. Parece que passou a ser a segunda força política, com 22,76% dos votos e 60 deputados, e que o seu líder é o líder da Oposição. Pareceria um bom tema informativo. Mas, tirando ofensas, remoques e gritos de «alerta, a democracia está em perigo», os media acham que não.

Qual é, então, segundo a nossa comunicação social, o grande tema do momento?

Ora essa, os derrotados, o PS, com um dos piores resultados de sempre – 22,83% de votos, 58 deputados e a perda do 2.º lugar. O grande tema, dizem os media, é o PS, fonte de fontes anónimas e avenças, sopro do ventrículo esquerdo do nosso coração, objecto do nosso acrisolado amor.

«Que esperar de José Luís Carneiro?», pergunta-se na pág.2 do Diário de Notícias na segunda-feira, 26?

Que esperar de Luís Montenegro, não seria melhor informação?

 

  1. A Comunicação Social que só tem olhos para o PS

A culpa foi toda do Pedro Nuno Santos e de mais ninguém.

Não sabiam? A comunicação social diz que sim.

Não se julgue que PNS tinha um séquito, o apoio do partido em peso que nele votou, um grupo de apoiantes incondicionais. Não, não. Conforme explica o Público de sábado, 24 de maio, na manchete e nas páginas 4-5, o «Núcleo duro de Pedro Nuno Santos foi contra voto que fez cair Governo» (e trouxe a desgraça). Presenças e porta-vozes de PNS na imprensa, nas rádios e nas televisões, afinal nem Mariana Vieira da Silva, nem Ana Gomes, nem Pedro Delgado Alves, nem Carlos César, nem João Paulo Rebelo, aliás, nem ninguém o apoiou no chumbo da moção de confiança. E já antes o atacavam por causa do Orçamento de Estado.

Não sabiam? Num artigo de cinco páginas na Revista E do Expresso de dia 23, Ricardo Costa explica melhor como é que um «jovem líder encadeado» levou o PS «para o seu Alcácer Quibir» (sendo AD, Chega e Iniciativa Liberal os mouros, supõe-se), esse PS que «entronizou um líder que o eleitorado nunca viu como tendo qualidades para ser primeiro-ministro, acabando por ser arrastado para a sua muito pessoal vingança», levado por «vertigem e pulsões de morte» para uma «conjugação fatal».

Pois é, a culpa deve ser mesmo de PNS, toda ela. Porque se não fosse, Ricardo Costa decerto teria escrito sobre os governos do irmão e as consequências que tiveram para este resultado do PS. Mas se conseguiu o difícil exercício de não escrever sobre isso nem uma linha, é porque se calhar foi assim. Foi tudo culpa do PNS.

Será assim, e tudo isto é uma desgraça, mas não se preocupem, isto passa, diz a comunicação social. Que logo deita mãos à obra de «resgatar a esperança», como diz Ricardo Paes Mamede no Público de dia 26, sobretudo porque, obviamente, está «a democracia em perigo».

E lá vão jornais e televisões à uma na sua nobre missão de resgatar a democracia e o PS.

Ah, os «nomes experientes» que estas eleições nos fizeram perder, ah o talento que se foi! O Parlamento, diz o DN desta 6.ª feira 23, nas páginas 10 e 11, ficou sem Luís Graça, do PS (lembram-se?), sem Sérgio Ávila, do PS (lembram-se?), sem Maria Begonha, do PS (lembram-se?), sem Mara Lagriminha, do PS (lembram-se?). Perdemos até uma gémea Mortágua, a Joana (lembram-se?), e Isabel Pires, também do BE (lembram-se?).

No sábado, dia 24, o noticiário da RTP2 dá-nos José Luís Carneiro, depois Carlos César, depois PNS às portas da Convenção; e às 21 horas ouve detidamente Vitalino Canas (do PS) sobre «o partido mais fiável» (o PS), e sobre «o triunfalismo da direita», que parte dela é «revanchista». Segue-se uma entrevista com o autarca socialista de Campo Maior, que estranha ter sido o Chega a vencer ali.

A SIC abre o primeiro Jornal com a Convenção (do PS), após o que ouve Ascenso Simões (do PS) e Miguel Prata Roque (do PS), após o que anuncia uma peça sobre «As origens de José Luís Carneiro», a cargo provavelmente da secção de hagiografia.

No Domingo, 25, a CNN enche-se de brios, e às 22 horas oferece uma entrevista de 40 minutos com Augusto Santos Silva, cuja contribuição para o desastre socialista a estação julgará irrelevante. A CNN julga que os portugueses anseiam por beber as palavras de Santos Silva, o qual não se faz rogado e nos presenteia com opiniões sobre o que o próximo governo deve e não deve fazer.

No dia seguinte, a mesma CNN esmera-se e, num arroubo de originalidade, apresenta às 21 horas o programa «A Bússola», com José Luís Carneiro, que surge como «comentador da CNN», e no seu «comentário à situação política» diz que tenciona tornar o PS «o maior partido de Portugal», julgo que não como comentador.

Ainda que fosse na falta de decoro, a CNN acabara de ultrapassar a concorrência. O que terá levado o Público a dar no dia seguinte chamada de capa e página 10 ao mesmo Santos Silva que a CNN repescara.

Depois, por ser fatal que nestas manobras militantes surjam sempre uns minions com excesso de zelo e propensão para o desastre, houve um episódio cómico.

Na 3.ª feira, ao noticiar o encontro de Carneiro com fundadores do PS, uma voz off na RTP1 adiantara que o candidato a líder «revela que ainda não houve contactos com Luís Montenegro». Mas no mesmo dia, na CNN, a mesma notícia surge com o rodapé: «Carneiro revela não ter sido contactado por Montenegro» – o sonho de algum pobre escrevedor que imagina o primeiro-ministro eleito a contactar o líder por eleger do PS para pedir-lhe umas batatinhas.

(Algures, em dia incerto, ainda soubemos da eventual candidatura de Prata Roque à liderança do PS – humor ou fake news, uma das coisas, decerto).

E não há nuvens negras no horizonte?

Sim, há nuvens negras no horizonte da excitação da comunicação socialista, perdão, social.

Pedro Adão e Silva, que por vezes tolda intencionalmente as próprias aptidões intelectuais para melhor servir o seu PS, permite-se ser inteligente e diz-nos que José Luís Carneiro está de passagem. Assim: «Perdido num trauma pós-eleitoral, o PS decidiu que o melhor que tinha a fazer era evitar o confronto (…) e olhar para a frente como se nada tivesse acontecido», com «custos que tendem a revelar-se com o tempo». E «o PS tinha ganhado se tivesse uma disputa interna» e «o novo secretário-geral teria a força adicional de ter sido legitimado num processo aberto e competitivo» (Público, 28 de maio, última página).

E assim não tem.

Se a comunicação social fosse atenta, em vez de cega por parciais entusiasmos, ter-se-ia também perguntado por que razão Fernando Medina, depois de aguardar pacientemente o enterro de Pedro Nuno Santos, resolveu ainda e por agora abster-se em nome da «unidade partidária». Naturalmente, a comunicação social não se perguntou.

 

  1. Diz a comunicação social: «Já que não pode ser o PS, ao menos que seja o Centrão»

Se não podem ter tudo do PS todo para eles durante todo o tempo, então os media desejam ao menos e por agora um Bloco Central com o PS lá dentro.

Cuidado com o Chega, o Chega é fatal, dizem João Vieira Pereira e David Dinis na página 2 do Expresso de dia 23, nada de acordos, não vão por aí. E na página 6, o semanário põe as coisas mais por extenso ao titular «Navegar “pelo meio” e fazer fé no novo PS». Explica o texto que «na AD olha-se com expectativa para o PS, sendo José Luís Carneiro elogiado por Hugo Soares». E diz uma fonte – anónima, é claro – que, eleito José Luís Carneiro, o PSD acha que «mais depressa temos interlocutor». O artigo chega a ser comovente; lê-se como a confissão de um anseio profundo.

Estão a ver?! Era tudo culpa do PNS. Mal PNS saíu porta fora, é só moderados no PS.

O DN pensa exactamente o mesmo, e ninguém expõe melhor o sonho do que Bernardo Ivo Cruz, que na página 4 da edição de dia 26 se propõe «reconstruir o centro (…) num esforço urgente de reinvenção política», já não para salvar o país, apenas, mas «para salvar a Europa».

Acontece que, depois e mais uma vez, eis que vem o excesso de zelo borrar a pintura toda.  «Duas das maiores agências de rating preferem Governo da AD com apoio do PS», diz a manchete do DN de quarta-feira, dia 28. «A Fitch e a Moody`s», lê-se na entrada, «sinalizam preferência pela manutenção dos acordos entre AD e PS que permitem, dizem, prosseguir a rota esperada de “políticas prudentes” e “redução da dívida”, excluindo o Chega da equação.» E acrescenta o DN que «o cenário de um Governo de minoria AD com “apoio implícito” do PS em pontos-chave da política económica e orçamental (…) é o preferido dos dois mais influentes avaliadores internacionais».

Há um pequeno pormenor: a notícia é falsa; resulta de mera interpretação abusiva. As duas maiores agências de rating não «preferem» coisa nenhuma, não há «cenário preferido» nenhum. A Fitch e a Moody`s não «sinalizam» porra alguma, com vossa licença. Limitam-se a analisar e a enunciar probabilidades.

A Fitch não «prefere o cenário de um Governo AD com “apoio implícito” do PS». No relatório «Portugal`s Election Outcome Should Not Interrupt Debt Reduction», de 27 de maio, a Fitch apenas considera que esse é o cenário «mais provável» visto que «a AD excluiu uma coligação com o Chega.» E não só a Fitch não prefere nem sinaliza o que o DN diz, como escreve no seu relatório que, seja como for, «a posição da AD como maior partido no parlamento sugere ser provável uma geral continuidade política sob a próxima administração, com foco sobre superavits orçamentais moderados».

 

  1. O partido que a comunicação social acha que não devia existir

O Chega conseguiu 67.826 votos e 1 deputado em 2019; 7,18% e 12 deputados em 2022; 18,07% e 50 deputados. No dia 18 de maio conseguiu 23% de votos, 60 deputados, e a liderança da Oposição.

Mas, diz a comunicação social, isso não pode ser.

Pacheco Pereira e a proverbial reductio ad deplorabilis: «Desesperança, solidão e ignorância» explicam o Chega, escreve ele no Público de dia 24.

É pior, diz o mesmo jornal no dia seguinte: foram «zanga, racismo e medo» que fizeram crescer o Chega em Sintra. E além disso, assegura o editorial na página 6, «é fácil de prever» que o Chega que se diz anti-sistema se vai envolver nas «contas de mercearia do aparelho de Estado».

O Chega é «o caos, a instabilidade permanente», diz Filipe Santos Costa, na CNN, 3.ª feira, 27, ao fim do dia. O Chega «sabe que tem que fazer mais e pior».

É «uma ameaça real para a democracia portuguesa» como a vertigem fascista dos anos 20 e 30, determina Manuel Loft no Público na 4.ª feira; é «uma agremiação de oportunistas sem escrúpulos». Havemos de esperar, remata ele citando Ugo Palheta, «ter pela frente um movimento neofascista triunfante»?

O que me sugere uma reflexão: de quem é afinal «o medo», de quem é a «zanga», de quem é «a raiva»? Do Chega ou destes defensores da democracia, herdeiros do comunismo torcionário e assassino, para quem milhão e meio de eleitores são um perigo intolerável, a eliminar se pudessem?

 

  1. Defuntos a que a comunicação social se agarra

O Partido Comunista, o Bloco de Esquerda, o Livre, podem conseguir 10, ou 5, ou 1% dos votos, ou trocar entre si percentagens, agora sobes tu, agora desço eu, agora dá cá, agora toma lá. Pouco interessa. O que interessa é que contam com uma garantia: ainda que não cheguem a somar 10% das preferências do eleitorado, a comunicação social que temos, as televisões, as rádios, a imprensa, dedicar-lhes-ão teimosamente espaço e atenção desproporcionados e a todos os títulos injustificáveis. Bloco exige. PC inabalável. Livre garante. PAN quer. Os media têm até um berloque de esquerda novo, exótico e insular, que já chegou da Madeira.

Na sexta-feira, 23, o Público sugere uma união de esquerda para as autárquicas, uma ideia menos ambiciosa do que a daquela jornalista que defendia que se a esquerda tivesse ido unida às eleições tirava deputados a AD, IL e Chega [se os partidos fossem todos unidos, conquistavam 230 lugares, troçava adequadamente alguém].

No mesmo dia, o DN informa na pág.13 que Mariana Mortágua, com a força do seu novo grupo parlamentar de uma só, «denunciou alegadas intenções de PSD, Chega, Iniciativa Liberal de “atacar a democracia”».

No Expresso, no mesmo dia, Rui Tavares indigna-se por se falar de revisão constitucional, um tema de que não se falou na campanha – e faz por não se lembrar se na campanha de 2015 alguém falou da geringonça negociada nas sombras.

À noite, na RTP2, volta Mariana Mortágua, que discursa sobre o que ela chama «a extrema-direita e a direita extrema» (um desarrincanço, pensará), e lamenta «o discurso que impuseram ao país».

Vem depois Raimundo, segundo o qual «as eleições agravam a instabilidade».

E depois Inês Sousa Real, que diz mais alguma coisa olvidável.

«Resistimos e isso está-lhes atravessado», ri Raimundo na RTP, à hora do almoço de domingo. Após o que Mariana Mortágua anuncia que «uma ampla maioria» no seio do Bloco rejeitou a sua demissão. (Compreendo a dúvida, mas esclareço: Mortágua disse de facto que tinha «uma ampla maioria». Agora já podem rir.)

«A revisão constitucional é populismo» decide Real do PAN, logo a seguir. Era um argumento exótico, mas não tão extremado como o de Pedro Tadeu que nessa mesma semana, no DN, escrevia que o caminho para uma sociedade socialista não podia ser cortado da Constituição, não por falta de uma maioria, não por falta de consenso, não por razões ideológicas, mas porque lá fora inscrito em determinada fase da evolução pós 25 de Abril, e retirá-la seria falsear a história. Quando pensávamos que havia limites…

Findo o recato do fim-de-semana, o Público de 2.ª feira informa, tremendista e na última página, que o «PCP não se resigna e avisa: “Vamos para cima deles”». E mais informa o Público que o PCP informa que os que votaram na direita vão ser os primeiros a arrepender-se.

Depois há futebol e Ucrânia.

 

  1. Há um elefante aqui. Diga onde está

Não sabemos nada de Javier Milei, que não é de esquerda; não temos uma notícia da Argentina ou da sua governação. Nada, excepto uma foto no Público de dia 23, sob o título de «ZOOM ARGENTINA», sobre um «protesto semanal dos reformados contra as políticas de austeridade do Presidente Javier Milei, em Buenos Aires».

Não sabemos nada de Giorgia Meloni, que não é de esquerda; não sabemos nada da sua governação, não temos uma notícia de Itália. Nem uma, excepto que, como já há meses pensava o Expresso, ao fim de 2 anos de governo «aumento da repressão e salários mais baixos assustam italianos».

Não sabemos nada da Hungria, não sabemos nada de Viktor Orban. Nada, excepto que, lamentoso, o Diário de Notícias noticiava em abril que o «Parlamento húngaro aprova emenda constitucional em nova ofensiva contra LGBT+»

É pouco. É enviesado. É medíocre. É afinal desinformação. Mas, e Portugal? Mas, e o Governo de Luís Montenegro e da AD, acabado de sair reforçado das eleições, com a esquerda reduzida a uma curta fatia? Não seria um tema importante para os media – para imprensa, rádio e televisões?

Será que o putativo primeiro-ministro vai fazer uma remodelação governamental? Profunda ou de pormenor? Ficam todos os ministros ou alguns? E quais? Quais serão as primeiras e mais importantes medidas do novo governo? Retomará medidas cujo alcance foi forçado a encurtar para conseguir o apoio dos socialistas? Como será na saúde, mais PPPs, e que mudanças? Como será com a imigração? E a Defesa? E a habitação? E os transportes? E as pensões? E o investimento? E os impostos? E a TAP e a CP? E os serviços públicos? E a justiça?

Pareceriam temas importantes, mas, por inclinação ou preguiça, os media acham que não.

Por falta de fontes, ou por incompetência, ou por desinteresse, ou por enviesamento, os media acham que não, embora eu tenha a certeza e lamente que dentro de pouco tempo – como fizeram na campanha eleitoral, ao preocuparem-se apenas com questões de lana caprina, para depois lamentarem que a campanha tivesse tratado de lana caprina, apenas –, dentro de pouco tempo os mesmos media, televisões, rádios e jornais, virão desculpar-se da sua própria preguiça ou intenção, proclamando ou escrevendo que a culpa de não terem reparado no elefante se deve à AD e a Montenegro. Foram Montenegro e a AD, foram eles que «se remeteram ao silêncio», dirão.

O despudor é assim.

Publicado originalmente aqui

 

Um retrato do Expresso

por José Mendonça da Cruz, em 21.05.25

Abre-se o site do Expresso e temos isto:

Captura de ecrã 2025-05-21 190019.png

Mário Centeno, do Partido Socialista de José Sócrates, que levou Portugal à bancarrota e impôs um regate internacional, de que o governo PSD/CDS nos livrou, a advertir/criticar o novo governo PSD/CDS  

Mais abaixo, em letra miúda, a informação de que o Banco de Portugal, governado por Centeno, do PS, conseguiu pelo segundo ano consecutivo uma perda operacional de mais de um milhão de euros.

Captura de ecrã 2025-05-21 190040.png

São as hierarquias noticiosas do Expresso.

Profissão de Pessimismo

por José Mendonça da Cruz, em 20.05.25

Um terramoto político, uma reconfiguração do espectro político, uma revolução parlamentar? Nada! Apenas um abalo brusco que nos deixará na mesma.

 

A AD com votos bastantes para ficar na mesma

Tenho uma profunda simpatia por Pedro Passos Coelho, pelo trabalho que fez e pelas opiniões que expende, nomeadamente quando confessa o «desejo profundo que, nestes anos que temos pela frente, o PSD possa fazer pleno jus à sua tradição reformista em Portugal», e que as reformas sejam feitas «quer ao nível da segurança e da defesa, quer ao nível económico e político».

Foi com profunda simpatia que constatei a completa falta de vontade reformista de Luís Montenegro ao longo de todo o seu primeiro mandato, sobretudo por ela ter por fundamento um pormenor muito prático: não tinha votos para fazer reformas sózinho, nem com quem somar votos para fazê-las.

Em vez de reformar, Montenegro tratou de reforçar-se. Tratou de sossegar os pensionistas, porque não é possível ser-se eleito contra os 3.552.710 de pensionistas – os 2.938.814 da Segurança Social, mais os 613.896 da Caixa Geral de Aposentações – e respectivas famílias. Aumentou os funcionários públicos e falou-lhes com voz doce e incentivadora, porque é difícil ser-se eleito contra os 758 889 funcionários públicos e respectivas famílias. E, sem chegar a apagar fogos, aspergiu suficiente água sobre problemas mais acesos na educação, na saúde, na habitação, nas infraestruturas, no fisco e na segurança pública.

E resultou. A inabilidade de Pedro Nuno Santos & Séquito, aliada ao enviesamento dos media, deram na altura adequada a Montenegro o pretexto para eleições intercalares. A AD aproveitou e obteve maior maioria com 32,7% e 89 deputados.

Conclui Montenegro: «[Os portugueses] querem este governo e não querem nenhum outro». E promete estabilidade, governando sozinho, porque o PS não existe de momento, e porque considerou, ainda na noite de dia 18, que o cenário de acordos com o Chega é «não credível» e possível meramente «do ponto de vista aritmético».

É, portanto, com enorme antipatia que reconheço no PSD de Montenegro a completa falta de vontade reformista – de que foi claro sintoma o nojo com que reagiu à ideia de uma revisão constitucional para varrer do texto o «caminho para uma sociedade socialista».

Um dia, para que tudo fique na mesma, a AD há-de negociar (já lá iremos); entretanto, prudentemente, governará na mesma, à peça.

 

O Chega com mais país e demasiado umbigo

Tenho franca simpatia pelas enormes qualidades de André Ventura como tribuno e polemista, e em inúmeras oportunidades essa simpatia acentuou-se ao ver classificadas – por desatenção, enviesamento, estupidez ou vergonha – como derrotas todas as vitórias sobre os opositores nos debates.

Lembrei-me naturalmente do Chega a cada episódio sobre cenas de violência, abusos e facadas perpetradas por «grupos familiares» ou «comunidades» (quem não conhece alguma cena, na rua, na repartição, no hospital, ou no hipermercado?); sobre a falta de segurança pública (há quantos anos não vê um polícia na sua rua?); sobre o incómodo dos multiculturalismos que desfiguram ruas, praças e usos. Alguma vez alguém se perguntou por que razão o Chega cresceu tão depressa no Algarve e em Portalegre, precisamente?

Acusados de fascistas, reles, ignorantes e inimigos da democracia, por verem aquilo que as redacções e os fora dos outros partidos não veem, os do Chega foram crescendo: 67.826 votos e 1 deputado em 2019; 7,18% e 12 deputados em 2022; 18,07% e 50 deputados; 22,6% e 58 (até agora) deputados em 2025. Com 1 345 575 de votos (até agora).

É com desgosto profundo que concluo que não vai servir para nada. Como Montenegro com o seu governo a sós («porque o povo quer»), também Ventura pensa uma coisa só: que o Chega «tornou-se um partido de poder e de governo por mérito próprio» e é «uma verdadeira alternativa política». O Chega promete ser «garante de estabilidade», mas «sem ceder um milímetro».

São dois umbigos para uma impossibilidade de negociação e reformas.

 

O PS e o enigma dos tempos

Pedro Nuno Santos explica que os tempos são difíceis. Com Isabel Moreira espreitando-lhe sobre o ombro, Alexandra Leitão lamenta estarem tão difíceis os tempos. Ana Catarina Mendes apela a «uma reflexão profunda», e também não percebeu nada.

Dos 42,5% de votos, 120 deputados e maioria absoluta de janeiro de 2022, o PS passou para 23,4% e 58 deputados. Pelo caminho, António Costa aliara-se à extrema-esquerda para sobreviver, mas Pedro Nuno Santos & Séquito pensaram que era amor sincero. E António Costa comeu a extrema-esquerda. António Costa insuflou o Chega para entalar o PSD, mas Pedro Nuno Santos & Séquito pensaram que era ódio verdadeiro. E depois o Chega comeu o PS. Tempos difíceis, de facto. Necessidade de reflexão profunda, sem dúvida, com o pré-requisito de que ela não seja feita pelos mesmos.

Detestei tanto as iniciativas «fracturantes» de Sérgio Sousa Pinto quanto admiro a sua genuína convicção e prática de democrata, muito mais raras do que se supõe. Quando Sousa Pinto fala do socialismo – com mercado, com liberdade de expressão, com livre comércio, com menos Estado, com criação de riqueza –, o socialismo chega a parecer-me estimável. É coisa passageira. Depois penso na «redistribuição», em quem a faz, a que custo fiscal e com que critérios, e a estima esfuma-se.

Menos mal se o PS que há-de sair da reflexão profunda fosse um PS à Sousa Pinto. Mas não vai ser. Vai ser o PS por que sonham o PS assustado, os media desalentados… e o PSD. Um PS do centrão, para aliar-se à AD, e os dois empastelarem o centro.

Uma ideia nova: mais do mesmo

Membro dessa espécie em extinção que ainda é fluente em francês, volto muitas vezes a Proust, para deliciar-me com a sabedoria e detença das descrições, e com uma das mais bonitas línguas do Mundo. Não me ofendeu e fez-me rir certa vez a feroz crítica de Boris Vian a Em Busca do Tempo Perdido: é como se Proust estivesse na banheira, beberricando de vez em quando da água suja e inerte do banho.

O Centrão lembra-me isto.

No painel da noite eleitoral na Sic, Sebastião Bugalho o Novo advertiu: mais perigoso que o Chega é desvalorizar o Chega; mais perigosas são as sondagens falhadas [os canais televisivos em uníssono tinham iniciado a noite com prognósticos clamorosamente errados sobre a abstenção], e as sucessivas derrotas anunciadas por comentadores alinhados; mais perigoso é não atender às preocupações de que só o Chega fala, elas estão nas redes sociais. «Não conheço nem frequento», são vias de intoxicação, disse Miguel Sousa Tavares o Velho. E logo decretou que não se interessa pelos extremos anti-sistema, pareceu-me que sem neles incluir os da esquerda.

Em tempos, Rui Tavares já tivera a mesma ideia, ao decretar que sem o Chega a esquerda tinha maioria. Mas, no líder do Livre era apenas uma sugestão para se fazer interessante para o PS, um convite em bicos dos pés para a dança. Em Miguel Sousa Tavares, perante a impossibilidade de uma solução de esquerda, é apenas a atracção pelo centro.

Tem vasta companhia.

Montenegro declarou-se único e bastante, e fica à espera de um PS com que se possa negociar ao centro.

António Vitorino, na noite eleitoral, na Sic, sonha com a busca no PS de um novo «ponto de equilíbrio». 

No Expresso, sempre indispensável para auscultar os modos de sobrevivência da esquerda, João Vieira Pereira recomenda ao PS «trabalhar com o PSD para juntos (…) convencer o eleitorado que os partidos tradicionais (…) continuam a ser essenciais», e Paulo Baldaia espera «que os socialistas vão negociar com a AD um cordão sanitário que acabará por se traduzir num Bloco Central informal».

 

Outras moscas

Teremos, portanto, um PS reequilibrado, sem vontade de reforma alguma, a negociar razoavelmente com uma AD que bem dispensa reformas. E assim será durante oito anos. Durante os quais os media – o «quarto poder», coitados – se entusiasmarão com o Livre, agora que ficaram sem berloque. Oito anos após os quais a frustração nos oferecerá o Chega como primeiro partido e no governo. Um Chega estatista, defensor dos serviços públicos «essenciais», do controlo estatal dos sectores estratégicos [que são o que cada governo preferir chamar estratégico, como se sabe], talvez a falar de reindustrialização como política pública e de proteccionismo como instinto de defesa. E um Chega sem necessidade de gritos ou polémicas. Ao centro mais uns anos. Sem reformas. Na mesma. Como os outros.

Publicado aqui

Os destemperados, os inimigos e os estúpidos

por José Mendonça da Cruz, em 26.04.25

A CNN «noticiou» ontem que houve «violência entre extrema-direita e anti-fascistas».

Recapitulando: um grupo de manifestantes não-autorizados pretendia assar um porco no Martim Moniz, como forma destemperada de protesto contra o facto de o Martim Moniz (do nome lendário que terá contribuído com a vida para a tomada de Lisboa aos muçulmanos) se ter transformado em local de oração muçulmana; um grupo de manifestantes não-autorizados apresentou-se contra eles com os proverbais lencinhos e bandeiras palestinianas -- suponho que também, ao menos em mente, com lemas do tipo «desde o rio até ao mar». 

Temos, portanto, que os manifestantes «anti-fascistas» vieram em última análise protestar, especificamente, contra a instituição de Lisboa como capital do reino de Portugal, e, em geral e adversariamente, contra a civilização ocidental e judaico-cristã; e que os manifestantes «fascistas», destemperados embora, afinal defendiam a fundação e afirmação de Portugal, e a filiação na civilização ocidental e judaico-cristã.

Donde resulta, da estupidez ou do enviesamento jornalístico, que afinal os destemperados sejam os bons, e que os combatentes «anti-fascistas» sejam o inimigo.

Gente assim

por José Mendonça da Cruz, em 21.04.25

Uma gaja na Praça de São Pedro, talvez correspondente da Sic"Notícias", noticia, na morte do Papa Francisco, que o Papa Francisco viveu momentos difíceis, como o dos escândalos sexuais na Igreja. Donde, fica mais uma vez provado que havendo gente que parece que saíu de debaixo de umas pedras, afinal continua lá.

Água vai

por José Mendonça da Cruz, em 10.03.25

Ensopado na rua ou a ver da janela as longas horas e dias de chuva torrencial, a saber das notícias de tempestades e trombas de água em todo o país a cada dois dias de três, vou imaginando: será que quando faltar água de bebida ou de rega em Agosto a culpa ainda vai ser das alterações climáticas?

Não há guerras grátis

por José Mendonça da Cruz, em 26.02.25

Os especialistas que afirmam que há ajudas desinteressadas e auxílios militares gratuitos no santo nome da democracia e dos valores deveriam lembrar-se que a Inglaterra acabou de pagar a dívida de guerra aos EUA em 1982.

A figura patética de «jornalistas» e comentadores

por José Mendonça da Cruz, em 06.11.24

Sobre as eleições para a presidência dos Estados Unidos da América o que tivemos durante meses foi uma barragem ininterrupta de desinformação, acompanhada de um fosso brutal de omissão. Foram-nos contadas maravilhas sobre a candidata democrata, Kamala Harris, e omitida toda a informação sobre a sua agenda woke, abortista de 9.º mês, identitária de género, BLM, anti-Polícia, sobre o seu desconsolador historial político. Foram-nos contadas piadas grosseiras sobre o candidato republicano, Donald Trump, glosadas críticas de transeuntes apanhados na rua, falsificadas declarações para lhes dar o sentido contrário (lembrem-se da mentira sobre Porto Rico) e omitida toda e qualquer referência a medidas, a programa, ou ao historial económico e de relações internacionais do primeiro mandato.

Jornalistas que não são jornalistas e comentadores cujo comentário é despiciendo serviram-nos  os seus caprichos, as suas ilusões, as suas raivinhas particulares, as suas crenças pueris, competindo entre si em demonstrações de virtude para a sua bolha pobre de espírito e pequenina. O que nunca fizeram foi jornalismo ou comentário informado e sério. 

Como os vem encontrar a reeleição de Donald Trump, acompanhada de uma vaga republicana que conquista senadores, representantes, e governadores? Aos mais desonestos ou iludidos, deixa-os tristes com os resultados, mas orgulhosos do esforço dispendido. Aos mais honestos ou estúpidos, perplexos. A ambos os grupos, dispostos a não aprender nada. É, por isso que, em vão no que respeita a «jornalistas» e «comentadores», mas com o gosto de transmitir informação àqueles a quem foi recusada ou trapaceada, aqui deixo um texto do jornalista e comentador Tim Stanley, do jornal inglês The Telegraph:

https://www.telegraph.co.uk/news/2024/11/03/case-for-trump-us-president-election/

Nota: obviamente esses «jornalistas» e comentadores que (com dolo, ignorância ou estupidez) em vão se esforçaram durante meses por enganar-nos não aprenderão nada. Continuarão a dizer sobre o presidente eleito as mesmas vacuidades que disseram sobre Reagan (chamando-lhe «actor de segunda» e «cow-boy» antes de ele mudar o mundo) ou sobre George W. Bush (que apodaram de ignorante por chamar «grecians» aos gregos, antes de lhes ser explicado que é a forma erudita de referir os gregos, como seria para nós «helénicos»).

Os deploráveis

por José Mendonça da Cruz, em 04.11.24

Eu ia escrever: «Mas que tipo de jornalista...?» Mas, depois, pensei que mesmo no estado actual da profissão a pergunta seria injusta; e, por isso, reformulei. Ficou assim:

Mas que tipo de gente, perante os protestos das vítimas da região de Valência contra o primeiro-ministro espanhol (fugido) e o Rei (que ficou), escreve ou diz que os protestos foram «de extrema-direita»?

O enviesamento inteligente seguido de os burros à solta

por José Mendonça da Cruz, em 21.10.24

Há muito tempo que a Sic não é um canal de informação, mas sim uma fonte de activismo e enviesamento pró-socialista, circunstancialmente até pró-(irmão)-António Costa. Mas tinha uma coisa: era um enviesamento, uma parcialidade, e um receituário de omissões inteligente, como é inteligente o seu director de informação, Ricardo Costa (tanto que testemunhei certa vez como convencera Diogo Feio de que, na verdade, o seu coração estava no PSD).

Mas tendo o irmão António Costa cumprido o seu destino provisório e partido para destinos internacionais, Ricardo Costa estará em período de meditação e decisão sobre o que fará a seguir. E com isto sentiram-se à solta as criaturas menores que abundam naquela redacção.

Desde que Luís Montenegro - perante aplauso geral da sala, aplauso que decerto tem eco enorme no país - disse que a disciplina de cidadania ia ser revista - subentendendo-se que para a limpar das  cretinices e wokismos em que é rica - , os noticiários da Sic e da Sic Notícias, estando Ricardo Costa preocupado com valores mais altos, tomou a rédea nos dentes e vem esparvoando. Esparvoando como em parvoíce, porque aquilo que se ouve de «comentadores/as da Sic» não é informação, nem opinião, nem sequer parciais e facciosas; é apenas estupidez, ignorância despudorada, e muito, muito, do mais patético nervosismo (ou histeria. ou facciosismo).

Ontem, na SicN, uma tontinha qualquer, deixando despudoradamente à mostra os cordelinhos que a movem, tomava-se de ardores porque, dizia ela, Montenegro, tendo tantas coisas importantes com que preocupar-se, pretendia pôr fim à intoxicação da «cidadania». Hoje, antes das 20, na mesma SicN, uma dessas meninas afogueadas deparou com Maria João Marques que lhe temperou as palermices e arrefeceu a excitação, que lhe corrigiu a desinformação, e que em geral meteu a criatura na ordem. Mas o critério de admissão a «comentador/a da Sic» é muito baixo, e - para além do facto de os pobres diabos da SicN não desejarem ser desmentidos ao vivo - a verdade é que são relativamente escassas as pessoas inteligentes para travarem a multidão de idiotas que ali pulula.

De maneira que, enquanto assistimos a raciocínios pedestres ditos com absoluta certeza, a tiradas da mais crassa e ululante ignorância, a manipulações descaradas e a omissões gritantes, continuaremos a divertir-nos pensando: esta gente talvez julgue sinceramente que faz jornalismo, e, mais extraordinário ainda, não compreendeu nem vai compreender que esse seu «jornalismo» é suicida. Em boa hora descerão à rua com cartazes contra o desemprego que julgam sem causa, os perigos que julgam resultar para a democracia, e o que creem ser a exploração capitalista. E, depois, nunca chegarão a coisa nenhuma.

O nobre caso do aspirador

por José Mendonça da Cruz, em 09.10.24

Lá em casa temos um brinquedo novo, um aspirador Dyson, e estamos muito contentes.
Mas depois da alegria, depois de usufruir as vantagens de uma invenção bem inventada, fiquei a pensar nos talentos do Senhor James Dyson.

Certo dia, o Sr. James Dyson, que eu suponho empresário, ter-se-á, segundo suponho, recolhido a pensar o seguinte:

- o que é que mais faz penar uma dona ou dono de casa que tem que aspirar o que é seu?

- é penoso (terá considerado o senhor) passar meia hora de costas curvadas aspirando chão e tapetes das divisões do seu T1, ou T2 ou T3;

- pesam-lhe (pensou decerto) as passagens repetidas da cabeça do aspirador que só aspira pelo orifício do meio;

- é penosa (decerto lamentou) a preocupação constante de desviar o fio eléctrico dos pés das cadeiras, das esquinas dos móveis, dos cantos dos sofás;

- maça-o ou maça-a (acreditava ele) ter que mudar de tomada porque aquela já não dá, ou então é preciso uma extensão que se enrodilha sabe-se lá em quê.

Então, o Sr. Dyson, creio eu, imaginou um aspirador sem fios, que evitasse a maçada de tomadas e extensões; que fosse dotado de uma vara rígida, para ser manejado em pose erecta; e dispusesse de uma cabeça com escova rotativa e sucção a toda a largura, para resolver as coisas de uma só passagem e de uma só vez.

O Sr. Dyson não era astrofísico, e nenhuma das aptidões da sua invenção recorria a tecnologia inovadora ou mecanismos experimentais; o seu aspirador apenas utilizava mecanismos e tecnologia familiares de forma original.

O Sr. Dyson decidiu, pois, comercializar o seu aspirador. E como ele eliminava incómodos gritantes, o aspirador foi um sucesso. E como a eliminação daqueles incómodos tão conhecidos era compensador, o aspirador era caro. E como os consumidores consideraram razoável o mais alto custo relativamente aos incómodos de que eram libertos (o valor), o Sr. Dyson fez, segundo suponho, muito dinheiro.

Detesta o Sr. Dyson gente como as irmãs Mortágua - que nunca fizeram nada de bom ou útil para ninguém, exceto entreter néscios com uma sucessão de platitudes e falsidades debitadas com cabeceamentos atenciosos para o microfone da direita, agora para o do centro, agora para o da esquerda, agora para o do meio, agora para o da direita outra vez. As infelizes criaturas detestam o Sr. Dyson, por ele ser ainda mais uma (mais outra, ainda, de novo, dolorosamente, mais uma vez) prova dos benefícios da concorrência e do mercado livre.

Detestam o Sr. Dyson os empresários acomodados, que produzem o que sempre se produziu, sem outra curiosidade, sem inovação, enterrados na inércia. É a inércia «corporativa», diriam os modernaços iletrados, que nunca ouviram falar de integralismo, nem corporativismo, e não sabem o que foi o Estado Novo, nem nas realizações, nem nas manhas, embora julguem ter muitas certezas e julgarem que traduzem do «amaricano».

E temos, então, que a cultura empresarial (não é «corporativa», idiotas!) do «sempre assim foi e assim será», continuará vendendo o seu velho produto 20 vezes mais barato do que o do Sr. Dyson, e o seu velho produto continuará a ser vinte vezes mais penoso de operar, vinte vezes menos eficaz, vinte vezes menos apetecível.

Por esta altura, suponho eu, o Sr. Dyson estará rico. Nós cá em casa estamos felizes com a riqueza dele e o conforto de que passámos a beneficiar por causa da forma por que enriqueceu.

Sporting - Lilliputianos para a Champions?! Preparemo-nos.

por José Mendonça da Cruz, em 17.09.24

Na sentença imorredoira de um benfiquista mais letrado: «Isto é tudo piscicológico!» Logo o Sporting recebe os homens do Lilleput. Preparemo-nos «piscicologicamente», pois!

... passaram 25 minutos e o jogo decorre com a intensidade que Freitas Lobo não se cansa de anunciar, mas há uma certa preocupação na bancada presidencial. Não é por causa do jogo, nem da fase «de estudo» das equipas em que os nossos se mostram seguros. É por causa dos olheiros. São muitos, e quanto mais atentos mais o incómodo cresce «na estrutura»... mas GOOOOOOLO É GOOOOOOLO aos 29 minutos, é GOOOOOLO de Pote, um toque artístico de calcanhar a curto passe venenoso de Gyökeres. Martinez ajeita os ombros e contorce-se discretamente. Alguém atrás de si disse em surdina, alto bastante para que não deixasse de ouvir: «Olha ainda bem que não o usaram na selecção, ainda se cansava a marcar golos destes lá!»

Começa o carrossel no meio campo francês, de onde virá? de onde virá? HilmanImp impera no meio campo e vai servindo seguro o rodopio de matadores. Gyökeres pára a bola, roda, arranca para o lado direito, dribla um, aproxima-se da área, baliza à mercê, mas aaahhhhhh  empurrado e trambolhão. As bancadas irrompem num trovão. «True, the guy`s a danger!», comenta o olheiro do United. Varandas ouviu e pensa: «Devia ser 120 milhões». Amorim põe os olhos no chão. Gyökeers corre para a bola, vai ser outro golo certo... é agora.... vaaaaaiiii.... iiiiiiiiiiiiiih falhou. «Mais vale», pensa Varandas. «Eu que não olho para não azarar, e sai-me isto», pensa Amorim.

Correu meia hora da segunda parte, os Lilliputs  ameaçaram duas vezes, mas Debast, primeiro, e Israel, depois (UUi!) estava lá. Freitas Lobo já não vê equipas subidas nem descidas, elogia ainda o magnífico jogo sem bola que iludiu os franceses e abriu caminho para o golo de Pote, e está a determinar exactamente que o Sporting está em contenção quando Nuno Santos controla um passe longo e milimétrico de Diomande, avança junto à linha, flecte para dentro, e envia uma bola em arco para a molhada que se juntou na área, e há empurrões legais, e todos de olhos no ar, e reposicionamentos, e nervos e é GOOOOOLO de Pote. GOOOOOOOOOOOOOLO.  Golo de pé direito, um tiro à queima-roupa, a bola nem tocou no chão. GOOOOOOOOLOOOOOOO. Sporting dóóóís - Lilliput Zéééééro. Pote dóóóís - Lilliput Zééééro.

«Mas este é que é o tal Jokers?», pergunta o jovem e inexperiente olheiro do Southampton, a quem o homem do City calara há bastante tempo com um comentário sarcástico ao ouvi-lo perguntar se ali é que era a tal «Luz cathedral».

Agora o Lillyput esmorece, e o ataque sportinguista entra naquele frenesim alimentar de quando lhe cheira a goleada. Tiro de Catamo por cima. Trincão em ziguezage, tiro, aahh o guarda-redes estava lá. Gyökeres à barra, Gyökeres à trave («Antes assim», pensa Varandas outra vez). Freitas Lobo discorre sobre jogo com e sem bola, corredores, subidas e descidas, transições de toda a ordem, e demora-se nas costas dos adversários.

«This guy... Trincau...», diz às tantas um dos ingleses. E o espanhol: «Estaba en`el equipo portugués...», e depois, esforçado:«I wóz in da nachonal tim»

«Ah...», continua o inglês, «just got to see a few minutes. Never saw him play»

«Porque no jugó... i didnot plai», remata o espanhol.

O inglês: «I wonder...»

Minuto 85. Nova substituição. Sai Gyökeres. Entra Hauer. Freitas Lobo assegura que «a formação de Alvalade está apenas a controlar, que é compreensível...» Descontos... Minuto 92... «que é compreensível que Amorim quisesse consolar Hauer com a presença  numa vitória». Minuto 93. Mas eis que Santos corre pela esquerda, centra para Bragança que toca leve para espaço aberto à direira e é Hauer que vem em corrida desenfreada de trás e é GOOOOOOOOOOLO Que golaço de Hauer! GOOOOOOOOOOOLO um golo dos 35 metros, espectáculo, golo da jornada! GOOOOOOOOOOLO. É GOOOOOOOOLO. É Gooolo. Golo de Hauer. «Como dizíamos, magnífico golo do estreante Hauer», diz Lobo.

«Ora a cláusula deste para quanto há-de passar?», medita Varandas. «Que entrenador!», diz o olheiro do Real. «Got that right», diz um inglês, «What a coach!» Varandas vitrifica. «Where do theses guys get these assault cars?!», exclama o olheiro do Liverpool. Mas um membro da direcção, sentado um pouco acima para ouvir e olhar os olheiros, sente um arrepio ao ouvir o homem do Chelsea, um português emigrado, responder com uma pergunta: «O director desportivo destes gajos quem é?»

Seja como for: SPOOOOOOOOORTING TRRRRRRRRRRÉÉÉÉÉÉS - LILLYPUT ZÁÁÁÁÁÁÁÁÁRUUUUUUUUUU

O grotesco em alturas de Olimpo

por José Mendonça da Cruz, em 26.07.24

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Em 1995, Ken Keeler, guionista da série Os Simpson, chamou aos franceses «cheese-eating surrender monkeys». E aí estão eles rendidos ao wokismo e ao politicamente correcto -- ignoro mesmo se ainda comem queijo ou se o bem-estar do gado ovino tomou prioridade nos seus valores e práticas. E, rendidos, conceberam uma das mais grotescas aberturas de Jogos Olímpicos de que há memória.

Uma cerimónia com «tanto de inédito como de original», disse o comentador da RTP, antes de transformar Zizi Jeanmaire em Zizi Jeanmarie. Não querendo acompanhar essa mente sagaz em alguma outra tautologia, digo que a cerimónia variou entre o péssimo gosto e o grotesco engalanado.

Alguém achou oportuno um apontamento em que surge a cabeça de Maria Antonieta aos gritos depois de guilhotinada do corpo.

Alguém achou inclusivo o bailado de um negro de saias que em apontamento posterior se fecha num quarto com um menino asiático.

Alguém decidiu excluir Jeanne d`Arc da celebração de uma série de «mulheres de ouro», das quais duas abortistas, uma anticolonialista e outra da Comuna de Paris, e a quem não devemos nada. Seria a mais famosa mulher francesa ofensiva para ingleses ou infiéis?

Alguém decidiu celebrar a canção francesa com o desfile cantante de uma negra vestida de dourado armada em Beyoncé, seguida de um gajo de óculos à Abrunhosa a cantar rap com a gesticulação própria dessa cultura negra americana.

Além da guilhotina, celebraram, obviamente, a liberdade, a igualdade, a fraternidade. Omitiram, evidentemente, qualquer referência a Napoleão, o maior estadista e militar francês de sempre, não só porque achava que a liberdade é cum granum salis, que da igualdade deus nos livre, e que isso da fraternidade depende, mas sobretudo porque os pequenos franceses de agora temem que pudesse ofender ingleses, holandeses, dinamarqueses, alemães, portugueses, espanhóis, austríacos, russos, italianos ou egípcios.

Alguém aprovou e se orgulha deste circo de horrores e insignificância.

Da história e da Grandeur de Luís XIV, de Napoleão e de de Gaulle, nada. Só sobrou o grotesco e o ridículo. Os franceses correm o risco de, um dia, como em Soumission, alguém os meter noutra ordem. Talvez se rendam e gostem.

E no fim da lamentável cerimónia, lá desfilámos nós no mesmo barco da Coreia do Norte, nós ou a nossa digna representação, que vai patrocinada pela Repsol.

PS. «Surrender monkeys» ou cobardes, pura e simplesmente. Em Inglaterra a manchete do Daily Mail chama-lhes «Les Miserables», entre outras coisas devido a esta «paródia» de travestis à Última Ceia:

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O facciosismo confessa-se

por José Mendonça da Cruz, em 07.07.24

Na passada terça-feira, na Sic, José Miguel Júdice vergastou a impreparação e a ignorância (chegou a dizer a estupidez) dos media portugueses e em particular das televisões e respectivos correspondentes em Paris  (referindo a própria Sic mais do que uma vez) sobre as eleições francesas. Num registo pormenorizadamente informado e claro, compreensível por uma criança ou um golden retriever, distinguiu entre extrema direita e direita radical, e entre extrema esquerda e esquerda radical (ainda beneficiámos do divertidíssimo momento em que Clara de Sousa perguntava qual era mais extremista, se a esquerda radical, se a extrema esquerda, com a resposta «a extrema, claro»). Júdice explicou como a União Nacional de Marine Le Pen se vinha moderando e com isso conquistando votos; explicou quem é o senhor Melenchon, como é abominado por uma enorme maioria de franceses, e enunciou várias medidas extremistas e catastróficas da Frente Popular que ele encabeça, como o imposto sucessório de 100%, os casos em que certos escalões de IRS passariam a pagar mais de 100 mil euros por cada fatia de rendimento de 100 000 euros, e outras propostas arrasadoras de qualquer economia ou sociedade.

Mas foi em vão. Com o enviesamento irracional e ignorante com que nos bombardeiam diariamente, os media continuaram a pintar os seus quadros de céus e terrores a preto e branco. Com  um nojo inexplicável da parte de quem tanto defende o estatismo, os nossos media detestam a estatista Le Pen, e incensam inúteis como Melenchon -- que para eles é «de esquerda», visto nunca reconhecerem na esquerda nem radicalismo, nem extremismo. E com os fragmentos de história que trazem colados com cuspo, lá vieram com as glórias de Leon Blum e os horrores de Vichy.

Ontem, na SicNotícias, o correspondente da noite em Paris, Ricardo Costa, confessou com inultrapassável clareza qual é o grau de cegueira, enviesamento, presunção (e, sim, estupidez) do canal que dirige. 

Cito literalmente: «Aquilo que para nós nos parece absolutamente claro, a extrema-direita ou não a extrema-direita, para uma parte dos eleitores [franceses] não é assim tão claro porque há interesses contraditórios». E, depois de referir «o pormenor» de episódios violentos de anti-semitismo cometidos [pela extrema-esquerda], que segundo Costa, «causaram incómodos nos partidos de esquerda», rematou e insistiu que o que está em questão «em primeiro lugar é isso mesmo, há ou não um governo de extrema-direita».

A reportagem de Costa tem, é verdade, uma faceta apreciável: a de deixar «absolutamente claro» que quem procura informação não deve procurar a Sic. É além disso suicida, por crer que o público comerá disto indefinidamente, mas ele lá saberá.


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