Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Faz agora 25 anos que a Expo abriu as portas. Enquanto evento efémero não me entusiasmou particularmente. No entanto, acho que foi uma boa forma de "fazer cidade".
Por essa altura Portugal viveu os seus últimos momentos de ilusão. Nessa altura ainda acreditávamos que, num espaço de uma geração, iriamos estar entre os países desenvolvidos da Europa. Miragens como sermos a Califórnia deste continente ainda eram possíveis.
98 é um marco, mas as raízes do problema já vinham de trás. Cavaco deu um importante impulso desenvolvimentista ao país, mas nos dois últimos anos de mandato já era visível que o modelo estava esgotado. Estava esgotado o modelo, e estavam esgotados os protagonistas. Cavaco acabou rodeado de "yes men". Depois veio Guterres com o propósito de anestesiar um país já de si amorfo. A bandeira do "diálogo" foi uma óptima desculpa para suspender o reformismo e promover uma cultura de pântano na qual tão bem nos damos.
O facto de nos últimos vinte cinco anos sermos dos piores países no que a crescimento económico diz respeito, sim os piores somos nós a Grécia e a Itália, entristece-me, mas não é o que me entristece mais. O que mais me entristece é a forma como passámos a aceitar a mediocridade. Da mesma forma que a China, do século XIX foi invadida pelo entorpecente ópio, nós fomos invadidos pela letargia socialista, em que o partido do Governo faz uma campanha a gabar-se que mais de um milhão de famílias acede a medidas de apoio ao cabaz alimentar. Sim, o que me entristece foi como perdemos qualquer ambição ou brio.
É bom que os governantes tenham uma boa vida pessoal, de forma que esta os ajude a terem uma boa saúde mental.
Mas a ida de António Costa ao concerto dos Coldplay, enquanto a nossa vida democrática passa por momentos difíceis, não é disso que se trata. António Costa, que anda na política desde os catorze anos, não é inocente. Ele sabe que ao estar num estádio com cinquenta mil pessoas e com as televisões a captar imagens, tal seria amplamente noticiado, não se trataria de nenhum momento íntimo.
Ao assumir tal acto, Costa pretendia transmitir uma mensagem. E essa mensagem é "eu estou-me nas tintas para a opinião publica, para a vigilância democrática, para o Presidente e para vocês em geral". Desde a maioria absoluta Costa tem, de forma sistemática e sem grandes ambiguidades, adoptado essa atitude. Adoptou-a quando nomeou o recém derrotado Medina ministro das Finanças, quando elevou Galamba, a mais socrática das personagens, a ministro, quando disse na entrevista à Visão o arrogante "habituem-se" ou quando enfrentou e humilhou publicamente o Presidente da República. Um pouco como Trump, quando dizia "Podia dar um tiro em alguém na 5.ª Avenida e não perdia votos", Costa está inebriado consigo próprio e acredita que, tal com uma vaca que voa, consegue pairar acima da realidade.
É pena termos a nossa democracia capturada por um personagem tão medíocre. É pena sermos capitaneados por alguém tão superiormente alienado.
José Sócrates abandonou o PS, no entanto o socratismo ficou por lá, e bem enraizado. Depois de ter levado o país ao charco descobriu-se que Sócrates era o cabeça de um polvo do tipo mafioso, e um indivíduo absolutamente amoral (tese de mestrado comprada, livros levados ao top por compras próprias, mentira compulsiva da qual o caso "Eusébio" será a mais caricatural...)
Num país exigente era normal que as pessoas que fizeram a sua carreira política à boleia de Sócrates fossem politicamente penalizadas. Também seria expectável que o Partido Socialista sentisse necessidade de, num processo de autorregulação, abandonar socratinos métodos e estilos como a arrogância do dono da quinta.
Pois bem, nada disso aconteceu. As mais socratinas personagens como Edite Estrela, Vieira da Silva, Augusto Santos Silva, Pedro Silva Pereira ou o inenarrável Galamba sobreviveram politicamente e trilharam o seu caminho no ambiente costista.
O processo de defenestração de António José Seguro foi, aliás, muito motivado pela necessidade de manter no PS a prevalência da "Sócrates Connection". A campanha interna de António Costa foi até, em parte, financiada por José Sócrates e por Carlos Santos Silva, o amigo rico da casa de Paris.
Quando Galamba, o homem que Fernanda Câncio levou até Sócrates, aquele que o avisou qua a PJ andava atrás dele, aquele que se comportava nas redes sociais como um puto malcriado, chegou a ministro, ficou bem claro que a amoralidade costista era incompatível com qualquer padrão de decência.
Era visível que os porcos tinham retomado o controle da quinta. Eventualmente com outro nome, ainda é o socratismo, e os seus valores, que nos dominam.
Estive a dar uma olhada na companhia para a qual trabalha o marido de Christine Ourmières-Widener. Digo trabalha, não sabendo eu se terá, ou não, alguma posição acionista nesta.
Pois bem, trata-se de uma pequena/ média empresa que desenvolveu um produto exclusivamente para o sector da aviação. Percebendo eu pouco do assunto, o produto parece-me interessante, embora eu não faça ideia de como compara face às outras alternativas que, eventualmente, existirão no mercado.
Deveria o marido da ex-CEO da TAP estar em condições de apresentar o seu produto livremente à empresa de que a sua mulher era responsável, ou deveria este ser prejudicado pelo seu estatuto matrimonial? Para mim a resposta é facílima, numa empresa "normal", eventualmente, poderia fazê-lo, após ter feito o "disclosure" e as pessoas conhecessem a provável existência de um conflito de interesses. Ou seja, numa empresa "normal" poderia colocar-se a questão, embora com muitas restrições.
No entanto, o simples facto de colocar a questão numa empresa como a TAP revela a maior falta de senso do mundo. A TAP não é uma empresa normal. A TAP é uma empresa onde os contribuintes portugueses colocaram, sem para tal ter sido consultados, milhares de milhões de euros, e como tal tem virados para si, de forma compreensível, todos os holofotes do país. Nenhuma CEO comprometida com a empresa, e de bom-senso, deveria deixar-se fragilizar permitindo que o seu marido faça uma apresentação de vendas na companhia por si dirigida.
Pode tal ser injusto para o marido, para a sua empresa, e em última instância para a TAP que se pode assim ver privada de uma, eventualmente, boa solução? Claro que pode, mas como diria o outro é a vida. Pesando os diferentes valores em causa é evidente que é muitíssimo mais grave a fragilização da CEO da companhia, que existiria tendo a empresa do marido como fornecedora, do que os outros valores em causa.
Uma das mais elementares qualidades de um gestor é o bom-senso, e na gestão de uma companhia como a TAP, neste seu estado de ciclo de vida, que se não fosse o dinheiro dos contribuintes já há muito seria ciclo de morte, tal é especialmente importante. É como o caso da substituição da frota de Peugeots por BMWs. A mim não me interessa especialmente saber que essa medida, eventualmente, até possa significar poupanças para a empresa. A mim interessa-me ter um gestor-decisor que saiba que, no actual ambiente social do país e da companhia, uma medida dessas é absolutamente contraproducente em termos de "signaling", mesmo que, eventualmente, até signifique uma pequena diminuição de custos.
O compatriota de Christine, Descartes, dizia que o bom-senso era a mais bem distribuída das qualidades, pois todos pensam ter o suficiente. A verdade é que neste caso, este redondamente faltou.
Há quem diga que Marcelo anda "zangado" com o Governo. Se for verdade, tal não advirá do facto de Marcelo ter uma visão mais crítica da acção deste. Tal advirá somente do facto de Marcelo sentir que se está a assistir a um divórcio entre o povo e o governo socialista.
Marcelo quis cavalgar o idílio que existiu entre os portugueses e António Costa. Agora, que o desencanto começa a surgir, Marcelo pretende acompanhar esse sentimento do povo. Todo o mandato de Marcelo se resumiu em surfar a onda dominante, procurando popularidade. Em nada existiu alguma convicção ou vontade própria, limitou-se a ser um catavento.
Estou convencido que a inteligência artificial irá, nos próximos 10 anos fazer uma revolução maior do que o aparecimento da internet.
Tenho dificuldade em antever exactamente como e em que domínios. Temo que contribua, ainda mais, para a desumanização das pessoas.
No Japão cada vez mais pessoas optam por não ter sexo. Há boa pornografia on-line e consegue-se comprar uma série de brinquedos. Manter um relacionamento com uma pessoa dá muito trabalho. Temos que estar disponíveis para ela e "alimentar a relação". As máquinas são pouco exigentes e nunca se decepcionam connosco.
No outro dia estive a "conversar" com o ChatGPT. Ainda precisa de muito "fine-tuning" mas à velocidade a que estas coisas evoluem não demorará muito até que fique francamente bom. E se no Japão o sexo foi vencido pela tecnologia, não me admiraria muito que na conversação acontecesse algo semelhante. Até porque há muita a gente a pensar como Fernando Pessoa em carta ao seu amigo Francisco Cabral Metello:
"Espero, ao menos, que a paisagem com que v. presentemente conversa lhe arranje um diálogo que o entretenha. Nem sempre acontece, não é verdade? Há árvores, pedras, flores, rios que são tão estúpidos que parecem gente."
A propósito do palco-altar muitas vozes se levantaram. O facto das pessoas se colocarem questões, procurarem entender e exigirem transparência é, em si, positivo. Claro que à boleia de uma postura de exigência cívica, que é de louvar, veio o jacobinismo mais bacoco, presente em tantas mentes.
Um dos argumentos jacobinos, que aparece de forma recorrente, é que deveriam ser os católicos, exclusivamente, a financiar a organização. Pois bem, este evento não se limita a uma simples celebração católica. Este mega evento surge de um concurso que tem um caderno de encargos e ao qual, como por exemplo para a organização dos Jogos Olímpicos, concorrem diversas cidades. Nenhuma cidade é "obrigada" a concorrer, se não quer colaborar na organização do evento, há várias outras que se predispõem a fazê-lo.
A candidatura portuguesa foi apoiado por um PM socialista, um autarca socialista e um autarca comunista, afirmando-se os três como ateus. Bernardino Soares dizia que " “Esta localização foi uma alavanca para um legado que o Papa vai deixar. Um espaço que vai ficar para benefício das populações” enquanto Medina afirmava " “A mensagem do Papa é muito mais vasta do que uma mensagem de fé dirigida aos católicos. Tem um carácter social e económico universal”.
Acho muito bem que haja consciência cívica e vigilância democrática, aliás devo ter sido dos primeiros, que quando soube dos balores envolvidos na construção do palco-altar, ainda antes da "indignação" tomar conta das redes sociais, a dizer que mais informação era necessária para aferirmos acerca da "bondade" da obra. As JMJ deverão ser o evento mais vigiado e escrutinado que jamais aconteceu em Portugal, está criado o ambiente para isso.
Eu gosto de vigilância e escrutínio, no entanto temo que a motivação para estes neste caso concreto, não será tanto os portugueses terem descoberto, em si, uma exigência democrática escandinava, devendo antes ser a militância antireligiosa e a mesquinhez.
Pode ser que esteja enganado, mas temo que muitas motivações em torno de um evento que tem muito para ser acarinhado não sejam as mais nobres. Aliás, o espectáculo de "passa-culpas" a que assistimos esta semana tem sido profundamente deprimente.
Andei a brincar com o ChatGPT e fiquei relativamente impressionado. É claro que nos próximos tempos a inteligência artificial vai entrar em muitas áreas que julgaríamos exclusivas do humano. Já foi há mais de vinte anos que os computadores ultrapassaram os humanos na capacidade de jogar xadrez. Na altura o computador da IBM, o Deep Blue tinha capacidade para processar duzentos milhões de jogadas por segundo, mas ainda não teinha competências de "machine learnig" que o fizessem aprender enquanto jogava.
Mas o xadrez é algo limitado, no sentido que mesmo com milhões de possibilidades que se vão desenvolvendo em exponencial, o número de hipóteses é limitado. Em áreas como a escrita, a pintura, a música, a arquitectura, ou a advocacia, as possibilidades são teoricamente infinitas. E já é possível ter, ou pelo menos imaginar, livros, quadros, peças musicais, projetos ou argumentação jurídica desenvolvidos por Inteligência Artificial.
Um máquina poderá fazer quase tudo. Penso que há apenas uma coisa que uma máquina jamais poderá fazer que é sentir. Ou seja, uma máquina poderá ter todos os sintomas de sentir mas nunca poderá experienciar, efectivamente, um sentimento de si. É isso que coloca os animais sencientes, e especialmente pela sua complexidade, o homem, num terreno à parte. A capacidade de ter alegria, dor, paixão ou encantamento não são possibilidades de maquinas.
Na minha experiência com o ChatGPT despedi-me da máquina dizendo-lhe "boa noite, apesar de não teres sentimentos, gostei de conversar contigo". Ela respondeu-me "boa noite, apesar de não ter sentimentos, também gostei muito de conversar contigo".
Quando Costa fez o seu "assalto ao poder" o país estava em condições de dar um enorme salto qualitativo. Tinha aguentado estoicamente uma dura crise, e tinha saído de "forma limpa" de um duro programa de assistência internacional. Ao perder eleições e alcandorar-se ao poder através de uma coligação contranatura com a extrema-esquerda que não aceita a União Europeia nem a Nato, deitou borda fora toda a confiança duramente conquistada.
Subitamente, os países que nos estavam a olhar com muito interesse, perderam o entusiasmo. Era certo que não iriamos adotar uma agenda de competitividade e crescimento. Era óbvio que, amarrados aos parceiros contranatura, iriamos ceder ao imediatismo, à inércia, ao populismo e à demagogia.
Nestes sete anos, a hipótese de virmos a ser um "darling" da comunidade de investidores esfumou-se. A possibilidade objetiva que tínhamos de dar um "salto quântico" esfumou-se. A não ser que se seja completamente ignorante, ou sofredor de miopia clubista, penso que ninguém poderá dizer, de boa-fé, que estes sete anos e tal, que ameaçam ser onze, venham a ser bons para o país.
Há duzentos anos a Suíça era um país relativamente pobre, entrincheirado no coração dos Alpes. Só com o advento do turismo começou a ser um país desenvolvido.
Há duzentos anos a Irlanda era um país pobríssimo. Uma doença nas batatas levou à grande fome de 1845-1849. Nesse período a Irlanda viu a sua população reduzir-se entre 20% e 25%.
Há pouco mais de duzentos anos, em 1814, a Noruega, um território relativamente pobre, obtinha a sua independência. Daí inicia um fulgurante desenvolvimento que a vai tornar no primeiro país do mundo em termos de índice de desenvolvimento humano. Também a Suíça e a Irlanda estão entre os mais prósperos e desenvolvidos do mundo.
O Brasil celebra hoje os duzentos anos da sua independência. Em termos de desenvolvimento o Brasil é, actualmente, um país de nível médio. Muitas circunstâncias explicarão essa situação, mas, por favor, não venham culpar Portugal pelo facto de não serem mais desenvolvidos. O principal determinante do nível de riqueza de um país é o tipo de escolha dos povos. E, em duzentos anos, o Brasil, tal como a Suíça, a Irlanda ou a Noruega tiverem oportunidade de fazer muitas escolhas. E com certeza que, passado todo este tempo, não é Portugal o responsável por elas. Não somos nós, por exemplo os responsáveis de as próximas presidenciais brasileiras serem disputadas entre dois populistas, sendo que um deles só por fanático clubismo se pode dizer que não é corrupto.
Como disse, em termos gerais, e fundamentalmente, um país é responsável por si. Se Portugal é, neste século, dos piores países em termos de crescimento económico, não é a Merkel, ao Trump, ou ao Putin, que temos que assacar culpas. Nós somos os responsáveis pelas nossas escolhas e pela mediocridade onde chegamos.
Muitos parabéns ao Brasil e que o país cumpra o seu sonho na maior plenitude.
Fala-se muito da frequência de “massacres” nos EUA e tende-se a associar tal ao elevado número de armas disponíveis. Eu não nego, nem a elevada frequência desses “massacres”, nem a associação à profusão de armas existente.
No entanto, penso que tal, por si só, não explica plenamente o fenómeno. Nos EUA mata-se bastante, quase cinco vezes mais que a taxa de homicídio intencional que existe por cá. No entanto, à escala mundial, esses dados que são maus não são péssimos. São melhores do que os de alguns países que não associamos à violência como Cabo Verde ou a Lituânia. E são muito melhores do que os dos países realmente violentos como a Venezuela, onde se mata dez vezes mais, ou El Salvador que mata vinte vezes mais.
A quantidade de armas de fogo disponíveis será relevante, mas se pensarmos que no segundo pais com mais armas de fogo, a Suécia, se mata pouco, ao ritmo de Portugal, então coloca-se a dúvida de uma correlação directa. A Suíça também é um dos países com mais armas nas mãos de habitantes a a taxa de homicídios é inferior à nossa.
Eu acredito que o problema nos EUA passe pela posse de armas, mas o transcenda, é uma verdadeira cultura das armas. Se um jovem ganha um prémio escolar não é impossível que a recompensa seja uma arma. Fora das zonas costeiras as armas serão um dos temas de conversa de eleição. A quantidade de clubes e de elementos de sociabilização eu passam pelo tiro é impressionante. As armas, em muitos casos, tornaram-se uma sublimação freudiana. E se em El Salvador os assassinatos serão em grande parte cometidos na óptica do crime organizado, os “massacres” os EUA ocorrem quase como que encenação quase religiosa de carácter que roça a transcendência.
Será difícil eventualmente retirar grande parte das armas em circulação nos EUA, mas será ainda mais difícil retirar as armas do imaginário e culto americano. Isso passa de pais para filhos de forma quase atávica.
O meu pai gostava de barcos, a minha mãe gostava de livros. Eu gosto de barcos e livros. Se lá por casa os gostos andassem à volta das armas, a minha vida poderia ser bem diferente. E não penso que melhor.
Os americanos têm jeito para o showbiz. Agora que a Fórmula 1 é dirigida a partir dos EUA algumas coisas estão a mudar.
Para “dar glamour” ao recente GP de Miami contrui-se uma “marina” fake com água falsa, mas com barcos reais. Os milionários pagam uma fortuna para ver a corrida a partir dos barcos.
É a tentativa de transformar tudo numa imensa Disneylândia, onde fantasia e realidade se se interpenetram e confundem. É o mundo onde importa a imagem e o substrato conta muito pouco. É o universo das selfies, do Photoshop e da futilidade. De manhã dizemos que nos preocupamos com a pegada de carbono e à tarde mandamos deslocar uns iates para o prazer de uns ricos absolutamente incultos e infantilizados.
É o mundo do qual eu gosto de estar longe.
O progresso traz coisas mais práticas mas com isso, muitas vezes, mata a beleza e o romantismo.
Uma despedida num cais marítimo era algo imensamente bonito, os abraços eram intensos e as lágrimas vinham do coração. Quando nos despedíamos de uma pessoa que ia para um outro continente à procura de melhor sorte não sabíamos se a iriamos voltar a ver. Agora, num aeroporto, não há dramaticidade. Se houver azar, sabemos que a pessoa de quem nos despedimos aparece cá em um, ou dois, dias.
Há dois produtos, de que gosto, cujo o progresso matou muito da magia, relógios e automóveis.
Um relógio mecânico é uma obra de arte de engenharia, manufactura e dedicação. Como tem peças móveis, a sua precisão não é perfeita e precisa de manutenção. Um relógio de quartzo é muito preciso, o mineral mantém sempre os mesmos 2 768 pulsos elétricos por segundo, e a sua manutenção quase nula.
No entanto, o mais perfeito relógio de quartzo não tem qualquer magia. Se num relógio mecânico imaginamos um laborioso artesão com um enorme saber de experiência feito, num relógio de quartzo imaginamos uma asséptica linha de montagem industrial.
Felizmente a alta relojoaria manteve-se, ainda que apenas no campo dos bens de luxo.
No mundo automóvel estamos a assistir a uma transição relativamente semelhante. Um motor a combustão tem alguma magia. Um 12 cilindros pode-se comparar a uma peça de alta relojoaria, afinada com grande precisão. Já um motor elétrico, por muita potência que tenha, tem a mesma magia que um motor de uma batedeira, ou seja nenhuma.
Em muitas coisas sou um nostálgico, quase reacinário. Não estou certo que um futuro de nerds seja forçosamente melhor que um passado de românticos.
Ontem, ou seria anteontem (?), de fugida e não com a atenção que me deveria merecer, ouvi a reputada bióloga e cientista Maria Manuel Mota, dizer que não havia ciência com verdades absolutas e sem dúvidas. (como ouvi de fugida a citação poderá não ser esta, mas a ideia é).
Quem tenha dedicado a sua atenção à leitura de epistemologia, mesmo lendo dois autores “opostos” como Popper e Kuhn facilmente compreenderá que assim é.
Nesta pandemia a ciência não tem dado as respostas à velocidade da “encomenda social”. Pois é mesmo assim, em ciência, por muito que se invista, não se consegue ter uma resposta certa numa data antecipada. O que nós estamos a assistir é à “construção de ciência” ao vivo com a testagem contínua de hipótese. Assim, a ciência tem-nos “dado” muitas respostas contraditórias e pouco consistentes.
Serão tais respostas inúteis? Não, pois essas respostas representam as melhores respostas disponíveis. Quando se toma uma decisão, ainda que com todas as dúvidas, é fundamentalmente nessas respostas que nos devemos apoiar.
No entanto, causa-me algum desprezo quem, nesta altura do campeonato em que é claro que as “respostas” da ciência ainda não estão absolutamente consolidadas, assuma uma posição de absoluta cienciolatria, procurando encerrar debates com o argumento de autoridade “a ciência diz que...”
Não foi a luta contra o apartheid que fez de Tutu, ou Mandela, pessoas excepcionais que vão ficar indelevelmente marcados da História do século XX.
A luta pelo fim do apartheid, para além de justa, tinha os ventos da História a seu favor. Se não existissem Tutu e Mandela haveria muitos sul-africanos que conduziriam essa luta ao inevitável sucesso.
No que Tutu e Mandela fizeram toda a diferença foi na promoção da paz, da concórdia e da reconciliação. É muito mais fácil acicatar a turba estimulando os primários instintos vingativos, do que promover a harmonia e a nobreza de carácter.
Sem Tutu e Mandela a transição teria sido um enorme banho de sangue, levando à saída da comunidade branca e ao mergulho do país no caos. Tutu e Mandela promoveram a luta contra o regime ignóbil do apartheid, mas foi na promoção da paz que se afirmaram como heróis.
Os patrões queixam-se que não encontram mão de obra e nós, naturalmente, dizemos aumentem os salários e passem a ser atractivos para quem querem atrair para trabalhar convosco.
Tudo bem, mas há aqui um problema, muitas das empresas, na linha de água, não podem pagar salários significativamente mais elevados.
Face a este cenário há duas hipóteses, ou se incrementa a oferta de mão de obra fomentando a imigração ou se assiste a uma destruição criativa schumpeteriana deixando muitas empresas pelo caminho. Claro que entre as duas hipóteses extremas há todos os cenários gradativos.
Ambos os caminhos contêm coisas boas e menos boas. Se optarmos pela eliminação das empresas mais fracas teremos salários médios maiores e uma produtividade maior. Mas, atendendo ao facto de termos uma população muito envelhecida, é difícil que essa economia mais pequena no seu todo seja capaz de suportar um estado social, necessariamente dispendioso no que diz respeito a reformas e sistema de saúde. E é claro, numa economia mais competitiva não temos aquele cafézinho em quase todas as esquinas, de que tanto gostamos, nem uma agência de publicidade que faz excelentes trabalhos a custos muito comedidos, para falar de dois meios que conheço relativamente bem.
Se optarmos por abrir à imigração teremos uma economia mais dinâmica, mas sem se libertar do modelo de baixos salários. Como disse, entre estas duas hipóteses há todos os cenários gradativos, mas decidir onde “colocar o cursor” não é uma decisão evidente.
A Bíblia Sagrada é uma compilação de diversos livros escritos por autores distintos em diferentes épocas.
A Bíblia não é um todo coerente. Ao Deus irado e vingativo do Antigo Testamento sucede o Deus de amor e compaixão do Novo.
Como tal, em muitos casos, ler a Bíblia, sem um esforço de contextualização e reflexão (exegese) não é grande exercício. Por exemplo, sempre que o livro do Genesis foi lido literalmente, como se de um livro científico se tratasse, tal deu mal resultado, ainda que eu ache belíssima a descrição da criação do mundo e, curiosamente, relativamente semelhante ao que entendemos com sendo o Big Bang.
No entanto, existe uma parte da Bíblia, a mais importante, que, normalmente, não exige grande esforço de contextualização, os evangelhos. Os evangelhos, que contam a passagem de Cristo pela terra, podem ser lidos quase com literalidade. São mais actuais do que o jornal da manhã.
Para mim é sempre surpreendente o número de cristãos que nunca se dedicou a leituras bíblicas. Pois bem, se me permitem um conselho, comecem pela leitura dos evangelhos. Este conselho estende-se aos não-crentes que poderão ver em Cristo, não Deus feito homem, mas apenas um místico fascinante.
Dificilmente encontrarão leitura mais inspiradora.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
"o Chega é formado maioritariamente por elementos ...
-tá? é do xis? tenho problemas com este pc por não...
Um dia destes o PS importa da Alemanha a coligação...
Os pais respondem pela conduta dos filhos menores.
Subjectivamente, podem não querer saber, podem que...