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Ontem, os EUA e a Ucrânia, conseguiram chegar a acordo na proposta, á Rússia, de um mês de cessar-fogo. O congelamento de apoio pelos EUA foi levantado. A proposta de acordo, muito provavelmente, será rejeitada pela Rússia.
Juntando este episódio, com o que se passou na Casa Branca, parece mais clara a estratégia geral de Trump. Em primeiro lugar, dar espectáculo. Fazer grandes demonstrações publicas, mesmo recorrendo á mais lamentável grosseria, de que é um indómito defensor dos interesses americanos, que não subordina a ninguém, nem a nenhumas justificações fofinhas. O que poderá calhar bem para o que ele considera ser o seu eleitorado (para alem de massajar o seu ego). Em segundo lugar, “explicar”, um percurso. Já não determinado com base em princípios abstractos, mas num claro roteiro. Demonstrou não estar ao lado da Ucrânia, que humilha e ofende. A quem corta, imediatamente o apoio. Para escassos dias depois, do alto do seu poder, obrigar a uma proposta de cessar-fogo, que imediatamente levanta o apoio que retirou. Torna-se um paladino da paz, abre o campo, (como desejo) para poder continuar a apoiar uma guerra, caso se verifique a esperada recusa da Rússia (finalmente quem deseja a guerra), que disse estar a ser mal-conduzida, que acabaria em 24 horas. Como poderia continuar a fazer o mesmo se tudo o resto nao mudasse? Ao mesmo tempo, consegue o que nenhuns presidentes, pelo menos desde Obama, tinham conseguido: que a Europa comece verdadeiramente a pensar ter de pagar pela sua defesa.
Trump tem um estilo indecoroso, mas é muito prematuro declarar que é um espião avençado de Putin, ou desprovido de qualquer tipo de eficácia.
O das tarifas é mais absurdo, mas também pode ter uma explicação, se não razoável, pelo menos compreensível. A grande base de apoio de Trump, são os menos favorecidos com a globalização, os trabalhadores indiferenciados que passaram a sofrer a concorrência de biliões de trabalhadores do resto do mundo. Não vivem pior do que viviam. Mas não prosperaram tanto como os trabalhadores menos indiferenciados, que hoje votam maioritariamente no partido democrático.
Esses trabalhadores querem repor a sua importância relativa e, para isso, á falta de políticas de redistribuição de rendimento (a mais adequada), ou aumentos significativos do salário mínimo (com custos económicos evidentes), acreditam que o caminho é reduzir a sua concorrência enquanto grupo laboral. Internamente, limitando a entrada de emigrantes, externamente, impedindo a concorrência de produtos industriais mais baratos, impondo tarifas esdrúxulas.
No combate aos emigrantes, a agressividade e brutalidade publica que coloca no tema, é contrabalançada por números mais baixos de deportações do que nos últimos tempos de Biden.
Não é impossível que Trump não perceba os benefícios do comercio internacional. Mas até declarou esperar uma recessão por via da imposição de direitos alfandegários. Mais uma vez, no entretanto, estará a fazer o que prometeu ao seu eleitorado.
É certo que Trump não se mostra um líder responsável, equilibrado, previsível e com valores consagrados no cerne das suas políticas. Não é certo que Trump não siga uma lógica, pouco elegante, e que em alguns casos não o tornam diferente de qualquer político tradicional. O cuidado com a base eleitoral, os votos, os desejos de parte da população americana, parecem explicar muitas das acções do actual presidente.
Na Europa, durante décadas, cristalizou-se a ideia de que princípios e desejos (bons ou maus) se sobrepunham á realidade, às possibilidades, aos interesses. Obviamente não é exactamente assim. Nem no plano interno, nem no plano das relações internacionais.
Para esse estado de irrealidade, não se pode deixar de olhar para dois actores. Os partidos políticos (moderados de esquerda e direita), que criaram, ou não combateram, um clima de euforia desenfreado, preocupados com a conquista do poder. As populações, que exigiam vorazmente tudo, já, porque acreditavam ser possível e constituir um seu direito inalienavel.
Não se pode dizer que correu mal durante muito tempo. Grandes conquistas foram realizadas, parecia que nada se interpunha entre desejos e realidades. “Parecia” é a palavra-chave: depois de décadas de prosperidade, a desconsideração sistemática dos limites, expôs a utopia em que vivemos.
Na política, quando se tornou evidente o divorcio crescente entre as promessas e o resultado. O que levou os partidos de centro (normalmente no poder), a perderem uma imensa hegemonia do sistema. Os partidos radicais, sobretudo de direita, mas também de esquerda, representam, hoje, uma franja crescente dos parlamentos. Não é por acaso.
Na economia, a impiedosa regulação, o triunfo da sociedade sobre riscos, levou a Europa a atrasar-se relativamente aos EUA e a muitos outros países. É provável que continuemos no grupo dos mais ricos, mas não seremos dos mais ricos. Pior, quebrámos a idade de ouro, em que cada geração vivia necessariamente melhor do que a anterior.
No plano internacional, tornámo-nos irrelevantes. Afinal a História não acabou e ter armas, exércitos e força militar, voltou a ser relevante, mesmo para a nossa sobrevivência enquanto sociedades independentes. O papão russo, depois da queda do muro, parece tão vivo como nos velhos e maus tempos. E os EUA, decidiram que já não tinham interesses alinhados com os da Europa. Ou pelo menos, ao ponto de se encarregarem da sua defesa, da forma a que os Europeus desejam.
O choque, o sentimento de orfandade e traição, é ainda amplificado pelo estilo de Trump, que nos transporta diretamente da irrealidade, não para a realidade, mas para a brutalidade. Se o estilo de Trump é muito desagradável, não podemos deixar de reconhecer a sua legitimidade como presidente democraticamente eleito. E a legitimidade de os EUA não assumirem a defesa do que entendemos serem princípios éticos legítimos. A moralidade das nações, quase sempre se subordinou ao que se pensa serem os seus interesses. É uma realidade. Como é uma realidade que a defesa da Europa deve ( e até pode) ser assumida pelos Europeus, o que significa que, querendo, terão que fazer os sacrifícios necessários.
A Europa está metida num grande sarilho. As maiores ameaças podem ser as maiores oportunidades. Um banho de realismo e bom senso, pode ser o que a Europa precisa para sair da decadência em que mergulhou. Esperemos que assim seja.
Não há nada que perturbe tanto os portugueses como o dinheiro e a sua proveniência. Durante séculos, o dinheiro do comercio e indústria eram mal vistos, influencia da Igreja. No Estado Novo, tivemos um certo culto da pobreza. Agora, continuamos a estigmatizar o dinheiro. O argumento actual, se podemos falar em argumentos é mais ideológico, o mito dos benefícios da igualdade. Que esconde a convicção, de quase todos, de que só se ganha dinheiro com corrupção, droga e outras malfeitorias. Dinheiro velho, ganho pelas trapaças da geração anterior, parece perder o fedor. Mas só quanto à sua proveniência suspeita, no resto, mantém-se uma tradicional inveja, que se manifesta em alfinetadas subtis, ou em manifestações mais claras.
A sobriedade, no meu caso, não me assenta mal. Não é uma escolha, é uma necessidade. Por mim, gostava de ter muito mais dinheiro do que tenho, poder esbanjar em restaurantes consagrados, beber os melhores vinhos e por aí fora. Não posso
, mas gostaria. As minhas limitações não me incomodam e fico muito feliz que, cada vez mais, haja quem o possa fazer.
Esta má relação com o dinheiro é uma das razões pelas quais não o temos. Hoje vou só falar nas suas consequências para a estrutura política da república.
Uma cobardia ideológica de todos os partidos, levou a que os mais altos cargos de governação tenham salários ao nível do país, ou seja, sejam miseraveis. Ou seja, são ridiculamente baixos. Actualmente, alguém que não seja rico, só pode abraçar a vida publica, com enorme sacrifício financeiro. Se queremos aqueles que mais garantias dão de eficiência e capacidade, temos naturalmente de visar aqueles que se destacaram, com provas dadas. O que, se exceptuarmos parte da academia (já nos Estados Unidos, não é incomum um professor ganhar mais de 1 milhão de Dólares), significa concorrer com a actividade privada, que já paga razoavelmente aos seus quadros superiores (grandes vencedores da globalização).
Ao problema da fraca atracção económica que os cargos políticos exercem, junta-se o estigma social de se ser político. Antes uma honra, hoje o mais mediático e sinistro cadastro. Até faz algum sentido, ser político, hoje, só parece compreensível porque poucos, acreditam que alguém esteja disponível para piores remunerações, se não tiverem a perspectiva, por corrupção ou por trafico de influências futuras, compensar os anos magros de governação. Uma eventual projecção do que realmente pensam que fariam em idênticas situações, ou porque consideram que existe uma associação de bandidos, que tudo controla e de onde são recrutados os políticos.
Acresce o escrutínio impiedoso da vida pessoal de quem ocupa cargos de ministro e secretários de Estado, que ultrapassam todos os limites razoáveis.
Não queremos políticos. Queremos anjos, ascetas altruístas, espetacularmente capazes de resolver problemas, respeitando restrições quase impossíveis de ultrapassar. Ainda não conheci nenhum.
Esta cronica, requer um comentário sobre a questão Montenegro, o caso da sua empresa familiar.
Até acredito em não ser Montenegro alguém propenso á corrupção. Parece compreensível que, posto perante (o para ele) modestíssimo salário de primeiro-ministro, não tenha querido perder um conjunto de avenças que tinha alcançado, que compunham o orçamento familiar. Dito isto, não deixa de ser evidente que as avenças, pelo seu valor, não encontram justificação, sem imaginar que sejam explicados por gestão fiscal, que os talentos de Montenegro ainda sejam ( prestado em horas fora do expediente) a real justificação do seu valor, ou que seja afinal, a sua posição política, a sua capacidade de influência, que expliquem o seu valor.
Nenhuma das justificações, por mais compreensíveis que sejam, parecem ser ideais. Não parece razoável termos um primeiro-ministro envolvido na fuga ao fisco, não parece aceitável termos um primeiro-ministro com dois empregos, não é admissível reconhecer “influencias” como um complemento salarial.
Claro que, como ninguém quer eleições, não é provável que Montenegro se demita. Pior, é este episodio não promover a correção da estrutura salarial dos mais altos servidores do Estado, contribuindo para que os casos e casinhos e o afastamento de pessoas com valor, continuem.
Fomos confrontados ontem com um episódio singular: Trump e Vance, em directo atacam de forma brutal Zelinsky, cancelando o encontro e, para todos os efeitos, expulsando o Presidente da Ucrânia da casa branca.
Os argumentos ridículos, o tom usado, a ainda maior agressão de cancelamento, são obviamente mais que deploráveis. Mas só marcam o fim da elegância que costumava acompanhar a diplomacia. Um facto, em sim mesmo, que aflige, revolta e até enfurece, almas mais sensíveis, como a minha. Para Trump, foi apenas mais um acto de agressão ordinário, cobarde, de macho alfa, que pratica mais habitualmente do que bebe copos de água. Não significa nada de novo, nem nada em sim mesmo.
Trump afastou do terreno de jogo hipocrisias, mas também a mais elementar elegância, que de qualquer modo parece há muito condenadas no ciclo que se vive nas últimas décadas. Inova (e mal), apenas no grau da brutalidade publica, na desconsideração das vantagens do soft power e de consequências a longo prazo. Apenas a lógica transaccional (que de resto é a lógica realmente prevalecente nas relações internacionais) é admitida como razoável, por Trump.
Dito tudo isto, o que aconteceu ontem, só representa um agudizar de um sentimento de insegurança internacional, com um ocupante da casa branca que se comporta como Al Capone (lembrei-me do episódio do taco de basebol), que terá sido o ponto que mais terá agradado a Trump, mesmo que não premeditado. A mensagem (China?), é que, afinal não se deve recear apenas ditadores loucos, também não se podem contar com atitudes responsáveis do presidente democraticamente eleito dos EUA.
No que diz respeito à posição dos EUA na Ucrânia, o episódio de ontem foi como se nunca tivesse acontecido. Os interesses dos EUA, quaisquer que sejam a sua actual definição ( bem ou mal) , serão defendidos da mesma forma, desconsiderando um episódio sem relevância. Mesmo que isso represente acabar por apoiar militarmente a Ucrânia. O que não é certo, nem hoje, nem anteontem.
A Europa, os países europeus, têm o direito de escolher os seus destinos. Já mais complicado é imaginar que têm direitos legítimos a que os outros, se curvem perante as suas escolhas, opiniões e interesses. A Europa, fruto das suas glorias passadas e de um complexo de superioridade moral que desenvolveu, passou a acreditar que tinha direitos, que na verdade não são reconhecidos pelos outros.
Este comentário inicial, é valido para uma quantidade de questões, que passam pela luta contra as emissões globais, pelas políticas energéticas, pelo comercio internacional, enfim, por quase tudo. Mas esta cronica é sobre a questão da defesa.
A Europa, na última semana, sentiu-se verdadeiramente humilhada e agredida pelos EUA e pela Rússia, que a excluíram das conversas que planeiam ter sobre a questão ucraniana. Na verdade, foi simplesmente ignorada porque, por escolha própria, deixaram de ser relevantes em termos militares. Perderam o lugar à mesa dos crescidos. Não têm legitimidade real, para ser considerada.
A dependência de defesa dos Estados Unidos, não aconteceu por incapacidade. Deu jeito, permitiu investir no estado social, noutras políticas consideradas prioritárias. E até agora, foi uma opção que correu bem, já que os EUA aceitaram o encargo e não excluíram os europeus dos processos de defesa, ao longo dos últimos 70 anos. Muito foi conseguido pelos países europeus, pela poupança que realizaram na sua defesa. O que aconteceu, não por terem essa obrigação para com os Europeus, mas porque consideraram ser essa uma opção vantajosa, ou uma generosidade suportável, face a outros objectivos que traçaram. Aparentemente já não é assim. E não foi por falta de avisos desde a administração Obama.
Nos jornais de toda a Europa, o tom é de grande indignação. Na verdade, deveriam agradecer aos EUA os bons tempos que lhes foram proporcionados e começar a fazer pela vida. Ou abdicar de vez, da sua soberania plena.
Dizer mal de quem morreu, não é muito digno. Normalmente representa uma cobardia agredir quem não se pode defender. Esquecer tudo de menos bom que um defunto disse, fez e praticou, poderá ser piedoso, mas não faz qualquer sentido. Será um acto de hipocrisia vazio de significado.
Escrevo, tudo isto, a propósito da morte de Jorge Nuno Pinto da Costa, e o alarme mediático, pelo facto de Benfica e Sporting, não terem apresentado oficialmente (ou por outra via) condolências ao FC Porto, nem se terem precipitado num elogio fúnebre, vazios de sentido e de sinceridade.
Jorge Nuno Pinto da Costa, todos reconhecem, transformou o FC Porto, de um clube de segundo plano, numa referência inquestionável do futebol português. Teve imensos méritos e deixa uma extraordinária obra feita. Mas não será antidesportivo que, quem tantas vezes justamente perdeu no terreno de jogo, esqueça tudo o resto. Os insultos, provocações antidesportivas, o incitamento ao ódio regional, de que foi o maior expoente no desporto nacional durante décadas. Mal comparado, numa versão menos boçal e poderosa, Pinto da Costa, é um precursor do actual presidente Trump. Mesmo que este último venha a apresentar resultados tão bons quanto Pinto da Costa, também não prevejo comover-me, se ainda cá estiver, quando ele morrer.
PS: Possíveis casos de corrupção desportiva e financeira, ao longo do seu mandato, já não seriam tão originais e exclusivos, mas também não deveriam entusiasmar incondicionalmente quem aqui ainda anda.
A guerra entre Israel e o mundo árabe, desperta paixões. As discussões e argumentos que se ouvem, são sobretudo tiros ao lado. Discute-se legitimidade, discute-se a questão palestina e Israel. Nem a legitimidade resolve a guerra, nem o conflito é israelo-árabe. A verdadeira questão é pratica. Enquanto houver dinheiro para a guerra, não haverá paz. Enquanto o Irão permanecer uma teocracia autoritária, não haverá paz.
Em termos de legitimidade, o Estado de Israel, o Irão, a palestina, comparam-se bem com a conquista de Portugal por D. Afonso Henriques e os seus descendentes, aos mouros. Que por sua vez tinham feito o mesmo a Visigodos, que o tinham feito aos romanos, que o tinham feito a umas tribos dispersas, que por sua vez, num ciclo infindável, o tinham feito a outras. A legitimidade da força, é a fonte original de todos os estados existentes, um pecado original que nenhum estado está livre. Vamos reabrir essa discussão? E já agora, internacionalizá-la e alargá-la a todas as fronteiras? Questionar tudo de novo? Ou, com sentido pratico, aceitar as realidades? Aviso, desde já, que não contem comigo para tomar Olivença.
Outra questão relevante é saber quem é, originalmente o agressor, quem foi o agredido. Quem quer que seja, para começar, já morreu. Os Palestinos foram agredidos. A ONU, assumiu a responsabilidade da agressão. Os israelitas, como é óbvio, aproveitaram. Podemos simpatizar com os palestinos, com cada um dos milhares de “povos” que foram subjugados. Simpatia que os judeus, também historicamente merecem, tendo sido expulsos da Judeia por diversas vezes.
O odioso ataque de há 7 de Outubro do ano passado, desencadeou a guerra. Israel tem todo o direito de se defender. O que, mais uma vez, não resolve nada.
Em termos de legitimidade, não vamos resolver o problema: cada uma das partes reclama a sua. No entretanto, um enorme legado de medo, ódio, de sangue derramado, de luta pela sobrevivência dificulta uma solução. Mas essas não são a verdadeira causa do conflito.
Olhemos para o dinheiro. Se os grupos terroristas palestinos não tivessem fontes de financiamento, o que teríamos? Seguramente não existiria um estado de guerra sequer próximo do que existe. Os palestinianos não deixariam de viver miseravelmente, não teriam nada a perder, não existiria uma verdadeira paz. Mas com pedras não se faz muito sangue. Se parte do dinheiro da guerra, fosse investido no desenvolvimento económico das palestinas (faixa de Gaza e Cisjordânia) a vida das suas populações seria seguramente melhor. Teriam mais predisposição a olhar para o futuro, teriam mais a perder no presente.
Já há algumas décadas, os países árabes receiam mais os terroristas palestinos, expulsos da Jordânia e do Egipto e que dominam o Líbano, do que temem Israel. Já há algum tempo que perceberam que o Irão e os Xiitas, tudo farão para dominar os sunitas. O último exemplo é o Iémene. Os países árabes (sunitas) começaram a guerra, mas já não fazem parte da equação de agressão. O terrorismo passou a ser uma forma de vida de pessoas que pertencem a organizações com interesses próprios, mais do que verdadeiras e legitimas organizações com objectivos legítimos. Alguém pode pensar que o Hezbollah ou o Hamas estão verdadeiramente preocupados com as populações de que se dizem representantes? E já agora, serão capazes de tomar decisões independentes?
Na falta do suporte financeiro dos árabes, estes grupos encontraram o suporte do Irão, que passou a controlá-los: dinheiro pelos seus objectivos. A guerra passou a ser parte de um conflito maior, entre xiitas e sunitas. Os palestinos e Israelitas, passaram a meros peões dessa guerra, em que Israel é, por si só, um espinho incomodo nas aspirações iranianas. Em que que a popular luta contra os sionistas, é também uma forma de angariar prestígio xiita junta das populações árabes. Em que as milícias terroristas, são extensões do regime iraniano espalhadas na região. Em que os palestinianos, vítimas úteis, são uma mera ferramenta para o bem maior.
Enquanto se falar de legitimidade nada de útil se produz. Enquanto o Irão não parar o seu expansionismo, não haverá paz no médio oriente.
Luís Aguiar Conraria (LAC) é um dos meus comentadores preferidos, um bom economista, inteligente, liberal e honesto. O seu único problema, fica patente na sua cronica de hoje do Expresso: é quando ensaia ser um liberal....de esquerda.
Da esquerda, vai buscar uma característica que é, simultaneamente, a sua maior gloria e o seu maior pecado: o optimismo.
Sei que LAC sabe que, um mercado livre pressupõe que a liberdade se mantenha em todos os mercados e que, infelizmente, quem falha, não vive muito bem. Não pode existir uma rede obrigatória que corrige completamente o que o desempenho das pessoas e dos mercados determinam. Na sua tese de hoje no Expresso, “A esquerda liberal e a direita iliberal”, defende com Inteligência e elegância que afinal a direita é toda iliberal pois é contra a absolutamente livre circulação de pessoas. Até sugere que Milton Friedman , no caso Português, se renderia à imigração legal, já que os imigrantes contribuem positivamente para os cofres da segurança social. Caso para dizer, è ben trovato ma non è vero.
Como sei que é honesto, tamanho erro só se pode justificar, ou por lhe ter apetecido provocar, num humor mais diletante ou, por um arroubo de esquerda, que acredito que o tempo vai curar. Da esquerda, LAC vai buscar uma característica que é, simultaneamente, a sua maior gloria e o seu maior pecado: o optimismo.
Senão vejamos.
Se as contribuições dos Portugueses para a segurança social, não são suficientes para a sua sustentabilidade, porque seriam as dos imigrantes? Pretendemos não honrar as obrigações do Estado para quem faz as suas contribuições só porque são estrangeiros? Não lhes vamos pagar pensões ou subsídio de desemprego se chegar a situação em que a elas tenham direito? Se forem embora não os deixaremos reclamar as suas contribuições? Não considerar que, no final, as presentes contribuições terão que ser pagas é franco optimismo.
Se abrirmos as portas a toda, mesmo toda a gente, nomeadamente aqueles que passam pior, daquele mundo medonho, em que as pessoas morrem mesmo de fome e têm todos os incentivos para dele fugir, vamos mesmo deixa-los todos vir (corolário lógico da total liberdade)? E depois, vamos deixá-los morrer de fome nas nossas ruas ou vamos deporta-los? Não será um enorme optimismo pensar que a liberdade total, de mundos tão diferentes do nosso não resultará numa catástrofe humanitária?
Também se esquece que, as portas não se fecham à imigração, desde que obtenham um contrato de trabalho em Portugal: só a mais absoluta liberdade é limitada. Acredito que se esqueceu desse pormenor, simplesmente porque estragava a sua tese, absolutamente tão brilhante como errada. Francamente, acho que LAC é mais brilhante quando é só liberal e se esquece de ser de esquerda.
Quando vou numa estrada sem transito, gosto muito, quando vou numa estrada em pára-arranca, eu penso que todos os outros me estão a incomodar. Os outros, independentemente de quem sejam, têm o condão de, usando o mesmo direito que nós temos, nos incomodarem imenso. Para todos os outros, nós somos os que incomodam.
A propósito da urbanização da Quinta dos Ingleses ( ou melhor da oposição á urbanização dos seus 50 hectares) , não há dúvida, vai existir uma maior pressão nas estradas, mais transito. Logo, os instalados, os que já moram na região, vão tentar tudo o que possam para travar o processo. É o que se passa em toda a zona metropolitana de Lisboa. Os instalados, agarram-se aos seus privilégios (nesta e noutras situações) e defendem-nos com unhas e dentes. São os mesmos que se compadecem com o problema de habitação, mas não querem que exista nova construção para, enquanto proprietários, não verem o valor dos seus imoveis baixarem e, enquanto moradores, não terem mais transito ou menos oxigénio.
Somos todos sempre muito solidários, desde que sejam outros a pagar ou a não usufruir. É esta a normal natureza das coisas.
Quando observamos longas series económicas entre os Estados Unidos e a União Europeia, desde há algumas décadas, há uma quase constância de 30% entre o indicador mais robusto para comparar rendimentos de diferentes espaços económicos: o produto per capita medido em paridades de poder de compra. Mudam-se os tempos, mas não se muda a riqueza relativa: os Europeus têm um rendimento 30% inferior aos dos Estados Unidos.
É também interessante a convicção generalizada dos Europeus da superioridade do seu modelo económico e social. Poucas pessoas encontro que, tal como eu, apreciem o desempenho e a liberdade do povo Americano, mesmo sabendo que uma percentagem não desprezível, mas não grande, vive na sua margem.
Raramente encontro pessoas que saibam que nos EUA, mesmo que de formas mais incipientes do que na Europa, existe subsídio de desemprego, pensões de reforma e, desde o Obamacare, um esqueleto de um serviço Universal de saúde. Uma parte de mim deseja mais Social, outra receia, com argumentos, que estes movimentos sejam, entre outros, os factores que desencadeiem um empobrecimento geral, um custo de 30% da riqueza criada e uma vida tolhida por regras. Gostava de saber até onde se deve ir.
Poucos são os que, do alto da sua superioridade, reclamando uma absoluta primazia cultural dos Europeus, não ignoram a excelência das suas universidades privadas, dos hipermercados de livros, dos fantásticos museus, do espaço da música erudita, da arte em geral. Mais frequentemente comparam os ignorantes ou pouco cultos, que aparecem em filmes e series, com representantes de excelência da academia Europeia. Esquecendo que a inteligência e provavelmente a cultura, cá e lá, se distribuem da mesma forma estatística.
É evidente que nem tudo é melhor nos Estados Unidos do que na Europa, já para não falar de períodos menos deslumbrantes de um lado e doutro.
Tudo somado, parece-me de uma intolerância preconceituosa absurda e criminosa não haver interesse popular em investigar porque tantas coisas são melhores na América do que na Europa.
Uma Santa Pascoa para todos, são os desejos de um agnóstico.
As eleições do dia 10, parece-me, trouxeram bons resultados.
A AD ganhou e vai existir um novo governo e orientação. Claro que se não governarem bem, não vai ser por muito tempo: todos o sabem, aumentando a motivação para fazer bem e depressa. Sermos mal governados não interessa, já temos demais desse tipo de governação, para mal, podemos sempre contar com o PS. O pior que pode acontecer é, recorrendo a medidas populistas, o novo governo conseguir aguentar-se sem governar bem. Tenho esperança que não aconteça.
O Chega, conseguiu mais de 1.1 milhões de votos e, desconfio, foi responsável por uma queda na dramática abstenção das últimas décadas. Ganhou a democracia e ganharam os Portugueses. Os grandes partidos tradicionais perceberam, finalmente, que já não há espaço para ignorarem a maioria silenciosa.
Os riscos de ingovernabilidade, que tanto receio aparenta causar, poderão até ser um incentivo para melhor governabilidade e tantos portugueses que, simplesmente, foram remetidos para a classificação de fascistas inoportunos ( ou sempre ignorados) poderão, agora, passar a ser considerados como potencial eleitorado a ser ouvido nas suas preocupações e aspirações.
O PCP, um anacronismo museológico, continua a dar mostras de declínio acentuado e de extinção. Ao contrário de muitos, não choro o fim deste partido histórico que não me parece ter dado contributos assim tão positivos ao longo dos anos: lembro sobretudo muitas coisas más.
Apenas fiquei um pouco irritado porque, as minhas esperanças, ao princípio da noite, de não ter que aturar o PAN, não se verificaram. É a Democracia.
A campanha eleitoral corre de acordo com a tradição mais recente: fraca. Só os comentadores e a imprensa se agitam, na maior parte esmiuçando as escondidas intenções do líder da AD, fazendo eco da estratégia simples do PS: invocar medos e incertezas no regresso do fascismo.
Montenegro não parecendo grande espingarda, tem uma vantagem sobre PNS: não parece um desvairado que não tem ideias a não ser o que lhe ocorre, normalmente mal, em cada momento. Montenegro não tem a bala de prata, mas oferece um descanso da tirania socialista. PNS não arrasta os pés, mas não se fixa em nada. É mais um comentário, sem consequências, que faço.
A grande maioria da população é bastante indiferente à campanha. A maior parte por já estarem convencidos à partida. Outros porque são completamente indiferentes ao que se passa. Alguns porque só se importam em tentar perceber qual o candidato menos mau a primeiro-ministro, por observação directa, sem o filtro dos comentários.
Há milhares de razões para decidir o voto de alguém. Até a campanha e comentários o vão fazer. Mas pouco. Muito pouco.
Eu já tinha escolhido o meu voto antes da campanha, vou votar na IL. Não por pensar ser um partido diferente ou por estar 100% de acordo com o seu programa. Antes por convicção da enorme falta que faz uma voz liberal num país histórica,tragica e profundamente estatista, da esquerda à direita. O que explica onde estamos.
Jornalistas e comentadores são os grandes perdedores. “ Quem passa nem liga” como se demonstra pelo crescimento do Chega, o campeão das criticas e a aparente queda do PS, apesar do colo do main stream mediático que tem e que ,afinal, talvez, não valha tanto como isso.
Enquanto os bem-pensantes e os partidos do centro se recusarem a olhar para a realidade, o Chega vai estar por aí.
As notas dos comentadores aos últimos debates são quase uniformes: André Ventura perde em toda a linha. O problema é que as votações populares não acompanham as analises. Um divorcio entre a “realidade” e a percepção do Povo.
Não me revejo minimamente no Chega, uma manta de retalhos sem norte nem substância, uma onda de protestos sem soluções. Mas que tem bandeiras poderosas tem, caso contrário não seria hoje a 3 força política, aparentemente em grande ascensão.
Será que o estado da justiça não é mesmo uma calamidade em que ricos e poderosos nunca serão condenados? Será que não há limites para os recursos e outros expedientes de má-fé a pretexto dos direitos liberdades e garantias de acusados? Será que prisões preventivas de 21 dias são equilibradas? Será que justiça tardia continua a ser justiça? Será que não há nada a fazer? Será que não tem que existir uma reforma profunda que não acontece e a que os partidos de bem não parecem atribuir uma necessidade premente? O que fazem PS e PSD nas ultimas décadas?
Será que a corrupção, que sempre existiu e irá continuar a existir, não merece, pelo menos, a perspectiva de que, quando identificada, possa ser punida exemplarmente, como forma de dissuasão? É o que temos? O que fazemos para alem de rasgar as vestes?
Será que os muitos que protestam contra a imigração de estrangeiros (no meu entender tão necessária), não têm direito a um modico de razão quando lhes parece existir desordem, trafico de pessoas e pretendam que exista uma política de emigração com algumas regras conhecidas? Será que, mesmo que o problema não tenha a gravidade percepcionada, não merecem esses cidadãos o conforto de uma resposta publica, mesmo que seja um placebo, que os tranquilize?
Será totalmente infundada a convicção que demasiados etnicamente ciganos, que mantêm a cultura cigana, mantêm todos os seus direitos, mas não cumprem todas as suas obrigações e deveres, num clima de impunidade prática que não se aplica aos outros cidadãos?
Será que uma verdadeira segurança publica, pode conviver com a actual definição de brutalidade policial que leva policias para a prisão, porque disparam contra bandidos em fuga, matando uma criança fechada num porta-bagagem?
Será que as pessoas realmente consideram que os problemas de género, de racismo, de culpas históricas, de fantasmas fascistas são aquilo que mais as deveriam preocupar, como aparentemente parece, no mundo mediático?
O Chega aproveita grandes falhas, as incapacidades do regime, problemas que nem são assumidos como problemas reais e a que os grandes partidos não dão resposta. Soma a incapacidade que o PS demonstrou nos últimos 8 anos na saúde, na educação, na habitação, na economia, sobretudo por questões ideológicas, junta promessas fantásticas e obtém um capital político imenso que se traduz em votos.
Se nos quisermos livrar do Chega, não vale a pena chamar-lhes fascistas. Basta olhar para a realidade, assumi-la, dar-lhe soluções e esvaziar as grandes razões de protesto. É o que começa a acontecer por essa Europa fora, da esquerda à direita moderada no combate ao radicalismo populista. Por cá, somos sempre alérgicos à realidade, à acção e a solucionar os problemas. Ou talvez apenas incompetentes.
Hoje estive estacionado, de janela aberta, perto de 15 minutos. Não pude deixar de ouvir dois cidadãos que discutiam questões relativas ao seu clube, mesmo ao pé da minha janela.
O grande tema era o anti jogo, ou melhor, a falta dele, pelo seu clube, que lhes teria custado uma derrota. O suficiente para criticar treinador e jogadores que não se apercebiam do óbvio: que o anti jogo é parte do jogo. Em abono da verdade, um deles dizia que não lhe agradava, mas entendia a sua necessidade para segurar resultados e não criticava quem prejudicava o seu próprio clube usando anti-jogo que deveria incluir, no mínimo, jogadores deitados fingindo lesões, provocações aos jogadores adversários para provocar interrupções e faltas de concentração e provocações aos elementos do banco de suplentes e equipa técnica.
Só seguimos Kissinger na bola e na política.
Muito se fala sobre as gémeas brasileiras que receberam um tratamento milionário, de quem foi a cunha, de quem participou nesse processo. É difícil imaginar que o Presidente e o governo não estejam implicados. Seria óptimo que se tirassem algumas consequências. Seria ainda melhor que o sistema deixasse de ser o que sempre foi.
Neste caso, existem dois elementos subjacentes: o tratamento é um acto de humanidade, o custo do tratamento, ultrapassa aquilo que muitas pessoas consideram como razoável para a prestação de cuidados de saúde ou para actos humanitários. O humanismo dos envolvidos não pode ser invocado como justificação se for feito à custa de terceiros, neste caso os Portugueses.
Em Gaza, o Hamas ganhou a batalha mediática exactamente porque sermos humanos à custa dos outros é muito mais popular do que com o nosso dinheiro ou segurança.Tal como aconteceu com o Presidente da Republica e o governo que, na melhor das hipóteses, foram humanos à custa do dinheiro dos Portugueses.
Para protecção de tantos palestinianos inocentes, o mundo civilizado deixou os EUA sozinho na defesa de Israel. No entanto, não conheço um Pais civilizado que não exigisse o seu direito de se defender de um grupo terrorista que cometa atrocidades em larga escala, mesmo que obrigue a catástrofes humanitárias de quem tem a infelicidade de lhes servir como escudos humanos.
É evidente que estamos na presença de um desastre humanitário. Não podemos deixar de exigir a contenção possível a Israel. Não podemos hipocritamente ditar Humanismo, que para nós não tem qualquer custo, mas que representa um custo para outros (Israelitas), tão vitimas como os palestinianos.
PS: Antecipando alguns comentários, sou completamente contra os colonatos na Cisjordânia. Aproveito para lembrar as humanitárias da segunda grande guerra ( bombardeamento de cidades alemãs), que são comummente aceites como justificáveis, apesar de bem mais brutais do que acontece na faixa de Gaza.
A especialização de Portugal no turismo não corresponde a uma escolha deliberada, a um desígnio nacional. Aconteceu porque era a actividade que, face ao nível de capitalização da economia, à sua falta de especialização de mão de obra e às condições de atractibilidade naturais, se mostrou rentável e possível. Melhor seria se fossemos o Silicon Valley, ou os relojoeiros industriais da Europa, mas não aconteceu.
O turismo não é uma indústria de alto valor acrescentado e salários elevados, mas representa mais de 8% do produto Português. Sem ele, na ausência de outra actividade melhor que apareça naturalmente ( que não se vislumbra), Portugal fica economicamente muito debilitado.
Nos últimos anos, tempos assistidos à reivindicação do espaço publico (e habitacional) para os Portugueses. A perseguição ao alojamento local, já produziu efeitos práticos lesivos da expansão do turismo). Sem turismo, provavelmente o problema da habitação resolve-se por si, sem construção: os emigrantes e muitos Portugueses vão embora, fugindo da miséria e de um pais sem dinheiro nem espaços públicos atraentes, sem necessidade de nova construção ( uma oportunidade de crescimento) , acrescendo que restarão ainda menos trabalhadores para contribuir para as pensões.
A localização do novo aeroporto é assunto que quem não conheça verdadeiramente os intrincados problemas associados, não tem a possibilidade de opinar: não basta intuição, é preciso dominar e conhecer os detalhes. Não me arrisco, por isso, a opinar sobre ela.
A urgência da sua decisão e implementação, é outra coisa: não há dúvidas que precisamos de aumentar a nossa capacidade aeroportuária rapidamente. O aeroporto da Portela ( Humberto Delgado) foi classificado como o 4º pior aeroporto do mundo, está um caos, e sem um aeroporto, lá se vai o Turismo e a TAP que ainda há pouco nos consumiu mais de 4 mil milhões de Euros. Ou então assumimos de vez que vamos resolver o problema da habitação e passar a uns 8 milhões de habitantes, pobres, mas donos do seu enorme pedaço vazio.
Nos últimos anos foi crescendo a percepção da necessidade de eliminar os efeitos estufa provocados pelas emissões de carbono, um objectivo extremamente pertinente. Por potencialmente evitarem alterações climáticas graves, por serem sempre extremamente positivas em termos de impactos na saúde humana. Multiplicaram-se iniciativas, anunciaram-se grandes investimentos em energias renováveis, admite-se o fim da vida como a conhecemos, com restrições severas à circulação e transportes rodoviários.
Apesar do aumento do consumo energético, os resultados, se bem que insuficientes, começam a aparecer
Na produção de energia eléctrica, que continua a aumentar, o carvão e derivados do petróleo ( os grandes poluentes), mantiveram-se em níveis quase constantes ( um pouco menos de carvão, um pouco mais de petróleo) nas fontes da sua produção.
Os enormes esforços na energia eólica e solar, quanto muito, têm conseguido fazer face ao novo consumo mas não parecem ter a possibilidade de expulsar o carvão e petróleo que são, ainda, responsáveis por mais de metade da produção de energia eléctrica.
Talvez numa lógica de erradicar todos os males em simultâneo, desistiu-se de apostar no nuclear, uma energia limpa em termos de emissões de carbono, que baixou o seu contributo de cerca de 15% das fontes de energia eléctrica em 1985, para pouco menos de 10% em 2022. Provavelmente mais do que pelo problema de gestão de resíduos radioactivos ( problema grave mas gerível num contexto de necessidade), pelos receio de desastres nucleares.
Hoje, as novas centrais de 5º geração, apresentam um nível de segurança incomensuravelmente superior ás do passado, capazes de automaticamente de evitarem tudo o que aconteceu, que sendo mau, não representava um padrão alucinante de desastres no contexto das cerca de 100 centrais em uso durante décadas.
A única hipótese real de ultrapassarmos rapidamente o problema das emissões, é também apostar massivamente na substituição do carvão e petróleo pelo nuclear. Não existe, neste momento, nenhuma outra possibilidade assente apenas em energias limpas e renováveis que o consiga fazer, como se infere pelo pouco progresso alcançado nos últimos anos.
É pois com grande esperança que saúdo a declaração de 20 países que se propõem triplicar ( é um começo) a produção de energia eléctrica até 2050, com base na energia nuclear, o que poderá ler aqui.
A social democracia escandinava é o modelo da esquerda europeia. Com exepção do PCP, o ultimo bastião da verdadeira ortodoxia comunista, a determinada altura, mesmo as esquerdas radicais (em Portugal e por esse mundo fora), reclamam-se sociais democratas. Faz todo o sentido. Não existe outro movimento de esquerda que não tenha sido um total e enorme fracasso, ao contrario da Escandinávia que é um modelo de sociedade de sucesso (quem nos dera a nós....).
Há três pontos que não são referidos e convenientemente esquecidos.
O primeiro, é que esses ditos “sociais democratas” rejeitariam liminarmente muitos dos mais determinantes traços actuais da social democracia Escandinava. A actual formulação é, nomeadamente na economia, muitíssimo mais liberal do que seria aceitável por essas esquerdas. Depois das graves crises dos anos 80, provocados por modelos excessivamente socialistas, foi feita uma profunda correção. Por exemplo, os modelos de despedimento dos países escandinavos seriam, em Portugal, considerados neo-liberais, assim como as limitações ao direito á greve ou até as restrições e limites que colocam aos apoios sociais.
O segundo, prende-se com o facto de que os Escandinavos estariam melhor se optassem por uma abordagem ainda mais liberal. Por exemplo, reduzindo os serviços públicos prestados directamente por funcionários públicos.
O terceiro, que a sociedade escandinava, está com cada vez mais vontade de abandonar a social-democracia, por uma abordagem mais conservadora e liberal, embora mantendo o seu potente modelo de solidariedade social.
No fundo no fundo, já estou como a Catarina Martins e JNS : se a social democracia é a que se pratica na Escandinávia, com pequenos ajustes, então também sou social-democrata.
Em Portugal, nos tempos do COVID, António Costa tomava decisões com base na ciência. Uma ciência caseira e com falta de sustentação estatística que a apoiasse, dada a novidade da questão. Não obstante, como era a ciência que existia, de forma categórica fundamentava as decisões do Governo.
Há casos em que não há novidade no que é estudado, que ilustríssimos economistas estudaram, baseados em ampla evidencia , fundamentada em estudos que mereceram a publicação nas melhores revistas cientificas e que até mereceram, pela sua clareza e importância, prémios Nobel da Economia.
Um desses casos amplamente estudados centra-se em que áreas deve o Estado providenciar o serviço publico directamente, quer em termos de capital, quer em termos de administração directa dos serviços públicos. A base cientifica é clara, abundante, sem margens para equívocos.
Tudo que diga respeito a bens de capital ( hospitais, prisões, estradas, pontes etc), devem ser feitas directamente pelo Estado. O racional é simples, não há entidades que cobrem menos custos de capital do que o Estado consegue obter no mercado, que não cobrem um prémio de risco, que não tenham que não ter uma margem de lucro, isto já não falando da possível corrupção. Em Portugal, as PPP que fizemos foram na sua grande maioria exactamente em bens de capital ( sobretudo estradas e pontes).
Tudo o que diga ao funcionamento e gestão de um serviço, deve ser feito através de encomendas ao sector privado que, tradicionalmente, mesmo conseguindo um lucro, acaba por providenciar melhores ou idênticos serviços a um preço inferior. Em Portugal, tivemos exactamente essa experiência com as PPP na Saúde, infelizmente terminadas por, possivelmente, provarem isso mesmo.
Acreditamos na ciência e nos factos quando apoiam as nossas convicções ( ou interesses próprios). Desvalorizamos a Ciência quando vai contra as nossas convicções ou o conhecimento de uma excepção que não confirma a regra.
Os países que seguem a ciência económica são dos mais prósperos e atraem todo o tipo de imigrantes, dando-se ao luxo de os escolher. Os outros, como Portugal, têm o que escolheram e são países de emigração.
As últimas sondagens da Católica apontam para o que já é normal há alguns anos na Europa: a fragmentação do espectro partidário. Maior sofisticação dos votantes? Causas cada vez mais particulares e menos ideológicas? A penalização dos partidos tradicionais hegemónicos (que até têm desaparecido)? Não importam as razões num quesito importante: a governabilidade, cada vez mais difícil.
Em Espanha assistimos ao mais gritante fenómeno de mercantilismo eleitoral que culminou com a compra de uma maioria, pelo PSOE, por bem mais do que um prato de lentilhas, contribuindo para o acelerar da perda de prestígio da democracia. Espanha, neste momento, é apenas uma democracia constitucional para quem tenha muito boa vontade.
Na Holanda, os resultados das eleições ainda aprofundaram as dificuldades já antigas, de conseguir geringonças cada vez mais esdrúxulas. Já não há grande centro e os radicalismos são muito próprios e dificilmente conciliáveis. Entramos no domínio do contra natura por natureza.
Em Portugal, António Costa introduziu o princípio de que o que importa para governar é ter maioria parlamentar, uma lógica absolutamente democrática mas que esbarrava no principio dos partidos do arco da governação antes seguida: sem maiorias claras, competiria ao bloco central formar governo ou viabilizar o governo do outro partido de centro. Rui Rio e agora um dos candidatos a secretario geral do PS, abriram a porta para voltar a essa prática, que, não obstante não parece ser o sentimento de tempos mais radicais, ou clarificadores, inaugurado em 2015. A mudança, representa um terramoto no panorama Portugues que conduz a uma radicalização ou clarificação da identidade politica que conduz inevitavelmente para o fim do centrão.
Montenegro, eventualmente por um tacticismo eleitoral, declara só governar se for o partido mais votado. Acrescenta uma complicação absurda (se não for uma mentira assumida) : se o PS for o partido mais votado mas a “direita” for maioritária? Fará sentido um governo do PS com o apoio do PSD? A tradição recente nega esta solução e seria claramente o suicídio político do PSD.
Um bloco central, nas actuais circunstâncias de maior radicalização, seria provavelmente o fim simultâneo do PS e do PSD enquanto grandes partidos. Nenhuma organização aposta no seu fim.
Maiorias absolutas de um partido são, cada vez mais, anacronismos. Resta a solução de António Costa: o bloco esquerda ou direita que tenha mais votos, independentemente da falta de consistência ideológica que tenham, governa. Restará então perceber se é possível conciliar diferenças em cada um dos blocos, já que nenhum partido quer desaparecer. Correndo bem, a diferença entre esquerda e direita será maior do que nunca, deixaremos de ter o centro, como já acontece desde 2015. Correndo mal, como já aconteceu com a geringonça, teremos maior ingovernabilidade.
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A Europa inteira tem este problema comum, que não ...
A lei foi escrita, essencialmente, por Almeida San...
Exactamente. Este país tem aturado tanta aberração...
"As elites globalistas portuguesas tal como os seu...
Caro Henrique,Normalmente estou de acordo consigo....