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Umas eleições pouco interessantes (5)

A mudança por falencia

por Jose Miguel Roque Martins, em 31.12.21

Temos aquilo que queremos, não por responsabilidade dos partidos políticos e dos políticos, mas do povo. Apenas teremos mudança quando o povo, ou mais corretamente, o centro, quiser. Burro velho não aprende línguas. Há 50 anos que não mudamos. Mas a mudança, pelas piores razões é, a curto prazo, inevitável.

Os jovens são fonte de mudança. Pela sua própria natureza. Pela ausência de fantasmas que ainda atormentam parte da população. Pelo maior conhecimento de outras realidades. Por serem quem vai pagar os direitos adquiridos dos mais velhos. Não serão, numa sociedade a envelhecer, a maioria. Mas vão contar.

A necessidade, essa sim, será o gatilho de uma revolução económica, pelo menos no final, positiva.

Ao longo de meio século, os direitos concedidos cresceram a um ritmo superior ao do pífio desenvolvimento económico. Temos vivido numa nuvem, antes da invenção da Cloud. A diferença entre a realidade e o concreto, foi ultrapassada através do recurso ao endividamento publico. Essa possibilidade, desapareceu. Já não existe folga de endividamento possível. A famosa bazuca é recurso inestimável, para continuarmos a viver acima das nossas possibilidades. Mas é solução de muito curto prazo e relativamente limitada: apenas um balão de oxigénio. Depois, teremos que voltar a viver com aquilo que produzirmos, somado à esmola mais habitual da Europa. Com agravantes. Os custos de Saúde disparam, o desequilíbrio do sistema de pensões agrava-se, a desertificação do interior aumenta, a população diminui, em particular a em  idade de trabalho. Embora conjuntural, o aumento das taxas de juro, também vêm aí. E alguns custos da necessária mudança climática, virão para ficar durante décadas.

Os jovens mais qualificados, podem emigrar, impedindo uma ainda mais violenta exploração dos mais novos, com cargas cada vez mais insuportáveis sobre o trabalho, o primeiro caminho “óbvio” a ser tentado.  Outros, nem precisam de emigrar fisicamente: trabalharão online para empresas estrangeiras, em países com maiores remunerações e menos impostos. Menos mal, mas com consequências na arrecadação de impostos e contribuições em Portugal. Apenas os custos com educação vão cair, com o triste decréscimo da população em idade escolar. Atrair imigrantes qualificados será também difícil: surpreendentemente(?) preferem países mais ricos e livres!

Teremos assim, em simultâneo, menos margem de manobra ( recurso ao endividamento), menos produção de riqueza ( menos trabalhadores, com menos qualificados) e mais pressão de despesas sociais “garantidas” ( mais reformados). O progresso pífio, que o regime providenciou e que o sustenta, nada mudando, não vai poder continuar. O imobilismo, deixará de ser uma receita de sucesso medíocre, apenas de decadência crescentemente visível.

Não mudar será então empobrecer de forma acelerada. Num clima de resignação tranquilo, pouco provável. Ou num registo de revolta, e ingovernabilidade do tipo da primeira república, espera-se, mais benigno.  

Algures neste percurso, olhar para outros países, para a sua maior produção de riqueza, eficiência e produtividade, pode passar a ser menos absurdo, a ser encarado com interesse e curiosidade. Não por questões ideológicas, mas como solução alternativa e necessária. Mudança sem revolução, é um cenário, não só desejável, como possível.

A ideologia, não será o elemento fundamental para escolhas diferentes dos portugueses. Será a política dos interesses e necessidades,  do pragmatismo, a poder mudar o Centro e as suas escolhas, pelo menos na Economia. O que significará, menos e melhor Estado, menos burocracia, mais mercado, menos direitos ilegítimos. Privilégios  e ideias fofinhas vão estar sob ataque. As consequências das decisões vão passar a contar. É o cenário em que a ameaça que defrontamos se pode tornar uma grande oportunidade.

Tudo pode acontecer, menos ficarmos na mesma.

A mudança acontece quando as estratégias estabelecidas deixam de apresentar resultados ou esperança e é exatamente  onde estaremos a curtíssimo prazo. Só a partir desse momento, poderemos começar a aspirar por mudança. Só quando o intervalo entre dolorosos programas de ajustamento for cada vez mais curto, as pessoas começarão a pensar que talvez mudar seja mesmo necessário e útil. Só quando as pessoas perceberem que o Estado não está roto, vai nu, poderão passar a querer que ele seja menos totalitário.

A mudança de sistema económico, para uma economia de mercado  é o único cenário interessante que, acredito, ser o mais provável, depois de naturais perturbações. O pragmatismo do centro, será o lastro essencial e determinante neste percurso.

Bom será que a mudança positiva, não seja acompanhada do fim da democracia e um retrocesso nas liberdades. Nada está garantido. É por isso, é tão importante que se debatam e confrontem ideias, soluções e ideologias, porque se nada parecem mudar no dia a dia, nalguns aspectos, são determinantes para a garantia do essencial: a liberdade e a democracia. Mandar o menino com a água do banho, não é nada que não possa acontecer. Em tempos mais agrestes, a liberdade e a democracia parecem perder valor, como a observação da História, sobre o valor da democracia,  nos demonstram.

Não é só a mudança de modelo económico ou a pobreza franciscana que teremos em cima da mesa: também a democracia e as liberdades, mesmo as mais  básicas, vão estar sob fogo. Não apenas por PCP, Bloco ou Chega, mas por parte do Centro. Quando o Estado falha clamorosamente, figuras ou comissariados messiânicos que prometam ordem e progresso, em troca de poder absoluto, tornam-se mais atraentes. Sempre assim foi, sempre assim será.


15 comentários

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De Paulo a 31.12.2021 às 15:30

O problema é que cada vez há menos jovens, e mesmo que quisessem (o que tenho sérias dúvidas) não conseguiam alterar o sistema em que os instalados actuais não estão dispostos a abdicar dos direitos adquiridos. Isto vai correr mal…

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