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Nada vai mudar, enquanto os portugueses não mudarem. Ou melhor enquanto a maioria não mudar. E a maioria, nos últimos 50 anos, é o “centro”.
Os seus arautos, o PS ou PSD, em alternância ou coabitação, apenas irão mudar o necessário, para tudo se manter essencialmente na mesma. Servindo com lealdade, o que a generalidade dos Portugueses votantes consideram essencial. Quem desafia esta lógica, já se sabe, é posto a andar. A democracia funciona.
Os Portugueses do “centro”, não são diferentes dos outros cidadãos, não são particularmente inteligentes ou estúpidos, cultos ou ignorantes, generosos ou egocêntricos. Os do centro, tal como os outros Portugueses, não são heróis do mar, da terra ou do mar, nem vilões ou completos cobardes. Apenas Homens. Que acredito estarem muito errados. Alguns até são ideologicamente do centro, seja lá o que isso seja. Outros, acredito, sentem-se pobres e vulneráveis, com baixa auto-estima e confiança. Sentem a necessidade de se agarrar ao que têm, na errada crença de que é impossível , em liberdade, cada um abdicando dos seus pequenos e ilegítimos privilégios, que todos fiquem melhor. O óptimo é inimigo do bom, o medíocre, um resultado razoável, pelo menos melhor do que mau. A moderação é confundida com imobilismo, entendido como manter o que está bem e mal, pouco ou nada mudar ou corrigir, nunca arriscar. É melhor um diabo que se conhece do que a incerteza e o risco da mudança. A liberdade é pouco valorizada e o sentimento da total superioridade e legitimidade dos direitos da maioria, só é contestada quando os direitos individuais, dos próprios, são atacados. E acima de tudo, como aliás nos últimos séculos, num traço também comum à esquerda e direita, olha-se para o Estado como única resposta ás preces individuais e colectivas. Esta característica, mais nacional do que do centro, é o que nos distingue, mais claramente, dos países mais felizes.
Claro que há traços, que suponho serem comuns em todas as sociedades, que só tornam um pouco pior o que já é mau. Há sempre aqueles que preferem abdicar da sua liberdade, para que os outros também não a tenham e aqueles que sentem uma necessidade de impor aos outros, em pormenor e detalhe, aquilo que deve ser a sua vida. Quando em maioria, democraticamente, apoiados no sistema político, atropelam com arrogância inconsciente, todos os que não partilham das suas crenças. Foi o que aconteceu na luta contra a COVID, um exemplo flagrante mas apenas mais um pequeno episódio, nesta longa, forte e detestável tradição. O culto do bom aluno e do “virtuoso”, é especialmente encontrado em muitos destes cidadãos, que falam de barriga cheia, já que têm o que querem. E as dores dos outros são sempre mais doces do que as nossas.
O centro, representa o maior mercado editorial, beneficiando, por isso, de uma constante e reconfortante confirmação das suas crenças nos órgãos de comunicação social, que têm que vender ( ou receber subsídios) para sobreviver.
A demonstração da mediocridade do regime, a incapacidade de prover progresso, riqueza, qualidade de vida, ao ritmo da esmagadora maioria dos países europeus, não impressiona este grupo.
Porque, apesar de tudo, temos progredido. Porque podia ser pior. Porque o sistema, mesmo com menos riqueza, é mais justo (?). Porque duvidam estarmos prontos para mais liberdades e responsabilidades. E o que vem primeiro? O desenvolvimento ou uma sociedade mais livre? Argumentos há sempre, para todos os gostos, em todos os sentidos. Cada um acredita nos seus. Contra factos afinal há argumentos.
Já as queixas da violação das liberdades e garantias constitucionais, esbarram ou na indiferença, quando não incompreensão absoluta do que se fala. Os mais atentos, esgrimem que, apesar de tudo, tem havido mudanças ou pelo menos intenções de correcção. Esquecendo que todos os dias, novas agressões são instituídas enquanto não se corrigem as anteriores, mesmo as mais graves. O regime é o centro. O centro é a democracia iliberal. E por isso é o centro é o responsável pela violação dos direitos e garantias constitucionais dos cidadãos, entre outros pouco razoáveis ditames. Vivemos a ditadura do centro.
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