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Vejo aqui no Observador que o Senhor Reitor da Universidade de Coimbra decidiu que as cantinas da Universidade, que consomem 20 toneladas de carne de vaca por ano, vão deixar de servir carne de vaca a partir do ano que vem.
"A carne de vaca será substituída “por outros nutrientes que irão ser estudados, mas que será também uma forma de diminuir aquela que é a fonte de maior produção de CO2 que existe ao nível da produção de carne animal”."
Comecemos pelo método de decisão usado na Universidade: a opinião do Senhor Reitor é aplicada sem que os principais visados pela decisão tenham qualquer voto na matéria e, mais relevante para uma Universidade, é tomada a decisão de acabar com uma coisa, a substituir por outra que ainda não se sabe o que é e, presume-se, cujos impactos (económicos, ambientais, etc.) não foram avaliados.
Tenho insistido na importância dos mercados públicos para a criação de estímulos económicos que nos permitam um gestão mais sensata e socialmente útil do território e da paisagem.
Se o Senhor Reitor tivesse dito que iria avaliar o impacto das opções alimentares nas cantinas e iria alterá-las no sentido de obter este ou aquele objectivo, eu seria com certeza um entusiástico apoiante da medida.
Se mesmo antes de avaliar, dissesse que lhe parecia possível reduzir o consumo de carne e de lacticínios, de alimentos processados, de alimentos congelados e aumentar o peso dos alimentos frescos provenientes de cadeias curtas de comercialização e curtas distâncias, eu seria um entusiástico apoiante da medida.
Se, mais que isso, o Senhor Reitor se tivesse referido ao contributo que queria dar à gestão dos fogos e da paisagem em Portugal, contratualizando compras de produtos provenientes de produtores cuja actividade contribui para a gestão de combustíveis, eu acharia fantástico.
Se o Senhor Reitor dissesse que queria contribuir para aumentar a viabilidade do Rebanho da Serra do Rabadão, da Quinta Lógica, da Terra Chã, da Terra Maronesa (sim, são vacas, senhor, mas são vacas em produção extensiva, que pastam parcialmente em pastagens pobres, que gerem combustíveis nas serras, contribem para a conservação do lobo e outros elementos da diversidade biológica) eu então entraria em delírio com o Senhor Reitor.
Assim, caro Senhor Reitor, tenho a agradecer-lhe chamar a atenção para a importância dos mercados públicos para as políticas ambientais e de gestão do território, mas tenho pena, francamente pena, que a vontade de surfar a onda de tanta gente mal informada o tenha levado a pôr a Universidade de Coimbra na posição de um agente pouco sofisticado e ignorante.
Sim, é verdade que a produção intensiva de carne de vaca tem impactos muito relevantes e é bom que a Universidade queira assumir as suas responsabilidades na diminuição desses impactos, mas é mau, muito mau, que o faça a partir de uma generalização simplista que difunde a ideia, errada, de que a produção de carne tem toda o mesmo impacto (para já nem falar de um programa de plantação de árvores sem gestão, um disparate frequente e recorrente que não estaria à espera de ver subscrito pela Universidade de Coimbra).
A minha sugestão é simples: prepare uma decisão com cabeça tronco e membros, avalie o que realmente quer fazer, saiba que alternativas vai querer usar, e ponha o assunto em discussão pública.
Do ponto de vista da sensibilização o processo seria muito mais produtivo e a Universidade cumpriria a sua função de dignificar a ciência acima do senso comum.
Ganhávamos todos.
PS Obrigado ao Luis Aguiar-Conraria por me ter chamado a atenção para esta notícia
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