Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Por José Meireles Graça
A Blogosfera, diz-se, está decadente. Já penduraram as botas muitos blogues que foram populares, e não poucas estrelas deste meio aterraram em governos e empresas, colunas de opinião pagas nos jornais e programas de televisão com sorte vária.
Não fui, por preguiça, conferir se é assim: o número de visitas está registado, e pode-se comparar com épocas pretéritas.
Se for, nada garante que a tendência seja mais do que passageira. E seria muito mau se fosse inelutável porque não se perceberia a benefício de quê:
Da imprensa? Mas esta luta para sobreviver, não encontrou maneira de captar os leitores que lhe fugiram para a internet dos conteúdos grátis, mesmo que sumários, mas mais próximos dos acontecimentos, e pelo menos entre nós transformou-se quase toda numa caixa de ressonância da Geringonça e de quanta patetice bem-pensante anda no ar da opinião práfrentex, tudo servido por jornalistas que desistiram de investigar e reportar histórias e embrulham as notícias tendenciosas redigidas em português de trapos numa autodesignada magistratura de opinião.
Da televisão? Esta divide-se em canais que se guerreiam no tipo particular de lixo que atrai o maior número de espectadores e os programas de opinião, parentes pobres, são normalmente preenchidos por senadores cuja independência é inversamente proporcional aos seus interesses de carreira ou outros.
Das outras redes? Quais? O Facebook dos cotas, entupido de gente que imagina que tem alguma coisa a dizer? O Twitter, um esgoto a céu aberto de espirros opinativos? O WhatsApp do pirateio de conteúdos? O Instagram das fotografias de gatinhos, bikinis, viagens e pratos suspeitos de cozinha criativa, onde a ignorância culinária se casa com o desprezo da tradição?
Que se amanhem: até mais ver o melhor da opinião, salvo escassa meia dúzia de próceres com banca montada nos jornais, está ainda na blogosfera. E nesta, além da casa que me acolhe, mantém os pergaminhos serenos (e antigos: acho que já tem mais de uma dúzia de anos) o Corta-fitas.
Pois aquela gente qualidade tem, mas juízo nem por isso: este ano fui o convidado extra para o almoço de confraternização. E, lisonjeado, lá fui, e comecei por me deixar enganar pelo TomTom no endereço, indo parar, em vez do Estoril, a uma praceta com o nome indicado, mas em Sassoeiros. Um moço numa carrinha de entregas rapou do seu telemóvel xpto, conferiu na aplicação Waze, e explicou-me não apenas como chegar ao destino mas como tirar partido do tablet que me viu nas mãos. Se soubesse quem eu era, e do que penso e tenho dito sobre a geração mais bem formada de sempre, pergunto-me se teria sido tão generosamente simpático e prestável. Enfim, lá cheguei esbaforido, com três quartos de hora de atraso, e as minhas explicações foram aceites com equanimidade.
Fui recebido pelo dono da casa, que conheço há muito pessoalmente de andanças partidárias (somos militantes do mesmo partido), e pela família, que com simpatia e sem alarde me pôs à vontade. João Távora é um original: monárquico e católico devoto, defende as suas convicções políticas com inalterável urbanidade e assinalável modéstia e contenção, deplorando os ódios pessoais internos, e a guerrilha, que são o dia-a-dia dos partidos; e do seu catolicismo dá um exemplo de vida como pai de família exemplar e cidadão probo, sem sombra de proselitismo. A tudo soma a qualidade de um autor com um estilo pessoal e escorreito que nada deve a modas, e que só é intimista quando calha manifestar o seu desconforto com pessoas e coisas que ofendem o seu sentido apurado do certo e do justo.
Estava o Henrique Pereira dos Santos, com quem já tinha falado algumas vezes mas nunca pessoalmente, e que é, para certos efeitos, um dos meus raros maître à penser: sobre fogos, aprendi com ele que o combate que os poderes públicos lhes têm feito, e que diligentemente é trombeteado pela comunicação social, assenta em pressupostos cientificamente errados, por os mecanismos adequados para lidar com o problema serem, infelizmente, contra-intuitivos; e, sobre a Covid, que os mesmos erros se estão a repetir – o que parece óbvio, isto é, combater a infecção por todos os meios, tem causado mais problemas do que os que resolve. As complexidades de um assunto e outro não cabem num resumo em duas linhas, mas está aí, extante, todo um acervo de textos dele para, quem quiser, aprofundar esses assuntos.
Estava o José Mendonça da Cruz, o que me levou a dizer, ao ser apresentado, que era um grande alívio constatar que havia alguém ainda mais reaccionário do que eu (costuma há muito tempo dizer com desassombro o que pensa do país e do mundo, para meu deleite). Uma provável injustiça, para não lhe chamar deselegância, que o próprio encarou com a bonomia das pessoas superiores – que é.
E estavam o José Miguel Roque Martins, que comecei a ler há não muito tempo mas já figura obrigatoriamente no meu feed, e o Vasco Mina, que hoje escreve pouco, talvez para sossego dele – mas prejuízo nosso.
E o almoço em si, então, que tal? A bem dizer, teria dado por bem empregue o meu tempo mesmo que tivesse tido direito a uma ementa moderninha, de cozinha criativa, acompanhada de uma zurrapa vistosa. Nada disso: pratos de confecção canónica, dos quais repeti a favada, um tinto lisonjeiro a empurrar.
Suspeito, mas não confirmei, que a sombra tutelar da dona da casa deve ter pairado na lhaneza do acolhimento, na boa disposição dos comensais e na tarde ensolarada preenchida com conversa amena na varanda. Quando chegou o tempo da despedida, passava das seis da tarde, e parecia que tinha chegado há meia hora.
Obrigado, João, pelo convite. E aos outros pela paciência.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Obrigado pela demonstração de que a pessegada que ...
os jornalistas são 99% de esquerda. uma 'sociedade...
Caro Anónimo, aconselho-o vivamente a voltar para ...
Ha muito deixei de ver programas de debate, em áre...
Fala quem quer, ouve quem quer. Tal como na media ...