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Uma sociedade conspiracionista

por henrique pereira dos santos, em 28.01.23

""A ideia do artigo de opinião era espicaçar a questão", admite ao Público Paulo Pimenta de Castro. Uma das estratégias para isso foi aludir à "presença muito próxima de interesses imobiliários por parte do Secretário de Estado que tutela o ICNF, João Paulo Catarino", lê-se no artigo de opinião, que refere uma empresa detida em 50% por Paulo Catarino, com actividade na Aroeira, perto da mata" ... ""Acredito nessa intenção, vamos ver", diz o biólogo Jorge Paiva. O perito fez uma visita técnica com a Acréscimo ... embora conceda que o instituto tem "pessoas capazes", desconfia da sua cxapacidade de execução. "Toda a gente sabe que o ICNF não tem pessoal suficiente para fazer um trabalho válido".

Estas duas citações são de um artigo de Nicolau Ferreira, no Público, sobre uma discussão estúpida à volta de acções de gestão normais na Mata dos Medos.

"Essencialmente "estas respostas não satisfizeram a associação Acréscimo, que, em Maio de 2022, enviou uma carta-queixa à Procuradoria-Geral da República visando o ICNF" (onde eu trabalho, fica feita a declaração de interesses).

Não me interessa nada discutir a gestão da Mata dos Medos, nem mesmo do ICNF, o que me interessa é fazer uns comentários sobre o estado catatónico em que vivemos e que o descrito ilustra na perfeição.

O jornalista escreve que a história do corte dos pinheiros na mata dos medos já foi levantada em tempos e esclarecida.

No entanto, duas associações voltaram a levantar a questão, sendo uma dessas associações a Acréscimo.

O jornalista, como qualquer outra pessoa, pode investigar minimamente o que é a Acréscimo.

A Acréscimo é uma fraude inventada por Paulo Pimenta de Castro, que tem três entidades na sua escritura de constituição - Paulo Pimenta de Castro, a sua empresa e a sua ex-mulher -, cuja actividade se desconhece, cujos estatutos se desconhecem, e cujos orgãos sociais, excluindo o seu presidente Paulo Pimenta de Castro, se desconhecem, tal como quaisquer processos electivos.

Ou seja, a Acréscimo é Paulo Pimenta de Castro disfarçado de associação florestal e ambiental.

Paulo Pimenta de Castro foi, durante uns anos, o secretário-geral da Federação dos Produtores Florestais de Portugal (uma organização com sede na sede da CAP) e, nessa qualidade, o principal lobista da defesa dos interesses da produção florestal, em especial, da defesa dos interesses da produção de eucalipto.

A vida dá voltas, Paulo Pimenta de Castro foi afastado, foi para o Brasil uns anos e voltou de lá como sendo o maior crítico da produção florestal de eucalipto, o movimento tático que lhe abriu as portas aos dois movimentos táticos seguintes (para o êxito dos quais contibuiu o facto da Associação de fachada que criou se apresentar como uma associação de produtores florestais, e não uma associação ambiental clássica, sobretudo focada na defesa da fileira do pinheiro): 1) aliar-se ao movimento ambientalista na sua demência anti-eucalipto; 2) por essa via, aliar-se ao genro de Francisco Louçã, com quem escreveu um livro indigente sobre fogos florestais, o que lhe abriu as portas do mundo mediático e da visibilidade pública.

Numa sociedade conspiracionista e que despreza os factos, como a que temos - vejam-se as declarações de Jorge Paiva que citei - a Acréscimo passou a ser uma coisa útil ao movimento anti-eucalipto, conseguindo levar atrás de si todo o movimento ambientalista, mesmo em coisas estúpidas como a contestação a uma portaria sem nenhuma importância e que motivou a minha saída da Liga para a Protecção da Natureza, depois de uma curta discussão com a sua direcção, numa Assembleia Geral em que tentei perceber como raio uma organização como a LPN fazia um pacto com uma fraude como a Acréscimo (ver aqui outros sub-produtos dessa cegueira anti-eucalipto do movimento ambientalista).

E mesmo com Paulo Pimenta de Castro a explicar, candidamente, que tinha metido a martelo a referência aos negócios de um secretário de estado num artigo de opinião só para lhe dar mais visibilidade, uma evidente desonestidade de procedimentos que desqualifica qualquer artigo de opinião que faça, o jornalista ainda lhe dá importância suficiente, e à sua fachada Acréscimo, para o usar no artigo como se a Acréscimo não fosse o que é: uma fraude sem qualquer credibilidade.

Isso não impede que a Acréscimo apareça regularmente em audições na Assembleia da República, ora como associação florestal, ora como associação ambiental, não impede de regularmente arrastar outras organizações, como a ZERO, a Quercus, a LPN, para as sua diatribes contra "os interesses", independemente dos factos, e tudo isso se mantém, por uma razão simples: a Acréscimo é contra os eucaliptos, logo, está do lado certo da história.

É assim que somos, é assim que funcionam as nossas organizações da sociedade civil, é isso que nos vendem os jornais e afins, portanto qualquer burlão com a conversa certa e os aliados escolhidos, passa a ser um senhor, como um tal Artur Baptista da Silva demonstra.

O jornalista que mais o promoveu, e que mais tarde reconheceu que se deixou embarretar, não viu a sua credibilidade afectada entre os pares e anda pela direcção da Lusa, a ser todos os dias embarretado por qualquer um que diga, convincentemente, o que quer ouvir.

E o problema é que esse jornalista somos nós todos, todos os dias.

Adenda: dizem-me, não fui verificar, que o tal jornalista embarretado já não está na LUSA, mas na RTP, como presidente do Conselho de Administração. Q.E.D.


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