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Uma particular noção de Estado

por henrique pereira dos santos, em 13.10.22

Conheço Rui Gonçalves há muitos anos, não somos amigos próximos, mas aqui e ali vamos mantendo contacto.

São inúmeras as alturas em que estivemos em desacordo (bastará, para quem conheça a minha opinião sobre José Sócrates, dizer que foi seu chefe de gabinete logo no início da carreira governamental de Sócrates), mas isso nunca interferiu numa relação esporádica, mas cordial.

Ultimamente encontrei-o mais frequentemente, como presidente da Florestgal, uma empresa pública de gestão florestal criada na sequência dos incêndios de 2017, com a suposta missão de ensinar o padre nosso ao cura, isto é, o Estado iria demonstrar aos proprietários como se geriam matas e povoamentos florestais, qualquer coisa do género.

Penso que a 26 de Setembro, Rui Gonçalves escreveu um artigo de opinião no rescaldo (rescaldo intelectual, que quanto a rescaldos no terreno, é melhor nem falar) dos fogos da serra da Estrela, artigo esse que manifestamente não alinhava como o "vai ficar tudo bem" do governo, ou o "fez-se tudo o que era possível" do presidente da república, era com certeza um artigo discutível, mas tinha uma grande virtude: era bastante factual e todas as opiniões partiam de factos verificáveis.

Devo dizer que mal li o artigo comentei em privado que Rui Gonçalves devia estar a preparar a sua reforma antecipada, mas era uma ironia, eu não tenho grandes ilusões sobre a gestão de topo da administração pública e do governo mas, caramba, ainda tenho uns restinhos de confiança na decência das pessoas.

Puro engano: o sentido de Estado, a necessidade patológica de controlo do discurso público sobre a acção do governo, estão em níveis que, mesmo para mim, são surpreendentes.

Demitir um gestor que se limitou a expressar publicamente uma ideia bem fundamentada, sobre um sector que conhece bem, só porque é um bocado desalinhada em relação às fantasias que se pretendem vender?

Boa sorte, camaradas, a mexicanização do Estado vai de vento em popa, aparentemente o povo gosta porque vos dá maiorias absolutas, mas quando já perseguem os vossos que se limitam a ter um bocadinho de indepedência de espírito, o melhor é protegerem bem as costas, nunca sabe de onde virá a faca que um dia vos tirará do caminho.

Nesse dia, postos em sossego e sem poder, olhem bem para trás para ver se valeu a pena.

A mim parece-me triste chegar à conclusão de que andaram numa roda viva a criar poder para depois "partout, everywhere, em toda a parte, A vida égale, idêntica, the same, É sempre um esforço inútil, Um voo cego a nada".

O que sobrar em vidinha de conforto faltará em respeito por si próprio, e isso dá muito mau dormir, é chato.


5 comentários

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De entulho a 13.10.2022 às 09:25

« convém ter os Amigos por perto e os Inimigos ainda mais próximo »
« morre o bicho, mas fica a PEÇONHA »
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De balio a 13.10.2022 às 09:51

Onde está o artigo de opinião de Rui Gonçalves? Pode transcrevê-lo aqui?
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De Anónimo a 13.10.2022 às 10:13

Pelo andar da carruagem, o PS caminha a passos largos para o estado de «bovinidade geral», cheio de lacaios mansos e yes man.

"No artigo “Mudar o que tem de ser mudado”, o presidente da FlorestGal [Rui Gonçalves] critica em cinco pontos o atual sistema de gestão de incêndios rurais, da atuação da Proteção Civil no incêndio da Serra da Estrela este verão, que responsabiliza pela perda de parte da floresta gerida pela empresa, à falta de execução de planos. E atira: “Temos um sistema de irresponsabilidade organizada”.

No seu entender, no texto publicado, cinco anos após os incêndios trágicos de Pedrógão, “a realidade veio mostrar que a preparação não passou do papel para o terreno. Ou seja, temos muitos relatórios, programas e planos escritos e aprovados, mas não os conseguimos executar quando é necessário”, escreve no artigo". - Expresso

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De O apartidário a 15.10.2022 às 09:34

"Pelo andar da carruagem, o PS caminha a passos largos para o estado de «bovinidade geral», cheio de lacaios mansos e yes man." ------- esse caminho já foi feito, e o país està quase. 
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De O apartidário a 15.10.2022 às 09:31

Por falar em "vai ficar tudo bem" e "fez-se tudo o que era possível". Em entrevista à Lusa em Lisboa, Mari Alkatiri, secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), que coordena a plataforma que sustenta o governo timorense, considerou que, "se deve travar esta onda de procura de vida fora do país, enquanto não houver um acordo de alto nível entre governos para acomodar isso".
Trata-se de uma situação "chocante", que tem sido abordada nos contactos feitos em Portugal com os governantes portugueses, admitiu Mari Alkatiri."A mobilidade, apenas, não resolve, porque quando os timorenses chegam a Portugal como é que podem ficar? Como se acomodam? Como ficam em condições legais para procurar emprego?".
Depois, defende, é necessário que Timor-Leste dê "formação adequada a quem quer emigrar", com "treinos vocacionais e profissionais" que correspondam a necessidades dos países de destino.(estão a ouvir senhores/as promotores do mundo sem fronteiras e sem regras de imigraçao? )
https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/de-timor-para-uma-caixa-de-cartao-no-martim-moniz-dezenas-de-imigrantes-esperam-na-rua-a-chamada-prometida-do-patrao

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