por João Távora, em 09.02.22
Não deixa de ser no mínimo curiosa a ligação que se desenvolveu entre os franceses e a Casa de Abrantes durante o séc. XIX, deste logo com o palácio de Santos que hoje é uma das mais luxuosas embaixadas do Estado Francês no mundo inteiro. Deduz-se das memórias de Laure Permon que o Casal Junot terá frequentado o Palácio de Santos, quando o futuro General esteve em Lisboa entre 1805 e 1806 em “missão diplomática”. O V Marquês de Abrantes, terá sido por diversas vezes seu interlocutor, incumbido que fora pelo príncipe D. João da presidência do Conselho de Regência aquando da partida da Família Real para o Brasil. Difícil é acreditar que a atribuição do título de “Duque de Abrantès” ao seu General por Napoleão, certamente a pedido de Junot, não esteja ligada a uma sua predileção a esta Casa e ao prestígio que este título conferia à época em Portugal. Não havendo provas da ocupação do palácio pelos franceses durante as invasões, chegam-nos testemunhos orais da família que o seu recheio terá sido por várias vezes “inspecionado” pelos oficiais de Junot. Também o conde de Armand, embaixador de França em Lisboa, em 1870 se deixa seduzir pelo palácio que arrendou parcialmente para sua residência. A partir de então aí teve o Estado Francês sempre representação até à sua aquisição em 1909 ao meu bisavô. Não me digam que não há aqui um padrão. Ou apenas um mais que justificado “coup de foudre”. Chegado aos dias de hoje não poderia estar o Palácio dos Marqueses de Abrantes em melhores mãos. De facto, os sucessivos embaixadores têm sabido muito bem cuidar deste património sem o descaracterizar e tratado com grande gentileza os sucessores dos antigos proprietários.
Trecho do meu livro "A Casa de Abrantes, uma História de Resistência" em que tenho estado a trabalhar e me tem afastado da escrita no blog cuja publicação está para breve.
Na imagem: César Biseo – Salão Grande do palácio de Santos – aguarela 1871