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Montenegro começou o seu mandato como manda-chuva do PSD com parte do partido desconfiado, a generalidade da imprensa a considerá-lo como uma mera lebre cujo futuro dependeria de uma pouco provável vitória esmagadora nas europeias, com o seu eleitorado potencial a deslizar sobretudo para o Chega, mas também para a IL e com o PS com um discurso fácil que pretendia apanhá-lo numa tenaz: ou se aliava ao Chega ou nunca seria governo.
Acresce que Montenegro, como aliás se viu ontem no debate com Pedro Nuno Santos, não é grande espingarda na tática (Antonio Costa, o jornalista, diz que no debate Montenegro ganhou nas políticas mas perdeu na política, uma análise que faz sentido) e tinha pela frente um génio da tática (António Costa, o político).
Pelo que percebi ontem, Montenegro fez uma opção estratégica arriscada, da qual não se desvia um milímetro, e que parece estar a dar fruto.
Montenegro parece ter decidido que, para governar, com hipótese de fazer alguma coisa, não podia contar com o Chega (eu diria que terá olhado para a situação instável nos Açores como o que lhe aconteceria se dependesse de Ventura, em quem manifestamente não confia) considerando que Ventura, como o PS, não é confiável, o que significa que qualquer acordo alcançado poderia ser revertido em qualquer altura.
Esta opção trouxe-lhe críticas de pessoas como Rui Ramos, João Miguel Tavares e, aparentemente, Passos Coelho, mas terá considerado que poderia viver com isso, menos confortavelmente do que gostaria, mas era gerível.
Precisaria de duas condições para ter sucesso: ter mais um voto que o PS e impedir a maioria absoluta da esquerda.
Nestas condições, quem tem um problema com o Chega (como os Açores demonstraram) é o PS e não o PSD, porque só é possível derrubar o governo com uma aliança entre a esquerda e o Chega.
Seguindo o conselho de Napoleão (nunca interromper o inimigo quando está a cometer um erro), deixou que o PS avolumasse o fantasma do Chega, em vez de o tratar como um partido como os outros.
Se isso aumenta o risco de uma votação expressiva do Chega, que limita as possibilidades de uma maioria absoluta do PSD+IL, também anula a relevância do Chega para a formação de governos ao obrigar o PS a votar com o Chega, desde que seja claro que Montenegro prefere a instabilidade das eleições à instabilidade da dependência do apoio do Chega, que ninguém sabe quanto tempo duraria.
Com esta opção criou uma espécie de furo lento para a esquerda, que se vai esvaziando: o PS não desce muito, mas à custa da progressiva transferência de votos dentro da esquerda, conseguindo uma das duas condições de governabilidade, impedir a maioria absoluta da esquerda.
Com isto conseguiu pôr Mariana Mortágua a fazer campanha pela AD quando disse a André Ventura que iria ficar isolado porque ninguém se iria sentar com o Chega, reforçando a credibilidade da afirmação de Montenegro de que com o Chega não faria acordos.
E ontem pôs Pedro Nuno Santos a dizer que vaibilizaria um governo de maioria relativa da AD.
Enquanto o PS e os jornalistas se entretinham com futilidades (é extraordinário que um jornalista escreva esta patetice, repetindo aliás o argumento infantil de Pedro Nuno Santos, como se o problema fosse saber se Sócrates é hoje militantante do PS, ou não, e não a falta de explicação do PS sobre o que mudou no partido que leve alguém a acreditar que o único problema era Sócrates "o social-democrata só conseguiu responder com “Sócrates”, que é chão que já deu uvas e que já não é sequer militante socialista".), Montenegro foi, lentamente, desenhando um programa de governo assente na substância e menos na espuma dos dias (e que até beneficia de ter uma IL a defender uma maior liberalização, deixando à AD as mãos livres para fazer uma campanha menos liberal, mais aceitável para largas partes do eleitorado, ao mesmo tempo que vai lembrando que terá de fazer uma coligação com a IL, que com certeza influenciará a prática do governo).
Com tudo isto Montenegro chega ao princípio da campanha eleitoral formal a lembrar que nos últimos anos não se inaugurou um único hospital público, mas se inauguraram 32 privados, como muito bem sabem as pessoas, sem ter de se preocupar a responder todos os dias como irá fazer um governo, questão perfeitamente resolvida: se tiver maioria relativa, faz um governo, se não tiver, a pergunta não faz sentido.
Por mim, tiro o chapéu a Montenegro, reconheço que me enganei na interpretação do que fui vendo e, sobretudo, fico com alguma esperança que depois de tantos anos a aturar um génio da tática sem a menor visão estratégica, tenhamos agora um governo com clareza estratégica, mesmo que faça muitas asneiras táticas.
outra sua com graça :
temos entao um psd a fazer campanha á esquerda, mas depois governaria á direita, devido ao acordo com a IL, ja vimos isso com a desculpa da troika .
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