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Uma estupidez cara

por henrique pereira dos santos, em 08.06.20

total casos.jpg

mortes.jpg

Estes dois bonecos dizem respeito ao número de casos diários covid e ao número de mortes covid no mundo até ontem.

O que me interessa é fazer notar que se em relação ao número de casos diários se continua a ver subidas, em relação ao número de mortes diários há uma clara tendência de descida.

Isto explica-se facilmente: o número de casos diários depende muito da política de testes, o número de mortes, com todos os problemas que existem sobre a atribuição de causas de morte é, evidentemente, menos sensível à política de testes, sendo um indicador mais fiável da evolução da epidemia.

O que acontece à escala global é mais ou menos o mesmo que podemos ver para Portugal, embora de forma menos evidente (até por estarmos a falar de pequenos números).

casos port.jpg

mortes port.jpg

O que está a ser feito em Portugal (e em muitos outros lados) é uma estupidez sem nome que, ainda por cima é caríssima: testar estupidamente pessoas saudáveis sem que se perceba com que objectivo, como explica muito bem aqui Tiago Tribolet de Abreu.

Incomoda-me mesmo que, havendo todos os dias conferências de imprensa, não haja jornalistas a perguntar para que serve testar todo o pessoal das creches, ou fazer testes sistemáticos a sectores específicos, que não dizem nada sobre o dia seguinte e não acrescentam nada à gestão da epidemia.

Note-se bem o que diz a Organização Mundial de Saúde (sim, a organização, nos seus documentos oficiais e não os seus dirigentes em declarações avulsas):

"Viable virus has been isolated from specimens of pre-symptomatic and asymptomatic individuals, suggesting, therefore, that people who do not have symptoms may be able transmit the virus to others.(26) Comprehensive studies on transmission from asymptomatic individuals are difficult to conduct, but the available evidence from contact tracing reported by Member States suggests that asymptomatically-infected individuals are much less likely to transmit the virus than those who develop symptoms.
Among the available published studies, some have described occurrences of transmission from people who did not have symptoms.(21,25-32) For example, among 63 asymptomatically-infected individuals studied in China, there was evidence that 9 (14%) infected another person.(31) Furthermore, among two studies which carefully investigated secondary transmission from case)s to contacts, one found no secondary transmission among 91 contacts of 9 asymptomatic cases,(33) while the other reported that 6.4% of cases were attributable to pre-symptomatic transmission.(32) The available data, to date, on onward infection from cases without symptoms comes from a limited number of studies with small samples that are subject to possible recall bias and for which fomite transmission cannot be ruled out".

Ou seja, para o que interessa, a transmissão da infecção por parte de pessoas assimptmotáticas é muitíssimo menos provável, portanto estar a testar pessoas saudáveis, isto é, sem sintomas de doença, para saber se têm vestígios de vírus, sem qualquer certeza sobre o que significam esses vestígios, para as isolar de forma a controlar a disseminação de uma doença, sabendo que a probabilidade de pessoas assimptomáticas transmitirem o vírus é bastante baixa (existe, sim, claro, mas é aqui que entra a definição de objectivos do que se faz: queremos parar toda a transmissão da doença, ou queremos proteger os mais vulneráveis dos potenciais efeitos negativos da doença?) é uma opção errada e absurda.

E, no entanto, é isso que continuamos a fazer, sem que nas conferências de imprensa, e no resto, a imprensa cumpra o seu papel de escrutinar a afectação de recursos, sempre escassos, por parte do poder.

Não haverá por aí uns jornalistas que queiram fazer umas perguntinhas nas conferências de imprensa sobre afinal o que se pretende com esta loucura de andar a testar estupidamente tudo o que mexe, ao mesmo tempo que a doença vai prosseguindo o seu caminho, com cada vez menos gente internada e com mortalidades marginais face ao que é a mortalidade normal do país?

Agora que de repente juntar milhares de pessoas na rua deixou de ser sinónimo de barbaridade cívica e, pelo contrário, passou a ser uma demonstração de vitalidade das sociedades, já nos podemos deixar de parvoíces e ir ao supermercado, ao restaurante, aos centros comerciais, à praia ou onde quisermos, sem dramas, mascaradas ou medo?

Adenda: para quem tiver vontade de verificar a forma completamente absurda como a imprensa trata do assunto, uma das hipóteses é ler os editoriais do Público, outra é ouvir os comentários habituais da directora adjunta do Observador, que deve viver aterrorizada com a existência da epidemia e, por isso, deixa a racionalidade completamente confinada em Marte


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