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Passos Coelho, e a direita em geral (há sempre tontos em todo o lado, com certeza, mas estou sobretudo a falar de quem tem maiores responsabailidades), tem reconhecido as boas notícias, como, por exempo, a melhoria da classificação da dívida pública, como aquilo que são, boas notícias.
Depois atribui parte dos méritos ao desempenho do governo anterior, diz que o que permitiu isto foi o facto do actual governo, no essencial, ter mantido as políticas de prudência orçamental que vinham de trás e, pelo meio, acusa a actual situação de demagogia, dizendo uma coisa e fazendo outra.
Estas interpretações são discutíveis, com certeza, mas há uma base comum de discussão: a situação está a melhorar e o governo actual faz bem em continuar neste caminho de prudência orçamental, mesmo que diga que faz o contrário.
António Costa, e a esquerda em geral (a mesma nota que no primeiro parágrafo), pelo contrário, não reconhece (eu não me lembro de alguma vez ter ouvido esse reconhecimento) o contributo do governo anterior para a situação actual, nomeadamente no que diz respeito ao equilíbrio das contas externas (que depende menos do governo) e para o equilíbrio das contas públicas.
Mesmo boas notícias, como por exemplo, o fim do programa de ajustamento sem necessidade de um segundo programa de apoio, não são reconhecidas como tal, mas desvalorizadas com teorias sobre a maquilhagem das contas e etc..
Ainda agora, a propósito da decisão de classificar melhor o risco da dívida pública portuguesa, que, como lembra Luís Aguiar-Conraria, é a demonstração de que todos aqueles que disseram que a dívida pública era impagável sem uma reestruturação estavam errados e, mais que isso, é a demonstração de que não só é pagável, como é possível fazê-lo com crescimento, quer Catarina Martins, quer Pedro Nuno Santos (outros foram menos explícitos, como Costa, mas, mesmo não indo tão longe, foram o suficiente para evitar reconhecer o contributo do governo anterior para a situação actual), vieram dizer que a melhoria do rating a república só tinha sido possível porque o governo tinha feito o contrário do que diziam as agências de rating.
É uma mentira tão infantil que só há uma possibilidade: acreditam mesmo no que estão a dizer.
E isso é muito mais assustador que pensar que se trataria de meros aldrabões porque significa que não fazem a menor ideia do mundo sobre o qual tomam decisões.
Esse realismo que permite classificar como boas as notícias que indiscutivelmente os são, é uma diferença abissal para uma esquerda que se recusa a reconhecer a realidade para não dar trunfos aos adversário.
Não é uma diferença pequena nem dispicienda.
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