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Mandaram-me uns vídeos e fotografias, mas não fui lá ver, preferia ter ido eu, mas não é possível.
Achei ontem que ia hoje fazer um post sobre isto, depois de ver fotografias e videos, mas depois vi que Paulo Fernandes tinha dito o essencial, portanto mais vale usar os bonecos dele e o texto dele, ficando eu só com o encargo de fechar o assunto, dizendo que me parece.
Primeiro os bonecos, depois o texto de Paulo Fernandes
"Testemunhos do campo
O incêndio com início em Gestaçô, Baião, é interessante pela prevalência de carvalhos e outras folhosas sobre outras espécies florestais. A 1ª foto mostra o panorama generalizado da severidade do fogo em carvalhal, nas formações mais representativas (5-10m de altura). O negro mais evidente registou-se em matos, nomeadamente em giestais de grande porte e, tal como na serra da Arada, é possível observar muitos efeitos topográficos, como numa das fotos abaixo [acima] na qual o verde é comum ao eucalipto (direita), pinheiro (centro) e carvalho (esquerda).
No Carvalhal de Reixela, uma bela relíquia de 50 ha, observei a auto-extinção numa secção do perímetro virada a norte/oeste e em terreno côncavo, incluindo linha de água corrente. Na parte virada a este o panorama foi diferente e muito semelhante ao da 1ª foto [aqui a quarta], portanto com dessecação total das copas (e combustão, na presença de giestas) mesmo sendo as árvores bastante mais altas. Uma evidência particularmente forte da importância da posição topográfica."
Quem quiser ter uma visão deste carvalhal antes do fogo pode dar um salto aqui.
Por que razão fiquei com vontade de fazer um post quando vi o video e as fotografias pós fogo?
Porque me pareceu ser uma boa demonstração de uma ideia que tem sido muito difícil de explicar.
Depois de todos os grandes incêndios aparecem dezenas de fotografias de manchas de folhosas não ardidas, como penhor da ideia (errada) de que se o país estivesse coberto de carvalhos, o problema dos fogos seria muito diferente.
Independentemente da discussão sobre a forma como se pretenderia passar dos cerca de 60 mil hectares de carvalho para uns cinco milhões, e do que isso significaria para o dia a dia das pessoas, a verdade é que essa ideia está errada de base porque as razões que estão na base da existência dessas manchas de folhosas são as mesmas pelas quais são, frequentemente, poupadas pelos fogos: são manchas reliquiais que foram ficando (ou regenerando a partir do abandono de terras agrícolas), onde a humidade e o solo são favoráveis ao desenvolvimento das árvores e desfavoráveis à progressão do fogo.
Uma das fotografias, como aliás comenta Paulo Fernandes, documenta como esse efeito topográfico se verifica com qualquer espécie.
O que tem de interessante esta sequência, apoiada pelo comentário, é que com um coberto semelhante - não é igual, a área menos afectada tem carvalhos maiores e o carvalhal parece mais maduro, aparentemente porque é a zona mais húmida e protegida, que favorece o crescimento dos carvalhos e tem piores condições para a progressão do fogo - há diversidade de intensidade e severidade do fogo, de acordo com o previsto na teoria.
O carvalhal ardeu (não de forma especialmente intensa, "copa crestada mas não consumida a não ser na parte inferior nalgumas árvores") e ardeu com mais intensidade nas zonas topográficamente menos favoráveis ao desenvolvimento das árvores e mais favoráveis à progressão do fogo.
Se por um passe de mágica conseguíssemos transformar cinco milhões de hectares em carvalhais maduros, aquilo a que assistiríamos era a variações do fogo em carvalhal semelhantes às que já hoje vemos nos matos e noutras espécies florestais, com as zonas mais sombrias e húmidas a arder menos intensamente (ou a não arder) e as zonas mais secas e expostas a arder mais intensamente, mas haveria muito fogo no país nos dias em que as condições meteorológicas fossem extremas (incluindo com projecções e essas coisas características de fogos intensos com muito material combustível disponível).
A questão continua a ser a mesma: do ponto de vista da gestão do fogo (do ponto de vista de biodiversidade as coisas são diferentes), onde houver acumulação de combustíveis finos, com estrutura adequada, arde intensamente quando as condições meteorológicas são extremas (em particular, com secura severa e ventos fortes) e onde essa acumulação for menor, arderá com menor intensidade.
Claro que o ensombramento é uma boa maneira de controlar o crescimento da vegetação (por outro lado implica rescaldos mais difíceis porque a manta morta fica incandescente mais tempo, mesmo sem chama, sendo mais difícil a detecção dos pontos quentes pós fogo) e isso pode ser obtido em carvalhais maduros de forma mais eficiente que em pinhais ou eucaliptais (mas menos eficiente que em povoamentos de pseudotsuga, por exemplo), o que levanta questões muito interessantes sobre como diminuir o tempo até à formação de um carvalhal suficientemente adulto para que tenha um fecho de copas e um ensombramento relevante.
Essa é, no entanto, uma discussão de terceira ou quarta linha (um dia destes faço um post sobre a forma como a Montis tem lidado com isso, em diferentes propriedades) porque neste momento, não tendo uma varinha mágica, temos uma emergência social clara que implica expandir a área de gestão de materiais finos.
Já agora, das fotografias o que se depreende é que o carvalhal ardeu, em algumas áreas de forma intensa, mas vai recuperar rapidamente em duas ou três primaveras.
“INCÊNDIOS: 2011 – O ÚLTIMO COMBATE”
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