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Na história dos últimos dias sobre a até ontem Secretária de Estado do Tesouro parece-me haver uma excessiva atenção ao que fez ou deixou de fazer Alexandra Reis, e uma excessiva desatenção ao que fez ou deixou de fazer o outro lado.
Provavelmente a contratação de Alexandra Reis para chefe das compras da TAP até terá sido muito racional, o que se conhece de toda esta história é que Alexandra Reis parece ser uma negociadora temível e uma pessoa com um fortíssimo sentido de oportunidade para aproveitar as fragilidades dos negociadores do outro lado.
A ser assim, isto recomenda-a fortemente para chefe de compras, desde que seja possível garantir que estas qualidades são usadas a favor de quem a contrata - incluindo eventuais justos prémios por desempenhos acima da média - e não apenas a favor de si própria.
Não tenho por isso nada a dizer sobre Alexandra Reis, eu não funciono assim mas, aparentemente, limitou-se ao levar ao limite as oportunidades de ganhar dinheiro que encontrou. Não é a ela, enquanto trabalhadora da TAP, incluindo no Conselho de Administração, que lhe compete defender os interesses dos contribuintes.
Já a discussão sobre o que fez o outro lado nisto tudo parece-me bem mais útil, até porque na TAP está em causa dinheiro dos contribuintes, isto é, o dinheiro cujo uso é eticamente mais exigente por incluir, por pouco que seja, também dinheiro dos mais pobres e frágeis da sociedade (não me venham com a conversa de que os pobres não pagam impostos, por duas ordens de razões: 1) pagam sim, quando compram um quilo de batatas onde se inclui o IVA; 2) o dinheiro dos impostos, de uma maneira ou de outra, vai sempre ser pago pelos consumidores finais sob a forma maior custo de vida, afectando desproporcionalmente, em relação ao poder de compra, os mais pobres).
Ora o outro lado começou por votar nestes governantes, sabendo que defendiam o aumento do peso do Estado na TAP, o que concretizaram em 2016, revertendo parcialmente a privatização anterior.
Alexandra Reis e Stéphanie Silva, entram na TAP depois deste reforço, Alexandra Reis pela mão de David Pedrosa, Stéphanie Silva não sei em que contexto (o curriculum que vi não aponta para nenhuma relação anterior com a aviação, mas os juristas, por definição, são generalistas que têm a obrigação de estudar cada sector sobre o qual têm de aconselhar decisões).
Sei com quem é casada, sei de quem é filha (conhecem com certeza a famosa fotografia de um jogo de futebol com Sócrates e meia dúzia de amigos, no Brasil, na altura do auge de poder de Sócrates, e pai de Stéphanie está entre Sócrates e o amigo dilecto que lhe emprestava dinheiro) e isso chega-me para suspeitar da relação entre o aumento do peso do Estado na TAP e a sua entrada como directora jurídica da companhia. O que não diz nada sobre a sua provável competência (saiu da TAP para uma sociedade internacional de advogados líder em matérias de aviação, área na qual evidentemente foi colocada depois de quatro anos a desempenhar esta função na TAP).
O que está em causa não são estas duas senhoras, acredito que usaram o melhor do seus conhecimento, o melhor da sua rede de contactos e o melhor das suas capacidades (os três factores fundamentais na evolução de qualquer carreira profissional) para entregar aos seus patrões o que entenderam ser a sua obrigação, optimizando o retorno pessoal que entenderam ser-lhes devido.
O que está em causa é verificar, mais uma vez, que num país em que o peso do Estado na economia é o que é, a cultura institucional é a que permite e gera o que agora se sabe sobre a relação entre Alexandra Reis e a TAP, estando muito longe de ser um caso excepcional, excepto, provavelmente, no que diz respeito à capacidade negocial de Alexandra Reis, que, essa sim, me parece excepcional (isto é um elogio, não é uma ironia).
A maneira de limitar os efeitos negativos desta cultura institucional - que ainda por cima é hoje o maior cimento agregador do PS e, consequentemente, do Estado - não é demitindo as pessoas envolvidas, é limitando a aplicação do dinheiro do Estado ao que é mesmo indispensável que seja o Estado a fazer.
Discutir a ética de cada um dos envolvidos nesta história é uma boa maneira de desviar as atenções do que é essencial: discutir os modelos organizacionais e de gestão que limitem a possibilidade de os contribuintes terem de negociar com pessoas excepcionalmente competentes a defender os seus interesses, como parece ser o caso.
Já a discussão sobre o que fez o outro lado nisto tudo parece-me bem mais útil, até porque na TAP está em causa dinheiro dos contribuintes, isto é, o dinheiro cujo uso é eticamente mais exigente"
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