Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]




Um equívoco de Poiares Maduro

por henrique pereira dos santos, em 30.09.20

Poiares Maduro escreveu um artigo com um título absolutamente correcto: "A falsa escolha entre a pandemia e a economia".

O conteúdo do artigo, no entanto, é todo construído sobre um equívoco a que vale a pena fazer referência.

Não quero discutir os argumentos económicos (a evolução comparada da economia da Suécia não demonstra que uma abordagem à sueca da gestão da epidemia seja economicamente mais favorável, diz Miguel Poiares Maduro, mas parece-me que a argumentação consiste, mais uma vez, em aplicar um correlação estatística simples a processos complexos, com explicações à medida quando a correlação não existe) por me faltar base para isso.

O que me parece verdadeiramente relevante é a ideia de que a epidemia (e os seus efeitos, acrescento eu) é uma escolha, o que se fundamenta na ideia de que as diferenças de ataque da epidemia resultam das medidas tomadas.

Ora até hoje, continua a não haver qualquer evidência de que sejam as medidas - quais medidas? - a comandar a epidemia e partir dessa hipótese (é uma hipótese e não pode ser descartada sem mais) sem considerar outras hipóteses é como partir do princípio de que os fogos resultam das nossas acções, gerindo o território em função desse mito, em vez da realidade prosaica de que o fogo não é uma probabilidade, mas uma inevitabilidade.

A escolha não é entre epidemia e economia, Poiares Maduro tem razão em classificar essa dicotomia como falsa, as escolhas são dentro da economia, tomando a epidemia e os seus efeitos como um dado do problema, sendo um equívoco considerá-la como uma escolha, como se estivesse na nossa mão "controlar a epidemia", como pretende o artigo de Poiares Maduro.

Há muito quem, com boas razões, defenda a ideia de que foi a evolução da epidemia que foi controlando os surtos como, por exemplo, neste artigo muito recente, que reafirma a importância da heterogeneidade das populações afectadas para a evolução verificada.

Podem estar errados, claro, o que é realmente estranho é que a contestação a esta ideia não esteja a ser feita pela contestação aos artigos publicados por este grupo de investigadores, mas pelo silêncio e a ostracização, incluindo a recusa de publicação, não pelos deméritos científicos dos artigos, mas porque o que lá está escrito pode pôr em causa as políticas dominantes de gestão da epidemia.


4 comentários

Sem imagem de perfil

De Anónimo a 30.09.2020 às 17:48

deviam ter impedido a entrada do vírus fechando fronteiras 
na sua presença deviam ter confinado apenas os locais infectados
conheci as gripes de 49 e 67 para as quais não havia vacinas
deviam lembrar-se que há outras doenças
instalaram a politica do medo
puuummm
Sem imagem de perfil

De balio a 30.09.2020 às 18:04


Mesmo na economia, parece-me errado falar dos países individualmente, uma vez que na atual economia globalizada aquilo que acontece à economia de um país depende muito dos outros países.
Por exemplo, mesmo que em Portugal não tivesse havido epidemia praticamente nenhuma, a economia portuguesa teria ido por água abaixo devido ao facto de os turistas não virem para Portugal.
Da mesma forma, a economia sueca depende de montes de coisas que não a forma como a epidemia se desenvolve na Suécia. Os produtos produzidos pela Suécia podem ter um colapso da procura, mesmo que na Suécia a epidemia até corra maravilhosamente.
Sem imagem de perfil

De Carlos Sousa a 30.09.2020 às 18:16


Concordo com o seu ponto de vista, fazendo apenas uma ressalva.
O artigo de Poiares Maduro não é um equívoco, o artigo de Poiares Maduro ilustra o que esta pandemia sempre foi, um jogo político com objectivos bem definidos mas de consequências incalculáveis. Daí que estejam todos agora a “sacudir a água do capote”e a atribuir as culpas do desastre económico, à pandemia porque entope os hospitais, às pessoas porque não cumprem as regras, a todos menos a “eles”que foram os principais responsáveis por este criminoso alarmismo social.
Sem imagem de perfil

De balio a 01.10.2020 às 10:06


O artigo de Poiares Maduro não é um equívoco


Não é um equívoco, de facto, porque Poiares Maduro se limita a seguir a linha política do partido a que pertence, o PSD, que é a de ser ainda mais duro para com a população, por causa da epidemia, do que o PS é. Se o PS violenta a população com restrições em nome da epidemia, o PSD não fica suficientemente satisfeito e advoga ainda mais dureza e ainda mais restrições. Poiares Maduro é apenas uma pessoa do PSD que segue a linha geral desse partido.

Comentar post



Corta-fitas

Inaugurações, implosões, panegíricos e vitupérios.

Contacte-nos: bloguecortafitas(arroba)gmail.com



Notícias

A Batalha
D. Notícias
D. Económico
Expresso
iOnline
J. Negócios
TVI24
JornalEconómico
Global
Público
SIC-Notícias
TSF
Observador

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Comentários recentes

  • O apartidário

    Continuação Para esta manipulação do parlamento co...

  • O apartidário

    A 29 de Julho de 1976 o comunista José Rodrigues V...

  • Carlos

    Vou fazer uma lista com as asneiras, só as grossas...

  • balio

    Será necessária uma nova, delicada, definição de c...

  • anónimo

    As divisões territoriais históricas são diferentes...


Links

Muito nossos

  •  
  • Outros blogs

  •  
  •  
  • Links úteis


    Arquivo

    1. 2024
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    14. 2023
    15. J
    16. F
    17. M
    18. A
    19. M
    20. J
    21. J
    22. A
    23. S
    24. O
    25. N
    26. D
    27. 2022
    28. J
    29. F
    30. M
    31. A
    32. M
    33. J
    34. J
    35. A
    36. S
    37. O
    38. N
    39. D
    40. 2021
    41. J
    42. F
    43. M
    44. A
    45. M
    46. J
    47. J
    48. A
    49. S
    50. O
    51. N
    52. D
    53. 2020
    54. J
    55. F
    56. M
    57. A
    58. M
    59. J
    60. J
    61. A
    62. S
    63. O
    64. N
    65. D
    66. 2019
    67. J
    68. F
    69. M
    70. A
    71. M
    72. J
    73. J
    74. A
    75. S
    76. O
    77. N
    78. D
    79. 2018
    80. J
    81. F
    82. M
    83. A
    84. M
    85. J
    86. J
    87. A
    88. S
    89. O
    90. N
    91. D
    92. 2017
    93. J
    94. F
    95. M
    96. A
    97. M
    98. J
    99. J
    100. A
    101. S
    102. O
    103. N
    104. D
    105. 2016
    106. J
    107. F
    108. M
    109. A
    110. M
    111. J
    112. J
    113. A
    114. S
    115. O
    116. N
    117. D
    118. 2015
    119. J
    120. F
    121. M
    122. A
    123. M
    124. J
    125. J
    126. A
    127. S
    128. O
    129. N
    130. D
    131. 2014
    132. J
    133. F
    134. M
    135. A
    136. M
    137. J
    138. J
    139. A
    140. S
    141. O
    142. N
    143. D
    144. 2013
    145. J
    146. F
    147. M
    148. A
    149. M
    150. J
    151. J
    152. A
    153. S
    154. O
    155. N
    156. D
    157. 2012
    158. J
    159. F
    160. M
    161. A
    162. M
    163. J
    164. J
    165. A
    166. S
    167. O
    168. N
    169. D
    170. 2011
    171. J
    172. F
    173. M
    174. A
    175. M
    176. J
    177. J
    178. A
    179. S
    180. O
    181. N
    182. D
    183. 2010
    184. J
    185. F
    186. M
    187. A
    188. M
    189. J
    190. J
    191. A
    192. S
    193. O
    194. N
    195. D
    196. 2009
    197. J
    198. F
    199. M
    200. A
    201. M
    202. J
    203. J
    204. A
    205. S
    206. O
    207. N
    208. D
    209. 2008
    210. J
    211. F
    212. M
    213. A
    214. M
    215. J
    216. J
    217. A
    218. S
    219. O
    220. N
    221. D
    222. 2007
    223. J
    224. F
    225. M
    226. A
    227. M
    228. J
    229. J
    230. A
    231. S
    232. O
    233. N
    234. D
    235. 2006
    236. J
    237. F
    238. M
    239. A
    240. M
    241. J
    242. J
    243. A
    244. S
    245. O
    246. N
    247. D