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Manuel Carvalho, ontem, no Público (como não?) resolve, com a infantilidade e a irresponsabilidade dos jornalistas militantes, chamar nomes a David Neeleman.
"um chico esperto foi capaz de atravessar o Atlântico Sul" (Manuel Carvalho não deve saber que David Neeleman é cidadão americano, ou que os EUA e Portugal são separados pelo Atlântico Norte).
"o que foi do princípio ao fim uma manobra de videirinhos".
"um aventureiro dos negócios".
"Portugal um país patusco, fácil de endrominar por espertalhões com nome estrangeiro".
"um governo se submeteu aos ditames de uns espertalhões que compraram uma companhia nacional sem terem de a pagar com o seu dinheiro".
E por que razão se encheu de fúria Manuel Carvalho?
Porque, na sua própria opinião, "convém ser justo e recordá-lo, a TAP dá hoje lucro em boa medida porque a gestão privada lhe abriu novas rotas, a modernizou e reforçou o seu valor estratégico de ponte entre a Europa, as Américas e a África".
Pelos vistos, o "aventureiro dos negócios" foi capaz de fazer o que os outros todos não conseguiram (a empresa estava em falência técnica, isto é, os seus passivos eram maiores que os seus activos, e estava sem liquidez ao ponto de estar em risco de deixar de pagar salários e as prestações devidas a um dos seus principais fornecedores, a Airbus, quando o "aventureiro dos negócios" pegou nela e a passou de perdócio a negócio, para usar a terminologia de Belmiro de Azevedo, outro "aventureiro dos negócios" de cuja caridade benevolente depende, ainda hoje, o Público).
Aventureiro dos negócios há muitos, Thomas Edison, Henry Ford, Bill Gates, Elon Musk, etc., etc., etc., felizmente para todos nós que precisamos da criação de riqueza para ter uma "vida boa" (não resisti ao prazer de citar o Bloco de Esquerda, concordando).
Aventureiros de perdócios, como os jornalistas do Público é que há poucos, por uma razão simples: é muito difícil convencer um "aventureiro de negócios", como Belmiro de Azevedo, a perder vários milhões por ano num perdócio como o Público.
Por que razão um perdócio, como o Público, não consegue passar a negócio ao fim de 34 anos a consumir capital generosamente disponibilizado pelos "aventureiros de negócios" que o financiam?
Penso que o próprio artigo de Manuel Carvalho, que foi director do jornal, consequentemente, com responsabilidades grandes no perdócio, é cristalino na ilustração das razões pelas quais aquilo, do ponto de vista da aplicação racional de capital, é um desastre: "Não venham dizer que Neeleman acabou por "meter" os 203 milhões de euros (226,7 milhões de dólares) na TAP ou que não se serviu da dívida da empresa para pagar os 61% que adquiriu ao Estado".
Comecemos pela qualidade jornalística e depois vamos à questão de fundo.
Para fundamentar esta parvoíce, Manuel Carvalho cita o relatório da IGF que diz exactamente o contrário do que Manuel Carvalho conclui: "para além de 10 milhões do preço", ou seja, o relatório da IGF diz claramente que o preço dos 61% de capital foram 10 milhões e foram pagos por David Neeleman. Depois fala em prestações suplementares de capital, que foram efectuadas com dinheiro da Airbus, integrando progressivamente os activos da TAP à medida que a actividade da TAP foi remunerando essas prestações suplementares de capital, na forma que tinha sido contratada (Manuel Carvalho parece ter a ideia de que as receitas futuras de uma empresa que precisa de capital para as conseguir gerar são um património da empresa, não admira que o Público nunca tenha passado de perdócio a negócio).
Mas a parte mais luminosa do parágrafo em análise é mesmo esta: "se serviu da dívida da empresa para pagar os 61% que adquiriu ao Estado".
Manuel Carvalho está mesmo convencido de que se pagam contas com dívidas. Vou ao supermercado, e posso pagar com a dívida que tenho da compra do carro, diz Manuel Carvalho.
E assim se explica por que razão, ao fim de 34 anos a consumir capital, o Público continua a ser um perdócio e não um negócio: os seus principais responsáveis não fazem a menor ideia de como funciona a economia e as finanças, razões pelas quais acham normal insultar um tipo que, no caso da TAP "lhe abriu novas rotas, a modernizou e reforçou o seu valor estratégico de ponte entre a Europa, as Américas e a África", escudando-se no orgulhoso estatuto que consideram uma dádiva divina inquestionável: serem grandes "aventureiros dos perdócios".
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