Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Tenho ideia do título deste post ser do Sérgio Godinho, algures numa peça de teatro, no tempo dos afonsinhos.
Foi dela que me lembrei hoje, ao olhar para a banca dos jornais: no I ataca Manuel Carmo Gomes, no Público ataca Carlos Antunes e o Observador faz de caixa de ressonância.
Manuel Carmo Gomes não faz a coisa por menos: “Podemos resvalar para um ressurgimento da epidemia como tivemos depois do Natal ou conseguir manter a epidemia controlada. Neste momento estamos ainda num limbo: existe ainda população suscetível o suficiente para termos um aumento de casos e mesmo de hospitalizações”.
É certo que eu disse algures que se os casos depois do Natal não subissem 25% podíamos deitar fora as previsões catastróficas sistemáticas sobre o apocalipse. Os casos subiram muito mais que 25%, o que significa que a hipótese de correlação entre contactos no Natal e subida de casos se poderia manter. Acontece que, ainda durante Janeiro, desenvolvi um ponto de vista sobre o que estava a acontecer e sobre a possibilidade do aumento de casos se dever mais à anomalia meteorológica que começou a 24 de Dezembro e acabou a 20 de Janeiro, o que explica razoavelmente algumas coisas estranhas com o pouquíssimo tempo entre o pico de casos e de mortalidade, por exemplo.
Bem sei que agora, na Páscoa, se tomaram uma série de medidas para impedir os contactos (eu acho-as meros placebos, mas vamos admitir que não, que até servem para alguma coisa), mas o que todos os dados de mobilidade indicam é que quer antes da Páscoa, quer na Páscoa, não houve uma restrição de movimentos por aí além.
Froes, Carmo Gomes, Antunes, a redacção do Observador e outros continuam convencidos de que uma epidemia evolui em função do contacto entre as pessoas, e nada mais, por isso Froes estava absolutamente seguro do disparo de casos que iria aparecer duas semanas depois do fim de semana de 27 e 28 de Fevereiro, em que foi tudo para a rua aproveitar o Sol, depois de um longo período de chuva e dos números da epidemia terem descido brutalmente. O facto de nenhum efeito dessas frescuras se notar na evolução da epidemia não os consegue convencer de que estão errados, a haver alguma coisa errada, é a realidade, não eles.
Por isso continuam com a cantilena de que abrir escolas é uma coisa perigosíssima e a cada nova abertura aparecem a procurar influenciar mais e mais tempo de confinamento, como se os confinamentos não tivessem efeitos secundários.
Nem com a mortalidade global abaixo de 300 pessoas por dia (abaixo do que seria de esperar para esta altura do ano, indiciando que parte da mortalidade excessiva de Janeiro foi antecipação da mortalidade esperada ao longo do ano, pessoas mais velhas e mais frágeis, com escassa esperança de vida), com os hospitais com imensa folga, com uma testagem altíssima para a incidência existente, a vacinação nos lares concluída e em forte progressão noutros grupos de risco (progressão essa que só não é maior pela absurda opção de vacinar professores e outros profissionais de risco residual à frente de pessoas pretencentes a grupos de risco para esta doença) estes profetas do confinamento e doutras medidas de restrição de contactos ganham juízo.
O mais que conseguem é admitir a hipótese de que talvez a epidemia esteja controlada, como faz Manuel Carmo Gomes na citação acima, ao mesmo tempo que acrescenta que, na dúvida, e para evitar o que aconteceu depois do Natal, o melhor é atrasar a abertura do ensino e da sociedade à espera de dados mais seguros.
Esta citação é abolutamente extraordinária: "um possível aumento de infeções quer durante na última semana quer nesta nova etapa de desconfinamento que se iniciou esta segunda-feira só será passível de avaliar pelo menos daqui a 15 dias, alerta o investigador, o que coincidirá já com a data prevista para continuar a reabertura do país e regresso às aulas dos alunos do secundário e ensino superior. “O terceiro passo do desconfinamento é muito forte e devíamos ser capazes de estar mais seguros antes de o dar. Não vejo que a janela temporal dê para isso. Se estamos a abrir dia 5, daqui a 15 dias quando formos avaliar podemos não ter informação suficiente”, diz Manuel Carmo Gomes, defendendo por isso que fosse ponderado o adiamento de uma semana na decisão de prosseguir para a terceira etapa".
Os mesmos profetas que anunciam urbi et orbi que foi o fecho das escolas a 22 de Janeiro que deu origem à descida de contágios uma semana depois - começou antes de 22 de Janeiro e foi-se acentuando como seria de esperar que acontecesse, em qualquer caso -, vêm agora dizer que são precisos pelo menos quinze dias para perceber os efeitos do levantamento das medidas de restrição de contactos existentes. Daqui não tiram a consequência lógica de que a descida de casos no fim de Janeiro não se deveu ao fecho das escolas, apesar de agora dizerem que uma semana é pouco para avaliar resultados.
E não contentes com isso, absolutamente indiferentes aos efeitos do fecho das escolas na vida de todos, mas sobretudo dos mais pobres, indiferentes ao descalabro no acompanhamento de doentes crónicos, indiferentes à solidão dos mais velhos e ao crescimento expressivo dos problemas de saúde mental, indiferentes ao desemprego e à destruição de riqueza, resumindo, completamente indiferentes às pessoas concretas e aos seus problemas, que afectam especialmente os mais pobres e frágeis, claro, defendem que mais uma semanita ou quinze dias de confinamento, só para termos mais dados e estarmos mais seguros, não tem a menor importância.
O aleijão moral que os caracteriza é o mesmo aleijão moral que caracteriza uma sociedade, a cavalo da sua imprensa, que assistiu impávida e serena à enorme operação de propaganda que consistiu em vacinar pessoas sem risco à frente de pessoas com risco de mortalidade elevado com o pretexto de que era preciso abrir as escolas com segurança.
Não, não estão a salvar vidas, como dizem, isso é uma mentira absoluta, estão apenas às voltas dos seus fantasmas, dos seus números e dos seus computadores a exorcizar os seus medos, à custa da vida de milhares de pessoas.
Não há perdão para o papel que estão a desempenhar, quer eles, quer a imprensa que os ouve permanentemente sem contraditório.
A linha vermelha de 120 casos por 100 000 habitantes, não deve ser aplicada a concelhos com menos de 10 000 ou 20 000 habitantes, como agora estão a fazer.
Tomemos o exemplo de Alandroal e admitamos que tem 2 000 habitantes, pois tem menos do que isso. Se ali forem detectadas 3 casos, o concelho ultrapassa a linha dos 120 por 100 000 habitantes. Mas esses 3 casos podem ser todos da mesma família, o que é muito natural, e essa família pode estar bem confinada.
Se assim for, e assim será em muitos casos, para quê chatear os outros 1 997 habitantes?
Um concelho com baixa densidade populacional, não deveria reger-se pelas regras dos grandes centros urbanos.
Serei eu, sozinho, a pensar assim?
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
E os qu têm propriedades no concelho mas não o hab...
Sim, nos últimos tempos representaram o divino, pa...
SubscrevoQuem quiser ver acção política séria, é ...
Na questão autárquica há que discutir se as Câmara...
Diz João Távora que faz pouco sentido o sectarismo...