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Por estes dias, aqui e ali, tenho dado por mim a contestar teses de amigos meus que defendem que Trump abriu caminho aos supremacistas, que Passos Coelho está a conduzir o PSD pelos caminhos da xenofobia, que Ventura está a moldar uma sociedade mais racista, e por aí fora.
Agora foi a crónica de hoje de João Miguel Tavares a repetir a tese.
A minha tese é a de que as pessoas como Trump (ou os jornalistas individualmente, ou Costa, ou Marcelo, ou Passos Coelho, ou Merkel, ou Tsipras, ou Churchill, a tese é igual para todos) têm muito menos importância da que se lhes atribui, isto é, é muito mais a sociedade que produz Venturas, que Ventura que molda a sociedade.
Eu sei que as coisas não são preto e branco, mas também sei que coincidência não é causalidade: há anos que há pessoas que dizem barbaridades como Ventura (entenda-se barbaridades aqui como coisas de que discordo profundamente, como a defesa da pena de morte) e não é por Ventura as ter dito, e ter o apoio de um partido mainstream para uma câmara (não necessariamente para as barbaridades, não acredito, por exemplo, que os quase 10% de votos no BE queiram dizer que há 10% de eleitores que defendam a nacionalização de sectores estratégicos da economia, mas sim que há 10% de eleitores que acham que o seu melhor interesse é ter deputados do BE, quer concordem sempre, às vezes ou muito) que faz com que ganhem peso, pelo contrário, é porque essas teses têm maior ressonância na sociedade que pessoas como Ventura ganham peso.
De resto, ter o Presidente da República a dizer que foi feito tudo o que era possível logo nos primeiros dias do fogo de Pedrogão, ter Costa a dizer impunemente no parlamento que o governo anterior privatizou a PT, ter o BE e o PC a repetir incessantemente, com muito pouca oposição social, que a austeridade foi uma opção voluntária, ter jornalistas a gozar com Vítor Gaspar por dizer, fundamentadamente e com razão, que o crescimento do PIB tinha sido afectado negativamente pelo mau tempo num determinado trimestre, parecem-me contributos bem mais relevantes para a trumpificação que os tweets do Trump ou as barbaridades de Ventura.
É a nossa falta de exigência em relação à racionalidade e factualidade do debate público, escolhendo o que promover ou rebater mais em função do que pensamos que em função dos factos verificáveis, que abre caminho a que qualquer vendedor de banha da cobra possa ser recebido como uma sumidade, trumpificando a sociedade, como facilmente Nicolau Santos (que continuou sub-director de um jornal influente, depois de embarretado por não se defender das suas convicções aplicando os princípios básicos da sua profissão) poderá demonstrar.
E que alimenta a anomia que nos faz aceitar que um general prussiano continue director de um jornal, não se vendo qualquer relação entre isso e a progressiva perda de credibilidade no jornalismo tradicional.
Isso sim, é trumpificar a sociedade.
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