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Houve um atraso na minha partida para Pasárgada motivado por um comentário a um post anterior:
"Verificou-se desde dia 24 dezembro, de forma consistente, uma situação de frio generalizado com valores da temperatura máxima e mínima do ar inferiores ao valor da normal climatológica 1971-2000. Nas últimas três semanas apenas no dia 28 de dezembro, o valor médio da temperatura mínima foi próximo do normal.
O dia 9 de janeiro 2021 foi o dia mais frio neste período, com 2.98°C de média da temperatura média do ar, sendo que os valores da temperatura máxima do ar, nas estações de Guarda, Aldeia do Souto, Lousã e Portel foram os mais baixos registados nos últimos 20 anos. De referir ainda que nos dias 5, 6 e 8, os valores médios de temperatura média do ar foram inferiores a 4°C. No dia 11 foi registado o 4º valor mais baixo da média da temperatura mínima do ar do território.
...
Embora se tenha registado a ocorrência da onda de frio relativamente localizada, o carácter prolongado deste episódio (cerca de 3 semanas), a persistência de vários dias consecutivos com temperaturas negativas (>10 dias consecutivos em 1/3 das estações), em particular no interior, e a abrangência territorial constituem aspetos importantes nos previsíveis impactos que terá tido na população."
Isto é o Instituto Português do Mar e da Atmosfera a falar da anomalia meteorológica das últimas três semanas.
Isto é o Instituto Ricardo Jorge a calcular aqui o R(t) nacional e a relacioná-lo com o que acha relevante na sua evolução.
Isto é a equipa de Manuel Carmos Gomes a projectar mortalidades à lá Buescu, ou seja, projectando tendências sem compreender a natureza do fenómeno que estão a analisar.
O que está aqui não é nenhuma modelação matemática, tal como as previsões de Manuel Carmo Gomes sobre números de casos que lhe servem para a campanha para o encerramento das escolas que mantém desde sempre também não resultam de modelação matemática, são apenas tretas aritméticas, brincadeiras com números sem ligação com as realidades que os números pretendem traduzir.
É por isso frequente haver atribuições de variação de número de casos ao início das aulas, por exemplo, mas raramente ouvi qualquer coisa a explicar como as férias de Natal dos alunos impactaram a evolução da epidemia.
Lá em cima, o Instituto Ricardo Jorge destaca a véspera de Natal, mas não faz qualquer referência ao facto do dia 24 de Dezembro ser o início de uma anomalia meteorológica que toda a literatura sobre doenças infecciosas respiratórias permite supôr que tem alguma relação com a brusca subida do R(t).
Aliás, o Instituto Ricardo Jorge nem sequer acha estranho que sendo o Natal um fenómeno nacional, ele se traduza num aumento do R(t) substancialmente maior na região de Lisboa e Vale do Tejo (A média do R(t) para os dias 30-12-2020 a 03-01-2021 foi de 1,21, estando o seu verdadeiro valor compreendido entre 1,2 e 1,22 com 95% de confiança) que no Norte (A média do R(t) para os dias 30-12-2020 a 03-01-2021 foi de 1,15, estando o seu verdadeiro valor compreendido entre 1,14 e 1,16 com 95% de confiança).
Na interpretação da evolução de uma doença infecciosa respiratória ignorar as condições meteorológicas que a literatura reconhece inequivocamente influenciarem a sua evolução (quer por afectarem a actividade viral, quer por afectarem a resposta do hospedeiro ao ataque do vírus, quer por afectar a forma como as pessoas se comportam) é simplesmente má ciência (admitindo que é ciência) e a complexificação matemática do tratamento dos dados sem ter em atenção esse aspecto não é mais que uma espécie de sudoku da epidemia: um entretenimento com números, sem qualquer relação entre a abstracção dos números e as entidades físicas reais associadas à evolução da epidemia.
Já vou tarde para Pasárgada, até mais ver.
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