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"O que toda a gente devia saber, a começar pela ministra da saúde é que é ao fim de duas semanas, que os números se mostram. O resultado só podia ser este, nós agora temos o Algarve com um Rt de 1,62, que é o valor mais alto do país. Nós sabemos desde o início da pandemia, que foi há mais de um ano e meio, pode haver muita coisa que não se conhecia deste vírus, há uma que é certinha, desde o início, é que o vírus precisa de duas semanas, mais coisa menos coisa, para se mostrar. E agora, todos o podemos ver, passaram-se duas semanas, e temos estes números no Algarve. A ministra da saúde tinha a obrigação de ter visto isto antes, é paga para ver estas coisas antes, tem especialistas a trabalhar com ela para ver estas coisas antes, só não viu antes porque não quis, e por isso, se o governo não quis impedir a ida de milhares de pessoas da grande Lisboa para o Algarve, no fim de semana prolongado, porque seria se calhar uma medida incómoda, desagradável e que tirava votos, não venha agora fingir surpresa com os números que era inevitável (a ênfase é do original) termos duas semanas depois."
Longa citação de uma conversa de taxista que ontem ouvi por acaso na Rádio Observador e que pode ser verificada aqui.
Nunca ouço voluntariamente Miguel Pinheiro, do Observador, nem leio o que escreve, porque me falta a paciência para a prosápia de superioridade que o caracteriza a falar dos outros, mas quando ando de carro apanho-o aqui e ali, e foi o caso.
Não me interessa nada desmontar a quantidade de parvoíces deste parágrafo, apenas me interessa fazer notar que este é o director de um orgão de informação que militantemente afirma, quer o orgão de informação, quer o próprio - destratando todos os que fazem notar que a evolução dos números não é compatível com o que se sabe da forma como evolui esta doença, desde o contágio até à manifestação de sintomas (quando existem), internamento (quando é necessário) e morte (quando ocorre) - que o fecho de escolas a 22 de Janeiro, seguido da imensa movimentação de pessoas associada à uma eleição a 24, é responsável por uma queda brusca da incidência da doença uma semana depois (neste caso a ênfase é minha).
Miguel Pinheiro é pago para verificar factos, Miguel Pinheiro foi treinado para verificar factos, Miguel Pinheiro tem muitos jornalistas a trabalhar com ele para produzir informação fiável, portanto não venha agora dizer que toda a gente sabe que os números se manifestam inevitavelmente duas semanas depois dos factos que escolhe como ponto de partida - no caso em apreço, o segundo fim de semana comprido, e não o anterior, que também foi comprido - e, ao mesmo tempo, recusar-se a admitir que a evolução da epidemia em Janeiro/ Fevereiro é totalmente incompatível com essa coisa que "toda a gente sabe".
Põem os jornalistas permanentemente a dar as suas opiniões sobre tudo e mais alguma coisa, sem que ninguém perceba por que razão os mesmos jornalistas comentam epidemias, futebol, dívida pública, política externa, sem que se lhes reconheça qualquer aptidão especial em cada uma das matérias, e o resultado é inevitável: falta-lhes tempo para fazer jornalismo e perceber que impedir um terço da população se deslocar ao fim de semana para onde lhes apetece não é um incómodo, é uma violação severa de liberdades constitucionalmente garantidas, como a liberdade de circulação.
Pode-se admitir que circunstâncias excepcionais levem à compressão de direitos fundamentais, mas o papel do jornalismo não é malhar no governo por não comprimir mais direitos fundamentais com base em conversas de taxista, o papel do jornalismo é escrutinar, duramente, as razões que fundamentam essa compressão das liberdades, para que o público possa fazer um juízo informado sobre a razoabilidade desses fundamentos.
A UBER tem hoje mais viabilidade económica que o jornalismo por uma razão simples: se é para ouvir conversa de taxista, ao menos que seja quando a corrida tem alguma utilidade para o consumidor.
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