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Após uma visita aos Estados Unidos, o aristocrata francês Alexis de Tocqueville escreve um extenso livro, lançado em 1835, contendo as reflexões, essencialmente políticas, dessa viagem.
O livro, “Da Democracia na América”, tornou-se uma das mais importantes referências da chamada “ciência política”, e tem alguns aspectos premonitórios extraordinários, incluindo, algo impensável no Séc. XIX que chegaria um momento em que os Estados Unidos dominariam metade do mundo, enquanto a Rússia outra metade.
Segundo Tocqueville, a ameaça às democracias não advinha apenas das tiranias, mas do amolecimento, e complacência, que um demasiado paternalismo e assistencialismo.
Tocqueville valorizava muito a iniciativa, o associativismo e a separação de poderes. Ele admirava na América esse sentido de cidadania e vigilância, ele gostava dessa vibração cívica e democrática. Se esta energia não existisse facilmente se cairia num regime que, ainda que democrático, seria o pastoreio do povo pelos governantes.
Eu penso que, neste momento, não existe, nem à esquerda nem à direita, o perigo de instauração de uma ditadura tirânica num país da Europa Ocidental. No entanto penso que esse amolecimento e essa captura do indivíduo, de forma algo despótica, são perigos reais em Portugal, hoje. E são-no, porque, no fundo, se calhar é isso que os portugueses acomodados desejam.
Quem tiver paciência leia, com atenção, este excerto da obra de Tocqueville. Escrito na primeira metade do séc. XIX ele relata, quanto a mim, de forma perfeita os perigos para uma vivência democrática, participativa e vibrante no Portugal do Séc. XXI.
“Vejo uma multidão imensa de homens semelhantes e de igual condição girando sem descanso à volta de si mesmos, em busca de prazeres insignificantes e vulgares com que preenchem as suas almas. Cada um deles, colocando-se à parte, é como um estranho face ao destino dos outros; para ele, a espécie humana resume-se aos seus filhos e aos seus amigos; quanto ao resto dos seus concidadãos, está ao lado deles, mas não os vê; toca-lhes, mas não os sente, ele só existe em e para si próprio e, se ainda lhe resta uma família, podemos dizer pelo menos que deixou de ter uma pátria.
Acima desses homens, ergue-se um poder imenso e tutelar que se encarrega sozinho da organização dos seus prazeres e de velar pelo seu destino. É um poder absoluto, pormenorizado, ordenado, previdente e suave. Seria semelhante ao poder paternal se, como este, tivesse por objetivo preparar os homens para a idade viril; mas ele apenas procura, pelo contrário, mantê-los irrevogavelmente na infância. Agrada-lhe que os cidadãos se divirtam, conquanto pensem apenas nisso. Trabalha de boa vontade para lhes assegurar a felicidade, mas com a condição de ser o único obreiro e árbitro dessa felicidade. Garante-lhes a segurança, previne e satisfaz as suas necessidades, facilita-lhes os prazeres, conduz os seus principais assuntos, dirige a sua indústria, regulamenta as suas sucessões, divide as suas heranças. Será também possível poupar inteiramente aos cidadãos o trabalho de pensar e a dificuldade de viver? …
A igualdade preparou os homens para tudo isto, predispondo-o a aceitar este sofrimento e, até, a considerá-lo um benefício.”
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