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É frequente a alegação de que nas discussões sobre a epidemia em curso há o campo da ciência, e há os outros, os terraplanistas, para simplificar.
As principais equipas que trabalham a evolução da epidemia para apoio à decisão, quer em Portugal quer na generalidade dos outros países, assentam grande parte das suas interpretações na ideia de que não há contágio sem contacto entre pessoas (o que manifestamente é verdade), logo o contacto entre pessoas pode explicar a evolução da epidemia (o que é uma simplificação da primeira ideia na medida em que não temos toda a informação sobre o que é um contacto, do ponto de vista do vírus), logo as medidas tomadas pelos governos que têm efeitos na quantidade de contactos entre pessoas são a principal força de modelação da evolução da epidemia (o que corresponde a um triplo salto mortal encarpado com pirueta atrás para passar da primeira ideia para esta).
Por isso uma das mais eficazes formas de aprendermos a avaliar em que medida a nossa interpretação da evolução da epidemia está a captar a realidade é olhar para as previsões e interpretações feitas sobre os factos, e avaliar em que medida têm adesão à realidade.
A questão não é se a previsão bate certo ou não, só por acaso uma previsão sobre o futuro bate certo, o que interessa é a adesão geral à realidade.
Na última reunião do Infarmed, Manuel Carmo Gomes referiu o exemplo dos Países Baixos como estando a controlar a epidemia através de medidas de controlo dos contactos entre pessoas, mas mal os aligeirou, a curva de casos começou de novo a subir.
Já fiz vários posts em que referi que esta previsão até se revelou razoavelmente acertada nos Países Baixos, mas não noutros países para os quais as circunstâncias são as mesmas, portanto a explicação não parece muito sólida.
Hoje resolvi abordar a questão dentro dos Países Baixos, tirando partido de haver informação geográfica fácil, expressiva e facilmente acessível (a minha vida não é estudar epidemias, gasto um tempo limitado, ainda assim excessivo, com o assunto).
Comecemos pelo gráfico clássico do número de casos, com indicação da média a sete dias, actualizado até ontem.
Agora olhemos para dois mapas correspondendo aos dois picos assinalado no gráfico, o fim de Outubro e a quinzena que acabou a 15 de Dezembro, uma razoável proximidade em relação à subida de número de casos que agora se verifica (seria melhor a semana em que estamos, porque a semana que acaba a 15 de Dezembro ainda corresponde à subida. A seu tempo se aferirá se a hipótese que resulta desta comparação se mantém).
Para mim é claro que existe uma alteração de padrão geográfico de uma quinzena para a outra (a confirmar na próxima quinzena com dados posteriores a 15 de Dezembro).
Se admitirmos que de facto existe uma alteração de padrão geográfico, então as explicações sobre medidas, construídas a partir de modelos que escondem esta diversidade geográfica, tomando o país inteiro como unidade geográfica, talvez sejam simplesmente má ciência, por mais sofisticados que sejam os modelos matemáticos usados.
Os modelos não correspondem a má matemática, longe de mim sequer discutir isso, correspondem a má ciência no sentido em que existe uma escolha arbitrária das unidades geográficas usadas para um fenómeno cuja compreensão é claramente obscurecida por essa escolha arbitrária.
Talvez não seja verdade que de um lado está a ciência e do outro os terraplanistas, talvez estejamos todos do mesmo lado a olhar de forma diferente para a mesma realidade, com as consequências que Descartes descreveu para a opinião que todos temos sobre o nosso bom senso e a falta que faz aos outros terem o nosso bom senso.
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