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A entrevista acima explica muito bem o mais importante avanço ocorrido no conhecimento sobre a epidemia em curso: a utilização de testes serológicos para caracterizar a extensão e desenvolvimento da infecção na sociedade.
Gostaria de chamar a atenção para um aspecto não referido na entrevista, mas que me parece que dela decorre.
Os primeiros resultados mais fiáveis de estudos serológicos confirmam o que já vários outros estudos tinham sugerido: a infecção espalha-se muito mais e de forma muito mais silenciosa do que pensamos. Não se podem simplesmente extrapolar as conclusões deste estudo sem mais, mas o que se sugere é que devemos multiplicar o número de casos confirmados por cinquenta para ter uma ideia mais próxima da realidade da infecção.
Para mim, a afirmação mais surpreendente da entrevista é a de que 50% (correcção, parecendo-me este número absurdo, fui ouvir outra vez e com mais atenção, e são 15%, uma diferença substancial, mas ainda assim muito relevante porque diz respeito às que estão infectadas naquele momento, não diz nada sobre as que entretanto estiveram infectadas) das mulheres nova-iorquinas que entram nas maternidades para ter crianças testam positivo.
Sendo agora bastante sólida a ideia de que a infecção se espalha mais, mais rapidamente e de forma mais silenciosa do que pensamos, é mais que evidente que o mito do controlo da infecção pela ditadura chinesa através da sua mão-de-ferro é mesmo apenas isso, um mito.
Como é que esse mito se tornou ideologicamente dominante ao ponto das opiniões pública ocidentais, que sabem bem o que vale a informação produzida por ditaduras, se deixarem cegar por esse mito ao ponto de exigir dos seus governos a adopção de medidas sem precedentes, nunca testadas, sem qualquer avaliação equilibrada de efeitos secundários e sem evidência científica sólida?
Parece-me que em grande parte (há outros factores, com certeza) porque a Organização Mundial de Saúde, ou melhor, o seu Secretário-Geral, se afirmaram como penhor de garantia de que realmente as coisas se tinham passado como a ditadura chinesa dizia que tinham acontecido.
Aceitar as afirmações do Secretário-Geral da Organização Mundial de Saúde pelo seu valor facial - nem sequer reparando que entre o que diz o Secretário-Geral e o que dizem os documentos da organização há diferenças abissais - é possível porque a imprensa se demitiu do seu papel de escrutínio dos poderes públicos, se demitiu de escrutinar o passado deste homem, ao ponto de serem poucas as pessoas que sabem a forma como foi eleito Secretário-Geral e não terem a menor ideia de que quase imediatamente depois de ter sido eleito (três meses), nomeou Robert Mugabe como embaixador da boa vontade da Organização Mundial de Saúde.
Claro que quatro dias depois do anúncio desta decisão Tedros teve de recuar, de tal maneira era escandalosa esta nomeação, mas isso não retira uma vírgula à questão central: o homem que nos garante a fiabilidade do que nos diz a ditadura chinesa é o mesmo homem que em Outubro de 2017 achou adequado nomear Robert Mugabe como embaixador da boa vontade da Organização Mundial de Saúde.
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O antropólogo Emmanuel Todd elaborou umas teorias ...
Concordo totalmente.
Excelente post. Pouco se escreve sobre isto (porqu...
por egoísmo e narcisismo nota-se cada vez mais em ...
Excelente reflexão, subscrevo.