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Ontem, Rui Tavares cascava forte e feio no homem cujo nome não se pode pronunciar (na opinião de Rui Tavares, eu tenho outra opinião, como se pode verificar pelo título do post) e, depois de um artigo cheio de disparates, Rui Tavares acabava a dizer coisas absolutamente certas: "Contra isso, só podemos contar com uma arma. A mesma que Marega usou: a dignidade. Quando confrontados com algo que é inaceitável, deixar bem claro que não aceitamos. Ser intransigentes, e exigentes com quem aceite transigir, é o que depende de nós. Se cada um fizer o que depende de si, já teremos muito caminho andado".
O que aparentemente Rui Tavares não entende bem são as razões da eficácia do discurso troglodita de André Ventura ou de Catarina Martins (o de Catarina Martins é um bocadinho menos troglodita, é verdade, mas é essencialmente igual ao de André Ventura, explorando o ressentimento como arma política).
Qualquer demagogo, seja Ventura, seja Martins, pega num ponto de vista que tem um fundo de verdade ("P'ra mentira ser segura/ e atingir profundidade,/ tem que trazer à mistura/ qualquer coisa de verdade"), simplifica-o, alinha-o com o ressentimento do grupo social de que quer ter o apoio, e repete incessantemente essa simplicação, de forma mais polida, como Martins, ou de forma mais troglodita, como Ventura.
Se é verdade que essa forma é relevante, a questão central é encontrar o fundo de verdade que existe e dar-lhe uma resposta diferente, se se quer limitar os estragos sociais da demagogia.
Ora nesta questão da dignidade de Marega (é inquestionável que qualquer pessoa tem o direito de se revoltar por ser mal tratada por causa da cor da pele), pessoas como Rui Tavares têm um calcanhar de Aquiles: onde estão quando é a dignidade de outras pessoas que é mal tratada? Do lado da intransigência que advoga Rui Tavares para este caso, ou do lado da contemporização que Rui Tavares execra neste caso?
Por exemplo, onde ficou Rui Tavares quando Mamadou Ba resolveu mexer com a dignidade dos polícias falando na "bosta da bófia"? Ou que artigo escreveu sobre as agressões e insultos a médicos? E sobre agressões e insultos a professores? Ou da dignidade dos motoristas de autocarros frequentemente enxovalhados? Ou, mais próximo deste caso, Rui Tavares acha que chamar gatuno a um árbitro não é mexer com a dignidade da pessoa que tem a difícil tarefa de ser justo e imparcial no julgamento, condição sine qua non para que exista jogo de futebol decente?
É muito fácil exigir intransigência quando são os assuntos que estão alinhados com a nossa agenda (racismo, homofobia e afins), difícil, e digno, é ter a mesma intransigência para com a dignidade das pessoas envolvidas nos assuntos que estão desalinhados com as nossas agendas (autoridade do Estado e das funções públicas, liberdade religiosa, etc.).
Pessoalmente acho que toda a gente tem o direito a usar os insultos que quiser (sejam racistas, homofóbicos, contra a autoridade da polícia, a religião, o que quer que seja), porque insultos são palavras, tal como a vítima dos insultos tem o direito a reagir a esses insultos da forma que entender (um murro no insultador pode perfeitamente ser admissível).
O que não há é o direito a agir discriminatoriamente contra alguém, prejudicando-o, seja qual for o factor de discriminação que se escolha.
O que Ventura tem feito é explorar as vezes em que Tavares e Martins diminuem a dignidade dos árbitros dizendo que o jogo está viciado, o que lhe permite cavalgar o ressentimento dos que preferem atribuir aos árbitros as suas derrotas, para não ter o trabalho de treinar mais e melhor.
O que sempre me ensinaram é que quem não confia no árbitro, não joga e eu cá esperarei (sentado) para ver Tavares a defender a dignidade dos árbitros que são permanentemente insultados com a mesma instransigência com que defende (e bem) a dignidade de Marega.
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