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O caso das golas nem é especialmente chocante nem sequer é o primeiro caso nebuloso à volta dos dinheiros da protecção civil.
Mais que isso, o que tem vindo a ser descrito é apenas o que toda a gente sabe que é a realidade da gestão intermédia na administração pública, em especial na administração que interage com as organizações do bem (segurança social, bombeiros, ONGs e por aí fora) e a administração que administra em permanente estado de emergência e urgência (protecção civil, fundos de apoio de emergência e por aí fora), em que as regras do Estado são preteridas em nome de um bem maior, seja por normas excepcionais, seja pela vulgaríssima prática da administração pública entregar dinheiro a organizações privadas (como bombeiros, ONGs, misericórdias, associações de solidariedade várias, SOS racismo, fundação para as telecomunicações, fundação da prevenção rodoviária, associações de desenvolvimento local, e tutti quanti) para que o gastem nos fins que o Estado pretende, mas sem o incómodo das regras que se aplicam aos gastos públicos.
"Veja lá se conhece mais duas empresas para consultarmos para lhe podermos adjudicar isto" é do mais trivial que se ouve no país inteiro.
E isto tem duas origens centrais: 1) uma lei que é estupidamente restrita nos formalismos, mas mais que deficiente na transparência e avaliação sucessiva; 2) uma cultura instalada de jeitinho que é praticada por responsáveis de todos os partidos, incluindo os que não têm partido nenhum (se dou este exemplo do PC não é porque o PC seja mais ou menos permeável a isto, é porque há muita gente que acredita na superioridade moral do PC nestas matérias, tal como há muita gente que é incapaz de ver a menor sombra de nepotismo no facto da filha de Francisco Louçã ser assessora do grupo parlamentar do BE).
Sócrates não foi o que foi por acaso, Sócrates foi o que foi porque compreendeu muito bem o contexto em que estava e sabia que o método é pegar num presidente de câmara, fazê-lo membro do governo, permitir-lhe que contrate um rapaz lá da terra que resolve problemas em vez de complicar e, se a coisa der para o torto, ainda serve de fusível. Lá mais para a frente se lhe pagará o favor de se manter calado.
Isto só é possível numa sociedade que desconhece que tarefas se delegam, mas as responsabilidades ficam com quem delega.
O PS funciona assim, e está em vias de ganhar as eleições, porque o país se reconhece, quer no rapaz esforçado e trabalhador que vindo de uma pequena vila do fim do mundo se consegue encaixar na corte, quer no cortesão que não esquece os amigos e o apresenta à corte, quer no rei que finge nada ver, nada ouvir e nada saber, "que o tipo pode ser intruja mas é esperto".
Cada voto no PS (e, já agora, em Rui Rio) é uma manifestação de confiança e contentamento nesta forma de ser, de olhar para a coisa pública e para os impostos.
A demisão do adjunto é apenas o resultado de alguma coisa ter corrido mal, ao contrário do habitual e será absolutamente irrelevante para o que vier amanhã.
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