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Perante o encolhimento das esperanças de Costa (António), a Sic de Costa (Ricardo) desespera e esmera-se.
Há dias, uma repórter da Sic junto da campanha do PSD, assegurava que as campanhas de rua não tinham qualquer contacto com os populares, era só comitiva, embora ela enchesse as ruas; no mesmo telejornal, um repórter da Sic junto da campanha do PS garantia que «dezenas de pessoas» tinham acorrido a ouvir Costa (António) em Olhão, «o PS em peso», dizia o repórter.
Sábado, no jornal das 20, a repórter junto da campanha do Chega elegeu como ponto alto da manifestação de rua subir ao andar onde vivia a menina que tinha gritado «fascista» a Ventura, e entrevistá-la.
Outro anãozinho da Sic junto da campanha do CDS elegeu insistentemente como foco do dia saber onde estava o Telmo, o Adolfo e mais quem ele lembrasse. E perante a presença de Manuel Monteiro, admoestou que Monteiro estava ali a apoiar Francisco Santos sem que, imagine-se, Francisco Santos soubesse.
No mesmo jornal da Sic, o anãozinho que segue a campanha do PSD elegeu como grande acontecimento do dia o facto de Rui Rio ter sido criticado por Rui Moreira; e algum escalão mais alto decidiu que era importante entrevistar Moreira no telejornal para que dissesse mal de Rio.
De forma que é isto que passa por informação na Sic, a qual tem ainda o descaramento de ter um programa que se imagina capaz de denunciar propaganda e falsidades. Com isto contou Costa (Anónio) durante anos. É com isto que a direita deve contar, esteja na oposição ou quando governe.
José Mendonça da Cruz
Os programas de debate futebolístico à segunda-feira nos canais de notícias vêm-se tornando numa autêntica aberração imprópria para crianças e gente civilizada - caio lá demasiadas vezes nos meus zappings à procura de notícias depois do jantar e fujo quando a coisa azeda, que nunca demora muito tempo. Na busca de audiências, que o mesmo é dizer, transpondo para a discussão verbal o mais básico fanatismo das claques, a conversa descamba com demasiada frequência para a insinuação e o insulto, que propicia cenas de algum embaraço quando a ténue fronteira do descontrolo emocional ameaça desabar entre os oponentes.
Sou do tempo em que no Sporting se debatiam fórmulas de atrair a família, nomeadamente senhoras e crianças para as bancadas do estádio, mas receio que o percurso feito nos últimos anos pelos clubes, através de políticas de comunicação extremamente agressivas, vem sendo inverso: a seguir a cada jogo, no espaço público que vai entre as televisões e as redes socias, toma lugar uma batalha verbal com pouco compromisso com a verdade e ainda menos com a boa educação. Voltando às televisões, desconfio que os responsáveis dos programas, que se não são os primeiros responsáveis, são cúmplices activos, estão simplesmente esfregando as mãos expectativa duma cena de descontrolo ou até de pugilato que exponencie as audiências, que por um dia catapulte o seu programa para os píncaros da popularidade, como se de um radical reality show se tratasse. Veja-se o caso do “Prolongamento” na TVI de ontem em que José de Pina e Pedro Guerra despudoradamente perderam a compostura (presumo que seja habitual).
Acontece que sou um amante do futebol, que preza a rivalidade acesa dentro das quatro linhas, transposta para as bancadas dentro dos limites mínimos das salutares regras de civilidade. Não compreendo que se critiquem os jogadores ou os espectadores quando se descontrolam e se aceite passivamente que esse jogo perigoso seja extrapolado para a televisão com um discurso que toca as raias do irracional como se fosse legítimo.
Sou do tempo em que as televisões e o jornalismo tinham pretensões pedagógicas e sabiam o seu papel na sociedade. Não me parece que a busca de audiências justifique um espectáculo tão indigno quanto aquele que se vê nos serões das segundas-feiras por essas TVs.
Publicado originalmente aqui
Pelo que vi em duas horas de noticiário da SIC Notícias que passei em "F. Forward", o que de mais importante que marca a agenda do país é a sova que um adolescente levou há dois meses e a (in) competência dos árbitros de futebol. Só faltou o comentário do professor Marcelo, mas com a pressa deve ter-me escapado.
Estes tempos de férias serviram também para conhecermos “Vera”, uma série policial britânica da ITV estreada em 2011 agora em transmissão na Fox Crime, que para quem procura descansar dos cânones estéticos da TV norte-americana constitui uma lufada de ar fresco. A boa qualidade da fotografia é pedra angular nesta série que nos surpreende e desvenda a paisagem rude e enregelada de casario cinzento, de terras áridas e o mar bravio de Northumberland, condado que faz fronteira com a Escócia no nordeste de Inglaterra. Como o nome indica, a série composta por longos episódios de cerca de 90 minutos, é protagonizada pela dedicada inspectora Vera Stanhope (Brenda Blethyn), uma solitária cinquentona de mau feitio e com uma singular aversão por crianças. Apesar disso a personalidade severa e inquieta de Vera consegue (às vezes) cativar-nos com seu olhar generoso, e tem como contraponto, o assistente Joe Ashworth (David Leon) o seu braço direito que vive dividido entre a absorvente profissão e o apelo da sua jovem família que já conta com três rebentos.
Se ao princípio estranha-se, “Vera” lentamente entranha-se-nos: trata-se de uma complexa e enigmática narrativa que decorre em ambientes tensos, plenos de humanidade e desassossego; histórias que percorrem sem pudor as margens mais sombrias do caracter humano. A cerrada pronúncia das gentes quase torna imperceptível o inglês que nos habituamos a ouvir tão elegante nas produções britânicas. Ela condiz com a paisagem agreste do norte bravio e encadeia-se bem com uma banda sonora criteriosa que acentua os inquietantes silêncios. E depois, há aquela avara beleza que se vislumbra na paisagem e nas personalidades complexas, que adquirem a espaços uma luminosidade tensa e apaixonante. Como a vida real.
Informam-me que José Alberto Carvalho terminou o Telejornal da TVI em directo do novo Museu dos Coches ao lado do Landau do Rei Dom Carlos a citar o testamento do Buiça, louvando o facto de ele saber que ia dar a vida pelo futuro dos seus filhos na defesa dos "valores republicanos" ao assassinar um Chefe de Estado constitucional e o Príncipe Real (por sinal marido e filho da Rainha D. Amélia fundadora daquele Museu).
Ainda há quem acredite na evolução da humanidade. Tenho o estômago revirado.
PS.: Como seria de esparar, mais de cem anos depois ainda usufruimos (com garbo) dos nossos históricos desvarios, e Portugal é orgulhsamente um dos países mais pobres e desiguais da OCDE.
PS.: 2 Correio Azul
Há dias, na televisão, uma repórter questionava os transeuntes sobre o estado do país em matéria de liberdade. A páginas tantas, interpelando um estudante que passava, pergunta:
- Acha que há liberdade em Portugal?
- Não vou responder.
- Mas porquê?
- Porque não vou responder.
- Mas não responde porque acha que não tem liberdade para dar a sua opinião?
- Não respondo porque acho que VOCÊS não têm liberdade para a interpretar com correcção.
Se os mórbidos personagens animados "Itchy e Scratchy" da série de TV preferida pelos irmãos Lisa e Bart Simpsons por sua vez também fossem fans de desenhos animados, estou em crer que as suas séries de eleição fossem “O Incrível Mundo de Gumball” ou “Titio Avô” do Canal Cartoon Network. Parece-vos estranha esta cogitação? Façam então a experiência de ver dois ou três destes episódios no canal 47 do cabo e, se ainda tiverem capacidade para tal, espantem-se com a imbecilidade a que podem chegar os enlatados pseudo-artísticos para amestrar crianças retidas em casa.
Sabia que os antigos episódios da Rua Sésamo foram recentemente reclassificados para adultos por causa dos excessos do Monstro das Bolachas, que na sua nova encarnação “politicamente correcta” foi recriado como o "Monstro das Frutas e dos Legumes"? Agora a insolência substituiu a irreverência como tónico para cativar a criançada: na actualíssima série americana “O Incrível Mundo de Gumball”, onde todos os personagens têm aspecto de pastilhas elásticas mastigadas, impera o multiculturalismo. A família é composta pelo pai Richard, um coelho cor-de-rosa (segundo o site oficial) absolutamente idiota e histérico que contracena com a encantadora Nicole, a mãe atenta e reflectida (como se exige na cartilha da igualdade de género) e a Anais, a irmã mais nova de Gumball, que sai à mãe e é a inteligência em pessoa. Há depois ainda o Darwin, o animal de estimação da família que tem pernas, braços e usa meias e que mais tarde vim a perceber tratar-se dum peixe, o companheiro de aventuras de Gumball, o herói da série que é suposto cativar as nossas criancinhas e cuja burrice a par com o atrevimento o atiram para os mais improváveis sarilhos. Podia-vos aborrecer mais um bocadinho a falar de outras personagens como a professora do Colégio, Lucy Símio, uma assustadora macaca velha em forma de esqueleto que reprime e atormenta os seus alunos, em especial o protagonista principal Gumball, que como vos disse atrás deve pouco à inteligência. Um perfeito "herói" à medida do espírito dos tempos.
Sobre a série "Titio avô", digo-vos que se lá encontrarem alguma relação com algo de plausível na vida real será pura coincidência: o Titio avô apesar da cara de labrego é "amigo de toda a gente", viaja fora do tempo e do espaço numa casa enorme com rodas e de incríveis faculdades. Os seus principais companheiros de aventuras são Gus o homem Dinaussauro, o Steve que é nada menos que uma vaidosa fatia de pizza de óculos escuros e finalmente o não menos extraordinário "Tigre Realista Gigante Voador" (uma fotografia estática), o aliado deste herói para as batalhas mais surrealistas.
Perante o fascínio que tanta fealdade e parvoíce exercem sobre a criançada, tranquiliza-me o facto de milhões delas terem dado certo apesar de criadas em ambiente de guerra ou de pobreza. Por isso desconfio que a geração do meu filhote, com mais ou menos mazelas e peripécias, irá também medrar apesar de tudo. De resto, como é evidente, aquilo que é mesmo impróprio e uma ameaça para a formação dos nossos infantes mimados é Monstro das Bolachas.
Já por diversas vezes abordamos as virtudes e virtualidades das redes de media-social no âmbito da facilitada tarefa de auto-edição, seja em texto, imagem ou audiovisual, e a ameaça que essas plataformas vêm representando para os media tradicionais de quem acabam por ser concorrentes.
Um dos mais bem-sucedidos casos é sem dúvida o Youtube que, com enorme sucesso global, vem desviando público e receitas publicitárias às televisões, através de uma radical alteração de paradigma na produção e distribuição de conteúdos, que desta forma vem sendo democratizada de forma dramática.
Irónico é verificarmos como os media tradicionais, apesar de pressionados com a queda das receitas publicitárias de um modelo claramente em declínio, resistem aderir à web 2.0, agora que vivemos a web 3.0, ou “web semântica”, virada para a experiência de utilização e para os condicionalismos do meio (localização do utilizador, equipamento utilizado, design líquido, etc.).
Feita uma análise aos “players” de internet das principais operadoras de TV nacionais, para lá de não estarem devidamente adequados aos dispositivos móveis, é curioso verificar como persistem na tentação de segurar o visitante dentro dos seus pesados websites, talvez devido a alguma absurda política de branding, ou quem sabe por um inadequado modelo de exploração publicitária ou de cross selling do material neles disponibilizado numa coerência editorial própria.
Com esta estratégia de custos incalculáveis, a disseminação viral dos vídeos é reprimida, coisa que não parece fazer sentido, a partir do momento que é tão fácil reproduzir a fórmula do Youtube, em que cada “filme” é rentabilizado por um anúncio nele integrado, estando o mesmo munido de um sistema de análise estatística e de botões emissores de códigos para facilitação de partilha em diferentes contextos web externos, como blogs, sites, e toda a sorte de redes sociais. Mesmo aqueles sites como o da RTP que disponibilizam botões de partilha, exceptuando o caso do código para o Facebook, exigem a contextualização do conteúdo “dentro de portas” através de um URL.
Esta estranha política, que não sendo causada por limitações técnicas, só se explica por uma enorme dificuldade dos media tradicionais fazerem o "paradigm shift" (mudança do paradigma), fenómeno que afinal vem potenciar toda a pirataria feita pelos utilizadores das plataformas social media como o Youtube, que pelas razões já enumeradas permitem potenciar a viralidade desses conteúdos dando-lhes asas.
Certamente que o factor de custos mais pesado na indústria do audiovisual é a criação de conteúdos. Ou seja, os grandes grupos de comunicação desenvolvem e possuem a matéria-prima, para depois descurar a sua difusão, e por consequência na sua rentabilização. Fará sentido resistir assim teimosamente até à morte, ou será que ainda pretendem um dia destes reivindicar subsídios ao Estado?
com Hugo Salvado
Publicado originalmente aqui
A exploração de um canal temático de televisão contém riscos e potencialidades que exigem uma gestão muito profissional, mais a mais no âmbito da indústria do futebol, tema que como sabemos “comove” milhões de adeptos e move milhões de euros.
No que diz respeito a um canal explorado por um clube “a solo” concorrendo no mercado da televisão em regime de “pagar para ver”, por muitos e bons conteúdos que se contratualize em exclusividade, os seus riscos aumentão exponencialmente, porque o sucesso estará sempre restrito ao número dos seus apoiantes com entusiasmo e meios para o subscrever. Nesse sentido, o êxito da empresa será sempre refém do sucesso desportivo do emblema. Ou seja, a somar aos exigentes desafios duma boa gestão operacional e comercial, o projecto arrisca-se a ser comprometido por uma bola no poste, um fora de jogo mal assinalado ou a má forma de um atleta. Se a vertigem da sorte é a alma de qualquer jogo, essa característica pode ser mortífera para um projecto empresarial. Também por isto temo que o Canal Benfica resulte num mau negócio.
Publicado originalmente aqui.
"Novos comentadores" na SIC e SIC Notícias, diz o título. Quem são os "novos comentadores"? Marques Mendes, Jorge Coelho, Bagão Félix, António Vitorino e Francisco Louçã.
Isto a mim parece-me uma aposta muito arriscada. São demasiadas novidades ao mesmo tempo para Portugal, não sei se o País aguenta.
É agora: a RTP tem nova administração, a privatização e a concessão já foram à vida, já podemos com segurança começar a discutir o serviço público.
Acho que as coisas estão maduras para que alguém, com toda a frontalidade, venha finalmente dizer a verdade que os portugueses ainda ignoram: concursos, talk-shows, casamentos reais, "prós e contras" no Convento do Beato e muito futebol são todos imprescindíveis no serviço público de qualidade que o País merece. E não esquecendo que programas em que as estrelas da TV "ajudam instituições que necessitam de ajuda e apoio" a fazer "remodelações", "com o instinto de solidariedade no ar", irão "reforçar esta aposta no serviço público de televisão".
O amplo debate que se espera gerar na sociedade portuguesa deve ter por base o princípio de que ninguém, na RTP ou fora dela, pode ficar de fora do serviço público.
É curioso como o editorial de hoje do Público sobre o imbróglio da reforma da televisão pública, dedica todo o primeiro parágrafo a um exercício de sentimentalismo nostálgico, na recordação da velha televisão a preto e branco, a enternecedora mira técnica ou até as adoráveis avarias técnicas que se justificavam com o slide de pedido de “desculpas por esta interrupção”. Esta abordagem é indicadora como o tema se entorna tão facilmente e a discussão se embriaga num processo de total irracionalidade. Talvez em consequência disso não é de estranhar que os mesmos que nas redes sociais vituperam os vícios do regime, reclamando por uma nova ordem e transparência defendam o status quo duma RTP que desde da sua fundação assumiu o papel de guarda pretoriana dos regimes que se sucederam e que nos trouxeram por este caminho.
Acontece que também eu prefiro um modelo de serviço público de televisão, cujas audiências suspeito dificilmente descolariam dos 3% do canal dois, inviabilizando-se assim a sua exploração comercial. Deste modo, “a minha RTP” teria que se cingir às receitas da Taxa de Audiovisual e sem mais recursos promover na sua grelha reportagens, noticiários e debates isentos; e preencher o horário nobre as melhores produções de música, teatro e cinema mundiais. Enfim, um capricho meu, uma utopia.
Finalmente, parece-me que este debate não deveria evitar o verdadeiro busílis, que julgo esteja na origem da excitação que o assunto provoca nos principais operadores televisivos e respectivos grupos de média: o imparável declínio do actual modelo de distribuição de conteúdos, mais desastroso na televisão generalista, e a notória incapacidade deles se adaptarem às novas fórmulas de consumo. Para o bem e para o mal, a geração dos nossos filhos universitários já não se senta a ver televisão. Na internet ou nos canais temáticos, pesquisam, assinam e consomem os conteúdos, os filmes, séries e músicas que lhes apetecem a cada momento: não há mais como se lhes impingir qualquer menu pré-estabelecido, de lhes vender uma verdade. E isso é bom.
Publicado originalmente aqui:
Neste caso da televisão, apesar de tudo, há uma coisa que me deixa descansada: ao contrário dos pilotos da TAP ou dos médicos do SNS, nunca iremos assistir a uma greve dos jornalistas da RTP.
Frente-a-Frente no Jornal das Nove da SIC-Notícias: António Capucho e Francisco Assis. Meia hora de comentário vazio, clichés e banalidades, onde se destacou Capucho a repetir a muleta do dia, a palavra "terapêutica" (contei seis vezes).
Frente-a-Frente no Jornal das Dez: Francisco Sarsfield Cabral e Helena Garrido. Meia hora de análise séria, informada, tranquila e objectiva com dois excelentes jornalistas especializados em economia.
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