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Anda tudo às avessas. O conservador George W. Bush, nos Estados Unidos, acaba de proclamar a sua aversão ao mercado livre enquanto o socialista Gordon Brown quer impor a semana de trabalho de 65 horas à União Europeia. Tempos de diluição de crenças, de nevoeiro ideológico. Os parâmetros políticos tradicionais estão cada vez mais pulverizados. Sejam bem-vindos ao admirável século XXI.
No Cinco Dias, um dos blogues mais empolgados pela crise na Grécia, já não se faz a coisa por menos: escreve-se democracia entre aspas, compara-se Sócrates a Bush e aponta-se o dedo à ministra da Educação como eventual detonador de "respostas à grega" - isto é, um bando de energúmenos a partir tudo quanto encontram à frente contra o salário que é baixo e o consumismo que é alto, o que não faz qualquer sentido mas é quanto basta para suscitar o entusiasmo da extrema-esquerda cá do burgo. Repare-se no que escreve o Carlos Vidal, reincidente neste seu asco ao sistema democrático: "Em Portugal, o “bushismo” acéfalo ainda é válido, infelizmente: Sócrates, como Bush, é popular e pode ganhar duas vezes - como Bush, exactamento do mesmo modo! É a democracia que decide, como se diz? Será? Poderá o socratismo quedar-se impune? Não haverá antes um rastilho que despolete uma crise, não à grega mas à portuguesa (cada caso, digamos, é um caso)? Poderá ser a política educativa e a sua chefia esse rastilho? Não acho improvável. E julgo que a “democracia” não me impede de dizer estas coisas: uma ministra à grega pode pedir respostas à grega."
Se o Carlos Vidal andasse mesmo preocupado com o sofrimento e o desespero alheios, olhava para um pouco mais longe do que a Grécia. Para o Zimbábue, por exemplo, onde já mil pessoas morreram de cólera por não terem sequer acesso a água potável, enquanto o ditador Mugabe procura negar o que a Organização Mundial de Saúde confirma. Em Harare haveria bons motivos para os jovens em fúria partirem montras. O problema é não haver lá montras para partir.
A extrema-esquerda extra-parlamentar não desiste de derrubar na rua o Governo grego, sufragado nas urnas. Ainda para mais com o cínico pretexto de vingar a trágica morte de um adolescente morto por um polícia, o que não justifica um só dos múltiplos actos de vandalismo já cometidos em Atenas e que ameaçam, por mero efeito de contágio, incendiar outras capitais europeias. Como já aqui referi, é totalmente inaceitável que a rua se substitua ao voto: os extremistas não podem contar, em circunstância alguma, com o apoio de quem acredita nas virtualidades do sistema democrático. Os que encolheram desplicentemente os ombros quando viram o Reichstag a arder em 27 de Fevereiro de 1933 foram tão culpados pelo crime de lesa-democracia como os que lhe lançaram fogo.
Lá, como cá, a intenção é a mesma: derrubar pela pressão da rua governantes sufragados nas urnas. A diferença é que lá são os alunos a fazer isso, partindo tudo quanto encontram pela frente, e aqui são os sindicatos dos professores a declarar guerra ao Governo, como se estivessem dispostos a assaltar o Palácio de Inverno. É preciso dizer sem sombra de ambiguidade: tudo isto é inaceitável. Tantos as pilhagens da racaille em fúria como a linguagem bélica das "vanguardas" sindicais, ao melhor estilo leninista. Em democracia, os governos derrubam-se pelo voto - não se derrubam pelas acções de "massas", por mais que consigam encher as avenidas.
... É tempo de lembrarmos as advertências meteorológicas que foram sendo espalhadas no início de Junho, dando origem a notícias alarmistas, sobretudo nas televisões. Dizia-se que o Verão de 2008 podia ser o mais quente de sempre. Aqui e aqui, por exemplo, não faltou esse tom convicto e empolgado, com a inevitável caução "científica" que fez muitos correr às lojas para comprar aparelhos de ar condicionado enquanto vários outros sofriam antes do tempo, imaginando-se já com falta de ar, à boa maneira lusa. Nós, portugueses, adoramos sofrer por antecipação.
A táctica é conhecida: espalhar o medo, semear o pânico. Com assuntos de magna importância, como a "grande vaga de crimes", as "doenças do século" ou os "acidentes em série". Se não houver motivo para pânico, as notícias "não vendem". Toca lá, portanto, a apimentar a coisa. Depois logo se vê...
E o que se viu? Apenas isto: há muito não tínhamos um Verão tão fresco como este. As inabaláveis certezas "científicas" emigraram para parte incerta. Até ao próximo rumor, que pode acontecer já em Novembro. Talvez com a "previsão" de que virá aí o Inverno mais rigoroso de que há memória.
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