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Da sexualidade humana

por João Távora, em 26.04.16

Quando em 1970, em plena revolução sexual o Padre Henri Caffarel, fundador das Equipas de Casais de Nossa Senhora (um movimento católico de espiritualidade e catequese conjugal) planeava uma audiência no Vaticano e propôs ao Papa Paulo VI um discurso sobre “o sentido humano e cristão da sexualidade”, para o qual concebera com o seu grupo de casais um documento de mais de trinta páginas, a resposta obtida de Sua Santidade foi de que “não poderia aceder ao seu desejo por não estar a questão suficientemente amadurecida”.

Se este pequeno episódio é sintomático das dificuldades que a Igreja Católica demonstrou ao longo dos tempos em lidar com o tema, a questão que aqui me traz hoje é se a sexualidade humana alguma vez poderá ser um assunto de fácil abordagem. Não será um mero acaso que o fascínio exercido pelo tema seja proporcional ao da sua complexidade, e sabemos como o assunto vende papel e propicia muitos cliques na internet, mais ainda se a abordagem for simplificada com lugares comuns ou reduzida ao prisma da genitalidade, despertando fantasias e apelando ao voyeurismo.

Acontece que a sexualidade humana será sempre um tema extremamente sensível e intrincado, pleno de subjectividades, como que um enigma, sempre sujeito a reserva e constrangimentos, tanto mais que na sua essência reside ao mesmo tempo a mais sublime realização do Homem no reencontro com a sua outra parte, e os instintos mais básicos, de avidez, dominação e de violência. Assim justificam os antropólogos como ao longo da história as sociedades nunca tenham descurado uma forte regulação na implementação de “restrições sensatas” por forma a precaver a propagação de “paixões descontroladas” com enorme potencial de desestruturação das comunidades e dos seus equilíbrios.

Já do ponto de vista da intimidade da pessoa, da sua história na acumulação sucessos e insucessos de experiências afectivas mais ou menos conscientes ou inconscientes, mais ou menos felizes ou traumáticas, condicionarão sempre uma perspectiva inteiramente descomplexada do assunto: a vivência da sexualidade é, para salvaguarda dos equilíbrios de cada pessoa, um território tão delicado e íntimo quanto será naturalmente sujeito a algum recato. Estranhamente – ou não - uma vivência dos afectos submetida a valores éticos, estéticos e espirituais, constitui hoje em dia uma perspectiva obsoleta e esconjurada, em nome da “liberdade individual”.

Mas acontece que, sob o risco duma total incompreensão por parte dessa cultura vigente, profundamente hedonista e individualista, a Igreja não podia continuar a ignorar que as relações amorosas se estabelecem e também se alimentam através duma mistificação positiva do sexo, da expressão dum “egoísmo saudável” – manifestação duma incompletude e de uma estética eminentemente erótica. Se bem que o amor cristão se define essencialmente na capacidade de doação por um bem maior, pela mesma lógica essa entrega só será fecunda na assunção do exercício de receber, no assumir salutar do seu sentimento de incompletude dirigido ao ser amado. Quem como eu tem filhos adolescentes entende bem a carência desta perspectiva talvez mais primária mas profundamente estruturante, e da premência de uma mensagem que encontre eco no Pátio dos Gentios - ou “nas margens”, como lhe chama o Papa Francisco, onde se encontram as pessoas divididas entre a busca dum conforto existencial sólido e o impacto da estética de absoluto individualismo, do “culto do eu” como primeira e última medida de todas as coisas.

Assim, é com satisfação que se verifica que a assunção da dimensão erótica do amor vem sendo assunto desbravado pela hierarquia da Igreja Católica pelo menos desde as catequeses de João Paulo II sobre a Teologia do Corpo, tema posteriormente continuado por Bento XVI na sua encíclica “Deus Caritas Est” diversos documentos. Nesse sentido a Exortação Apostólica "Amoris laetitia" recentemente dado à estampa é uma corajosa abordagem do Papa Francisco ao tema da sexualidade, da expressão humana do Amor em toda a sua complexidade, numa perspectiva do projecto de realização cristã da existência: a busca da plenitude (ou santidade). Num discurso que sobrepõe a misericórdia ao moralismo e em sentido absolutamente contrário à vulgaridade instituída pela adolescentocracia da nossa sociedade de consumo.

 

Publicado originamente no jornal i

Adriana Lima daqui

& coisa nenhuma

por Vasco M. Rosa, em 20.10.11

 

Escritores de quinta categoria (entre eles Rui Zink, Patrícia Reis e Inês Pedrosa, todos umas finas estampas do melhor, pulsando sensualidade a rodos!!) palrearam há dias num restaurante dito de luxo sobre Sexo e Literatura. Parece que se anunciou com & para ser até mais picantemente contorcionista! Aquilo fica mesmo diante da prisão penitenciária, o que me sugere dizer que nem cumprindo as mais duras penas, de pesada corrente nos tornozelos, eu assistiria a tão ignóbil certame. É que a erudição literária desta gente, mais perfumada que o melhor dos vinhos, é reconhecida por todos!!!

 

*Fotografia do blogue de Eduardo Pitta, também participante.

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Sexo, e então?!

por João Távora, em 07.10.11

 

Nas férias que há pouco terminam, o meu pequenito e eu fizemos uma descoberta: o Zig-zag, um programa infantil do Canal 2 do Estado com uma original oferta de animações de diferentes origens. Parecia-me uma boa solução para fugir à preponderante produção norte-americana que também consegue atingir a mais confrangedora vulgaridade plástica. Até que um dia destes, num intervalo da série “Jerónimo Stilton” cujo genérico aprendemos a cantar os dois, apareceu uma reportagem sobre uma iniciativa do Pavilhão do Conhecimento,  a exposição “ Sexo e então?!”. Atónito, na convicção de que aquele assunto ultrapassaria o entendimento duma criança de quatro anos, assisti a alguns minutos duma visita guiada pelos mais espantosos maquinismos, jogos e figurações sobre os órgãos usos e práticas, tudo na perspectiva de desmistificar o relacionamento sexual nas mais inventivas recriações. Nessa noite ao jantar o miúdo balbuciou uma estranha pergunta com referência a facas que saíam da boca e se espetavam noutra cabeça. Perante o espanto geral, eu relacionei a descrição com um mecanismo apresentado na rubrica televisiva que consistia em duas cabeças de criança frente a frente, com colossais bocas abertas donde saíam enormes línguas que manipuladas como fantoches pelos petizes penetravam a outra boca, numa atroz caricatura de um beijo.

Tenho para mim que entre o arcaico preconceito puritano, com raízes na ancestral (e bem-sucedida) cultura europeia de controlo de natalidade e a banalização do sexo como mero “apetrecho de prazer consumista” há um enorme território de bons princípios que não são reconhecidos pelo Estado que sustento com os meus impostos. É nesse sentido que considero meu dever formar e proteger os meus filhos desta catequese adolescentocrática que sobrevive aos diferentes governos cuja trágica impotência “ideológica” os limita ao “pragmatismo” da medíocre gestão económica da coisa pública. Enquanto isso, resta-nos erguer muralhas em torno das nossas comunidades familiares e construir "arcas" que resistam ao dilúvio da escura noite civilizacional do ocidente cujo mais elementar bom senso nos deveria fazer temer. 

 

Imagens daqui

Humor Negro

por Maria Teixeira Alves, em 18.05.11

 

Aproveito para dizer que adoro o sistema judicial dos Estados Unidos. DSK, quando se apercebeu que ia ser denunciado pela vítima, e conhecendo a eficiência da justiça norte-americana, fugiu a todo o gás para o aeroporto, deixando tudo para trás. Sabia que assim que deixasse o solo norte-americano estaria salvo. Mas a NYPD foi apanhá-lo dentro do avião.

Agora vêm os franceses, reflexo de uma Europa que apodrece num sistema de justiça frouxo, com uma teoria da conspiração: como se a violação de uma mulher de 32 anos não passasse de uma cabala política para Sarcozy ganhar as eleições.

É preciso pensar na justiça em Portugal, que não consegue condenar ninguém.

É tão difícil prender ou condenar um criminoso em Portugal (e nesta Europa), porque a lei exige tantas provas, tantas evidências e tantas confirmações (há uma obsessão com tolerância), que se torna impossível. E sinceramente espanta-me que não haja mais crimes em Portugal.

Em detrimento da designação de sexo, a prosaica condição biológica diferenciadora do homem e da mulher, vem vingando a “ideologia do género”, fundamentado nos gostos sexuais, um conceito que alguns pretendem plasmado na Constituição da República: onde é consagrada a igualdade entre “homem e mulher”, passaria para igualdade dos (muitos) “géneros”. Eu bem devia ter desconfiado no que isto ia dar, quando nos anos 70 a moda do falsete chegou à música POP. A seguir urge corrigir os milénios de alienação e preconceito, fundindo ou desmultiplicando os obsoletos balneários, camaratas e WCs equivocamente divididos em femininos e masculinos segundo a nova ordem, finalmente liberta do jugo da biologia.

 

Hoje é dia Europeu das Disfunções Sexuais*

 

* Preciosa informação obtida através da inefável Marta Crawford no Jornal I

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Nós homens, eternos incompreendidos

por João Távora, em 13.12.09

 

 

Aos Sábados a coluna semanal de Marta Crawford preenche a quota de “revista Maria” do jornal I, um inalienável direito que os seus diligentes leitores já não prescindem. A cada semana, o bom conselho da sexóloga revela-se uma irresistível e atrevida lição de cidadania sexual, para bem e felicidade do povo ignoto.

Na sua mais recente crónica a psicóloga desvenda-nos a sua última descoberta, pura ciência descortinada no seu consultório, pelo testemunho dos seus doentes: afinal o “macho homem” não é o grunho egoísta que todos conhecemos, antes pelo contrário até por vezes se preocupa com o prazer da sua parceira: ele tem muitas erecções ao longo do dia sem que tenha necessidade imediata de sexo, ou fique "doente" se não puder ejacular,  afinal sabe muito bem gerir a sua excitação e, imagine-se, “quer” amar a sua parceira e que no fundo lhe desgosta o sexo ou o amor “vividos unilateralmente”. As coisas que se aprendem num consultório... 

Enfim, eu que como é bom de ver sou uma besta, confesso que pensava serem os homens saudáveis uns predadores insaciáveis, que só não ejaculam várias vezes por dia por limitações práticas ou morais.  Eu que pensava que um homem sadio, sendo capaz de praticar uns abnegados carinhozinhos,  jamais desperdiça umas fogosas cambalhotas se a coisa der. Espantoso é verificar como afinal nós os homens de tanto amar acabamos tão incompreendidos. Certamente para a semana Marta Crawford vai esclarecer-nos sobre o que é Amor, e pode ser que me surpreenda. 

 


Corta-fitas

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