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A razão por que sou pessimista em relação ao futuro do meu país é que depois de a troika se ir embora com as contas saldadas, o que, se tudo correr bem, ocorrerá já neste século, o pais continuará infestado de portugueses.
Deus sabe que eu gosto tanto de Salazar como de martelar dedos. Faço essa declaração de desinteresse para me pronunciar, leia-se, desabafar, sobre a recente iniciativa da Câmara de Santa Comba Dão de registar a marca «Salazar» para vender vinho e chouriço.
A coisa é irónica. Eu, se fosse do Bloco de Esquerda, estaria radiante. Qualquer esquerdista do rectângulo tudo deve fazer para denegrir o ditador. E haverá melhor maneira de denegrir alguém que pôr a sua memória a vender chouriço?
Só que. Estamos em Portugal, desembocado directamente das trevas, lá está, salazaristas, para as trevas ianques. Dos ranchos folclóricos, do SNI, da Mocidade, para os recordes do Guinness. A maior feijoada do mundo, o maior bolo-rei, o reality show mais ordinário. Onde um chunga, se aparecer, parece fino, e cobra pelas aparições. Onde o Zé Castelo Branco sobe mais alto quanto mais baixo desce, e o Futre ressuscita do coma por dizer chinesices. Onde o Otelo acha que se devia derrubar o regime e ainda lhe respondem, e ainda lhe lavam a roupa, e tudo. Do Neolítico, ao fim de quase 40 anos de democracia, passamos directamente para o Paleolítico. E no Paleolítico vale tudo.
«A nossa é sempre uma perspectiva objectiva e histórica, porque os juízos de valor não têm de ser feitos pela autarquia, têm de ser as pessoas, os historiadores, os investigadores [a fazê-los]. Nós temos apenas de demonstrar a nossa convicção de que o que estamos a fazer é útil para o concelho e para a região. E se temos um vinho 'Memórias de Salazar' é porque sentimos que as pessoas procuram essa ligação quando nos visitam», disse o autarca. Que é do PSD, mas que é que isso interessa?
Caramba, um bocadinho de dignidade. Tenho amigos que admiram o ditador. Respeitam a memória de Salazar. Eu respeito-os, pese embora esse pormenor. O que não consigo é respeitar quem se vende, e à mãe, e a um morto-vivo pelo bem da sua terra. E vende a sua terra, só porque vale mais falarem mal de nós que não falarem. Pensem mas é porque fizeram a vossa terra tão insignificante que para venderem chouriços precisam de invocar o santo nome de um ditador. E não, quando digo a vossa terra, não me refiro a Santa Comba, ao concelho, à região, refiro-me a Portugal. Ah, e só mais uma coisa: escusam de registar raspadeiras e botas-de-elástico. Já estão.
"No meio de um povo de incoerentes, de verbosos, de maledicentes por impotência e espirituosos por falta de assunto intelectual, o lente de Coimbra (Santo Deus!, de Coimbra!) marcou como se tivesse caído de uma Inglaterra astral. Depois dos Afonsos Costas, dos Cunhas Leais, de toda a eloquência parlamentar sem ontem nem amanhã na inteligência nem na vontade, a sua simplicidade dura e fria pareceu qualquer coisa de brônzeo e de fundamental."
Fernando Pessoa lapidar recordado por Jaime Nogueira Pinto neste brilhante artigo do jornal i
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óptimo, pode alargar a área de fogo controlado par...
Maria,num terreno da minha família foi o Estado qu...
a ideia de que é impossível juntar várias parcelas...
Não sei responder
Se o pagamento é feito contra a demonstração de qu...