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Foi assim que tivemos o primeiro governo, desde 1975, que jamais enfrentou uma manifestação, nem paredes pintadas a mandá-lo embora. À direita, a crise e a tentação de colaborar é a mesma. Nunca a direita valeu tão pouco, nem mesmo em 1975. O PSD desespera do futuro do seu aparelho autárquico. O CDS foi arruinado pela facção que o dirigiu até ao ano passado. As fragilidades são tão grandes, que nem foram capazes de resistir à manobra socialista para, aproveitando a participação do Chega na nova maioria açoriana, tornar uma derrota dos socialistas num “problema” — da direita.
A ler a crónica de Rui Ramos desta semana no Observador
"A força política para que isso [confinamento] aconteça é muito grande. Basta ler os jornais que há dois dias pedem que tudo se feche. E esta é também uma forma de acalmar o medo que se foi instalando. Mas a eficácia do confinamento é muito baixa (...) A eficácia para evitar as mortes é muito baixa. E a mim o que me preocupa é evitar que as pessoas morram."
Como sabem não tenho qualquer interesse em votar nas eleições presidenciais, mas detesto que me fechem em casa. Façam o favor de ler esta entrevista Jorge Torgal, professor catedrático de Medicina, ao jornal Público.
(...) Era indiscutível: havendo um número grande de contactos entre agregados familiares e contactos mais prolongados, porque uma refeição de Natal demora mais tempo… As pessoas têm direito a fazer as escolhas delas, quiseram estar umas com as outras. Mas, mesmo que o aumento do risco fosse pequeno, como houve muitos encontros destes, naturalmente que ia haver maior possibilidade de ocorrência de infecções. O que estamos a ver desse ponto de vista é absolutamente esperado. Não é aceitável nem moralmente, nem eticamente, não é decente dizermos que isto é culpa das pessoas. As pessoas têm de viver. O que é mais dramático e inaceitável é criarmos esta ideia de que isto foi culpa das pessoas que não ficaram sozinhas em casa. E foram visitar o pai, o velho tio ou um irmão doente ou um amigo. Fizeram-no, porque são seres humanos e tenho a certeza de que a imensa maioria teve a preocupação de se defender a si e aos outros. É evidente que, depois, há uma espécie de caricaturas, umas imagens de gente muito jovem que se considera imortal, mas não é isso que é responsável pela infecção.
A ler a esta lumisosa entrevista a Henrique de Barros, e mostrem-na ao Miguel Pinheiro do Observador
"Se gosta de ter o penúltimo mais baixo rendimento bruto por hora de trabalho entre todos os países da Europa (4,6 euros – na Dinamarca são 19,2; no Luxemburgo, 15; em Espanha, 10; na Polónia, 8) e o penúltimo mais baixo poder de compra (dados Eurostat) vote socialista." Mas há mais 43 razões todas válidas.
(...) O Mamadou Ba que anseia por “matar o homem branco” é um cavalheiro culto e gentil que cita Fanon; o político de direita que pretende reformar a Segurança Social é um assassino bárbaro que conspira para assassinar os pobres. Tudo em nome das metáforas.
Ninguém tem o direito de esperar que a esquerda deixe de fazer isto. É o que lhe convém: inocentar os seus, e demonizar os outros. O que compete a uma direita democrática não é queixar-se e exigir à esquerda que abandone os seus critérios duplos: é não se deixar impressionar, pois se esses critérios funcionam, é apenas porque uma parte da própria direita, por medo ou conveniência, os adopta para distinguir, entre os seus, aqueles que têm direito ao título de “democratas” e os outros, que podem ser tratados como “fascistas”. A força do esquerdismo não vem da esquerda, mas da cobardia e do oportunismo da direita. E não, isto não é uma questão tribal, de equilíbrio entre clubes. É uma questão de pluralismo e de liberdade, porque liberdade e pluralismo não existem onde o debate está tão enviesado. Nunca chamarei a polícia, como é hábito fazer à esquerda, por causa do que alguém disser. Acho bem que Mamadou Ba seja um homem com liberdade para citar Fanon ou o que lhe apetecer. O que também acho, no entanto, é que Mamadou Ba não pode continuar a ser o único homem com liberdade em Portugal.
A Ler a crónica semanal de Rui Ramos no Observador
(...) O problema, parece-me, é que boa parte dos jornalistas e comentadores não quer observar a realidade; as pessoas deste meio falam e escrevem para outras pessoas do meio num circuito fechado e de esquerda. Ora, esta falta de honestidade intelectual era um problema em si mesmo, mas agora também é a causa de dois fogos políticos bastante graves. Primeiro, esta bolha elitista coloca em causa a autoridade dos media, porque é claro que as redações não conseguem ou não querem ver a realidade e, nesse sentido, deixam de ser a ponte entre o público e a tal realidade. Segundo, este jornalismo tão encostado à esquerda é ironicamente a maior arma da ascensão da extrema-direita, porque cria os ângulos cegos aproveitados por Trump e Le Pen. (...)
Henrique Raposo - Aqui no Expresso
(...) "Quando o pó pandémico assentar, temos de rever a nossa relação com os velhos. Por exemplo, as casas do futuro não podem ser apenas “verdes” e preocupadas com os ursos da tundra, têm de ser casas preocupadas com os nossos pais. As casas da cidade não podem ser pensadas apenas para a família nuclear, têm de ser pensadas para uma família mais alargada. A par desta mudança arquitetónica, precisamos de uma revolução moral: não podemos continuar a viver no pressuposto de que a velhice dos nossos pais não pode ocupar o nosso espaço, o nosso tempo e o nosso dinheiro."
Henrique Raposo hoje no Expresso
“O Triunfo da Morte“, Pieter Bruegel, “O Velho” (c. 1562), Museu do Prado, Madrid
(...) "Ora bem, eu vejo Paris amordaçada por esse lenço azul assético; penso nesta estética de bloco operatório que imprime o seu estilo por toda a parte; enquanto a epidemia parece estar sob controlo e, graças aos céus, nos encontramos longe das cenas infernais do início, com os hospitais a transbordar, os cuidadores extenuados e os velhotes abandonados ao seu azar de serem velhos, ouço os mestres da Opinião culparem os jovens por não se encontrarem em pior estado, os curados por não terem recaídas e os cidadãos infantilizados por se relaxarem; e não posso deixar de pensar que, por trás da impaciência dos números matraqueados como mantras, há qualquer coisa dessa querela que está a voltar à cena.
Um jansenismo sem Jansen, sem Agostinho, sem Pascal e sem Philippe de Champaigne.
Um jansenismo para idiotas, cinzento e pesaroso, que não pode ser senão o novo traje, demasiado folgado, da Humanidade carneirinha de sempre.
Mas um jansenismo extenuado que, à semelhança de um demónio cuja suprema astúcia fosse, segundo Baudelaire, fazer crer que não existe, se disfarçaria no seu oposto, pregaria o culto da vida, ao mesmo tempo que expia o inconveniente de haver nascido, e não exigiria mortificação e penitência senão em nome do imperativo de salvar os corpos." (...)
Excerto da crónica de Bernard-Henri Lévy publicada na revista do Expresso, aqui
A ler esta magnífica síntese do Henrique Raposo (só não concordo com a última afirmação) que eu roubo descaradamente ao Expresso:
Primeira. A cultura de um país não pode ficar congelada por tempo indeterminado. A “guerra à covid” não pode ser como a “guerra ao terror”, isto é, a perpetuação por tempo indeterminado de estados de excepção arbitrários que colocam em causa a liberdade e, neste caso, a cultura. Quando é que isto acaba? Se não acabar, corre o risco de se perpetuar como qualquer outra máquina burocrática que se alimenta do medo. Por exemplo, quando voltarem a morrer 3 mil portugueses de gripe num espaço de poucos meses (2018/19), os fanáticos do #ficaremcasa voltarão a pedir medidas draconianas.
Segunda. Quando falo de cultura, não estou apenas a defender a sobrevivência económica do meio cultural (do artista ao carpinteiro), estou a defender o coração da sociedade. O belo e o bom estão cancelados. Uma sociedade que não vai ao teatro, ao futebol, à festa da aldeia ou ao cinema não é uma sociedade, é um agregado de indivíduos amedrontados sem laços entre si e a gerar o pior vírus do elenco virologista: o ódio e a desconfiança entre seres humanos. O homem é o grande vírus do homem. As famílias estão a partir. A sociedade está a partir. A empatia está a morrer. Neste momento, o olhar nacionalista contra o "outro" é maioritário, porque o "estrangeiro" é uma potencial ameaça viral.
Terceira. Temos de começar a fazer experiências-piloto com espetáculos com público, do futebol aos concertos. Sem público, a arte e os espetáculos não fazem sentido cénico e não são rentáveis. Sem arte e espetáculos, a sociedade vai morrendo. Neste sentido, parece-me que um evento organizado pela instituição mais habituada a multidões é o melhor caminho. A capacidade organizativa do PCP e o imenso espaço da Atalaia são dois argumentos fortes para deixarmos esta experiência-piloto avançar.
Quarta. Se querem proibir o Avante!, então têm de ir fechar as praias, porque praias cheias e caóticas são mais perigosas do que uma festa organizada pela mão de ferro do PCP.
Quinta. A bolha do medo tem de ser furada. A sociedade entrou num torpor que é, em si mesmo, mais perigoso do que o vírus. Olhe-se para o estado da saúde. O cancro mata cerca de 70 portugueses por dia, mas a oncologia está mortalmente atrasada devido ao pânico do #ficaremcasa. Ao contrário da covid, o sarampo é muito perigoso em crianças. Pois bem: por causa do #ficaremcasa, 13 mil bebés portugueses não receberam nos últimos meses a vacina do sarampo.
Sexta. Abrir o Avante! e outros festivais é um risco? Pois é. Não há vida sem risco. Só que o #ficaremcasa também é um risco. Aliás, é um risco superior à abertura. A fatura do #ficarmecasa está à vista de todos, e crescerá no futuro próximo. Porque é que há tantos centros de saúde ainda fechados? Porquê? As pessoas só não podem morrer de covid? Podem morrer à vontadinha de outras doenças? O #ficaremcasa trocou mortes inevitáveis por mortes evitáveis. Uma senhora de 85 anos com várias comorbidades vai morrer em breve, com ou sem covid. Uma mulher de 40 anos saudável só vai morrer de cancro da mama (ou outro), porque a oncologia foi bloqueada pelo #ficaremcasa, o mesmo #ficaremcasa que matou à sede os velhotes de Reguengos.
Sétima. É preciso abrir a prisão psiquiátrica que o #ficaremcasa criou no coração da sociedade e de cada lar, e que não afeta apenas pessoas com autismo ou Alzheimer.
Oitava. Os maiores defensores do #ficaremcasa fazem parte do funcionalismo público, ou seja, têm sempre o seu rendimento garantido. É por isso que não compreendem (ainda) a crise que já está aí. Para uma parte esmagadora deste país, a crise é uma "crise dos outros", como dizia há dias João Vieira Pereira. Os "outros? Aqueles que dependem da economia a funcionar, aqueles que dependem do fluir normal do público nas suas empresas e lojas.
Nona. É talvez o ponto mais repugnante destes meses. A sociedade dividiu-se entre as pessoas que se sentem protegidas numa bolha que permite o #ficaremcasa e as pessoas que têm mesmo de #sairdecasa para sobreviver. E o sector protegido esmagou os sectores desprotegidos. Também por isso vale a pena apoiar a festa do Avante!, uma festa que, em teoria, é daquelas que têm de #sairdecasa. Mas, já agora, gostava de recordar uma coisa às pessoas que se sentem acima ao crise como se fossem um avião voando acima do clima: se não voltarmos a uma economia normal, a austeridade (isto é, cortes salariais na função pública) será inevitável. Um eterno #ficaremcasa mata a economia; com a economia estagnada, a receita fiscal baixa e, nesse cenário, mesmo com acesso aos mercados da dívida, a austeridade será inevitável.
Décima. A liberdade. É incrível a forma como a sociedade aceitou acriticamente os estados de emergência e as restrições. É urgente reforçar o lado da rebeldia e da liberdade numa sociedade tão paralisada, tão medrosa, tão obediente. Até vos digo uma coisa: se não tivesse a Iniciativa Liberal no boletim de voto, votaria PCP nas próximas eleições.
"O confinamento já não me assusta coisa nenhuma, e o vírus também não me assusta. Se vier, vem, se me matar, matou. Não me importa. O que me assusta enormemente, de um modo que me tira a respiração, é a maneira como, em todo o mundo, os cidadãos aceitam a falta de liberdade."
De leitura obrigatória esta entrevista de Rentes de Carvalho à Rádio Renascença
"Tomar esta pandemia como uma batalha pode, no entanto, ser um erro, até porque é cada vez mais provável não ser possível ganha-la. Pelo menos enquanto não existirem vacinas. O vírus continuará a viver entre nós e é bem possível que a única vitória sobre ele seja a sua integração".
Do Editorial do Expresso.
Não é o direito de morrer que está em causa nas propostas da eutanásia. É outra coisa: é o direito de matar. Hoje, matar alguém, mesmo que a pedido dessa pessoa, é sempre um crime. Com a instituição da eutanásia, deixaria de ser assim. As questões éticas e jurídicas daí derivadas, e não apenas para os médicos, vão muito para além do “direito” e da “liberdade” de um suicida, e merecem ser discutidas e esclarecidas. (...) A eutanásia é sobretudo mais uma frente na sua [dos progressistas] guerra ideológica contra o que, desde o jacobinismo, lhes ensinaram ser a grande dificuldade: as tradições, inspiradas sobretudo pela herança cultural do cristianismo, que foram sempre os obstáculos principais aos projectos de refundar a sociedade a partir do Estado.
Rui Ramos a ler na interga aqui
A longa liderança de Portas instituiu um mandarinato atípico de "jovens turcos" e "turcas" que Cristas deixou solto em deslumbramento mediático, "correcto" e, nalguns casos, de cumplicidade com a suposta "moral cultural superior" das esquerdas. Isto baralhou o eleitorado "tradicional" do CDS que outorgou 4% e cinco deputados ao partido em Outubro. Tudo somado, Francisco Rodrigues dos Santos não tem a tarefa facilitada, o que torna o desafio político e pessoal mais estimulante.
João Gonçalves a ler na integra aqui
(...) A nossa conceção de justiça, por exemplo, depende da existência de Deus. Não há direito natural (“direitos humanos”) sem Deus. Não vale a pena abanarem a cabeça, porque um raciocínio cem por cento secularizado não nos garante os direitos humanos. Sem transcendência, isto é, sem uma dimensão independente da imanência física, a soberania da ciência, da economia e do poder político, torna-se impossível contemplarmos algo como o amor, na nossa vida privada, ou a justiça, na nossa vida coletiva. A ideia de “injustiça” é uma criação da Bíblia. É a essência dos salmos: fazer uma injustiça é ferir Deus. E claro que o Novo Testamento, a adenda das adendas, aprofundou esse espírito: magoar um ser humano é como magoar Deus; toda a vida humana é sagrada e inviolável; os poderes humanos e terrenos não podem violar a vida humana. Deus, e não o homem, é rei. Só esta premissa nos liberta das ditaduras terrestres da cidade dos homens; só esta premissa nos liberta do relativismo dos nossos totens, nações, classes, impérios, partidos, fações, tribos, modas.
Também é por esta razão que a moral estoica e “moral” hedonista não são suficientes. Santo Agostinho, o grande degrau depois de Paulo, atacou os hedonistas porque estes diziam (e dizem) que basta o prazer para que uma vida humana mereça ser vivida. Mas o que acontece quando a receção de prazer desaparece? Santo Agostinho também atacou os estoicos, porque estes diziam (e dizem) que basta a autonomia racional do “eu” para que a vida tenha a sua moral e felicidade. Mas o que acontece quando o “eu” não tem ou perde a autonomia racional? Ou seja, a sacralidade da vida humana não pode estar dependente de capacidades mentais e/ou neurológicas, porque, caso contrário, um bebé, um deficiente mental e um idoso com Alzheimer passam a ser vidas não sagradas, tocáveis, violáveis. A sacralidade da vida humana não depende de qualquer critério humano e mensurável. Todos os seres humanos, seja qual for a sua funcionalidade, são sagrados porque foram criados por Deus. Só este salto de fé pode fechar o círculo dos direitos humanos, os direitos inalienáveis que são intrínsecos à condição humana, direitos que não dependem de poderes terrenos. (...)
Henrique Raposo hoje no Expresso
Percebido?
Helena Matos no Observador.
(...) Produzo com a minha família boa parte da minha própria comida. Faço a minha vida familiar a pé. Tento limitar o meu turismo e critico a economia assente no turismo. Sou ecologista porque sou conservador, porque sou católico, porque defendo um modo de vida austero. É moralmente errado profanar a natureza sem propósito. É fútil usarmos motores de combustão quando temos a inteligência para criar tecnologias mais limpas. Pois bem, ser ecologista é uma coisa, ser apocalíptico e usar o “ambiente” para calar a liberdade dos outros é outra coisa completamente diferente. E, de facto, o “ambientalismo” da moda é negro e punitivo como uma seita. Procura induzir comportamentos nas pessoas através do medo (o apocalipse) e não através do algo intrinsecamente bom (o amor pela Criação). Nesta atmosfera inquisitorial, a dissidência minoritária, a base da liberdade de pensamento, é diabolizada. Eu não sei se os cientistas minoritários que negam a tese do aquecimento antropocêntrico têm ou não razão, mas sei que quero ouvi-los em nome da liberdade. As vozes heterodoxas não podem ser caladas, sobretudo quando elas negam algo que nos parece óbvio. Eu quero uma sociedade sem o ruído e sem o fumo do motor de combustão, mas isso não me retira a vontade de ler e ouvir as teses que dizem que o motor de combustão não é um Lúcifer mecanizado. Até porque os meus hábitos ecologistas não dependem da ciência, dependem da moral. Com ou sem degelo, com ou sem ciência, eu continuarei a fazer a minha vida a pé e a produzir a minha própria comida, porque essa é a forma certa de viver em harmonia com a Criação.
A ler Henrique Raposo hoje no Expresso
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