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A ética é um exercício diário, tem de ser cumprida no quotidiano. Só assim pode afirmar-se plenamente numa sociedade. Se uma pessoa não respeita o próximo, não cumpre as leis da convivência, não paga os seus impostos ou não obedece às regras do trânsito, não é ética. Num primeiro momento, pequenas infrações isoladas parecem não ter importância. Mas, ao longo do tempo, a moral da comunidade é afectada em todas as suas esferas. Chamo a isso o círculo ético. Uma acção interfere com outra e os valores morais vão perdendo força, vão-se diluindo. Para uma sociedade ser justa, o círculo ético é essencial.
Peter Singer
«Para o jornalista, tudo o que é provável é verdade». Trata-se dum axioma estupendo, como tudo o que Balzac inventa. Reflectindo nele, nós percebemos quantas falsidades se explicam e quantas arranhadelas na sensibilidade se resumem a fanfarronices e não a conhecimento dos factos. Em geral, o pequeno jornalista é um profeta da Imprensa no que toca a banalidades, e um imprudente no que se refere a coisas sérias. Quando Balzac refere que a crítica só serve para fazer viver o crítico, isto estende-se a muitas outras tendências do jornalista: o folhetinista, que é o que Camilo fazia nas gazetas do Porto (...). Eu própria não estou isenta duma soma de articulismos, de recursos à blague, de graças adaptáveis, de frequentação do lado mau da imaginação, de ridículos, de fastidiosos conselhos, de discursos convencionais, de condenações fáceis, de birras imbecis, de poesia de barbeiro, de elegâncias chatas, de canibalismo vulgar, de panfletismo «bom cidadão». Quando não sou nada disso, sou assunto para jornais, mas não sou jornalista.
Agustina Bessa-Luís
A crítica é menos eficaz do que o exemplo. É de considerar se a grande sugestão para usar da crítica nos nossos tempos e que põe em causa todos os valores consagrados, não é o resultado duma anemia profunda do acto de vontade de toda uma sociedade. Todos temos consciência de como o exemplo se tornou interdito, como o indivíduo, na sua excepção perturbadora, é causa de mal-estar. Dir-se-ia que a fraqueza, a breve virtude, a mediocridade, de interesses e de condições, têm prioridade sobre o modelo e a utopia. A par desta dimensão rasa do despotismo do demérito, levanta-se uma rajada de violência. É de crer que a violência é hoje a linguagem bastarda da desilusão e o reverso do exemplo; representa a frustração do exemplo.
Agustina Bessa-Luís
Há pequenas impressões finas como um cabelo e que, uma vez desfeitas na nossa mente, não sabemos aonde elas nos podem levar. Hibernam, por assim dizer, nalgum circuito da memória e um dia saltam para fora, como se acabassem de ser recebidas. Só que, por efeito desse período de gestação profunda, alimentada ao calor do sangue e das aquisições da experiência temperada de cálcio e de ferro e de nitratos, elas aparecem já no estado adulto e prontas a procriar. Porque as memórias procriam como se fossem pessoas vivas.
Agustina Bessa-Luís
A parte nova da cidade é a favorita dos jovens modernos, que também frequentam o «Calhambeque» (à Av. de Roma), onde é preciso um passaporte para entrar, e o «Pop Clube», inaugurado em Agosto de 1966, mais tarde «Primorosa de Alvalade» (à Av. Estados Unidos da América). No topo da Avenida da Liberdade fica a «Galeria 48», onde actuam a brasileira Maysa, Simone de Oliveira, Carlos do Carmo e o Thilo's Combo, entre outros. Ao final da noite, os mais boémios misturam-se com a fauna do Parque Mayer no «Cantinho dos Artistas» e arriscam um caldo verde no mal-afamado «Cova do Galo», com boîte na cave (Parque Mayer), onde actua o dono, o pianista Eugénio Pepe. Em noites mais criativas dá-se um pulo até ao «Hot Clube» (Pr. da Alegria) para ouvir jazz. A cinco minutos fica o «Ritz Club» (R. da Glória), cabaré duvidoso, perto do bordel de Madame Blanche, já demasiado bas-fond para a maior parte da juventude ié-ié.
A 13 de Maio de 1967 abre na Lapa o «Relógio» (R. do Olival), boîte elitista do artista plástico Francisco Relógio e que em 1970 dará lugar ao famosíssimo «Stone's» de Manecas Mocelek. É justamente Mocelek que em Maio de 68 faz uma revolução na noite da alta-sociedade lisboeta ao tomar conta do «Ad Lib» (R. Barata Salgueiro) no sétimo e último andar de um prédio acabado de estrear. «Ad Lib», da expressão latina «ad libitum», que significa «à vontade» - mas apenas para os amigos ou amigos dos amigos do proprietário, João de Castro. Pedro Leitão, pintor retratista próximo do jet-set internacional, assina a decoração de estilo oriental: estátuas indianas (made in Portugal), cadeiras de encosto semicircular forradas a pele, paredes e chão encarnados. A colaboração já não é uma estreia para a dupla Leitão-Mocelek, que dois anos antes criara o espaço mais emblemático de Cascais, o «Van Gogo». (Joana Stichini Vilela e Nick Mrozowski, LX60)
Se puserem numa balança, de um lado a utilidade real das ciências mais sublimes, das artes mais nobres, e do outro a utilidade das artes mecânicas, verão que os valores atingidos não foram estabelecidos segundo critérios que tivessem em conta os respectivos méritos, porque os homens empenhados em fazer-nos crer que somos mais felizes conseguiram sempre mais louvores do que aqueles que se esforçaram para que o fôssemos de facto. (Diderot, na Encyclopédie Méthodique)
(Rossio)
Como é bem sabido, a Baixa é um território de aluvião, decorrente do sucessivo assoreamento da ribeira ou córrego que corria do actual Rossio em direcção ao estuário do Tejo. Este fio de água, por certo mais vivaz nas invernias, já estava bastante reduzido na sua amplitude à data da conquista de Lisboa, em 1147, como refere o cruzado R., na célebre carta a Osberno. No entanto, era ainda atravessado pelo menos por uma ponte que permitia a ligação entre as duas margens. Esta ponte, dita da Galonha, irá durar até ao definitivo encanamento da parte final do córrego, então já pouco mais do que um esgoto malcheiroso a céu aberto, que dará origem à parte terminal da então chamada Rua Nova d'El-Rei, ou, mais prosaicamente, Rua dos Ourives do Ouro, desde que os mestres deste ofício nela se instalaram. (José Sarmento de Matos e Jorge Ferreira Paulo, Um sítio na Baixa)
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