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Curioso é como o PPM, o maior equívoco do movimento monárquico português (que se justificou no início do regime pela qualidade humana intelectual dos seus fundadores) pela primeira vez desde a sua fundação não irá concorrer a umas eleições legislativas sem ninguém dar pela falta. Isto é que é morrer de forma pacata - antes assim.
Talvez seja tempo dos partidos formarem nas suas estruturas núcleos monárquicos uma ideia que há muito defendo.
Sobre um cartaz digital de campanha para as Eleições Europeias do PPM que circula nas redes sociais com teor abusivo, a direcção da Real Associação de Lisboa subscreveu um comunicado que pode ser lido aqui.
O João Gomes de Almeida manifesta aqui a sua legitima discordância com estas minhas palavras sobre o PPM onde o considero uma organização incoerente com a Instituição supra-partidária que defende. Mas, porque as Causas das Coisas de facto não são a preto e branco, eu próprio nem sempre fui coerente com essa opinião, e militei naquele partido nos anos oitenta aquando da candidatura de Miguel Esteves Cardoso que quase foi eleito para o Parlamento Europeu. Extravasasse o escritor o seu carisma da pena para o palanque da política, e os monárquicos teriam feito história nessas eleições. Eu até concedo que a existência dum partido monárquico possui algumas vantagens, uma delas é aquela que constitui a debilidade da Causa Real e Reais Associações: não elegendo autarcas, deputados ou presidentes, não possuindo a organização, apesar do forte suporte social que detém, aspirações aos poderes formais da republica, luta esta com enormes dificuldades de financiamento e patrocínio por parte dos grandes lobbies e empresas que não vislumbram quaisquer chances de retorno em apoios financeiros. De resto, a disputa republica vs. monarquia constitui um assunto de natureza disruptiva, uma discussão que assusta muita gente que possua ou defenda grandes interesses dependentes do regime e do status quo. Só assim se entende como os diversas personalidades políticas, algumas de grande craveira e capacidade influência, simpatizantes da monarquia e dispersos pelos vários partidos sejam tão prudentes na afirmação das suas convicções monárquicas. Na verdade esta questão ainda desperta os piores instintos a alguns actores da política supostamente moderados, e ela foi causa de uma quase guerra que estragou a vida a muita gente por muitos anos.
De resto, caro João, concedo que para além da lealdade ao Duque de Bragança, o ilustre deputado municipal da Ilha do Corvo Paulo Estêvão detenha méritos que concedam os mínimos de dignidade que o símbolo do PPM merece. E espero sinceramente que consiga resgatar o partido da completa insignificância nacional a que hoje chegou e que nos envergonha a todos.
Finalmente insisto que não se pode exigir aos numerosos simpatizantes da monarquia em Portugal, cuja única causa que os une é a formula da chefia do Estado (e talvez as cores da bandeira nacional), mas que divergem no resto em quase tudo o que são as suas questões prioritárias para o dia-a-dia, - das estratégias politicas ás económicas e passando pelos costumes - que se unam à volta dum mesmo partido.
A demissão do inenarrável Nuno da Câmara Pereira ao fim de mais de dez anos de porfiado esforço para a desmobilização e falência do PPM não deixa de ser uma boa notícia para os monárquicos. No entanto, apesar de nutrir um profundo respeito pelos fundadores desse partido, personalidades de craveira impar como Gonçalo Ribeiro Teles, Francisco Rolão Preto, João Camossa e Henrique Barrilaro Ruas, o equívoco da existência dum partido monárquico, hoje mais do que nunca constitui uma ameaça à credibilidade da Causa, promovendo a confusão nas pessoas mais desinformadas a respeito do cariz supra-partidário da instituição que advoga e da real representatividade dos monárquicos no País, que afinal se encontram dispersos na militância e pelo voto por todo espectro partidário. Deverá ser portanto com profunda apreensão que os milhares de monárquicos organizados nas Reais Associações à volta da Causa Real aguardam notícias sobre o destino do Partido Popular Monárquico, que apesar de tudo encerra uma “marca” com história e algum prestígio. Enquanto o partido existir, essa constituirá sempre uma perigosa tentação à mercê duns quaisquer oportunistas, sem escrúpulos ou craveira.
Já referi por diversas vezes que considero não fazer qualquer sentido um partido monárquico: a causa monárquica é, pela natureza da instituição que defende, supra-partidária. Tão supra-partidária quanto a causa republicana: ora digam-me quem é mais republicano se Nuno Ramos de Almeida, Vítor Dias, João Gonçalves ou Jorge Ferreira?
Apesar de assim pensar acabei respeitando o Partido Popular Monárquico, afinal um partido fundador da democracia no qual o meu avô João de Castro, um dos mais fiéis monárquicos que conheci, ainda sentiu a (ingénua) felicidade de votar pouco antes de morrer.
Hoje graças ao cisma do inenarrável Câmara Pereira, o PPM caminha para a total desmobilização e completa inexistência. O tempo do antena do PPM ridicularizado pelos Gatos Fedorento é o espelho da negligência e declínio a que o partido chegou: tornou-se uma anedota. E como seria um acto misericordioso que um grupo de indefectíveis tomasse o partido em suas mãos para liquidação e com alguma dignidade fechar as suas portas e acabar com aquele triste espectáculo. Em honra e memória dos seus ilustres fundares: Gonçalo Ribeiro Teles, Francisco Rolão Preto, João Camossa e Henrique Barrilaro Ruas.
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