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Misterioso mesmo é a razão pela qual as tampas de esgoto nas estradas, ruas e avenidas deste País, para além do desmesurado desnível em relação ao alcatrão a desafiar as suspensões dos carros, estão estrategicamente localizadas na meia esquerda ou meia direita da via, quase sempre impossíveis de evitar.
A ameaça de revoluções e outras quimeras é maioritariamente sustentada por aqueles que vêm ameaçados os privilégios oferecidos pelo regime que agora não os consegue garantir. A História comprova que as revoluções (além de destrutivas) são sempre ortopédicas, servem para perpetuar ou acentuar os vícios que emanam organicamente da realidade cultural da comunidade.
Aqueles que se vêm obrigados a esfalfar, a cada mês, para garantir o sustento da sua família não têm disponibilidade para esses devaneios. Mudar o mundo é lento e dá muito trabalho porque isso começa na respnsabilidade e atitude de cada um perante a vida.
O problema dos portugueses não está na incapacidade de grandes feitos e gestos nobres, está na falta de feitos médios, por gente média. Para sermos mesmo grandes falta-nos massa crítica na intervenção média, na cidadania média, na iniciativa empresarial média. Não é só devido às "gerações de fome" que pesam no nosso ADN que em pleno século XXI Portugal se mantém endemicamente pobre. É também porque temos a mania das grandezas, contradição em que tropeçamos todos dias para nos rendermos à inércia da maledicência de café.
Um dia destes, numa reunião dum grupo político em que milito com alguns amigos, eu disse um lugar-comum ao qual deveríamos porventura dar mais atenção: para cumprirmos o nosso ideal não é obrigatório sermos todos Deputados, Ministros ou Secretários de Estado. O espaço intermédio de atuação é imenso. Assim como para (nos) salvarmos (d)a economia portuguesa, não podemos ser todos grandes empresários ou executivos de topo. O que falta ao português médio é deixar-se de lamúrias e meter mãos à obra, com coragem, arte e engenho. Porque uma crise é por natureza o fim de qualquer coisa e o início de uma nova, que por definição comporta sempre oportunidades inexploradas.
Acontece que estes modernos tempos de igualitária república "democratizaram" uma casta de gente mesmo “importante”, que se reproduz como coelhos de aviário, com supostas e ocultas ligações ao poder. Há momentos testemunhei aqui na rua aquela cena clássica que já todos um dia testemunhámos, em que um palerma enfarpelado, junto ao seu carro topo de gama mal estacionado, intimida um jovem polícia com um “você sabe com quem está a falar?!”.
Presumo que esta vulgar fórmula bem portuguesa da intimidação, atravessando os tempos até aos nossos dias, tenha origem no advento dos celebres “cidadãos limpos”, do devorismo liberal, cuja cartola, casaca e polainas não chegavam para os distinguir na sua intrínseca incorruptibilidade e inopinado poderio social.
Pela minha parte, que iniciei a minha vida profissional na hotelaria, mundo em que experimentei quase todos os papéis quase sempre em contacto com público, confesso que ainda hoje me revolta visceralmente este “guião” de profunda arrogância com que se identifica um tuga endinheirado… quase sempre um pobre diabo, afinal. Se não perante a lei, certamente perante Deus.
Estava eu na A 5 quando esta manhã as rádios concertadamente ensaiaram uma espécie de flash mob do sorriso à hora certa (com reedição logo à tarde). Pelo que me foi dado observar a adesão foi nula, o meu sorriso pepsodente não teve qualquer resposta dos condutores meus vizinhos. Não sei se isto prova a fraca capacidade de mobilização das nossas rádios, mesmo em prime time, ou se simplesmente as pessoas acham estúpido sorrir só porque sim. Vou mais pela segunda hipótese: eu senti-me a fazer figura pateta, os outros evitaram-na.
Somos de facto um povo macambúzio, e pelo menos nos sorrisos não nos deixamos roubar. Razões não nos faltam, e nem este resplandecente céu azul ou a bela paisagem com que Deus presenteou os portugueses compensa a nossa fatal falta de jeito para nos governar, que resulta nas nossas costumeiras neuras e aflições. É isso que obscurece o tíbio sorriso indígena. E também a tal insuportável suspeita que amiúde perpassa na mente Tuga, de que o parceiro do lado pode ser mais feliz do que ele próprio.
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