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Neste escândalo da Associação Raríssimas, que é uma assustadora radiografia do nosso atraso sociocultural, o que mais me choca não é a arrogância e os actos de abuso de confiança evidenciados pela sua presidente, a D. Paula; mas a passividade dos colaboradores e dos Órgãos Sociais durante anos a fio perante tais factos. Tudo demasiado plausível... Triste sina a nossa, sempre reverentes e obrigados.
Na leitura de “As Vantagens do Pessimismo” do filosofo britânico Roger Scruton chamou-me a atenção a antiguidade da escola secundária High Wycombe Royal Grammar School, frequentada pelo autor, estabelecimento de ensino público (gratuito) fundado em 1542 em High Wycombe, Buckinghamshire. A questão remete-me para o significado e importância da longevidade das instituições e só a título de exemplo, através de consulta rápida na Internet, descubro que a fundação Banco Barclays e a águia representada como seu logotipo ascende ao ano de 1690 e que a origem do reputado semanário londrino The Spectator remonta a 1711.
A resiliência de instituições, organismos e empresas reflecte muito sobre a comunidade de que emanam, e o facto é que em Portugal é corriqueiro que se extingam e substituam a recomeçar zero numa vertigem parola como se não houvera ontem. Irónico como a bandeira do nosso País de quase 900 anos de história tem pouco mais de 100 anos e que, por exemplo, a nossa rádio nacional hoje “Antena um” já tenha mudado de nome e de imagem vezes sem conta desde a sua criação como Emissora Nacional em 1935.
Tudo isto vem a propósito não das consequências da crise do BES, mas dos 150 anos que o Diário de Notícias completa hoje dia 29 de Dezembro e que, a par com o jornal Açoriano Oriental (1835) e o semanário Aurora do Lima (1855), são os últimos títulos centenários resistentes. Admirador confesso da marca que me habituei a conviver de tenra idade em casa dos meus avós, tenho a confessar que por estes dias já só leio o DN aos Domingos, muito por causa das finas e humoradas crónicas de Alberto Gonçalves. Muito pouco para um jornal com tanta história, cujos dados mais recentes apontam para um acelerado declínio de vendas, apesar das diversas restruturações e operações de cosmética efectuadas nos últimos anos.
Tenho para mim que uma marca antiga e com tanta história como a que ostenta o Diário de Notícias possui, só por isso e apesar da crise, uma incalculável vantagem competitiva no mercado da comunicação social. A não ser que dentro daquelas paredes se não tenha sabido preservar e transmitir o capital de saber acumulado que deveriam conferir 150 anos de experiência. E que os seus actuais gestores não saibam merecer esse legado: o Diário de Notícias não é uma marca qualquer.
Texto adaptado, publicado originalmente aqui
(...) Nós somos realmente muito antigos e nada nos predestinava a ser fosse o que fosse. Nem terra, nem gente, nem língua, nem coisa alguma que nos recortasse de outros. Por isso, o que temos de original é sermos realmente muito antigos, sem razões de origem para o sermos. Dito doutro modo, é perdurarmos. Quase contra tudo, quase contra todos e quase contra nós, por vezes.
Se há «enigma português», é este mesmo. Basta e sobra, por ser quase inédito. Também para nos alimentar a esperança, que é o que sobeja dos impossíveis passados, para os impossíveis futuros. (...)
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"O melhor que temos para o futuro é tanta humanidade acumulada", in "O tempo pede uma Nova Evangelização" D. Manuel Clemente, Coordenação José Tolentino Mendonça - Paulinas 2013
A exemplo dos anos anteriores a Causa Real vai celebrar mais um aniversário sobre a fundação da nacionalidade formalizada com a assinatura do tratado de Zamora a 5 de Outubro de 1143 este sim um pretexto de união e regozijo para todos os portugueses. Nesse sentido foi agendada uma concentração para Sábado dia 4 de Outubro pelas 22,00hs junto à nossa sede no Largo de Camões para onde apelamos que todos os monárquicos compareçam com os seus amigos e familiares, empunhando as sua bandeiras para aquela que pretendemos constitua uma festiva manifestação de portugalidade, que incluirá uma surpresa de inesquecível impacto visual.
Sagres e Espichel são lugares sagrados. O santuário do cabo Espichel tem 600 anos!!!!!, e se fôssemos simplesmente merecedores da terra que pisamos cada um deveria fazer o que estivesse ao seu alcance para impedir que um lugar de preregrinação e de louvor dum povo estivesse em ruínas, qualquer que fosse, e para mais este, tão especial como é.
O interesse turistico, venerável, é de somenos diante do valor histórico e patrimonial a cujo abandono se diria condenado um dos lugares mais mágicos que desde jovem me habituei a visitar com respeito e gratidão.
Dói ver aquilo desprezado. É um espelho!! E um abismo.
Nesta silly season que ora se inicia, por conta da biografia de Ribeiro Meneses publicada em fascículos pelo Expresso, revisitamos Oliveira Salazar. No meu entender o ditador veste como uma luva as expectativas de uma época que em certa medida hoje persistem: o provincianismo messiânico. Isso justifica a longevidade do seu pontificado. Ontem como hoje são poucos os portugueses que fazem diferença e a mediocridade faz escola - os maus hábitos não acabam por decreto. Ontem como hoje temos aquilo que merecemos, órfãos a mistificar um pai utópico que nos devolva uma Pátria virtuosa escondida nas brumas da memória. Quero dizer: Salazar não instaurou uma mentalidade, mas ele foi fruto dela e soube servir-se dela para "levar os portugueses a viver habitualmente", aquilo que quase toda a gente queria. Resta-nos manter a inquietação.
(...) Nós somos realmente muito antigos e nada nos predestinava a ser fosse o que fosse. Nem terra, nem gente, nem língua, nem coisa alguma que nos recortasse de outros. Por isso, o que temos de original é sermos realmente muito antigos, sem razões de origem para o sermos. Dito doutro modo, é perdurarmos. Quase contra tudo, quase contra todos e quase contra nós, por vezes.
Se há «enigma português», é este mesmo. Basta e sobra, por ser quase inédito. Também para nos alimentar a esperança, que é o que sobeja dos impossíveis passados, para os impossíveis futuros. (...)
"O melhor que temos para o futuro é tanta humanidade acumulada", in "O tempo pede uma Nova Evangelização" D. Manuel Clemente, Coordenação José Tolentino Mendonça - Paulinas 2013
Enquanto não entendermos que roubar e não ser apanhado também é uma vergonha, nada feito.
Às vezes tenho a viva impressão de que o meu País acaba à porta da minha casa, imanente na maltratada bandeira que desfraldámos e nos transcendentais valores em que nos reconhecemos. O meu Portugal é cada vez mais uma rede descontinuada de amigos, famílias e de símbolos onde o reconheço plasmado. O resto parece-se demais com um condomínio que dividimos e pagamos por mera necessidade e sentido prático.
O presidente Felipe Calderón afirmou querer mudar o nome oficial dos Estados Unidos do México, simplesmente para “México”.
Para aqueles que não sabem, a nossa designação oficial é um absurdo adjectivo: "república portuguesa". Não deveríamos nós seguir o exemplo e adoptar simplesmente o nome "Portugal", uma herança com novecentos anos que uns quantos intrépidos sonhadores gostariam de preservar? E se querem saber, pela minha parte também trocava a bandeira que em boa verdade é feia como o raio.
A “memória colectiva” é um peculiar conceito alimentado pelas oligarquias do regime com a tralha politicamente correcta e a espuma dos dias que anima os vencedores na sua mesquinha luta pelo poder. Curiosamente nessa “memória selectiva” os heróis e os símbolos são escolhidos criteriosamente de um cardápio ideológico com o horizonte máximo de três ou quatro gerações. Acontece que, para grande contrariedade dos “nossos senhores” não existe uma coisa dessas de “memória colectiva”; resultando os seus porfiados esforços num fenómeno de “amnésia colectiva”, um assunto afinal com que ninguém se preocupa porque, mesmo atreitos ao entretenimento e à fancaria o mais das vezes se vive apoquentado com o pão e o vinho à mesa.
No próximo dia 1 de Dezembro o calendário assinala pela última vez como Feriado Nacional o Dia da Restauração Independência, assunto que na verdade a poucos comove e cuja exumação acontecerá com o recato que inevitavelmente um Sábado impõe a uma data festiva há muitos anos ameaçada pela indiferença dum regime apátrida e sem memória. Uma terrível parábola que nos deveria afligir a todos se é que, sem darmos conta não estaremos já em profundo estertor como Nação.
Foto Instagram
Acontece com os indivíduos e com as nações: o processo de crescimento tem a ver com a adequação do desejo e vontade às contingências da realidade. Uma tão gratificante quanto dolorosa aprendizagem de convivência com o sucesso e frustração. Sob reservas mentais e ilusões de conveniência, sem concessões aos factos, por mais duros que sejam, o risco é de perpetuar um estágio de ambiguidade adolescente, um equilíbrio precário, uma morte lenta. Evitada a realidade, sem tocar o chão com medo do desespero, a bolha não rebenta comprometendo a maturidade e a autonomia. Em troca fica uma existência alienada e estéril.
Texto reeditado
A ameaça de revoluções e outras quimeras é maioritariamente sustentada por aqueles que vêm ameaçados os privilégios oferecidos pelo regime que agora não os consegue garantir. A História comprova que as revoluções (além de destrutivas) são sempre ortopédicas, servem para perpetuar ou acentuar os vícios que emanam organicamente da realidade cultural da comunidade.
Aqueles que se vêm obrigados a esfalfar, a cada mês, para garantir o sustento da sua família não têm disponibilidade para esses devaneios. Mudar o mundo é lento e dá muito trabalho porque isso começa na respnsabilidade e atitude de cada um perante a vida.
Fruto de árduo labor de uma pequena mas dedicada equipa (até tu, Maria!), está finalmente no prelo o Correio Real nº 8 que durante a próxima semana será distribuído de norte a sul de Portugal aos sócios das reais associações com as quotas em dia. Como temas de capa, para além da entrevista a Rui Moreira presidente da Associação Comercial do Porto temos o 80º aniversário da morte de D. Manuel II, com um artigo de fundo de Carlos Bobone sobre o Manuelismo corrente política fundadora da Causa Monárquica.
Para não sócios estará à venda através do site da Real Associação de Lisboa http://www.reallisboa.pt/, e poderá também ser adquirida in loco na Sede da Causa Real: Praça Luís de Camões, 46 2o. Dto. 1200-243 Lisboa - Segunda a quinta-feira, das 15H às 18H.
O “centrão” não regula bem.
O patriotismo está para a sociedade organizada em Estado como a devoção filial ou o amor estão para os indivíduos. (...) O grande drama português é o do eclipse do patriotismo. Dizemos eclipse e não desaparição. Como todos os sentimentos, tem de ser cultivado, inculcado e exercitado. Tem de ser exibido. O patriotismo é um mito político colectivo e deve estar acima dos regimes e das circunstâncias. A tragédia portuguesa dos últimos quarenta anos tem precisamente a ver com a destruição metódica e tudo quanto fazia o nós que não se questionava.
Miguel Castelo Branco na integra aqui
Imagem: Armas do rei de Portugal. Iluminura extraída do Livro de Armas, da autoria de João de Cros (1509) - Arquivo Nacional de Torre de Tombo.
Quem siga o debate político e acompanhe a Comunicação Social de referência, dificilmente encontra alusões à evidência de que navegamos no olho de um furacão, no centro de uma tempestade perfeita. Onde se entrecruzam as fragilidades do regime, o acumular de políticas criminosas, uma crise financeira exógena e determinantes transformações geoeconómicas. A algraviada de recados políticos que alimentam as manchetes dos jornais e abertura dos telejornais encobrem a crua realidade que vivemos: o fim de uma Era, de uma “construção” socioeconómica insustentável. Um aborrecido detalhe, cujo capítulo seguinte ninguém verdadeiramente quer saber, por respeito aos senadores e arquitectos de tão esplendorosa obra. É nesta ébria cegueira, em que os actores se recusam olhar para lá da espuma dos dias, entretidos que estão a discutir contas de mercearia, quem é o mais amigo do crescimento económico, do Estado Social, o mais socialista ou menos liberal, ou se será afinal o messias Hollande que nos vai salvar de Merkel e dos seus enfadonhos alemães.
Por pior que seja a sua arquitectura, qualquer regime se aguenta enquanto é regado pelo dinheiro. E quando a torneira se fecha?
Com o diagnóstico feito há muitos anos, nem a centímetros do precipício o sistema mostra vontade de se regenerar. Se os partidos se desligaram das comunidades em detrimento da plutocracia que os alimenta, se os deputados não representam os eleitores, se o sistema semipresidencialista se revela uma manhosa irrelevância política, se a economia não gera riqueza que pague os descomunais custos do Estado, o que é que deveria ocupar as mentes brilhantes das nossas elites? A sua preocupação é a de sobreviver mais um dia e mais outro, um de cada vez, do estatuto e privilégios conquistados, que hipotecaram irremediavelmente as gerações vindouras.
O que nos une hoje é a camarata de terceira classe do navio chamado Europa que mete água por todos os lados. Anestesiados pelas vagas alterosas, aos portugueses de pouco serve ou consola o mal dos vizinhos. É que, fiéis à nossa tradição ultraconservadora de nada mudar até tudo cair putrefacto, à trágica incapacidade de nos regenerarmos por nós mesmos, mesmo na evidência da catástrofe, corremos o sério risco de sermos o primeiro lastro a ir borda fora. E assim nos afundamos enroscados como lapas aos nossos "pais". Ao pai da Revolução, do Serviço Nacional de Saúde, da Constituição, do Socialismo, e de tantas outras ressequidas vacas sagradas.
Somos uma Nação mal habituada ao decadente vício da autofagia. Não sei se podemos atribuir esse handicap, como afirma Henrique Raposo, ao “Instinto queirosiano” de que se impregnam as elites indígenas e que bloqueia a assunção de qualquer coisa de positiva sobre Portugal, mas uma coisa parece evidente: a aposta na promoção e dignificação dos símbolos e instituições nacionais seria um bom negócio para o País. Um projecto que pela intrínseca alteração de paradigma, exige um profundo consenso e empenhamento de todos os que “podem”, um penoso trabalho e investimento no longo prazo. Acontece que esta é a única fórmula limpa de o Estado se fortalecer sem onerar o contribuinte. Apesar de tal coisa ir contra a lógica mediática do conflito gratuito e dos resultados imediatos, esta é a única maneira de se viabilizar uma comunidade identitária, de motivar as pessoas a vestirem uma camisola da qual se possam orgulhar e pela qual possam bater, na sua cidade, família ou no trabalho.
Nos últimos duzentos anos as fracturas e a desconstrução permanente dos nossos símbolos, instituições e da nossa própria História, conduziram os portugueses à descrença, à desconfiança e à apatia generalizada. Uma mentalidade derrotista e sebastiânica que se traduz em trágicos resultados para a economia, e a prazo nos condena à extinção.
Levantar hoje de novo o esplendor de Portugal é um projecto premente para a nossa sobrevivência e uma utopia em que vale a pena investir e pela qual vale a pena lutar.
* Fotografia de Homem Cardoso para o livro Navio Escola Sagres
No âmbito da celebração dos 500 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre Portugal e o Reino da Tailândia, será amanhã inaugurado às 15.00hs no jardim de Belém (fronteiro à famosa casa dos renomados pastéis) o monumento Sala Thai, o que é considerado uma excepcional honra concedida ao nosso País por aquele velho amigo asiático. Sabe bem constatar que há quem continue a gostar de nós... 500 anos depois. Portugal estará bem reresentado neste evento na pessoa de S.A.R. o Duque de Bragança, o sucessor do Rei D. Manuel I que há cinco séculos com o Rei Ramathiboti II iniciou as relações luso-siamesas. Saiba mais aqui. e aqui.
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