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As eleições presidenciais que terão lugar daqui a poucos dias constituem mais uma oportunidade para os monárquicos dissecarem o nosso sistema semipresidencialista, apontarem as suas fragilidades e contradições e recordarem publicamente outros modelos, vigentes em destinos mais bem-sucedidos que o nosso.
O tema também interessa aos simpatizantes realistas que – imbuídos dum cândido pragmatismo - entendem que a sua participação cívica na eleição presidencial é útil numa perspectiva de "gestão do mal menor". Quase sempre os encontramos desiludidos, a cada final de mandato, com a intervenção política do "seu" presidente. Esperam (sempre debalde) que este, legitimado pela eleição directa, faça oposição ao governo assumindo conflitos institucionais com o parlamento e que rejeite com galhardia as leis por este emanadas de que não gostam.
A questão que a todos deveria inquietar é a de saber o que se pretende com o cargo de “mais alto magistrado da nação”. Este deve ser um elemento de aglutinação e de unidade, dotado de poder equidistante de moderação para a promoção de equilíbrios, tendo em vista o longo prazo e os valores perenes da nação, ou um participante activo na contenda sectária e permanente dos interesses e das facções que inevitavelmente existem onde haja mais do que uma pessoa? Pretende-se um Chefe de Estado que se assuma reserva da nação, com contenção, equidistância e sobriedade, ou mais uma voz a somar-se à berraria que emana da disputa partidária e ideológica?
Convém lembrar aos realistas pretensamente realistas que a Coroa viável nos nossos dias — aquela que, afinal, impera nos países mais evoluídos da Europa — é uma instituição politicamente abrangente e aglutinadora: não estigmatiza convicções, credos ou clubes. O respeito pelas diferenças e a capacidade de inclusão são, por via disso, dos argumentos mais valiosos da solução política preconizada pelos monárquicos. Nas dez monarquias constitucionais europeias - Bélgica, Dinamarca, Espanha, Liechtenstein, Luxemburgo, Holanda, Mónaco, Reino Unido e Suécia - os seus monarcas - Filipe, Margarida II, Filipe VI, Hans-Adam II, Henrique, Guilherme Alexandre, Alberto II, Isabel II e Carlos XVI Gustavo - não se envolvem no dia-a-dia da governança. Todos estes Estados são dotados de fortes tradições parlamentares e muito desenvolvidos.
Pela minha parte, e porque gosto de política, assistirei divertido ao espectáculo das presidenciais de 2021, na certeza de que será digno da final de um campeonato de wrestling. Um dia, o seu vencedor irá instalar-se no Palácio de Belém com a árdua tarefa de fingir que representa todos os Portugueses. Mas, no momento de preencher o boletim de voto, não deixarei de o anular. Será essa a expressão do meu repúdio pela mascarada que nos foi imposta à força.
Adaptação do meu Editorial no Correio Real nº 22
Imagem: revista Visão
A propósito da polémica recorrente sobre o que é ser de esquerda e de direita, e no sentido de me orientar nesse denso nevoeiro conceptual, produzi a tabela que segue.
Ser de esquerda é... |
Ser de direita é... | |||
Pelo critério do coração |
Deplorar a pobreza, insurgir-se contra a desigualdade de oportunidades, lutar pela liberdade, pensar mais nos outros do que em si próprio. Gostar de mudança.
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Ser avarento, ambicioso, egoista, não olhar a meios para atingir os seus fins pessoais, nem aceitar que possa pensar-se de forma diferente. Valorizar a estabilidade. | ||
Pelo critério da cabeça |
Entender que se detém o exclusivo da razão, precisamente porque os fins são belos e românticos. Entender, também, que esses fins justificam os meios, como a manipulação informativa, a engorda e o reforço do poder do Estado, e a restrição da liberdade individual em prol das «liberdades colectivas» (?). Entender que as mudanças devem fazer-se no seu próprio tempo de vida, recorrendo, no extremo, à política da tábua rasa e a métodos revolucionários e/ou ditatoriais.
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Entender que o primado é da liberdade de cada um. Entender que ao Estado compete apenas assegurar a igualdade de oportunidades e o cumprimento de regras mínimas de lisura social e económica. Entender que as mudanças necessárias devem fazer-se por via reformista, «sustentadamente» e no tempo de quantas vidas for. Entender que pode haver perigo nos idealismos de esquerda, - porque os idealismos tendem para a radicalização - e combater esse perigo, recorrendo, no extremo, a métodos golpistas e/ou ditatoriais. | ||
Pelo critério do estômago |
Considerar que os primeiros pobres são os de esquerda, porque a esquerda é, por natureza, pobre (e/ou conhece casos traumatizantes de pobreza no seu passado ou ascendência próxima). Acautelar, portanto, prioritariamente, os seus próprios desejos e necessidades.
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Considerar a propriedade e a riqueza como direitos individuais legítimos e factores de prestígio e de motivação no trabalho. Preferir, entre as causas de perda de riqueza, aquelas que redundem em benefício palpável de estômagos alheios; ou seja, preferir a caridade à correcção fiscal. | ||
Em síntese |
Viver de impulsos românticos, avaliando as consequências de forma leviana.
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Avaliar as consequências de forma cautelosa, comedindo os impulsos românticos. |
Revejo o exercício e o nevoeiro continua cerrado.
Ainda assim - e na linha conciliadora dos franceses, que reconhecem ter o coração à esquerda e a carteira à direita -, diria que ser-se de esquerda serve razoavelmente a nossa vida privada, em que os idealismos são inócuos, proporcionam divertidas discussões existenciais e compõem uma imagem generosa e apegada aos valores humanistas. Já ser-se de direita serve melhor a nossa vida pública (se a temos), porque o pragmatismo, a eficácia e a paciência são qualidades essenciais à administração do bem comum. Podemos, portanto, ser muitos num só, com ganho de interesse e sem perda de coerência.
Manifesto de uma votante para a temporada de Abril-Junho, 2011:
1. Tenho por objectivo prioritário fazer uso de todas as armas democráticas ao meu alcance – lamentavelmente reduzidas a uma cruz num papelucho introduzido numa urna em cada meia dúzia de anos – para afastar do poder o homem que, pela gritante incompetência e pelo deliberado e sistemático engano, conduziu o país à situação de falência e de vergonha em que se encontra.
2. Nestes termos, o meu voto será dado ao partido que, no próximo momento eleitoral, se encontrar em melhor posição para garantir tal afastamento.
3. Até esse momento, não direi mal de nenhum dos partidos ou líderes em que possa, pelas razões referidas em 2., ter de votar. Nem vou especular sobre o que poderá acontecer, mas apenas reflectir no que já aconteceu, ou seja, centrar-me na avaliação e repúdio da acção governativa que conheço.
O mimetismo é uma característica do português, e o português político não escapa à regra. Até nos dizeres, os conselhos de um são reproduzidos à exaustão por todos, criando, por alguns dias, a ilusão de que reside neles a solução dos nossos males. Pois a nova ideia é que falemos pouco… - de preferência, nada – uma ideia que está longe de me agradar. Desde logo, porque sem palavras não há como saber coisas. Depois, porque o silêncio, na presente conjuntura, tem o mesmo papel de pura representação que antes tinham certos discursos e teve um recente acordo orçamental. Os «mercados», sejam eles quem forem, não se deixaram enganar pelos discursos, não se deixaram enganar pelo acordo, e não vão deixar-se enganar por silêncios, tabus ou reservas. A opinião dos «mercados» não se fez hoje, nem ontem, nem anteontem, mas à custa uma avaliação contínua de actos e actores, iniciada, presumo, há muito tempo. Por isso, apostaria que os «mercados» não vão sossegar com simples reformulações de deixas ou cortes de cenas. Para os «mercados», terá de mudar a peça e, sobretudo, a companhia.
É quando as situações se extremam e as dicotomias se acentuam, que a verdadeira «liberdade» (ou independência, ou imparcialidade - como queira chamar-se-lhe) se revela. Razão por que, observando, por estes dias conturbados, os areópagos da nossa política e da nossa comunicação social do ponto rasteiro do meu reconhecido «enfeudamento» ideológico, me firmo na certeza absoluta de que a «liberdade» não existe. Razão, também, por que noto, nas figuras que ali se reclamam livres e são, por isso, crismadas de «independentes», uma insuportável propensão para a hipocrisia.
Tenho andado – confesso - bastante desinteressada da nossa política. Entre outras razões, porque, no conjunto dos problemas de incidência individual e colectiva que a vida presentemente me coloca, o problema político português parece-me, de tão óbvio, o mais simples de entender e de resolver. Mas sei que complicar os problemas, especialmente os mais simples, dá modo de vida a muita gente. Tentarei, por isso, dar algumas achegas solidárias à tremenda confusão em que isto está.
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óptimo, pode alargar a área de fogo controlado par...
Maria,num terreno da minha família foi o Estado qu...
a ideia de que é impossível juntar várias parcelas...
Não sei responder
Se o pagamento é feito contra a demonstração de qu...