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É simplesmente obsceno clamar por moralidade quando os adversários prevaricam e tolerar as diabruras dos "nossos" eleitos. Essa é uma atitude que admito no calor dum desafio de futebol em que jogue o meu clube. Curioso é como parte daqueles para quem o caso da licenciatura Sócrates se resumia a uma campanha negra se indignam hoje com a licenciatura relâmpago de Relvas.
É claro que ambos os fenómenos deixam a reputação da classe política (tornada anedota) ainda mais enterrada no lamaçal do descrédito. Mais grave é a fragilização que o caso provoca num governo que, à custa de duras provações da população, tem a quase impossível missão de resgatar a soberania nacional. Claro que Carlos Abreu Amorim, que em Março de 2009 escreveu isto sobre o caracter o então 1º Ministro, hoje ao defender desta maneira Miguel Relvas aparenta ter perdido a sua já precária noção de ridículo. É o que dá quando a qualidade do político é medida pelo seu grau de narcisismo e facilidade em ditar chavões em voz grossa. Os portuguese não são assim tão parvos, e a realidade é totalmente alheia ao fenómeno.
Pelo que me foi dado observar ontem da audição ao ministro dos Assuntos Parlamentares na assembleia, parece-me que um envolvimento com consequências criminais ou políticas de Miguel Relvas na salganhada das “secretas” não passa de um wishful thinking daqueles que tiram dividendos do facto: a oposição por razões óbvias, e os lóbis ameaçados pela privatização da RTP ou pela reforma administrativa do País.
Certo é que Passos Coelho ao ter segurado o seu amigo comprou um conflito com o Publico e com o Grupo Impresa, fardo no entanto bem menos pesado do que o de Cavaco Silva que, apesar de tudo e “sem ler jornais”, ganhou duas maiorias absolutas e dois mandatos presidenciais.
De resto, desta guerra fratricida entre Pinto Balsemão e Nuno Vasconcellos que promete tudo levar à frente menos o essencial – a nossa inimputável cultura de promiscuidade e nepotismo sustendada há quase duzentos anos pelas maçonarias – não antevejo nada de útil ao País que, para aqueles que não repararam, continua em iminente risco de falência.
Os esclarecimentos de Miguel Relvas à Entidade Reguladora para a Comunicação Social não chegam para explicar algo de muito importante em todo este “caso” com o Público: como é que o líder do gabinete governamental responsável pela comunicação social, tão experiente no relacionamento com os média cai numa esparrela destas. Não me custando a acreditar nas explicações do ministro, certo é que alguma coisa correu muito mal nesta história toda: este foi um acontecimento que infringiu pesadas perdas de reputação, não só ao seu gabinete, mas a todo um governo vergado na hercúlea tarefa de executar um impopular e doloroso programa de resgate financeiro no País. Miguel Relvas conhece melhor do que ninguém as regras do jogo, os jornalistas que temos e as sensibilidades imperantes na comunicação social. E contra factos não há lamentos: falhado parece o pescador que não gosta do mar.
Publicado originalmente aqui.
Miguel RELVAS sobre Pedro Passos COELHO, usando um melão para exemplificar. "É um fruto que só revela as suas qualidades quando aberto, na mesa. Antes, é difícil saber. Mas um especialista sabe interpretar os sinais - o toque, a cor, o cheiro, podem ser indicadores fiáveis sobre o conteúdo. Pois Passos também transmite os seus sinais, e Relvas está em condições de garantir: "É um bom melão. Estamos em presença de um bom melão".
Quem sabe, sabe.
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