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Acabo de ouvir Manuel Alegre aqui na TSF cavalgando a onda de indignação que a crise do euro encerra, verberando um discurso xenófobo de diabolização da Alemanha, estabelecendo levianos paralelos às Guerras mundiais. Esta atitude incendiária, é demonstrativa da sua extrema irresponsabilidade. Tirem-lhe de vez os microfones da frente - o homem que nos deixe em paz e se dedique à poesia.
Na segunda-feira dia 6 de Junho inicia-se a hercúlea tarefa do País apanhar os cacos partidos, de modo a enfrentar-se a mais penosa conjuntura política e económica vivida na frágil democracia portuguesa. Se é compreensível que o PSD e o CDS recusem a inclusão do protagonista desta vertiginosa espiral de ruína para a árdua missão de resgate, já não me parece razoável que no PS alguém venha agora impor condições para o auxílio.
É de facto muito pouco o que separa hoje Portugal duma enorme catástrofe política e social. Nesse sentido, as declarações de Manuel Alegre ontem em Coimbra, reclamando o estatuto de oposição para o seu partido caso não vença as eleições, pecam não só por um escabroso tacticismo politiqueiro, mas uma deplorável falta de patriotismo. Deformidade essa que já constava na duvidosa folha de serviço deste lírico bardo da 3ª república.
Em estéreo
Os 830.000 votos resultantes da coligação de Alegre
significam o tecto máximo a que nossa esquerda radical pode ambicionar,
traduz a fuga do eleitorado moderado para o centro,
enxotado para Cavaco, Fernando Nobre ou simplesmente para a abstenção.
Se nestas eleições presidenciais há um claro derrotado, esse é o socialista Manuel Alegre, que reaparece cinco anos depois da sua romântica incursão, numa obtusa aliança de estrema-esquerda, obtendo menos trezentos mil votos. Se estas eleições presidenciais contêm uma boa notícia é a dos limites dessa linguagem, desatradamente acalentada por um PS na iminência de ser oposição: não colhe. Uma coisa é praticar esse extremismo experimental em meios recatados como blogues de arrastão, jugulares ou corporativos; outra é exibi-lo como bandeira eleitoral. Assim, parece-me que esta alegre hecatombe é fruto duma fuga do eleitorado moderado para o centro, enxotado para Cavaco, Fernando Nobre e para a abstenção. Os 830.000 votos resultantes desta coligação não são mais do que o tecto máximo da nossa esquerda radical. Daí que se compreenda que Louçã exulte de satisfação, e que isso até seja uma boa notícia.
Este artigo publicado hoje no jornal i trata dum não assunto, um não caso. Se Manuel Alegre terá sido um dia um militar menos empenhado ou um desertor, se traiu a sua amada platónica pátria, se fez contra-informação ou contra propaganda através da Rádio Argel ao lado do inimigo, suspeito que sejam factos pouco relevantes tendo em conta o seu eleitorado. A esquerda radical representada pelo Bloco e a ala jacobina socialista é por natureza contra poder, internacionalista, anti-nacionalista, anti-militarista, com simpatias anarquistas e pseudo-pacifista. Ao nicho eleitoral do candidato Alegre o boato da sua pretensa traição no antigo ultramar até cai como sopa no mel. De resto, mantenho a convicção de que as eleições presidenciais, com resultados por demais previsíveis, são totalmente irrelevantes e inúteis para a redenção nacional do atoleiro em que se encontra: pura perda de tempo, um inconsequente e caprichoso dispêndio de recursos e energias.
Para os próximos meses a única bandeira comum entre Alegre, os Berloques e os Socialistas será o projecto de lei da autodeterminação do género. No resto a campanha do poeta terá que se cingir à gestão de cumplicidades inconciliáveis e silêncios estratégicos, alguns deles que soaram ensurdecedores, nomeadamente com o aguçar da crise e da contestação social. Cavaco tem uma passadeira vermelha para o segundo mandato.
- Luis Vaz, eh Luis Vaz!
- Quem sois que dizeis conhecer-me?
- Sou eu, o Manuel Alegre, cavaleiro da Républica...
- Falais de quê, moço?
- Eu... eu vinha só oferecer-te a minha Praça da Canção
- A Praça de Mazagão? Estivesteis lá, combatendo o infiel?
- Não, Luis Vaz, estive em Argel, lutando pela Liberdade...
- Que dizes, traidor. Pois ousasteis libertar os inimigos de Cristo?! Quem sois, criatura do Demo, castelhano malvado?
- "Erros meus, má fortuna, amor ardente"...
- Então andais clamando a minha poesia, almocreve sem mula, por onde passeais a tua gula?
- Não Luis Vaz, glosa antes as minhas trovas. eu "canto de pé no meio do país amado"...
- Pois toca a embarcar para ceuta. Onde pensais que perdi este olho. Na peleja, mancebo, na peleja. Ide, que os tempos são da combate.
- Luis Vaz, "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança"...
- Confiança... Abuso, dizeis vós!
- "Amor é fogo que arde sem se ver"...
- Eh pá chega para lá. Quem pensais ser? D. Catarina de Ataíde? Vós, nem Natercia. Abrenuncio!
- Eu sou um candidato a Presidente, nesta República que matou os Reis! Nesta República heróica, nesta " ocidental praia lusitana".
- Matasteis o Rei? e vindes agora recitar os meus Lusíadas que eu guardava para ofertar a Sua Megestade?
- "Pergunto ao vento que passa, novas do meu país"... Luis Vaz dá-me o teu apoio, dá-me o teu voto "e o vento cala a desgraça, o vento nada me diz"...
- Eu cá digo o que te dou, meu perdigão. Parai essas cenas! Anda cá que te arranco as penas. Olhai esta espada que tantas tripas furoue El-Rei sempre amou. Olhai, malandrim!
- Não, Luis Vaz, não! Piedade, Luis Vaz...
Excerto de Memórias dum Átomo, pelo nosso comentador de luxo João da Ega
Um presidente que para lá de republicano se anuncia parcial (não neutro) e socialista nunca o será de todos os portugueses. Será no mínimo mais um subtil elemento fracturante para a dilacerada sociedade portuguesa.
Protestos Atenas
Não vejo como o Aníbal Cavaco Silva se consiga descartar dum inevitável assomo de Sentido de Estado (leia-se medidas impopulares) de José Sócrates mais agora que está restaurado um bloco de salvação nacional. Tendo em conta a vocação de protesto e anti-económica da Esquerda, a falência financeira do País vem cair como sopa no mel para Manuel Alegre que não deixará de aproveitar todo o "sangue" que vai correr. Fica só por saber que destroços então restarão da república de que ele afinal pretende a presidência.
A hoje anunciada candidatura de Fernando Nobre à Presidência da República está longe, muito longe, de constituír apenas mais um anúncio formal. Creio mesmo que arruma definitivamente com as pretensões de Manuel Alegre de saír vitorioso da contenda e provoca até, na actual conjuntura de fim de regime, sérios engulhos a Cavaco Silva.
Talvez se enganem os que exultam com o anúncio de Manuel Alegre de disponibilidade para uma candidatura unitária de esquerda, que comprometeria seriamente a reeleição de Cavaco Silva em 2011. Acontece que ainda falta muito tempo, e uma coligação entre as esquerdas parlamentares significa um saco de gatos difícil de aguentar por um tão longo período, mesmo mantendo o pagode entretido em debates “fracturantes”. Num ano em que, tragicamente, se antevê uma agenda dominada pela economia, um tema que espectro politico do centro para a esquerda trata de forma gradualmente mais irresponsável, facilmente se adivinham divisões e combates entre os apoiantes de Alegre; comunistas, blocos, sindicatos, fenómeno que entrincheirará o candidato numa oposição ao governo, ostensiva ao PS institucional e ao eleitorado do centro que é quem decide as eleições. Esta previsível pressão entre grupos geneticamente incompatíveis e contraditórios durante mais de um ano viabilizará uma qualquer outra candidatura à esquerda do poeta, que verá assim gorada a sua utópica estratégia de unidade.
Já aqui me pronunciei sobre a posição de Manuel Alegre relativamente às legislativas. Tenho lido em vários blogues que esta posição se deveu a motivos de ordem táctica, a pensar nas presidenciais. Não subscrevo esta tese. Desde logo, as presidenciais ainda vêm longe: existem três actos eleitorais de permeio que podem ditar um novo ciclo político. E falta saber se Cavaco Silva pretende recandidatar-se. Quem privilegiar a táctica sobre a estratégia, a tão longo prazo, está condenado ao fracasso.
Falemos, por agora, de legislativas. Ao recusar integrar as listas eleitorais do PS para a Assembleia da República Manuel Alegre torna ainda mais longínquo o cenário de uma nova maioria absoluta socialista. Quem votar no partido do Governo, não vota nele - pelo elementar motivo de que ele não está lá. Sem Alegre, Sócrates apresentará em Outubro um elenco de candidatos menos representativo da pluralidade das esquerdas de que o PS se reclama. Ausente, o poeta dá uma caução moral aos habituais eleitores socialistas que estão profundamente descontentes com o desempenho do Executivo e ponderam seriamente outras opções de voto.
Sócrates precisa muito mais de Alegre do que Alegre precisa de Sócrates. Não só nas legislativas: também nas presidenciais. Sem Alegre, que nome o actual líder do PS poderá propor aos portugueses como candidato a Belém?
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óptimo, pode alargar a área de fogo controlado par...
Maria,num terreno da minha família foi o Estado qu...
a ideia de que é impossível juntar várias parcelas...
Não sei responder
Se o pagamento é feito contra a demonstração de qu...