Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Não me espantou muito ontem no noticiário das 13:00hs da rádio Observador ouvir uma curta reportagem de uma manifestação em Madrid pelo direito à habitação, que incluía um testemunho de uma Mortágua lá do sítio, apresentando soluções simples para aquele problema complexo, à boa maneira dum qualquer partido populista ou revolucionário “contra os interesses dos bancos, das grandes empresas e dos rentistas”. Fadados a suportar por cá as nossas mortáguas e similares, como se isso não bastasse, a Rádio Observador presenteia os ouvintes com uma entrevista a uma “activista” espanhola pela habitação em directo da Gran Via…
Não fiquei espantado mas tive pena, tenho muita pena que o Observador, que assino desde a primeira hora por causa da seccção de "Opinião" e de alguns seus principais directores e prometia ser diferente, mostre tanta dificuldade a distinguir-se do restante jornalismo, sempre inclinado à esquerda, caixa de ressonância do “pensamento obrigatório” progressista. Pela minha parte, estou certo de que por este país fora e àquela hora haveria bastantes acontecimentos de interesse público para noticiar, quem sabe até com um “directo”.
Gostava de continuar a ter razões fortes para manter a minha assinatura do jornal, e ter a certeza que, ao ligar o rádio do carro, não fique na dúvida se estou a sintonizar a TSF.
A capa desta semana da revista Sábado chama-nos a atenção porque nos sugere um escândalo - se a Casa Real Portuguesa fosse rica (que não é) isso seria de citicar? Mas se formos ler o artigo no interior, constatamos que o conteúdo é quase inócuo, absolutamente desinteressante. São meia dúzia de páginas de pura bisbilhotice, em que não se encontra uma única “estória”, facto ou atitude dos Duques de Bragança digna de exploração jornalística (escândalo). Talvez a promoção gratuita do Nuno da Câmara Pereira que é um desqualificado, para certas pessoas consiga imprimir algum picante ao artigo.
Não, o problema da capa da revista Sábado não está num suposto jacobinismo do jornalista que entrevistou o Senhor Dom Duarte de Bragança ou da redacção da revista Sábado. O problema da concepção dessa capa está no potencial público que ela daquela forma insinuosa atrai e que em Portugal infelizmente tem algum peso: os ressentidos e os invejosos – é uma opção comercial, que diz tanto da revista quanto dos fregueses que pretende cativar.
Perante o encolhimento das esperanças de Costa (António), a Sic de Costa (Ricardo) desespera e esmera-se.
Há dias, uma repórter da Sic junto da campanha do PSD, assegurava que as campanhas de rua não tinham qualquer contacto com os populares, era só comitiva, embora ela enchesse as ruas; no mesmo telejornal, um repórter da Sic junto da campanha do PS garantia que «dezenas de pessoas» tinham acorrido a ouvir Costa (António) em Olhão, «o PS em peso», dizia o repórter.
Sábado, no jornal das 20, a repórter junto da campanha do Chega elegeu como ponto alto da manifestação de rua subir ao andar onde vivia a menina que tinha gritado «fascista» a Ventura, e entrevistá-la.
Outro anãozinho da Sic junto da campanha do CDS elegeu insistentemente como foco do dia saber onde estava o Telmo, o Adolfo e mais quem ele lembrasse. E perante a presença de Manuel Monteiro, admoestou que Monteiro estava ali a apoiar Francisco Santos sem que, imagine-se, Francisco Santos soubesse.
No mesmo jornal da Sic, o anãozinho que segue a campanha do PSD elegeu como grande acontecimento do dia o facto de Rui Rio ter sido criticado por Rui Moreira; e algum escalão mais alto decidiu que era importante entrevistar Moreira no telejornal para que dissesse mal de Rio.
De forma que é isto que passa por informação na Sic, a qual tem ainda o descaramento de ter um programa que se imagina capaz de denunciar propaganda e falsidades. Com isto contou Costa (Anónio) durante anos. É com isto que a direita deve contar, esteja na oposição ou quando governe.
José Mendonça da Cruz
Enquanto se alastrava de forma descontrolada pelo mundo, a covid-19 foi ganhando espaço nos meios de comunicação. Em Portugal o cenário não foi diferente e os média assumiram um papel crucial na contenção da propagação do vírus na primeira vaga. Esta foi a conclusão de uma investigação que analisou cerca de três mil notícias durante as vagas pandémicas que assolaram o país.
"Na primeira vaga, a situação epidemiológica não era tão grave quanto pensávamos, mas a cobertura noticiosa foi muita intensa e antecipou-se ao agravamento do quadro sanitário, contribuindo para orientar o comportamento dos cidadãos no sentido de se protegerem", explica Felisbela Lopes, investigadora da Universidade do Minho e coordenadora do trabalho.
No entanto, esta intensidade noticiosa não se verificou nos meses seguintes. Os dados do estudo mostram que o número de notícias sobre a covid-19 publicadas ao longo da primeira vaga foi três vezes superior às da terceira. "Estas oscilações podem ter consequências. Importa reconhecer o papel do Jornalismo e fazer dele parceiro em situações de crise sanitária", defende Rita Araújo, investigadora do Centro de Estudos em Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho. (in JN 10 de Março)
Já sabíamos que ele há "estudos" para todos os gostos e com objectivos mais ou menos obscuros. Este de que transcrevo um trecho acima pretende provar a importância que os media tiveram na contenção da pandemia, e como um certo alívio ”do alerta noticioso” pode explicar uma menor adesão da população na terceira vaga. Na minha opinião o massacre dos media, principalmente os telejornais com a tabloidização da pandemia no último ano, vem resolvendo com sucesso o problema da preguiça ou falta de recursos das redacções que deste modo disponibilizam a baixo custo conteúdos emocionais para atrair o voyeurismo das audiências. Como qualquer jornalista saberá, não há muitas notícias mais vendáveis do que aquelas que mexem com a saúde pública e os medos associados a qualquer fenómeno que a ameace. Uma coisa é certa: complexidade não é amiga do jornalismo em geral e do preguiçoso em particular, e sei de muita gente que ultimamente vem evitando ver telejornais que a sanidade mental é um bem a preservar. Também porque na medida em que a pandemia se vem revelando amplificadora das audiências a procura da verdade tornou-se uma mera inconveniência.
A história da gravação pirateada ao Expresso está muito mal contada e o assunto carece de urgente esclarecimento - é o que se depreende do comunicado do jornal. Sobre a substância, eu diria que a nenhum dirigente de direita passaria pela cabeça desabafar algo daquele calibre à frente de jornalistas. As liberdades a que António Costa se permite naquelas circunstâncias são também uma denúncia.
Não deixa de ser irónico que hoje segunda-feira, enquanto em Bruxelas se arrastam as negociações por umas côdeas com que a Europa nos vai acudir para fazermos face à brutal crise económica que se prenuncia no horizonte, o tema de abertura do noticiário das 9:00 da manhã da rádio Observador tenha sido o das vitimas do incêndio florestal em Santo Tirso e uma pertinente entrevista ao sagaz bastonário da ordem do médicos veterinários. Pelo que me apercebi a peça era sobra duma comoção nacional ocorrida ontem e amplamente explorada nos telejornais, resultado do facto dos bombeiros terem ousado impedir os populares de entrarem no canil durante o fogo para resgatarem os pobres animais que não escaparam a um trágico destino.
Por falar em entretenimento, é consolador constatar que apesar do planalto epidémico se manter firme e regular nas três centenas diárias de novos casos, nos últimos dias desapareceram as alarmantes notícias radiofónicas matinais sobre focos de infecção na região de Lisboa e Vale do Tejo assim como os encontros juvenis nas ruas da periferia a afrontar a pacatez do confinamento dos bons cidadãos. Este fenómeno certamente deve-se ao facto deles serem proibidos e evidentemente por causa das bombas de gasolina estarem impedidas de vender bebidas alcoólicas depois das 20,00hs.
Pelo que vi em duas horas de noticiário da SIC Notícias que passei em "F. Forward", o que de mais importante que marca a agenda do país é a sova que um adolescente levou há dois meses e a (in) competência dos árbitros de futebol. Só faltou o comentário do professor Marcelo, mas com a pressa deve ter-me escapado.
Pior que a escolha de Assunção Cristas lançar a sua candidatura à Câmara de Lisboa num encontro de militantes em Oliveira do Bairro (que como sabemos é muito longe das redacções), é ver jornalistas a criticarem-na por tê-lo feito num dia em que as televisões estavam ocupadas com os incêndios e com o futebol.
O jornalista da TVI ontem chamava Praça da República (repetidas vezes) à Praça da Bolsa em Bruxelas...
Queixarmo-nos dos jornalistas é como reclamarmos contra o degrau traiçoeiro em que tropeçamos: ele já lá estava.
"O lápis azul da censura do Estado Novo passou automaticamente a lápis mental rosa, às vezes vermelho na democracia" escreve Helena Matos no Observador, a propósito da cultura vigente nas redacções na imprensa indígena. Incrédulo e inconformado, hoje voltei a comprar o Diário de Notícias. Desconsolado com a ausência do bem humorado Alberto Gonçalves, deparo-me com uma inenarrável reportagem da Fernanda Câncio sobre a peregrinação a Fátima numa perspectiva estilo Nacional Geografic mas laicista em que os peregrinos “não acreditam em padres”. Mais à frente, sobre a vitória dos conservadores no Reino Unido o jornal não faz qualquer esforço para disfarçar o profundo incómodo: sobre o assunto, é entrevistado um (outro) Manuel Arriaga, lente em Cambridge, para quem a vitória do partido Conservador resulta do sistema eleitoral britânico ser “particularmente patológico”. Ao lado o inevitável Viriato Soromenho Marques faz o seu comentário em que afirma terem esses resultados constituido uma derrota de Churchill, afinal um federalista europeu avant la letre.
Se o divórcio cada vez maior das pessoas com os partidos políticos é uma discussão pertinente, na mesma medida talvez mereça reflexão a crescente quebra de vendas dos jornais, cuja viabilidade económica (e independência), está cada vez mais comprometida.
Imagem 1: tratamento da notícia da vitória do Syriza e da surpreendente maioria absoluta dos Conservadores britânicos no mesmo jornal, do Insurgente.
Imagem 2: Fotografia Diário de Notícias da grande concentração de 5 de Outubro 2013 em homenagem aos revolucuionários da Rotunda de 1910.
É assim o jornalismo militante - não interessa a veracidade dos factos relatados, antes passar uma mensagem. A entrevista da filha de Salgueiro Maia generosamente distribuída pela Lusa, pontifica hoje com chamada de capa em quase todos os jornais diários, que destacam este extraordinário apontamento: “Filha do capitão de Abril Salgueiro Maia, a viver no Luxemburgo há quatro anos, diz que foi "convidada" a sair de Portugal pelo primeiro-ministro Passos Coelho, lamentando a situação actual do país, que compara ao terceiro mundo”.
Importa referir que, sem querer por em causa a honestidade e competência dos socialistas - tudo gente boa claro está - há quatro anos, data da partida de Catarina, era José Sócrates que estava no poder, a negociar o resgate financeiro do país com a Tróica. Não tendo a minha modesta pessoa o privilégio de ser filha de Salgueiro Maia, que acabou indo trabalhar para um conhecido paraíso capitalista, gostava de deixar claro que, estando eu na época também desempregado, se um líder da oposição ou do governo, fosse ele qual fosse, se me dirigisse assim sem mais nem menos e me convidasse a emigrar eu agradeceria a surpreendente atenção, mas pensaria muito bem antes de aquiescer.
Ah, sei que não interessa nada, mas com uma mãe muito doente e quatro filhos dependentes virei-me por cá. E quem viu as coisas tão mal paradas há dois, três anos, desconfio que podia ter sido muito, mas muito, pior.
Imagem de "O Emigrante" - Charlie Chaplin, com uma vénia.
Um jornal de referência de um País que não quer ter filhos entrega a tarefa de escrever um artigo sobe a natalidade à Fernanda Câncio. Assim, o Diário de Notícias presenteou ontem os seus leitores com "Uma barragem contra o Pacífico" (pretensioso título aproveitado do romance de Marguerite Duras) um longo artigo sobre as escolhas da maternidade e a crise demográfica, exactamente da autoria da conhecida jornalista. É assim a modos que encarregar José Pinto-Coelho, presidente do PNR, para escrever uma peça sobre o 25 de Abril quarenta anos depois.
Como seria de esperar, da questão base, de mais, menos ou nenhum filho, o texto descamba para uma minuciosa contabilidade de deves e haveres relativos à discriminação sobre a mulher e igualdade de género, sem esquecer a opressão da culpa que se abate sobre as cerca de 8% das mulheres que não querem ter filhos. E a crise do governo Passos Coelho, sempre implícita, pois claro.
Ora como é evidente a maternidade constitui em si um atentado à igualdade de género. E como eu já referi por diversas ocasiões sou da opinião que o "inverno demográfico" em Portugal apenas pode ser invertido conjugando uma série de políticas de justiça fiscal que gratifiquem os casais com mais filhos com uma grande campanha comunicacional que ajude a relevar os aspectos positivos da maternidade e os arquétipos culturais que propiciam famílias grandes. Uma perspectiva antagónica aos paradigmas da modernidade que nos trouxeram até aqui.
E depois há a opressão da culpa das mulheres que não querem ter filhos – um bicho-de-sete-cabeças que de facto não abona em nada a natalidade. Uma questão do foro exclusivo do indivíduo: a culpa só se resolve mesmo com o perdão... e os complexos de culpa com um psicólogo.
Mas assim não vamos lá.
... o mau tende a expulsar o bom. A Sic deu, ontem, um exemplo cristalino disso.
O editor de Economia revelou em primeira mão que o Documento de Estratégia Orçamental não prevê mais cortes de salários ou pensões, nem novo aumento de impostos, mas sim cortes nos serviços do Estado e uma taxa sobre os produtores e distribuidores de energia, que é uma forma de reaver rendas excessivas.
Tratava-se de um «furo», de uma «cacha», e seria normal abrir o noticiário com ela. Mas, sendo a notícia favorável ao governo, e visto a estação não gostar de notícias favoráveis ao governo, que prefere atacar, o telejornal optou por um alinhamento que seria surpreendente se não conhecessemos bem demais este tipo de manipulação. A Sic noticiou, primeiro, que o PS criticava o governo por esconder as medidas, e só muito mais tarde revelou as medidas que o governo vai tomar.
No mesmo telejornal a Sic poderia ter noticiado que o desemprego caíu para 15,3%. Mas preferiu noticiar que o desemprego entre os jovens aumentou.
Sem se perguntar, obviamente, sobre o que isso dirá acerca da real preparação da «geração mais preparada de sempre», ou da rigidez do mercado de trabalho, ou do papel dos sindicatos como barreira dos que chegaram primeiro ou já estão.
O jornalismo vendido, o jornalismo alinhado, o jornalismo mau, não é, portanto, apenas uma ofensa ao jornalismo sério. É seu inimigo mortal, expulsa-o sempre que pode, varre-o das antenas e do papel.
Escrevi estas palavras há algum tempo, cuja pertinência entendo reforçada como se pode verificar por este excerto do desastrado depoimento do Ex-presidente da republica à RTP a propósito da morte de Eusébio.
Estou cansado que me chamem, mesmo em entrelinhas, bárbaro e retrógrado, numa indisfarçada campanha maniqueísta da nomenklatura dominante. É nesse sentido, com alguma impaciência que encontro no Expresso de hoje a notícia assinada por um tal Angel Luís de La Calle sobre o projecto da nova lei do aborto colocado em discussão pelo governo espanhol, que pleno de preconceitos, pré-juízos e moralismo se revela um autêntico artigo de opinião, onde numa selecção de recortes da imprensa internacional favorável à livre interrupção da gravidez, assevera por exemplo esta pérola de propaganda sectária “vai ser a única promessa cumprida do programa de governo com que Mariano Rajoy arrebatou o poder aos socialistas nas eleições de 2011”. Um bitaite que sem qualquer sustentação ou contraditório vale o que vale, isto é, nada.
Tenho a confessar que admiro a coragem da direita espanhola na assunção dos princípios que defende e com os quais se apresenta a eleições. Estou convencido que com alguns ajustamentos a nova lei poderá ser equilibrada e justa. É que eu, como milhões de portugueses e espanhóis tenho muitas dúvidas que os direitos de uma mulher se sobreponham à de um outro Ser, em formação é certo, mas já em si único e irrepetível. Como milhões de europeus, tenho profundas dúvidas de que o aborto como recurso anticoncepcional sancionado pela Lei constitua qualquer coisa minimamente parecida com “progresso civilizacional”.
Mas em tudo se vai lendo na imprensa nacional a respeito desta inédita iniciativa legislativa do PP espanhol, o que mais me espanta é a total ausência das vozes contra a corrente, que parecem ter adormecido algures em conformadas vigílias de terços e rosários. Isso é definitivamente pouco: temos muito que aprender com nuestros hermanos.
Após ocupar cerca de uma página completa da revista Ípsilon do Público com a recensão à dissertação de mestrado de José Sócrates recentemente publicada com estrondo mediático, Diogo Ramada Curto conclui assim:
(…) Este livro não deve ser avaliado positiva ou negativamente em função da personalidade e da carreira pública do autor. Pelo contrário, a apreciação deve cingir-se ao estrito propósito universitário que esteve na génese deste livro. Entrar aqui noutras considerações, que extravasam do conteúdo do livro, seria alinhar com o circo mediático criado para a promoção do autor. Para isso já basta esta recensão. Não fora o autor o ex-primeiro ministro de Portugal, este trabalho de mestrado – tal como sucede com centenas de outros do mesmo género ou, mesmo com excelentes teses de doutoramento – dificilmente teria direito a uma recensão no Ípsilon.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Se um hectare ajudar, pronto para tal talvez. Em n...
Zonas com vegetação não significam florestação. A ...
Uma abstracção é uma abstracção. Não carece do ter...
Não. Em 1900 Portugal era uma uma imensa charneca....
Só por curiosidade há quem defenda que Lisboa devi...