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Antigamente comprava-se um ou outro jornal quotidianamente, diário ou semanário, consoante o atractivo que apresentava, escolhido por causa dum colunista específico ou algum assunto destacado na capa. Gosto muito de ler jornais, por isso hoje teimo comprar um semanário ao fim de semana e assino um jornal online para a família toda, independentemente dos conteúdos diários que apresente. A minha escolha reduzida.
Salvaguardadas as diferenças, confesso que esta greve dos jornalistas se assemelha demasiado a um protesto de chapeleiros nos anos sessenta. Infelizmente.
Talvez fosse importante perceber o que motiva o leitor na era digital a comprar um jornal. Confesso que, talvez por comodismo, há muitos anos que compro o Expresso, que, para lá de alguns colunistas que me habituei a seguir, cada vez menos me vem surpreendendo com algum trabalho de verdadeiro interesse. Já me tem acontecido comprá-lo e esquecer-me de o ler.
Dizia alguém há dias numa rede social que a razão da crise nos jornais em particular e no jornalismo em geral é que, perante a profusa circulação de informação, mediada ou não, que a Internet disponibiliza, já pouca novidade se encontra num jornal. Se esse dado parece inegável, o pior ainda é a perda de autoridade ou reputação das publicações quando veiculam trabalhos jornalísticos, a maior parte das vezes pouco sérios, e quase sempre parciais, sob a perspectiva da bolha intelectual do mainstream que nos apascenta a partir do Terreiro do Paço ou de Bruxelas – mera propaganda do status quo. O problema é não perceberem que, estando as audiências a minguar de dia para dia, os poucos que sobram merecem mais qualquer coisa do que o débito de preconceitos preguiçosos, pouco fundamentados e sem contraditório. Se tivermos em consideração que as gerações até aos 30 anos simplesmente não lêem jornais e não vêm televisão, percebe-se que é inexorável o fim do modelo de negócio das notícias como existiu durante o século XX, e por maioria de razão num mercado de consumidores exíguo como português. Pior, não perceberem que têm de tratar os poucos leitores como pessoas exigentes e informadas é um erro fatal.
Antes de terminar, confesso uma fraqueza: sempre gostei muito de jornais em papel, e tenho imensa pena que o seu tempo esteja a acabar. Por isso partilho aqui o exemplo do que não é admissível por parte dum jornal generalista como o Expresso, o recorte que aqui apresento no topo é retirado dum artigo publicado na última revista. Não se compreende que aquele semanário pretenda tomar parte na campanha eleitoral dos EUA, muito menos se entende como os leitores que pagaram 5,00€ pelo jornal não mereçam mais consideração, por exemplo no tratamento de questões complexas como as eleições americanas ou as alterações climáticas com um pouco mais de sofisticação. Ou então o Expresso pretende ser um mero panfleto publicado para os amigos, para contentar uma bolha cada vez mais pequena, envelhecida e… isolada da realidade.
A defesa da liberdade de expressão é sem dúvida uma prioridade inalienável para a salvaguarda duma nação que queremos dinâmica, inclusiva e dialogante. Mesmo que dessa liberdade emerjam os mais ignóbeis discursos de ódio e uma sempre perigosa conflitualização do debate político – essa é, sabemo-lo, a grande fragilidade da democracia. Que tal radicalização seja inevitável nas redes sociais, em que tantos bons chefes de família perdem a compostura por dois minutos de fama, e que o mais das vezes se assemelham a uma malcheirosa e barulhenta taberna onde sobressaem as mais sonoras, excêntricas e ultrajantes boutades, entende-se. Agora, o “cartoon” duma tal Cristina que caricatura o símbolo do CDS associando-o a uma cruz suástica publicado no domingo pelo Público só vem confirmar a casa mal frequentada em que há muito se tornou esse jornal, cuja redacção mais parece uma extensão do esquerda.net.
Um retrato assustador (para quem como eu gosta de jornais) da crescente irrelevância da imprensa escrita nacional, que nem a subida de assinantes do Público online consegue disfarçar. Veja-se por exemplo como as vendas em banca do semanário Diário de Notícias no último ano desceu 36%, para apenas 3981 exemplares...
A confirmação veio através de um post do próprio Alberto Gonçalves no Facebook: “só para evitar confusões: saí do DN por vontade da direcção”. Custa-me a acreditar que um jornal como o Diário de Notícias, que luta pela sobrevivência no exíguo espaço que sobeja para a imprensa dita “tradicional”, dispense um dos mais talentosos e populares cronistas da nossa praça. Como é que um jornal, qualquer que ele seja, que pretenda sobreviver nestes tempos em que perdem influência, dá assim um tiro no pé? Em compensação agora oferece-nos essa consagrada virtuosa da escrita que é Maria de Lurdes Rodrigues... A sensação que fica é que os editores não se dão bem com a pluralidade e com a irreverência, preferindo uma pena amestrada e complacente para com a oligarquia que nos pastoreia.
Há uns meses elogiei aqui esforço do DN pela inclusão deste colunista que lhe conferia uma qualidade extra ao Domingo, dia em que muita gente não dispensava a leitura dos textos ácidos e bem-humorados do Alberto Gonçalves. Suspeito que o DN não resista muito tempo a tantos maus tratos. Temo pelo futuro desta velha marca centenária do jornalismo português. Mas pensando bem talvez não seja grave: sobram sempre os blogs e as redes sociais.
Na leitura de “As Vantagens do Pessimismo” do filosofo britânico Roger Scruton chamou-me a atenção a antiguidade da escola secundária High Wycombe Royal Grammar School, frequentada pelo autor, estabelecimento de ensino público (gratuito) fundado em 1542 em High Wycombe, Buckinghamshire. A questão remete-me para o significado e importância da longevidade das instituições e só a título de exemplo, através de consulta rápida na Internet, descubro que a fundação Banco Barclays e a águia representada como seu logotipo ascende ao ano de 1690 e que a origem do reputado semanário londrino The Spectator remonta a 1711.
A resiliência de instituições, organismos e empresas reflecte muito sobre a comunidade de que emanam, e o facto é que em Portugal é corriqueiro que se extingam e substituam a recomeçar zero numa vertigem parola como se não houvera ontem. Irónico como a bandeira do nosso País de quase 900 anos de história tem pouco mais de 100 anos e que, por exemplo, a nossa rádio nacional hoje “Antena um” já tenha mudado de nome e de imagem vezes sem conta desde a sua criação como Emissora Nacional em 1935.
Tudo isto vem a propósito não das consequências da crise do BES, mas dos 150 anos que o Diário de Notícias completa hoje dia 29 de Dezembro e que, a par com o jornal Açoriano Oriental (1835) e o semanário Aurora do Lima (1855), são os últimos títulos centenários resistentes. Admirador confesso da marca que me habituei a conviver de tenra idade em casa dos meus avós, tenho a confessar que por estes dias já só leio o DN aos Domingos, muito por causa das finas e humoradas crónicas de Alberto Gonçalves. Muito pouco para um jornal com tanta história, cujos dados mais recentes apontam para um acelerado declínio de vendas, apesar das diversas restruturações e operações de cosmética efectuadas nos últimos anos.
Tenho para mim que uma marca antiga e com tanta história como a que ostenta o Diário de Notícias possui, só por isso e apesar da crise, uma incalculável vantagem competitiva no mercado da comunicação social. A não ser que dentro daquelas paredes se não tenha sabido preservar e transmitir o capital de saber acumulado que deveriam conferir 150 anos de experiência. E que os seus actuais gestores não saibam merecer esse legado: o Diário de Notícias não é uma marca qualquer.
Texto adaptado, publicado originalmente aqui
Hoje o dia nasceu com um novo jornal: de conteúdos abertos, 100% online, com uma linha editorial assumida, chega a ser atrevimento. O desenho é limpo e elegante e de navegação muito ergonómica. Uma equipa de luxo que integra nomes consagrados do jornalismo como David Dinis, Jose Manuel Fernandes, Helena Matos, João Cândido da Silva, com historiadores como Rui Ramos e Fátima Bonifácio. Longa vida ao Observador.
José Manuel Fernandes assume o cargo de publisher do O Observador, um novo jornal que se anuncia e muito promete: será dirigido por David Dinis, com Rui Ramos como coordenador do Conselho Editorial e Diogo Queiroz de Andrade como director criativo.
"A 'Three Gorgeous' vai assinar amanhã o contrato de compra da participação do Estado na EDP" (Mário Crespo).
"O ministro das Finanças não tem qualquer visão sobre como é que o país se há-de desenvolver, e tal" (António Costa, Quadratura do Círculo).
"A Europa não está a ser séria. Andam todos a fazer cada qual o seu joguinho. Os holandeses são capazes de vender a mãe se lhes pagarem bem. Os suecos julgam-se superiores. Os noruegueses (...), um rapaz que fazia Pilates comigo, foi à Noruega, deixou lá o curriculum e já o chamaram (...) O Sarkozy-Cosifantuti... é mau para os países terem líderes ridículos" (Raul Rosado Fernandes).
[Silêncio] "Deixe-me fazer-lhe uma ultima pergunta" (Ana Lourenço).
(...) "Eu conheci a Thatcher" (RRF).
"Um bom Natal" (AL).
"Aos 40 percebi que era imortal" (Diogo Infante).
“Dou 13 à cimeira” (Marcelo Rebelo de Sousa, sobre a cimeira europeia).
[Um homem que se] "passeia pelos salões dos poderosos, come pastéis de bacalhau na leitaria da esquina, frequenta seminários académicos, bebe um refresco em locais imagináveis e trata por tu grandes e pequenos" (António Barreto, sobre Gonçalo Ribeiro Telles).
"Já é uma tradição nas cimeiras dos países mais ricos do mundo" (Luís Delgado, sobre a presença de estrangeiros na manifestação da Assembleia da República).
"Christine Lagarde é uma encantadora, uma sedutora" (Braga de Macedo).
"Portugal não é monótono" (António Barreto).
Ousando pôr a foice em seara alheia, opinião de leitor e assinante da primeira hora, a reestruturação do jornal i merece-me umas curtas palavras. De notar que a minha apreensão já vem de trás, com a progressiva dispensa de colunistas e analistas que se afirmavam “marca” deste ousado projeto editorial sem uma substituição equivalente. Acontece que com a transformação verificada nos últimos dias na sequência da assunção da direção de António Ribeiro Ferreira - com os seus entediantes editoriais, não só pela ambiguidade politicamente correta, mas pelo estilo “chico esperto, uma no cravo outra na ferradura” - revelou-se uma reorganização dos conteúdos que aproxima perigosamente o jornal i dum estilo clássico, igual aos seus concorrentes, sem que no mínimo tenha para isso, soit disant, “vocação”. Curioso é verificar como o Público adotou a receita do antigo i para edição de Domingo com o protagonismo da abertura para a análise e opinião.
Considerei e afirmei-o num post em tempos, que a criação de um novo titulo diário num período de crise da imprensa tradicional constituía um ato de tremenda coragem... se não de enorme loucura. Certo é que o jornal i, com o seu estilo prático e sucinto, dando o protagonismo a uma análise e opinião “fora da caixa”, graficamente muito audaz, acabou por me conquistar. Daí até eu fazer uma assinatura foi um passo, e hoje reconheço que, no mínimo, essa opção teve o mérito de incutir nos meus miúdos adolescentes o gosto de lerem um jornal.
A fórmula apresentada dos últimos números deixa-me triste ou preocupado: o jornal i por estes dias confunde-se-me com uma fraca imitação dos seus pesados e regimentais concorrentes.
A entrevista de João Céu e Silva ao Senhor Dom Duarte publicada na revista Notícias Sábado do Diário de Notícias, confirma um competentíssimo jornalista e revela um entrevistado culto e sabedor, com uma interessante e desempoeirada visão sobre os grandes temas políticos da actualidade. Estranho no entanto a parangona de primeira página com uma frase descontextualizada, a respeito das fatais questões de costumes tão na moda. De resto ao longo do artigo esses temas são explorados e destacados ao limite, coisa que não me parece inocente, seja por razões políticas ou comerciais. Tal não seria um problema se os temas “fracturantes” sobre os quais o Duque de Bragança possui uma opinião legitimamente conservadora, não tendessem a esbater a importância doutros, politicamente bem mais reveladores e urgentes sobre a complexa realidade que aflige os portugueses. Essa análise, preparada e perspicaz está lá, nas linhas e nas entrelinhas, para quem quiser ler.
Outra fascinante entrevista é a publicada na edição de fim-de-semana pelo jornal i ao neurologista e Alexandre Castro Caldas: uma bela e interessante peça jornalística de Sílvia Oliveira, a ler com atenção.
Não muito dado a futebóis fui, por acaso, à pagina de A Bola (via este post) e lá me deparo com a notícia de que Mussolini trabalhou para o MI5. Fui ver, claro, não se tratasse de um outro Benito, eventual jogador no calcio (ler cáltchiu - diz que é assim que os entendidos - e os italianos - designam o campeonato italiano de bola). Maior do que a surpresa da notícia, foi a surpresa de a ter encontrado ali.
Em resumo, A Bola já está nos favoritos. É que tirando a parte do futebol - podem ler-se notícias sobre futebol em qualquer lado - tem uma excelente secção de actualidade noticiosa.
Surpreende-me muito o Editorial de hoje do Diário de Notícias, (tarefa que, tenho notado, nesta época de estio deve estar entregue a algum ingénuo estagiário) o qual, além de malhar no PSD, nos aconselha “respeito” para com os objectos domésticos ultrapassados, como a televisão a válvulas, o disco de vinil etc. Não entendo porque raio devo eu “respeito” para com um velho telefone negro, uma lista telefónica ou cassete de vídeo. Pela minha mão já muita tralha dessa foi para o lixo sem qualquer remorso. Ainda admito que se exija respeito para com os seus ilustres inventores, talvez acenando-lhes uma vénia quando a eles nos referirmos...
Até o mais inveterado dos conservadores, para quem o respeitinho é mesmo bonito, se for inteligente usa-o com critério e parcimónia... não vá o preceito tolher-lhe demasiado a existência.
Gostei da revista do I. Chama-se Nós e seduziu-me à primeira vista, com um conceito de jornalismo que se aproxima muito do que defendo. Um jornalismo de proximidade, que trata o leitor como cúmplice e sabe lidar com os afectos. Muito bem apresentado, com um grafismo que não se confunde com nenhum outro, e muito bem escrito. Tem boas crónicas da Sofia Vieira e do Filipe Nunes Vicente. E uma excelente reportagem da Sónia Morais Santos. E muito mais. Parabéns ao Pedro Rolo Duarte - pela ideia e pela concretização.
Anda um certo colunista do Público a disparar contra a imprensa concorrente, intitulando-a "situacionista" por promover (diz ele) Pedro Passos Coelho contra Manuela Ferreira Leite, e dá-se o azar do o mesmíssimo Público ter hoje oferecido uma revista aos leitores que tem na capa... Pedro Passos Coelho. "Situacionismo" do pior, certamente a merecer uma indignadíssima reacção do referido colunista. Ou talvez não.
São os velhos eufemismos à portuguesa, embora o vocabulário pareça novo: quando se quer fechar um jornal, diz-se que ele será "modernizado". Mete nojo tanta hipocrisia.
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