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Apesar de ser muito crítico com a classe sempre gostei de jornalismo, e (talvez por isso) aprendi a seguir e gostar de alguns jornalistas. Hoje, com a brutalidade a que não nos conseguimos habituar, fomos surpreendidos com a morte de Pedro Rolo Duarte, cedo de mais como sempre acontece com aqueles que admiramos. Jornalista e cronista que desde os tempos do Independente acompanhava, tenho para mim que o Pedro Rolo Duarte pugnava por um raro zelo na isenção. Além das afinidades musicais, aproximou-nos (virtualmente) o papel preponderante que teve nos anos mais recentes no acompanhamento dos blogs e dos blogers, movimento de que a determinada altura foi especialista e especial patrocinador. Que Deus o tenha na sua infinita Graça.
Ontem nas cerimónias fúnebres de um parente meu muito querido, um transeunte anónimo comentava que o finado devia ser alguém muito famoso. Acontece que eram largas as centenas e centenas de amigos e familiares que se apertavam na Basílica da Estrela para uma última homenagem. Para quem trabalha em comunicação como eu, actividade que visa a potenciação de notoriedade e reputação de pessoas ou marcas, este fenómeno a que chamo de “notoriedade orgânica” não deixa de dar que pensar. Acontece que há pessoas que ao longo da sua vida têm o dom construir um largo rasto de sólidas relações sociais, porque feitas de amor verdadeiro. Escuso-me explicar como o amor verdadeiro nada tem a ver com romance, mas antes com dádiva de si aos outros. Porque a vida realiza-se mais plena na medida em que fazemos bem àqueles com quem nos cruzamos. Não me constando que tenha merecido manchetes ou sido notícia de jornais, estou em crer que “a fama” alcançada por este meu parente é aquela que realmente conta na construção de um mundo mais habitável. O seu legado, construido ao longo duma extensa vida, uma história de trabalho, coerência e bondade, está bem espelhada numa das mais bonitas e fecundas famílias que é a sua, uma casa em que eu tive a Graça de ter sido sempre tão bem acolhido.
Em memória de D. Miguel de Almeida 1923 - 2016. Deus o tenha em sua infinita Graça.
(...) Y cuando éste, fiel a lo que era, se enfrentó forcejeando a los guardias civiles, y el miserable Tejero, pistola en mano, intentó, sin éxito, tirarlo al suelo con una zancadilla, el único hombre valiente entre todos aquellos cobardes que se levantó para socorrerlo, fue Adolfo Suárez. A quien, por supuesto, España pagó y paga como suele. (...) Via Rui carmo
(...) Quando Juan Carlos se aproximou do homem com quem viveu a cumplicidade de mudar a política de Espanha, Suárez perguntou-lhe: “Quem és tu?”. Respondeu o monarca, emocionado: “O teu amigo Juan Carlos”.
Medeiros Ferreira não se sujeitava aos simplismos das "narrativas" eleitoralistas. Era um homem de profunda inteligência e tenho ideia que morreu um homem bom. Deus o guarde na sua infinita Glória.
Quando os Neil Armstrong e Buzz Aldrin pisaram a Lua eu tinha sete anos e estava em Milfontes de férias. Nessa noite morna de Verão, como grande parte dos habitantes da vila, desci com os meus pais ao Café Miramar na Barbacã, para assistir na televisão ao acontecimento em directo. Não mais me esquecerei da emoção vivida, aquelas imagens difusas e misteriosas, as palmas, as interjeições e efusivos comentários dos adultos.
É simplesmente deliciosa aquela cena de Peter Falk no filme "Nas Asas do Desejo" de Wim Wenders junto a uma roulotte de bebidas quentes, quando ele esfrega as mãos enregeladas pelo Inverno de Berlim, descrevendo os mais prosaicos prazeres humanos ao ingénuo anjo Damiel (Bruno Ganz).
Gosto muito do Verão, do sol, de luz e do mar, de roupas leves e noites mornas com trinar das cigarras de fundo. Mas o frio do Inverno possui uma estética própria, uma magia que os anos nos ensinam a apreciar.
Ao contrário do calor que acicata os ânimos e enerva as pessoas, a chegada do frio torna-as afáveis e cúmplices perante o incómodo. No café, enterrados em casacos e cachecóis comenta-se o tempo com desconhecidos. E apenas com uma bica escaldada conquista-se o céu.
Nesta altura até os mais desapegados casais se aninham à noite na cama. É o tempo do aconchego e da intimidade, de tardes em família, dum bolo feito no forno e chá quente para consolar. O frio também tem o seu encanto.
Post originalmente publicado num enregelado dia de Janeiro de 2009 Risco Contínuo
Post scriptum: o céu ganhou um mais anjo. Deus o Tenha na sua Graça
Recebi chocado a triste notícia da morte de Artur Agostinho, com quem há alguns anos tive o grato privilégio de privar na organização de um espectáculo de Natal para os empregados dos Hotéis Tivoli. Deste grande comunicador guardarei a imagem de um homem generoso e humilde, para além de um bom senso e simpatia raros no seu meio. Perseguido pelos senhores da revolução em 1974, foi a este ilustre Sportinguista que coube a celebre locução do “cantinho do Morais” que em 1964 deu a Taça dos Vencedores de Taças ao seu (nosso) clube do coração. Nas nossas memórias prevalecerá sempre o seu incontornável protagonismo no clássico Leão da Estrela de 1947 realizado por Arthur Duarte. Também não esquecerei jamais o seu divertido papel no programa Zip-Zip, em particular no concurso “Sim ou Não” que muito me fascinava então, no qual o Artur entrevistava ardilosamente os concorrentes no propósito de os pressionar a proferirem as palavras proibidas. De resto, sendo eu desde pequeno um aficionado da telefonia, há muito já sentia a falta da sua afável e inconfundível voz, que estou certo marcará de forma indelével a história da radiofonia lusa. Entretanto, do cidadão responsável e atento, julgava-o interveniente e activo, e isso ajudava-me a sentir o Mundo um local mais familiar e aprazível. Sinto imenso a sua partida. Até sempre Artur.
Conheci o João Aguiar ainda na década de 80. O João fora assessor de Gonçalo Ribeiro Telles no Governo da AD e fomos companheiros durante anos no PPM. Mais tarde, estivemos juntos na candidatura de Miguel Esteves Cardoso ao Parlamento Europeu e na criação do Movimento Alfacinha. O João era, tal como eu, um monárquico e ecologista, com uma visão humanista do mundo. Foi várias vezes candidato a eleições pelo MPT - Partido da Terra com a generosidade que sempre colocava nos projectos em que acreditava. Ultimamente via-o pouco porque o João gostava de estar em casa, na quietude "da linha". Vinha pouco a Lisboa, apenas o necessário e quase só por motivos profissionais. Há quatro anos encontrei-o na Feira do Livro de Lisboa e, logo de imediato, combinámos uma iniciativa editorial conjunta. Por razões várias, de que me penitencio, não lhe conseguimos dar a velocidade pretendida. O João era um grande escritor, com uma obra que ficará na história da literatura portuguesa.
Nascido em Lisboa, viveu a infância entre a sua cidade natal e a Beira, em Moçambique. Muito novo a mãe ensinou-o a ler para mantê-lo sossegado na cama, período em que germinou a sua costela de escritor. Com apenas oito anos, tentou ditar um livro de aventuras à irmã Maria João mas, com um elevado sentido de autocrítica, repetidamente ia deitando para o lixo muitas das obras que escrevia.Só depois dos 40 anos publicou o primeiro romance "A Voz dos Deuses", uma ficção histórica centrada na figura de Viriato. Foi apenas um começo tardio mas o João soube, e bem, aproveitar para recuperar o tempo perdido. Seguiram-se duas dezenas de romances em que ficou patente o gosto do João pela história de Portugal. Licenciado em Jornalismo pela Universidade Livre de Bruxelas, João Aguiar deixou a meio muitos projectos inacabados. O que ambos deixámos por completar causa-me neste momento profundo arrependimento por não o ter conseguido fazer a tempo. Talvez mais tarde... quem sabe... Desculpa João e até sempre!
"O passado nunca morre, nem sequer é passado." Lembrei-me desta frase de William Faulkner ao princípio da tarde de hoje, na cerimónia de despedida do Jorge Ferreira, a que assistiram largas dezenas de pessoas - algumas das quais colegas de faculdade que não via há quase 30 anos. Além dos familiares, lá estavam amigos que ele foi fazendo ao longo de décadas - na escola, na universidade, na vida partidária, no Parlamento, na advocacia, no Instituto Politécnico de Tomar. Lá compareceram deputados, advogados, juízes, jornalistas, professores, bloguistas, estudantes universitários, dirigentes políticos, gente das mais diversas crenças e dos mais diversos quadrantes. Muitas pessoas com uma particularidade comum: de uma ou de outra forma, todos quantos ali estávamos nos sentimos tocados pelo espírito gregário do Jorge, pelo seu humor contagiante, pela sua abertura de espírito, pela sua curiosidade intelectual. Vamos mantê-lo bem vivo na memória, imaginando-o daqui por diante a tomar partido em todos os domínios da actualidade portuguesa, que ele acompanhava com manifesto interesse e sem nunca perder o espírito crítico - o que é outro exemplo que também não será esquecido.
O passado nunca morre, nem sequer é passado.
A notícia já era esperada, mas nem por isso deixou de me atingir mais fundo. Porque, como dizia Jorge de Sena, nenhuma morte é natural. Fomos feitos para a vida, não para a morte. E se há pessoa que conheci sempre com imenso amor à vida foi o Jorge Ferreira, que hoje morreu, com apenas 48 anos. Idade absurda para morrer, como qualquer outra idade em que existem ainda tantos projectos por concretizar, tantos sonhos por alcançar.
O Jorge estava doente há dois anos, mas sempre enfrentou a doença como travou tantos debates políticos ao longo da sua vida parlamentar, como presidente da bancada do CDS: de frente, com coragem e tenacidade. Com o mesmo desassombro que revelou quando rompeu com o partido em que militava desde a adolescência, em desacordo profundo com Paulo Portas. Com a mesma franqueza e a mesma determinação que utilizava para escrever no seu blogue, Tomar Partido: o último postal foi publicado há apenas dois dias, na quinta-feira.
O Tomar Partido - título de leitura dúplice, que evidenciava o seu amor pela bela cidade de Tomar - era um dos blogues que eu lia com mais frequência, mesmo quando discordava do que lá se escrevia. Nos últimos meses, nas entrelinhas mas sem qualquer sombra de lamechice, o Jorge deixava entrever algumas pistas que nos permitiam decifrar a dor que sentia no penoso combate contra a doença. O blogue era o seu último ponto de contacto permanente com a vida quotidiana, mesmo quando já se encontrava imobilizado numa cama do hospital. Sem este convívio com os confrades de escrita blogosférica, a despedida teria sido ainda mais dolorosa.
Há cerca de dois meses, em linhas demasiado sucintas, escrevi aqui o que pensava dele e da sua escrita. Éramos parceiros de geração, conhecíamo-nos há mais de três décadas, e nunca deixámos que as frequentes divergências de opinião perturbassem uma amizade já tão antiga. É outro companheiro de juventude de quem me despeço, cedo de mais, num dia chuvoso que também parece estar de luto por um amigo que partiu.
Por circunstâncias profissionais, quando fui Relações Públicas da cadeia Tivoli, tive o privilégio de privar com Raul Solnado. Numa ocasião em especial, uma parceria dos Hotéis Tivoli com a Casa do Artista em 2004, juntou-nos durante mais de um mês em inesquecíveis noites de ensaios para uma festa de Natal da empresa: então o Raul, com a sua incomensurável generosidade e com a ajuda de Joel Branco, Artur Agostinho, Amélia Videira e uns quantos afoitos empregados dos hotéis, liderou a realização dum inesquecível espectáculo de variedades. Ainda hoje revi o vídeo dessa festa que levou ao delírio os mais de duzentos antigos colegas meus dos Tivoli Lisboa e Tivoli Jardim. Por mim jamais esquecerei as noites de ensaios, convívio e galhofa que precederam essa noite memorável, que acredito ter sido uma das mais divertidas festas de Natal realizadas pela empresa. A sua generosidade, simpatia e uma persistente boa disposição são os traços que guardo do Raul Solnado. E ficarei para sempre grato pelos momentos de gozo e boa disposição que eu vivi na minha infância, quando por sorte sintonizava a gravação de um dos seus números teatrais no meu pequeno transístor: de orelha colada ao aparelho deliciava-me com a guerra de 1908 e outros inteligentes disparates que Raul interpretava com mestria. De resto, como comprova o actual panorama do humor nacional, esta é uma arte muito, muito difícil, obstáculo que não se resolve atribuindo-lhe nomes pretensiosos como Stand up, que só conseguem acentuar a crise de imaginação, a vulgaridade dos textos e da maior parte dos humoristas contemporâneos.
Eu chamava-lhe mestre e ele fazia que não com a cabeça. Mestre na vida e na compreensão das mulheres pois claro...Ao contrário de Freud, o que elas queriam sabia ele: Amor, gentileza e partilha. Numa das últimas vezes em que o encontrei, levei-lhe para autografar os dois volumes de «Peregrinação Interior». mas acabámos falando de «Os Nós e os Laços». Ele. consciente de que o livro era muito melhor do que o destino que teve mas sempre, sempre, incapaz de gabar-se ou à obra em seu lugar.
Tive a oportunidade de participar há uns anos, juntamente com ele, numa tertúlia sobre o amor e a paixão. Na ocasião, Alçada terminou dizendo: «Vivemos num tempo em que o amor anda tão misturado com a carne que poucas pessoas conseguem descobrir a chave do mecanismo dos afectos». Uma dessas (poucas) pessoas era ele. E essa chave, António Alçada Baptista guardava-a no bolso do casaco, bem junto do coração.
«O que poderá levar um homem a destravar uma cadeira de rodas», perguntou Mister DeLuxe num tom de voz muito baixo. «A monotonia, a solidão, os sonhos espremidos até ao osso, o falhado desejo louco de correr até o coração saltar pela boca», sugeriu Austin. «Acho que não, Austin», disse Mister DeLuxe, «acho que é a cadeira de rodas, ela mesmo».
Dinis Machado, O que diz Molero, a páginas tantas e com um abraço especial para o Xavier Ezequiel.
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óptimo, pode alargar a área de fogo controlado par...
Maria,num terreno da minha família foi o Estado qu...
a ideia de que é impossível juntar várias parcelas...
Não sei responder
Se o pagamento é feito contra a demonstração de qu...