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Os Padres aos leões

por Convidado, em 23.03.23

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Quando no dia 18 de Julho do ano 64 começou o grande incêndio de Roma, logo se espalharam os rumores de que os culpados seriam os cristãos. A juntar a esta terrível acusação, logo outras surgiram: que envenenavam poços, que fariam sacrifícios rituais de crianças bebendo o seu sangue, que fariam orgias, etc. A revolta popular foi tanta que o povo de Roma gritava “os cristãos aos leões”. Claro que os boatos eram falsos e tinham por finalidade ocultar o verdadeiro culpado do incêndio de Roma (e de várias outras acusações dirigidas aos cristãos), o Imperador Nero, que assim encontrou alvos perfeitos para satisfazer a turba.

O método de exaltar a turba com denúncias anónimas foi usado repetidas vezes ao longo da história, muitas vezes resultando em enormíssimas mortandades. Quantas vezes ao longo da história minorias foram perseguidas com bases em rumores falsos, espalhados por quem os queria destruir? A denúncia anónima sempre foi o método preferido dos tiranos, desde o tempo dos césares, até às ditaduras actuais.

A denúncia anónima sempre foi um método extramente eficaz de eliminar adversários, praticar vinganças mesquinhas e manchar inocentes.

Por isso, o Direito tem um enorme cuidado no que toca a denúncias anónimas. Em Portugal, para que uma denúncia anónima seja sequer investigada, é preciso que existam indícios de um crime. Não basta dizer às autoridades informações vagas, sem sequer nomear a vítima. Uma denúncia que se limite a dizer que a pessoa x fez o crime y há z anos terá como destino o lixo.

Isto é um princípio básico de qualquer Estado de Direito. Qualquer pessoa tem o direito de não ver a sua vida investigada e revirada só porque um qualquer adversário decidiu fazer uma denúncia falsa às autoridades. Este princípio era bastante unanime até há poucas semanas. Infelizmente agora parece aplicar-se a todos, excepto aos padres. Desde a publicação do Relatório da Comissão Independente, e da afirmação de Pedro Strech (que afinal era falsa) de que haveria cem abusadores vivos, gerou-se um movimento, capitaneado por Daniel Sampaio e Laborinho Lúcio, a exigir a suspensão sem mais, de qualquer sacerdote indicado no dito relatório.

O problema é que o relatório é baseado em denúncias anónimas que a Comissão não validou, como já veio admitir. O trabalho da Comissão foi ouvir as denúncias e compilar a informação. Não houve qualquer tipo de investigação. Daí o número de mortos, desconhecidos ou já investigados que constavam na famosa lista entregue às dioceses. Contudo, isso não impediu deputados, colunistas, e membros da própria Comissão, ao arrepio de todo o Direito, de exigir que qualquer padre referido, independentemente de provas ou indícios, fosse suspenso.

Há neste momento sacerdotes suspensos por conta de denúncias que nem sequer dariam para abrir um inquérito no Ministério Público. Uma denúncia anónima, enviada digitalmente, sem se saber quem é a vítima, ou que crime foi cometido, ou onde, é suficiente para suspender a vida de um sacerdote. Pouco importa que não haja qualquer prova ou indício, pouco importa uma vida inteira ao serviço dos outros sem qualquer suspeita, pouco importa o testemunho de milhares de pessoas, uma única denúncia anónima (que não servia sequer para abrir um inquérito na polícia) basta. Tudo para satisfazer a sede de sangue popular.

Isto não é justiça, isto não é colocar as vítimas em primeiro lugar, isto é simplesmente a barbárie. No Twitter clama-se “os padres aos leões” e assim é. As vítimas merecem justiça, não ver a sua dor ser usada com arma de arremesso. Que aqueles que de forma publica, ou por secretas obediências, odeiem a Igreja, não se importem de subverter a justiça, é normal. É assim desde Nero. Ver pessoas de bom senso que para aplacar a revolta pelos tenebrosos crimes de alguns sacerdotes estarem dispostos a fazer o mesmo, é assustador.

A Comissão fez o seu trabalho recolhendo denúncias. O Relatório não é sobre eles, nem sobre as suas agendas, mas sobre as vítimas. Agora é a hora de se remeterem ao silêncio e permitirem à justiça trabalhar.

Quanto ao Padre Mário Rui Pedras, afastado do seu extraordiário trabalho pastoral por uma vil denúncia anónima, fico-me pelas palavras de Nosso Senhor: “Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal de vós. Alegrai-vos e exultai, pois é grande nos céus a vossa recompensa”.

José Seabra Duque

Uma dor imensa

por João Távora, em 16.03.23

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Também eu estou cansado do tema dos abusos na Igreja Católica, o último sítio da terra onde estas perversões se admitiam que acontecessem. Já aqui o disse por diversas vezes: ao longo da vida como crente participei de diversas actividades e movimentos, conheci diferentes paróquias, onde tive a sorte de conhecer extraordinários padres e leigos anónimos, alguns dos quais vieram a revelar-se os meus maiores heróis, invulgares exemplos de vida e doação desapegada aos outros na forma de serviço e persistente oração (uma coisa não é possível sem a outra, garantem-me). Jamais detectei alguma coisa que me parecesse menos própria.

Antes de outra qualquer pertença, a Igreja Católica tornou-se o meu principal reduto. Nessa perspectiva eduquei os meus filhos, porque são a coisa mais importante da minha vida. Isso explica a dor imensa que sinto pelo mal que uns quantos tarados travestidos de cordeiros tenham infligido a pessoas vulneráveis, desde logo crianças. Tudo isto dificilmente me entra na cabeça, e sinto uma enorme vergonha alheia por esses energúmenos, a quem só Deus na sua infinita misericórdia terá capacidade de perdoar, se disso alguma vez se tenham arrependido e emendado. Acredito na Justiça Divina e no Inferno. Evidentemente que a cidade legitimamente exige outra.

Dito isto, não me conformo com o expectável aproveitamento que esta tragédia por estes dias permite a todos aqueles para quem a Igreja não tem qualquer significado ou dela alimentam ressentimentos insondáveis. Diga o que a Igreja disser, faça o que a Igreja fizer, por estes dias estamos reduzidos à chacota e ao descrédito, no mais despudorado desprezo pela realidade: a Igreja é incomensuravelmente maior em bondade do que os pecados de uns quantos traidores, uma diminuta minoria. Para piorar as coisas, muito por conta da sua organização horizontal e autoridade descentralizada numa rede de comunidades – uma fórmula intrinsecamente democrática (inclusiva) edificada ao longo de dois mil anos e que faz inveja ao poder político - jamais conseguirá produzir um discurso unânime, fechado. Não só porque o interlocutor de mediação, a Comunicação Social, nisso não esteja interessada, hipotecada que está na procura de escândalo – como se não bastasse um só caso de pedofilia no seu seio – que alimente as audiências ou satisfaça o secreto desejo de muitos dos seus actores da sua desautorização como ultimo baluarte do contrapoder ao niilismo materialista. Nada disto interessa à nossa imprensa que é espelho da descristianização vigente, vergada ao populismo e ditames da moda, por vocação e necessidade económica. Igreja jamais poderá capitular nesse campo: a família natural e fecunda é constituída por homem e mulher, a vida humana é sagrada da concepção até à morte natural. Aqui vem sendo surpreendente para mim o papel adoptado pelo Observador, projecto jornalístico que um dia nos pareceu reger-se por uma política editorial mais exigente e séria – que sentido fazem os comentários jocosos do Miguel Pinheiro e do Paulo Ferreira a respeito deste tema nas manhãs da rádio? O mesmo que convidarem a economista Susana Peralta a comentá-lo na rubrica da tarde “Directo ao Assunto” na mesma rádio. Uma enorme desilusão.

Mas nada disto disfarça a luta intestina que emerge do seio da Igreja Católica, provinda das suas franjas marginais, à esquerda e á direita (para usar designações simplistas), que em modo duma mal disfarçada guerra civil, se esquecem da prioridade que devia presidir as suas acções e discursos, o da salvação das almas pela unidade de todos os católicos em torno da mensagem redentora de Jesus Cristo. Compreende-se: é inevitável que toda a forma de Poder atraia lutas de poder, quer sejam vindas de fora quer sejam geradas por dentro. A Igreja tem uma longa experiência, fracturas e cicatrizes por conta desse deslumbramento mundano. Não é de surpreender que as reacções ao relatório da CI revelem o despertar ou o reeditar dessas lutas de influência sectária.

Bom seria que todos se unissem à volta do Papa Francisco, o chão comum em que devemos fincar os pés, porque as divisões internas são tão perniciosas quanto os inimigos externos. Por isso, atrevo-me a pedir encarecidamente aos protagonistas de um lado e do outro que poupem os fiéis a mais humilhações. O legado salvífico da igreja de Pedro é demasiado valioso para se conspurcar em guerras de passa culpas e acusações espúrias. A urgente purificação da Igreja não deve deixar ninguém de fora. Como nos revela esta reflexão de Adriano VI em 1523 *, ao tempo da cisão protestante:

“Nós reconhecemos livremente que Deus permitiu esta perseguição da Igreja por causa dos pecados dos homens, particularmente dos sacerdotes e prelados. A mão de Deus, de facto, não se retirou e ela pode salvar-nos. Mas o pecado separa-nos d’Ele e impede-O de salvar-nos.

Toda a Sagrada Escritura ensina-nos que os erros do povo têm a sua fonte nos erros do clero... Sabemos que, desde há muitos anos, também na Santa Sé foram cometidas muitas coisa abomináveis: tráfico de coisas sagradas e transgressões dos mandamentos em tal medida que tudo se tornou um escândalo. Não nos podemos espantar que a doença tenha descido da cabeça ao corpo, dos papas aos prelados. Todos nós, prelados e eclesiásticos, desviámo-nos do caminho da justiça. (...)

Cada um de nós deve honrar a Deus e humilhar-se perante Ele.
Cada um de nós deve examinar-se e ver em que pecado caiu.
E deve examinar-se muito mais severamente de quanto não o será por Deus no dia da Sua ira.
Consideramo-nos tanto mais comprometidos a fazê-lo porquanto o mundo inteiro tem sede de reforma”.

* Transcrição roubada ao meu querido amigo Pe. Pedro Quintela, daqui

Imagem: ruínas da Basílica Patriarcal de Dom João V depois do Terramoto

PS - A quem possa interessar, aconselho vivamente a leitura desta pequena entrevista a Felícia Cabrita, a  primeira jornalista a denunciar os casos de pedofilia na Casa Pia, em 2002. Ainda há gente com coragem.

O palco da Jornada Mundial da Juventude

por João Távora, em 25.01.23

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Há mais de quatro anos, quando foi decidido, que venho seguindo com alguma atenção as notícias da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) que decorrerá em Lisboa no início de Agosto e que reunirá mais de um milhão de jovens de todo o Mundo na cidade e concelhos limítrofes. Que ninguém se iluda, nunca nada de semelhante aconteceu em Portugal – trata-se de um evento absolutamente excepcional, o maior à escala planetária que, a par da visibilidade que promove da mensagem cristã, comporta uma logística complexa e exigente, em mobilidade e espaços para os múltiplos eventos, que urge por a funcionar. Para se ter uma ídeia, para acolher todos os visitantes juntos, será necessário um espaço correspondente a 10 santuários de Fátima ou dezasseis estádio da Luz. Com ou sem o Palco, com ou sem a colossal esplanada do Parque Tejo arranjada para a Missa Campal no dia 5 presidida pelo Papa Francisco, nada permanecerá na mesma na cidade, que quase triplicará os habitantes durante uma semana – a maior parte da operação será pouco visível decorrerá em regime de voluntariado – alojamento, refeições etc..

Para além dos incómodos que toda esta agitação inevitavelmente irá criar aos lisboetas, é de prever que surjam muito mais polémicas mais ou menos artificiais e o habitual aproveitamento político das facções radicais do nosso espectro político. Escândalos e feridas serão “descobertos” ou reavivados aos católicos. Na mesma proporção que for o sucesso da JMJ, haverá uma vozearia tonitruante a contrapor maledicência e contraditório. É assim que acontece, justa ou injustamente, numa sociedade liberal e extremamente laicizada como a nossa. Procurem-se notícias do que foi a JMJ em 2011 em Madrid, por exemplo.

Mas o que me admira por estes dias nas redes sociais é a quantidade de católicos acriticamente, mal informados, a surfarem a onda do “escândalo do palco-altar". Há muito tempo que este grandioso encontro católico está previsto, no entanto até há poucos meses não estavam definidas as responsabilidades das partes envolvidas - Lisboa, Loures e Governo. Desde então, com as verbas definidas, a seis meses do acontecimento, a CML tudo está a fazer para que o acolhimento se faça com toda a dignidade que nos merecem os visitantes. Dito isto, parece-me importante que se construa um consenso entre os portugueses de boa-vontade para levarmos a JMJ a bom porto. Com os outros já não contávamos, sempre estiveram do lado da ruptura, e sempre que puderam fecharam as igrejas e até mataram o nosso Rei.

PS.: Peço desculpa se desiludo alguém, mas pensava que este assunto já tinha ficado esclarecido com o colapso da Cortina de Ferro: não haverá menos pobres por não haver JMJ ou se o evento for mais modesto. Como não haverá menos pobres se o Vaticano oferecer os seus bens, igrejas, palácios e obras de arte. Esse sempre foi o argumento dos comunistas para expropriar as pessoas. Haverá menos pobres, estou certo, com uma Igreja mais robusta, mais santa, com mais presença na vida das nossas cidades. A ideia de que o dinheiro para o Altar cicula em vazos comunicantes entre instituições/organismos e que poderia ser gasto em caridade ou na construção de casas para os pobres é no mínimo infantil. A pobreza franciscana é um caminho de exigente espiritualidade, como outros uma escolha individual. Para mais a Igreja não é uma mera ONG, a sua fundação principal é evangelizar, ensinar a mensagem de Cristo. Para isso necessita de meios.

A crise na Igreja - ainda vai piorar antes de melhorar

Uma meditação sobre a Igreja e a Fé Católica em Portugal

por João Távora, em 19.10.22

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É grande a aflição que sinto a propósito da progressiva e acelerada perda de influência da Igreja Católica no espaço público do Ocidente, particularmente em Portugal que é o meu País. Julgo aliás que a terrível crise que actualmente abala a Igreja portuguesa e envergonha os cristãos, pouco tem que ver com a decadência a que me refiro – a Igreja sempre juntou pecadores, uns heróis outros traidores, e nem Jesus Cristo no seu tempo, com doze apóstolos, escapou a essa fatalidade.  Quando a nossa alma sangra de dor perante a insistente exposição pública, ao vivo e a cores, dos mais obscuros pecados de uns quantos elementos da Igreja, não podemos ceder a tomar a nuvem por Juno, menosprezando o papel dos seus santos e heróis anónimos, no consolo e socorro de gerações, na evangelização de milhões de almas desamparadas na expectativa dum sentido superior para a sua história. Se os outros não querem saber dessa história luminosa, nós os católicos temos por dever de procurar consolo nela. Só com profunda desonestidade intelectual ou má-fé poderemos ignorar os verdadeiros imitadores de Cristo nossos antepassados que ao longo de dois mil anos nos transmitiram a importância redentora desta pertença. Por ironia do destino, o Ocidente “liberal e próspero”, que eu não trocava por nenhuma outra cultura e que ameaça degenerar para uma fórmula autodestrutiva de extremo-individualismo, é obra da revolucionária mensagem de Cristo: o livre arbítrio, a sacralidade da pessoa humana única e irrepetível, e a caridade (ou Amor e o Perdão que são sinónimos).

Ainda nos iremos arrepender de, em pouco mais de 200 anos, termos metódica e progressivamente desbaratado uma Igreja que se confunde com as nossas raízes históricas, e que hoje constitui em Portugal um dos últimos redutos que, com a sua rede capilar territorial, ainda faz frente ao estatismo, o Estado todo-poderoso que engoliu praticamente tudo e toda a gente na sua dependência e controlo. Com todos os seus erros defeitos, a Igreja é a última resistência ao Leviatã. Amantes da liberdade, cuidado com aquilo que desejais.

Como é que este Ocidente “bem-sucedido” prescinde do legado da Fé cristã? Hoje a mensagem não passa à refeição em família, muito menos no TikTok ou no Instagram. A questão fundamental que me aflige, é a de se é possível recolocar a Fé cristã no centro da existência de pessoas “satisfeitas”. Porque sendo testemunhos uns para os outros é mais fácil a conversão em comunidades. É mais fácil resistir. Não preciso olhar mais longe do que para a minha família, nuclear ou alargada, para perceber como hoje em dia a conversão é tarefa duma exigência quase sobre-humana, porque os milagres não acontecem todos os dias.

Como referia Rui Ramos recentemente num dos programas “E o resto é história” da Rádio Observador que semanalmente realiza com João Miguel Tavares a propósito daquilo que seria o “Serviço Nacional de Saúde” antes do prodigioso século XX, antigamente as pessoas, mais que ter um médico ou um hospital (onde os tratamentos eram pouco menos que rústicas e inúteis mezinhas) preocupavam-se com a salvação da alma: a prioridade era a construção duma Igreja, uma capela ou um oratório para suplicar ou dar graças. Os hospitais existiam para acolher os mais desprotegidos e assisti-los no padecimento da doença e da miséria física (a saúde era uma função importante do Estado – como refere Rui Ramos no citado programa, o Hospital de Todos os Santos em 1750 tinha 750 doentes internados e todos os concelhos do país dispunham de “Médicos de partido” municipais para “ministrar socorro clínico aos indigentes”). Mas sendo a morte e da dor tão implacavelmente presente no dia-a-dia, o mais importante era garantir a salvação da alma, a reconciliação com o divino – o perdão, o consolo. Hoje escondemos a morte, mas no século XVIII isso não era possível. É fácil verificá-lo pelos arquivos das paróquias ou de famílias a frequência com que as senhoras (de qualquer condição) morriam a dar à luz, e a impressionante mortalidade infantil, quando era comum numa família de cinco filhos chegarem apenas um ou dois à idade adulta. A esperança média de vida em Portugal, em 1920 – já no século XX - seria de apenas 35,6 anos. A vida das pessoas era uma roleta russa. Tudo isto, a par com uma existência quotidiana mais austera no que refere a distracções, convidava certamente as pessoas a uma procura espiritual e vida religiosa, que as juntasse através das celebrações e rituais, e no fim as reconfortasse através de um sentido superior da existência. Tempos de trevas que impeliam as pessoas a procurar uma luz.

Hoje os tempos são diferentes, melhores evidentemente: a par do progresso da medicina e da ciência, a vida é relativamente previsível e a dor física quase sempre evitável para toda a gente. Ao mesmo tempo o milagre económico no hemisfério norte democratizou o consumo. Está à mão de semear de todos nós, mesmo para aqueles sem grandes recursos, uma infindável panóplia de opções de entretenimento e de satisfações sensoriais. Os sentimentos, como a tristeza, a angústia, ou ansiedades resolvem-se com comprimidos ou num Centro Comercial.

Deste modo com a água do banho deitou-se pela janela também o bebé. A vida espiritual, como a poesia ou a literatura, em vez de se democratizarem como a gastronomia ou higiene do corpo tornaram-se supérfluas inconveniências. As Igrejas estão cada vez mais vazias porque o drama humano se transformou matéria de erudição, capricho duma minoria inquieta e inconformada com o tamanho duma vida que afinal cabe num algoritmo, que não é nada comparado com um grão de estrela do outro lado da galáxia.

Como aqueles que me conhecem sabem bem, sou católico praticante, porque essa procura constitui um alicerce existencial muito importante para a minha liberdade e inteireza como individuo, coisa que nem sempre me aconteceu na vida. Não sou cristão por patriotismo ou militância, sou dos de Cristo por opção, e a minha Fé uma graça que persigo com persistência. E porque esta pertença me salva tantas vezes a cada dia, gostava que os outros ao meu lado ou depois de mim, a conhecessem, a experimentassem. Voltará a acontecer no futuro certamente através duma Igreja diferente da que hoje ameaça sucumbir à perversidade humana, de dentro e de fora dela. Minoritária, será certamente mais sábia, mais resistente, santa e ciente do legado que guarda desde São Pedro.

Entretanto, preparemo-nos para o pior – a malta ainda irá dançar, beber e fumar dentro das nossas igrejas.

Publiicado também aqui no Observador

Nós vamos a seguir, Pe. João

Uma inevitável homenagem

por João Távora, em 06.06.22

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O curioso é que o que se esperava há algum tempo, a partida do Pe. João Seabra, soube dela com choque à hora do jantar de sexta-feira, na companhia de dois seus amigos de juventude, colegas de escola. As vidas dos outros quatro convivas nesse serão, também com a dele se tinham cruzado com mais ou menos intensidade - constatámos. A notícia caiu que nem uma bomba estúpida que estilhaçou a noite com silêncios, mas que não desfez aquela cumplicidade que não havemos de esquecer tão cedo. O que quero salientar é que talvez a mais importante característica do apostolado do Pe. João Seabra é ter marcado a vida de tanta, tanta gente. Dentro dum meio não anticlerical, e mais ainda no meio católico, não é grande originalidade ter-se convivido com o Pe. João Seabra, e esse convívio ter deixado marca, mais ou menos importante, quase sempre profunda. Pela minha parte gostava dos modos afirmativos, provocadores, como o Pe. João se exprimia.  Gostava do seu radicalismo nos princípios gerais e da profunda generosidade para com cada individuo, e as suas circunstâncias pessoais. Evidentemente que essa relação compassiva inevitavelmente com o desenvolvimento pedia compromisso, indicava um caminho de radicalidade, que por vezes assustava o meu coração dividido e perdido no Mundo. Atraíam-me a sua erudição, a sua verve desenvolta e emotiva, aquela Fé apaixonada, sólida, por vezes arrogante, que fazia parecer ridículas as minhas hesitações e desconfianças no pedregoso caminho de entrega ao nosso Senhor que nos desafiava – e que ainda hoje percorro com custo. É dele a verdadeira soberania, custa a admitir. Se esse caminho do Pe. João foi algum dia custoso, admiro-lhe a maneira como digeria as suas dores, que só se percebiam quando via uma das suas ovelhas fraquejar. Que conhecia todas pelo nome. Era isso que eu dizia lá atrás: o Pe. João tinha uma capacidade inesgotável para gostar de muita gente ao mesmo tempo, cada um de forma única. Uma extraordinária imitação de Cristo. Durante os muitos anos em que o Pe. João liderou a paróquia de Santos e depois a da Encarnação acontecia-me uma coisa maravilhosa: de cada vez que, de propósito ou de passagem, sem avisar me decidia a visitá-lo, encontrei-o sempre – mas sempre. Com um enorme sorriso, a tratar-me pelo nome. 

Consola-me também que tenha feito o início desse extraordinário caminho de vida com pessoas que admiro e com quem hoje convivo. Que tenha sido um monárquico militante, um homem preocupado com a sua pátria, com a sua “cidade”, um católico rebelde mas obediente - notável é a sua tese de doutoramento sobre o processo de captura da igreja pelo Estado no Liberalismo Monárquico, até à Lei da Separação de Afonso Costa, "O Estado e a Igreja em Portugal no início do século XX" - Principia, 2009. No fim foi sempre obediente, calando o desespero por esta obra inacabada e vacilante que é a Igreja de Pedro destes tempos dissolutos (terão sido certamente sempre assim, acredito), de que ele foi um alicerce firme, inquebrantável. 

Imagino-o por estes dias lá em cima no Céu, ao lado dos maiores santos da História, em grande celebração e fortes gargalhadas, de braço dado com Jesus Cristo, tal qual como o imagino, nos seus tempos da juventude, quando os rapazes amigos, desavergonhados, exibiam as suas amizades no pátio do liceu. 

Nós vamos a seguir, Pe. João. 

A tenaz

A respeito da polémica citação do Papa Francisco

por João Távora, em 22.10.20

Os católicos praticantes (há outros?) por estes dias vivem espremidos pela tenaz dos libertários e dos fariseus. Resta-nos o discernimento e muita oração

As vítimas colaterais

por João Távora, em 16.02.19

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O realce dado pela investigação do Observador a abusos sexuais ocorridos na Igreja Católica em Portugal, provoca em mim, como católico, uma inusitada revolta: talvez por terem acontecido mais perto da minha porta, cada novo capítulo publicado foi como uma nova sessão de tortura que não consigo evitar enfrentar. Mas a dor que sinto não pode toldar-me o raciocínio – aquilo que está em questão não é o mensageiro que, com mais ou menos competência fez o seu trabalho, mas a mensagem. E a mensagem é uma aberração. A minha vergonha e repulsa são inteiramente devotadas ao pseudo-sacerdote que trai de forma escandalosa e cobarde os seus votos, usando-se da preponderância outorgada pela sua função de serviço à Igreja de Pedro para praticar as suas obscuras perversões carnais sobre seres vulneráveis - podia ser o meu filho, podia ser o seu filho. Apesar de saber que a corrupção é impossível de erradicar do ser humano, deposito grandes espectativas na reunião convocada pelo Papa Francisco para o Vaticano de 21 a 24 de Fevereiro para o debate deste problema com os bispos de todo o mundo, que dela saiam medidas de profilaxia e procedimentos para uma rápida expulsão e denúncia dos elementos prevaricadores às autoridades civis.

Mas há uma outra injustiça que emerge de todo este pesadelo que me amargura profundamente e que merece de todos, quanto a mim, uma profunda reflexão (e dos crentes também muita oração): refiro-me ao profundo padecimento que tudo isto causa à esmagadora maioria do clero, gente de infinita generosidade e incansável entrega ao exigente exercício da mensagem de Cristo, que lideram paróquias recondidas, ensinam nas escolas, dão apoio espiritual e material aos mais pobres e aflitos, e que na nossa cultura, cada vez mais anticlerical, sofrem com a estigmatização e preconceito de quem, mais ou menos inocentemente, confunde a árvore com a floresta. É essa grande maioria de homens (e mulheres) de Deus, às vezes em missão nos mais inóspitos cenários, que devemos saber acarinhar e proteger daqueles traidores que tanto nos envergonham, e de quem também são vítimas - os nossos padres (e freiras). 

Os revolucionários

por João Távora, em 04.09.18

É um momento particularmente difícil e que nos deixa desnorteados! Grandes baluartes do Catolicismo tradicional, em pungente descompostura, vêm a público quais camponeses desesperados, munidos de archotes e forquilhas, cercar a Cidade Eterna em uma noite de lua minguante para pedir — quem o ousaria imaginar jamais? — a cabeça do Cristo-na-Terra. Católicos tradicionais, conservadores, pedindo em público a renúncia do Papa! Seria inacreditável, uma piada de mau gosto, uma burla grotesca, se não fosse a terrível e dolorosa verdade. 

 

A ler na integra aqui

A Igreja que se reergue

por João Távora, em 01.09.18

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Um amigo meu agnóstico comentava comigo há dias as recentes manchetes que flagelam a Igreja afirmando que, ao contrário do que se diz, não há hoje uma especial crise de vocações, ela sempre existiu, só que na geração dos nossos pais e avós as motivações para o sacerdócio nem sempre seriam as mais correctas – um modo de vida, ascensão social e académica, etc.

No outro dia, perguntei à minha mãe quem era o padre que aparece numa fotografia a ministrar-me o sacramento do baptismo. Surpreendeu-ma a sua resposta, que não sabia, tanto mais que naquele tempo não era como agora, havia muitos padres mas a maior parte deles (com bastantes e honrosas excepções) eram como que anónimos “funcionários”, figuras cinzentas sem grande carisma ou autoridade. Disse-me que temos sorte nos nossos dias, onde encontramos vocações extraordinárias, homens de rara erudição, grandes exemplos de espiritualidade, modelos de santidade e verdadeiros heróis no serviço. Conheço de perto alguns casos impressionantes.

Isto para dizer que, ainda antes da previsível legalização da pedofilia (o abaixamento da idade de consentimento de que se fala no influente meio LGBT), acredito que as ovelhas negras estão condenadas à erradicação nos seminários.

 

Até breve Padre Ricardo

por João Távora, em 06.08.15

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De inteligência e argúcia ímpares, um verdadeiro líder, o autêntico pastor da nossa comunidade, o Padre Ricardo que agora parte para o Pai, era uma pessoa de enorme modéstia e simplicidade, qualidades com as quais exercia uma força de conversão ímpar, entre os mais jovens e os mais velhos aqui no Estoril. Deixa muitas saudades e um sentimento de orfandade, este homem de Deus. O que a nossa Igreja perdeu, o Céu ganhou em luminosidade. Deus o tenha em sua infinita Glória.

Post scriptum: Os olhos daqueles milhares de fiéis que esta noite se juntaram  na Igreja da Boa Nova em homenagem e oração pelo Pe. Ricardo Neves confrontaram-me com a mais especial das suas virtudes.O Pe. Ricardo, no propósito de espalhar a mensagem de esperança de Jesus Cristo, era mestre a desmultiplicar-se inteiro nas relações pessoais (tinha um jeito especial com os mais jovens), com cada pessoa em especial, paroquianos, alunos ou alunas do Colégio da Boa Nova, utentes do Centro de Dia e toda a sorte de gente com quem se cruzava. De todos sabia o nome e uma palavra especial no conhecimento das circunstâncias particulares de cada um - também dos cá de casa. 

Os antípodas

por João Távora, em 14.06.14

 

Não sendo por manifesta má-fé, custa muito a entender a escolha feita por Ana Lourenço pelo contestatário Frei Bento Domingues para comentar a extraordinária entrevista de Henrique Cymerman ao Papa Francisco que ontem à noite passou na SIC Notícias. Outra hipótese é que a ideia da jornalista fosse saleintar dessa forma o carisma generoso e inclusivo do Papa por oposição ao sectarismo ressabiado do comentador. Se da histórica entrevista ressalta a extraordinária vocação do Papa para abrir janelas, criar pontes, fomentar o encontro, de Bento Domingues não se pode dizer o mesmo: colando-se ao discurso de Bergoglio, ele não evitou exibir toda a sorte de preconceitos e ressentimentos para acentuar todas fracturas reais e imaginárias existentes na Igreja de Pedro. E para que fique claro: os católicos que ele chama “de direita” revêm-se e orgulham-se deste Papa cujo coração do tamanho do Mundo devia ser uma lição para certas franjas fundamentalistas de que Bento Domingues é um triste exemplo. 

Morreu o Senhor Dom José Policarpo

por Maria Teixeira Alves, em 12.03.14

Morreu Dom José Policarpo, Patriarca emérito de Lisboa, um homem da igreja e nessa condição um homem da sociedade. Seguir Jesus Cristo é ser um homem cristão em todas as horas da nossa vida, o que não é a mesma coisa que ser santo. É saber sempre destinguir o bem do mal, defender o amor e ter o sentido do belo. Esse é o grande legado de Dom José Policarpo.

Era um homem culto, inteligente, com um enorme sentido estético no conceito mais amplo, não só na arte e cultura, como também na vida. Um homem que, tal como Bento XVI, considerava que todos deviamos fazer das nossas vidas lugares de beleza. 

Tinha uma preocupação com a reserva moral das sociedades. Era um homem com uma preocupação com o caminho da solidão que as sociedade humanas, sobretudo, ocidentais, estavam a tomar. Preocupava-o a actual situação "amoral" das sociedades. Essa preocupação sociológica com a evolução das sociedades estava patente nas suas teses académicas. 

Estudou filosofia e teologia nos seminários de Santarém, Almada e Olivais, em Lisboa, tendo-se licenciado (2º grau canónico) em Teologia Dogmática, em 1968, pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, com uma tese intitulada Teologia das religiões não cristãs. Prosseguiu os seus estudos na mesma universidade, tendo-se doutorado também na área da Teologia Dogmática com a tese "Sinais dos Tempos. Génese histórica e interpretação teológica". 

Dom Manuel Clemente

por João Távora, em 26.05.13

Por mais entrincheirados que nós católicos vivamos nestes dias num Portugal também ele fracturado, a paz terá que ser sempre negociada. Nesse sentido Dom Manuel Clemente é uma boa noticia, pois só a convocação massiva de inteligência travará essa continuada capitulação.
A não perder o artigo de Henrique Raposo na revista do Expresso sobre o novo Patriarca de Lisboa.

 

 

“A igreja naturalmente pode conversar sobre este assunto (discutir com o Governo a extinção ou a deslocação de feriados religiosos), (...). Naturalmente partindo do pressuposto que o Governo diminui um ou alguns feriados civis" declarou afirmou o padre Manuel Morujão ao Público.

Violência doméstica

por João Távora, em 21.08.10

 

Sobre a injusta preocupação do Filipe Nunes Vicente a respeito do papel da Igreja Católica na praga da violência doméstica, ressalta-me um grave equivoco: é o de pensar que “estar no terreno” significa fazer simpósios, reuniões, sessões de esclarecimento. Para lá da intervenção social da Igreja com lares, comunidades e outras obras, tenho para mim que o problema, mais do que civilizacional ou legal, é existencial, um plano privilegiado para a actuação da fé. Não descurando a importância do debate sobre estas e outras chagas sociais, neste caso, tenho muitas reservas sobre a eficácia da “propaganda” (contra mim falo, é a minha profissão). Por exemplo, tirando os debates motivados pelos referendos, não tenho notícia que o tema do aborto tenha alguma vez sido assunto privilegiado nas homilias, ou especialmente referenciado pela hierarquia. Acontece que religião interfere a montante, coisa que a Igreja faz há dois mil anos: o apelo a um caminho de santidade, de conversão a Cristo, e que é a última razão de existirmos. Em todas as paróquias, de todos os púlpitos, confessionários; em todas as orações, o apelo é sempre o mesmo e só ganha materialidade com uma prática e consciência profunda: a conversão. Trata-se de um difícil caminho, diferente de pessoa para pessoa, para a liberdade; o milagre do camelo trespassar o buraco da agulha: não pode ser discurso, mas vivência. Tivesse o Filipe vontade e eu ilustrava estas palavras com algumas pistas: comunidades, paróquias, e verdadeiros Santos anónimos, cujo trabalho é verdadeiramente orgânico, ultrapassando em muito a esfera do “terreno”. A bondade é algo bem mais difícil de realizar do que recomendar aos outros, por isso a luta contra a violência doméstica só resulta eficaz se for travada dentro do coração das pessoas. E isso pode significar um longo e duro processo de descoberta do Amor.



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