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Ontem no Parlamento vários partidos decidiram não apenas criticar a Igreja, mas explicar aquilo que a Igreja deveria fazer na questão dos abusos de menores. Também o Presidente da República decidiu criticar a Conferência Episcopal Portuguesa sobre este assunto e fazer sugestões sobre o comportamento da Igreja, como aliás já tinha feito André Ventura. Estamos perante dois enormes equívocos que não podemos deixar passar.
O primeiro é bastante simples: por muito impressionantes que possam ser os números de relatório, infelizmente são uma minúscula minoria dos abusos sexuais que acontecem em Portugal. Em média há 2400 processos de abusos por ano, sabendo perfeitamente que os casos que chegam à justiça estão longe de ser a totalidade dos casos. A Comissão Independente recebeu 512 denúncias que considerou válidas, para um período de 70 anos, ou seja, quase um quinto da média ANUAL de casos denunciados no nosso país.
Para a Igreja é indiferente se percentualmente o número de casos no seu seio é pequeno ou grande relativamente ao resto da sociedade. Um só era de mais. Mas se o poder político quer falar de abusos de menores, então não pode ignorar que a esmagadora maioria dos casos não acontecem na Igreja.
Sobretudo quando fala dos abusos da Igreja, na consequência de um relatório que foi encomendado pela própria, num processo de purificação, que mais nenhuma instituição em Portugal fez. É verdade que no tema dos abusos houve erros na Igreja e que a comunicação tem sido muitos desastrosa. Mas nos últimos anos a Igreja portuguesa tem feito, na senda daquilo que os Papas têm proposto, um trabalho enorme para garantir a segurança dos menores. Tem regras muito mais apertadas que o Estado ou qualquer outra instituição. Em consequência do relatório apresentado todas as dioceses estão a fazer investigações para assegurar que não há padres abusadores no seu seio. Mas pelos vistos ao Presidente da República e aos deputados só lhes interessa o abuso de menores na única instituição que realmente está a fazer alguma coisa para acabar com eles!
Se estão realmente preocupados com o abuso de menores, façam o que lhes compete e tomem medidas para combater seriamente o flagelo dos abusos de menores no país. Apontar à Igreja serve à onda mediática, mas não às vítimas de abusos em Portugal.
Mas há segundo equívoco, e este mais grave. É que a Igreja é autónoma do Estado. A separação da Igreja e do Estado, não significa apenas que a Igreja não se mete no Estado, significa também que o Estado não interfere na Igreja. Os cidadãos, sejam ou não eclesiásticos, respondem perante a lei como é evidente. Um sacerdote que abusa de um menor deve ser julgado. Mas isso não significa em momento algum que o Poder político possa interferir na Igreja.
Ter o Presidente da República e os deputados a dizer que a Igreja deve fazer isto ou aquilo, que não fez o suficiente ou que tem que fazer mais, é uma violação grosseira da separação entre o Estado e a Igreja e uma ofensa à Liberdade da Igreja. Os deputados podem fazer leis para punir quem abusa de menores (e devem fazê-lo), não podem é tentar impor à Igreja o quer que seja, que não a lei geral e abstrata. Esta ofensiva é um ataque à Constituição e as regras mais elementares do Direito de qualquer Estado civilizado. Mais grave só a ideia peregrina do Chega, aprovada por unanimidade dos restantes partidos, de chamar ao Parlamento o presidente da CEP para prestar esclarecimentos, como se de um ex-banqueiro ou de um presidente de um clube de futebol se tratasse.
Sobre os abusos a Igreja tem de fazer o seu caminho de purificação. E é com esperança que vejo algumas dioceses a fazê-lo com clareza e espero que as outras lhe sigam o exemplo. Também espero que a CEP tenha mais cuidado na comunicação, centrando-se mais nas vítimas e menos em questões laterais. Mas discernir esse caminho cabe à Igreja não ao Estado. A Igreja não está acima da lei, mas o poder político também não. Em Democracia, aplica-se a boa velha máxima de Nosso Senhor: então dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
Mesmo dando de barato que a redacção do Observador não tem em boa conta o meio católico em geral e os católicos em particular, este artigo do jornalista João Francisco Gomes, o editor de assuntos da Igreja, deixou-me perplexo. Não disfarça, com julgamentos explícitos ou nas entrelinhas, a condenação de quem tenha assumido uma visão crítica ao relatório da Comissão Independente (CI), adjectivados como conservadores (uma desqualificação, não um elogio, entenda-se) sugerindo que são inspirados por uma força malévola para descredibilizar o documento. Mas, permitam-me que pergunte: não é próprio de um bom jornalista pôr em causa um documento desta importância e complexidade, ou será o relatório da CI um Dogma de Fé? Ninguém estranha a unanimidade reafirmada por todos os poderes instalados, incluindo os jornais de referência que deveriam ser o esteio do pluralismo numa democracia desenvolvida?
Ao contrário do João Francisco Gomes eu compreendo muito bem que, aqueles que são católicos de corpo e alma (cujo catolicismo não é um mero emblema, uma cultura, mas uma vivência de fé em comunidade) se revoltem, não só contra os judas seus pares que pelo hediondo pecado de traição conspurcam a Santa Igreja Católica, mas contra aqueles que a pretendem condenar, num estranho julgamento sumário, de dezenas de sacerdotes e leigos sem direito à presunção de inocência. E não, Sr. Jornalista, não se verificou “um ataque cerrado” ao relatório, antes pelo contrário, como demonstra o seu artigo: foram muito poucas as vozes livres que se atreveram a exercer um mínimo de contraditório que o documento, não sendo sagrado, merece. Também compreendo que João Francisco Gomes se admire com estas “opiniões individuais, que contrastam com o posicionamento oficial dos bispos portugueses”. Acontece que a Igreja, ao contrário das redacções dos “jornais de referência” e da do Observador em particular, é mesmo plural - nela convivem diferentes sensibilidades e opiniões. Pela minha parte, que por vezes erradamente, por deformação profissional me preocupo demasiadamente com a imagem (das pessoas, empresas ou instituições), defendi que o momento do indigesto confronto com o relatório, não fosse apropriado à critica pública pelos católicos das suas manifestas fragilidades. Isto porque acreditei que tal debate se transformaria numa luta na lama com resultado predeterminado pela turba revoltada (leia-se comunicação social). Porque para tal desfecho indecoroso para nós católicos, como referia a citada Mafalda Miranda Barbosa, bastava "um só caso de pedofilia ou de abuso sexual mesmo de maiores levado a cabo por um sacerdote é motivo de escândalo, devendo ser tratado de forma exemplar pela justiça dos homens e no seio da Igreja, tal o mal que por meio de um só caso se provoca nas almas". Acreditei que o passar do tempo, - enquanto os organismos da Igreja apuram métodos e procedimentos que melhor os permitam prevenir o infiltrar de tarados que com o seu pecado traem a nossa Igreja - passada a emotividade do choque dos relatos, tenderá a aclarar a verdade e a iluminar a santidade da sua obra no meio dos mais simples e carenciados de redenção, pão e sentido existencial.
Graças a Deus possuo a liberdade, de por exemplo, duvidar que a hierarquia da Igreja deva suspender os mais de cem padres no activo suspeitos, segundo Pedro Strecht, apesar de maioritariamente denunciados por anónimos sem que tenham tido direito à defesa da sua honra e a uma culpa formada. Que devam ser acompanhados enquanto se apurar a verdade dos factos não me restam dúvidas, mas menos duvidas tenho de que os direitos humanos também se aplicam a um Padre, qualquer um, que por estes tempos sofre com o estigma instalado. Como me dizia há dias um vizinho meu que é psiquiatra reformado e com simpatias pelo BE, "a padralhada meteu-se com os psiquiatras, agora levam na tromba".
Viciados em escândalos evitamos olhar para os factos num modo critico e exigente que é como o deve fazer quem pretende verdadeiramente enfrentar os problemas. De facto, de onde viria maior escândalo do que a descoberta de que, também dentro duma instituição histórica como a Igreja Católica, aconteceram crimes hediondos como o da pedofilia? O escândalo não resolve mas proporciona muitos cliques, popularidade e audiências, emoções ao rubro. Escândalos que se consomem com voracidade nas redes sociais, distraem as pessoas, na ilusão de que a perversidade e a corrupção é problema dos outros. Ajudam-nas a sentirem-se melhores. Os escândalos alimentam sempre os credíveis “impecáveis”, afinal meros “fariseus” como os apelida o Pe. Pedro Quintela na homilia do Domingo 19 de Fevereiro passado, citada pelo João Francisco Gomes que, na indisfarçável ânsia de a condenar não parece ter-lhe captado a irreverência, profundidade e alcance - um grito de alma. O coração aberto às razões dos outros é virtude dos mais nobres.
Aí nessa poderosa e controversa homilia, refere o Pe. Pedro Quintela um ângulo não despiciente da questão: “esse «poder sem face» tem conseguido colar a Igreja, o seu clero e as suas práticas, rituais e instituições a uma cambada de tarados e de lugares sinistros. Ora o que o poder pretende é que da identificação da Igreja com tais horrores, decorra a insignificância, a impotência, e o desprezo por qualquer coisa que a Igreja tenha a dizer sobre o Homem e a organização da sua vida em sociedade: aborto, eutanásia, fantasmas sobre o que é ser homem ou mulher, família tradicional, novas configurações da mesma nascidas da perda do centro, tudo isso deixa de poder dialogar com o pensamento católico, a quem não se deixa de colar a pequeníssima parte como expressiva de um todo sistémico. E eis que aí estão de novo à solta velhos ressentimentos anticlericais a pedir que se esmague a «infame»: a Igreja”. Dito isto, não se interrogou o jornalista sobre os propósitos do esquisito inquérito efectuado pela C.I. aos bispos e consagrados(as) sobre as suas origens sociológicas, perfis psicológicos e consequentes comentários às indumentárias usados e modos de estar a fazer lembrar os velhos interrogatórios “científicos”? A mim fez-me lembrar métodos hediondos, quando não a escola da Antropologia Criminal, fundada por Cesare Lombroso (1835 / 1909) adoptada em Portugal pelos republicanos na criminalização dos jesuítas após o 5 de Outubro de 1910. Encolhemo-nos, rebaixamo-nos na consciência do nosso pecado, e em pouco tempo os “impecáveis e bem vistos” dançam sobre os nossos ossos.
Estarei a ser injusto ao centrar este meu texto na crítica a um artigo (e a uma linha editorial que deploro) do João Francisco Gomes, que sendo editor nas questões ligadas à Igreja não demonstra a mais pequena sensibilidade para com o tema. Mas não posso deixar de referir aqui a infeliz crónica do João Miguel Tavares, jornalista que admiro, genericamente pelo seu profissionalismo e capacidade de análise de temas complexos, em que, na critica a um artigo do Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada no Observador, cuja opinião me pareceu bastante equilibrada (não temos de concordar em tudo), usou de recursos estilísticos ofensivos que me pareceram inapropriados duma pessoa da sua craveira intelectual, para mais reclamando-se católico.
Mal de nós quando nos surpreendermos com vozes que permanecem independentes e livres no nosso espaço público – é feio atiçar-lhes a turba. Mal de nós quando não nos inquietamos por uma interpretação unívoca de um determinado acontecimento ou a ela cedemos por comodismo ou ambições pessoais – é franquear as portas à estupidificação, e de caminho às mais cobardes tiranias das multidões. Por isso não desisto da minha Igreja a que pertenço com alegria. E, sobre aquilo em que acreditamos ser importante para as nossas vidas e dos nossos filhos, não nos calaremos.
O arcebispo Carlo Maria Vigano, divulgou há dias uma carta com gravíssimas acusações ao Papa Francisco, de ter anulado sanções contra o cardeal McCarrick que terá abusado de jovens seminaristas e sacerdotes, assim como acusa vários bispos americanos e os Jesuítas de apoiarem a agenda LGBT. Trata-se obviamente de um acto desesperado de guerra que visa atingir mortalmente o sucessor de Pedro que, como seria de esperar, hoje se escusou a defender-se na Praça de São Pedro.
Acontece que na Igreja sempre conviveram facções, houve luta pelo poder e nela concorreram ambições, vaidades e pessoas diferentes, algumas certamente homossexuais, com inaudita capacidade de intriga. É da natureza dos homens e das suas organizações, não é difícil imaginar.
Mais grave que tudo isso são os comportamentos repugnantes denunciados um pouco por esse mundo fora, a inacção ou conivência da hierarquia com esse tipo crimes que nunca deveriam ter acontecido pelas mãos de homens de Deus. E nesse sentido importa perceber como foram possíveis tais actos, e qual a ”fragilidade” que é porta aberta a tais escândalos. Não importa se foram poucos em termos relativos ou espalhados no tempo, importa que a Casa de Deus (paróquias, escolas, santuários, etc.) tem de ser um local sagrado e de santidade – como caminho do pecador para o exemplo de Jesus Cristo.
O que me angustia por estes dias é como explicar as notícias que hoje são manchete a uma criança. Não basta dizer que o assunto é complexo: irónico é como o Papa Francisco que pela primeira vez em décadas conseguiu trazer alguma “boa imprensa” ao Vaticano, poder ver-se agora cilindrado na voragem mediática por causa de um arcebispo reaccionário (sim, reaccionário, que conservador sou eu).
Irónico é constatar que a maior crise que a Igreja hoje enfrenta, apesar dos encarniçados inimigos que há duzentos anos a sitiam e afrontam, acontece afinal por responsabilidade própria. Como já avisara o Papa Bento XVI aquando da sua visita a Portugal em 2010 “A maior perseguição à Igreja não vem de inimigos de fora, mas nasce do pecado da Igreja”.
Nesta hora difícil, o Papa, pastor desta nossa Igreja peregrina que é legado de Pedro e esposa de Jesus, eleito para nos guiar neste tempo, com a inspiração e poder do Espírito Santo, necessita de muita oração dos católicos por todo o mundo a quem se impõe que se unam à sua volta. Para levar de vencida mais esta crise e devolver-lhe o prestígio e a autoridade que é exigível aos que professam a mensagem e exemplo de Cristo.
O chefe da Igreja Católica belga, o arcebispo André-Joseph Léonard, foi esbofeteado durante a missa de Todos os Santos na Catedral de Saints-Michel-et-Gudule, em Bruxelas. A bofetada foi confirmada pela porta-voz do arcebispo, Claire Jonard, e pelo mestre das cerimónias da catedral, Patrick Vanderhoeven. A agressão foi filmada e o vídeo posto a circular na internet.
As opiniões do chefe da Igreja Católica belga, sobre alguns temas controversos da sociedade, como a SIDA, homossexualidade e padres pedófilos, têm suscitado muita polémica e poderão estar na base do inusitado e lamentável gesto.
Uma das suas mais bem sucedidas invenções do ocidente contemporâneo, anestesiado e pouco atreito à inquietação existencial, é o deus subjectivo, inventado à medida do indivíduo, das suas conveniências e limitações. Este deus taylormade tão ao gosto da carneirada acrítica, surge duma ilusão de liberdade da rapaziada: é pessoal, flexível, descartável e… para desgraça do fulano, tão fiável como o próprio. Assim, na primeira situação de apuro – e como um individuo saudável lá bem no seu intimo reconhece a sua precariedade e não se leva muito a sério - o seu deus voa como a água do banho do bebé pela janela fora, inútil e oco como as todas as razões do mundo que não lhe chegaram para resgatar a luz. Acontece que o Deus verdadeiro é o nosso criador e não nosso criado: se O podemos encontrar dentro de nós, jamais O podemos confundir connosco. Através da religião (que tem por função religar, enquadrar, dar sentido) podemos praticar o encontro e a relação com Ele na sua Igreja: pela leitura da Palavra, (as escrituras) pela Oração (relação) e pela Comunhão (Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles).
Nesta cultura mercantilista, muita gente exige saber o que ganha com Deus, para que precisa Dele. Duma forma porventura simplista eu arrisco uma boa razão: se o Homem o é com as suas circunstâncias, Deus “serve” para nos libertar dessas "circunstâncias", coloca-las sob perspectiva e na sua real importância, alivia-nos as costas dessa malfadada carga: as nossas limitações, inseguranças, derrotas e frustrações.
Aceitar o desafio para a construção dessa Relação redentora é o caminho que Igreja de Pedro nos convida a trilhar. O destino é a libertação de cada um, ou se quiserem a felicidade. Um bom negócio sem dúvida.
* texto inspirado numa recente conversa informal por mim tida com jovens adolescentes
Na continuação da sua Jihad, o Diário de notícias titula hoje que 60% dos divórcios tem origem em casamentos pela Igreja: este é no meu entender um claro sinal da leviandade e dos equívocos com que muitos casais se abalançam para esse sacramento, muitas vezes por causa da tradição ou por mero apontamento folclórico. Claro que há divórcios e divórcios, a hierarquia deverá saber responder com mais agilidade a muitas situações dramáticas e concretas no seio das suas comunidades. A "anulação" canónica dum casamento é difícil mas possível: sei do que falo.
Sou daqueles que considera que, mesmo sob pena de provocar impopularidade, a Igreja deveria ser mais exigente com os casais a respeito dos pressupostos para este sacramento. Confesso que tenho muita dificuldade em entender o que é um “católico não praticante”. Se não pratica, se não aspira e exercita devotadamente a sua catequese em Cristo, não goza nem se fortalece com as Graças da fé: não é católico, ponto final. De facto, como referiu em tempos o Papa Bento XVI, nestes acirrados tempos de individualismo os católicos têm que se habituar a viver como resistente minoria. De resto parece-me definitivamente que casar não é obrigatório, muito menos pela Igreja.
O Diário de Notícias há muito que nos habituou a uma abordagem facciosa das informações sobre os assuntos fracturantes em geral e da Igreja em particular, submetendo-as sempre a pontos de vista marginais ou mesmo externos aos interesses da comunidade católica que insiste menosprezar. Essa linha editorial é tanto mais estranha quanto, em matéria de “Opinião”, o jornal demonstra um posicionamento pluralista, reunindo católicos praticantes como a Maria José Nogueira Pinto, Adriano Moreira, João César das Neves, Pe. Anselmo Borges, e também outros tantos cronistas cuja posição perante a Igreja é pacífica e de boa-fé.
Neste sentido constitui um profundo mistério as razões pelas quais este periódico instituiu como agenda uma abordagem editorial claramente contestatária e anticlerical. Pergunto-me se a posição é política ou comercial: suspeito que nestes dias do materialismo ridicularizar pessoas religiosas, padres, bispos e Papas renda popularidade, um atributo que raramente anda a par da seriedade.
Veja-se como nos dois últimos dias, dois artigos — ontem com a entrevista a dois padres casados contra o celibato (redigido pela Fernanda Câncio, uma «desinteressada» especialista na «matéria») e hoje um outro sobre católicos (?) homossexuais e contestatários — denunciam uma linha anticlerical, uma campanha a favor duma revolução no interior da Igreja de acordo com descartáveis cânones mundanos como o casamento homossexual. Certamente a receita mais eficaz para uma rápida extinção desta milenar instituição.
Suspeito que o fundamento da inquietação que muitos não crentes manifestam a respeito do celibato do clero, a ser tida como altruísta, esteja bem explicada na forma como a jornalista Fernanda Câncio titula o seu artigo: "E eles não viveram sós para sempre". Não sabem os pobres, que um verdadeiro cristão conquistou e usufrui da melhor e mais calorosa das companhias: Jesus Cristo. Acredito que essa é uma realidade muito difícil de entender para um descrente, quem sabe causadora de incómodos ressentimentos.
De resto, parece-me absurdo que, ao lado destas capciosas peças jornalísticas estejam colocados anúncios de merchandising de apoio à visita do Papa, que se subentende responsável máximo da instituição que se nos pretendem fazer crer como hedionda e criminosa.
Finalmente deixo um desafio: porque é que o Diário de Notícias não intercala estas “notícias” com outras, dando a conhecer a fundo a Igreja viva no terreno e a sua fé em Cristo que inspira milhares de pessoas de boa vontade a viver com harmonia e ajudar os outros?
(...) Ratzinger, num mundo desmazelado e incoerente, é uma clara referência de autoridade intelectual e de seriedade consistentes. Não apenas por aquilo que representa para milhões de católicos espalhados por toda a Terra, mas, sobretudo, porque acentuando corajosa e persistentemente três ou quatro temas fundamentais, a sua palavra exprime a preeminência da fé cristã como o único "registo" de futuro verosímil (ou a sua equivalente "esperança", a "esperança por que fomos salvos, spe salvi) face às abstracções da "racionalidade" laica traduzida na "teologia do progresso", na "modernidade" e na "laicidade", a mãe de todos os disparates e de todos os oportunismos que quase sempre escondem o jacobinismo mais feroz e primário. (...) Denuncia a "ditadura de relativismo que não reconhece nada como certo e que tem como objectivo central o próprio ego e os próprios desejos". Exige uma fé "mais madura" e um combate ao "radicalismo individual" que nos faz "ser criança andando ao sabor de ventos das várias correntes e das várias ideologias". É, inequivocamente, um pós-moderno sem complexos retóricos que, desde muito cedo, avisou a Igreja para se preparar a viver em minoria. Habituem-se, pois, todos.
João Gonçalves no Portugal dos Pequeninos
Nestes duros dias de despudorado achincalhamento aos católicos, “a Igreja absolve os Beatles” tem sido uma abusiva manchete glozada e abusada pela comunicação social e pelos jacobinos do costume. Este inusitado tema surge a propósito dum artigo publicado no L'Osservatore Romano em que o editor chefe da publicação, Giovanni Maria Vian, se afirma encantado com a música da mítica banda dos anos sessenta. Naquilo que considero uma clara demonstração de bom gosto, há uns meses atrás o mesmo jornal elegera "Revolver" como um dos dez melhores álbuns da história da música Pop e agora anuncia que as atitudes e declarações libertinas dos Quatro de Liverpool ocorridas nos loucos anos sessenta, são hoje águas passadas, e que o que permanece é um precioso legado artístico.
Para além da expressão dalguns legítimos protestos, afirmados à época por alguma hierarquia a propósito das provocações dos rapazes (principalmente John Lennon), a Igreja nunca teve nem poderia ter uma posição oficial sobre o assunto. Custa-me entender a má fé com que os media tratam este tema e quase tudo o que a Igreja Católica afirme: diga o que disser, uma coisa ou o seu contrário, essas afirmações, retiradas do seu contexto, são rapidamente julgadas queimadas na voraz fogueira do pensamento único.
A verdade é que naquele tempo até o meu saudoso pai, uma pessoa culta e criterioso melómano, contemporizava apreensivo, a forma apaixonada e insistente como o meu irmão e eu aderíamos à onda da beatlemania. Também ele acabou passados alguns anos por se render à fascinante criatividade musical dos quatro de Liverpool. O caso, é que a adolescentocracia instaurada não descansa enquanto não matar o pai. Essa é a razão porque o desafio à santidade proposto por Cristo, colocada ao lado do sacrossanto relativismo moral que desobriga o indivíduo da sua perene responsabilidade na História tende a ser mal interpretada. De resto, suspeito que a fogueira com que o mundo, intolerante, hoje queima a Igreja e as religiões em geral, há-de queimar muito mais à sua volta. Quem sabe a própria civilização.
E a Igreja tem de reagrupar. É vital que se mantenha na stasis europeia, pelo menos, uma voz representativa e céptica face à despersonalização implacável erigida como estandarte da liberdade. Filipe Nunes Vicente a ler aqui na integra
Para lá dos viciados julgamentos mundanos de que nós os católicos somos hoje vitimas, o facto é que se Jesus Cristo teve um traidor entre os seus doze apóstolos. Como não haveria a Igreja de os ter multiplicados no Século XXI?
O "Corporações" está virado para o espiritismo... Só assim se compreende o facto de Miguel Abrantes fazer, surpreendemente(?) uso de um texto da Comunidade Espírita do Brasil sobre a forma de eleição do Papa para desancar na Helena Matos só porque esta deu, e bem, um raspanete ao turco Ali Agca o qual havia dito que o Papa devia abdicar, ao pedir a sua demissão, isto depois de, dias antes, o mesmo ter afirmado que gostaria de se encontrar com o Papa em Fátima mas ter ficado sem resposta às suas cartas... Coisa estranha esta.
É aliás inusitado o número invulgar de notícias que saem na imprensa portuguesa diariamente atacando o Papa e a Igreja em geral. Sem dúvida uma verdadeira maquinação. É que a pedofilia, sendo uma prática muito grave, não está todavia presente, felizmente, em todas as Igrejas Católicas do mundo e, essencialmente, não pode ser transformada publicamente em peste universal. Apetece perguntar se, por um pequeníssimo acaso, este súbito interesse em dar à estampa textos sobre a Igreja terá algo a ver com a próxima visita do Papa ao nosso País ou apenas com uma súbita descoberta de que todos os males do mundo têm um único e exclusivo culpado, agora transformado em alvo a abater?
Estou curioso em ver se aqueles que agora escrevem sobre as malfeitorias de uns tantos padres não serão os primeiros que receberão de braços abertos, em Lisboa ou no Porto, o Santo Padre.
Têm-me causando uma profunda apreensão e amargura as notícia que vêm ultimamente a lume sobre o envolvimento de membros da Igreja em casos de pedofilia. Por mais doloroso que seja, torna-se urgente uma abordagem radical e desapaixonada ao problema por parte da hierarquia, com a assumpção de medidas peremptórias e sem contemplações, de denúncia e erradicação deste fenómeno de qualquer estrutura da Igreja. De pouco me interessa que a pedofilia e o abuso de menores tenha sido uma prática transversal menosprezada e escondida nas mais distintas instituições laicas, principalmente aquelas que contemplassem regime do internato de crianças. Cada caso que permaneça mal resolvido e explicado, cada novo escândalo publicado, constitui mais uma machadada no processo de descristianização que vem ocorrendo no ocidente liberal e materialista. Se assim não for, a Igreja Católica, que trava uma decisiva luta pela sua sobrevivência nesta cultura leviana e hedonista, só poderá queixar-se de si própria: a propaganda anticlerical, de forma mais ou menos conspirativa, exulta e empolará toda e cada uma das notícias que surgirem.
De resto, mais talhado a pensar o bem do que o mal, quero acreditar que a sucessão de trágicos erros que redundaram nestes escândalos e no seu encobrimento, pode bem ter origem no que de mais nobre tem o cunho personalista cristão que, apesar de tudo, esmalta a Igreja: a crença numa regeneração do homem pelo arrependimento. Assim, tragicamente se menosprezou a índole profundamente patológica do fenómeno da pedofilia, que em conjunto com a ancestral “vergonha” da Igreja em lidar com as questões da sexualidade, redundou nos factos com que hoje nos confrontamos.
Por mim, espero e exijo muito mais da Igreja de que me assumo parte: se cada escândalo comporta uma atroz e dolorosa vergonha, um arrepiante pecado, o facto é que isso não demove a minha fé e a crença de que o que de melhor o Homem possui continua a plasmar-se dentro da Igreja errante e visceralmente humana. Sem desprimor para muitos ateus e agnósticos excepcionais, mesmo pela bitola da mais genuína santidade cristã, em termos abstractos, a minha expectativa sobre a conduta moral e ética de qualquer cristão praticante é inexoravelmente superior: isto porque o caminho da fé cristã, sendo difícil e carregado de escolhos, é inseparável duma autocrítica, duma exigência e dum contínuo aperfeiçoamento, utopia fundamental para uma comunhão plena em Cristo.
Bento XVI chocou muitos dos seus fiéis e pôs a própria Alemanha, de que é natural, em xeque ao decidir reabilitar um bispo que negou por três vezes que judeus tenham perecido nas câmaras de gás durante o Holocausto. Agora diz que não sabia de nada, como se tal fosse possível. Shame on you!
Há algum tempo prometi dar a conhecer iniciativas ou causas da Igreja que assumo pertença, tão nobres quanto esquecidas pela implacável Comunicação Social dos Sound Bites e pela cultura burguesa anticlerical. Nesta adolescentocracia leviana e estéril em que vivemos, reconheço a dificuldade em testemunhar o pulsar orgânico desta religião milenar tão complexa quanto plural. A orgânica da Igreja, não obedece à lógica do partido político, da linearidade das facções, muito menos a uma lógica empresarial. O objecto da religião é Deus criador que devolve ao homem a esperança no seu amor. Uma descoberta que tem o poder de mudar as vidas das pessoas comuns, de lhes trazer a felicidade e imprimir um sentido maior. Essa é uma graça que um dia descobri e que continuo a redescobrir numa caminhada de crescimento interior, feita de vitórias e de hesitações, avanços e recuos.
O Movimento das Equipas de Casais de Santa Isabel, nasceu em 1989 fundado pelo Cónego Carlos Paes e três casais destinando-se prioritariamente a casais divorciados e recasados pelo civil que pretendem fazer parte activa da Igreja Católica Apostólica. Este movimento de que a minha mulher e eu fazemos parte, foi inspirado na filosofia e estrutura dos Casais de Nossa Senhora que privilegia o crescimento espiritual do casal enquanto tal, na aceitação das orientações da igreja universal. Sendo a espiritualidade uma vertente humana essencial, a sua assunção e aprendizagem como casal potencia a sua realização mais plena e mais adulta. O Movimento de Casais de Santa Isabel é constituído por várias equipas compostas por três ou quatro casais. Com a assistência espiritual de um sacerdote, as equipas reúnem-se rotativamente num jantar em casa de um casal do seu grupo. Estas reuniões acabam por constituir simultaneamente uma caminhada de amizade e aprendizagem de uma catequese viva, com base na leitura dos evangelhos, na oração comum, sem descurar a partilha das ansiedades, dúvidas e naturalmente os sucessos mais mundanos. Como membros da Igreja, reconhecem a responsabilidade de aprofundar as implicações teológicas e canónicas da sua situação, a fim de contribuir para um melhor enquadramento pastoral dos católicos divorciados e recasados.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
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E se um desconhecido lhe oferecesse flores?